sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Fugir dos Rad-Trads para cair no colo de Pachamama: refutação do padre Leonardo

 



Antes e durante o Vaticano II as forças da dissolução da Igreja dentro da Igreja – os teólogos modernistas do movimento litúrgico, bíblico e ecumênico calcados na síntese de todas as heresias já condenada por São Pio X na Pascendi – não fizeram o caso de mascarar seu ímpeto progressista deixando claro que o objetivo era mesmo secularizar a Igreja aproximando-a do mundo e colocando-a à altura dos tempos modernos. Mas depois de décadas de aplicação das reformas do CVII e com os maus frutos decorrentes delas – perda de vocações, menos assistência aos sacramentos, perda de fiéis, etc – não é mais tão fácil convencer que o progressismo seja o caminho. Por isso foi preciso vestir a demolição da Igreja de capa e tiara, de batina e sobrepeliz, para dar-lhe novo fôlego com uma roupagem que tem ares de “tradição” sem que vá, de verdade, ao cerne do que seja a Tradição. Este o caso do padre em tela. Leonardo Wagner, egresso do carismatismo – mais um fruto podre das reformas do CVII – agora se apresenta como padre da “tradição”, um sacerdote apegado a missa “na forma extraordinária”, um “tradicionalista moderado” que rechaça o “tradicionalismo radical”, ou seja, um “tradicionalista” que atravessa uma corda bamba embaixo dum abismo e que tenta sintetizar o ensino imutável da Igreja com as novidades do CVII – todas elas condenadas pelos papas pré conciliares.


Por conta dessa revolução de capa e tiara – anunciada pela alta venda maçônica já no século 19 – agora sob a forma da idéia de hermenêutica da continuidade iniciada por Bento 16 é que padres como Leonardo ascenderam na cena católica do Brasil – na esteira de Padre Paulo Ricardo e outros adeptos da corda bamba que tentam equilibrar obediência a modernistas com missa de sempre.


Esse equilibrismo, que é medo de lutar e de perder o sentimento de que vai tudo bem e que tudo segue equilibrado na Igreja pois, se fosse diferente disto eles teriam que dar uma resposta existencial a este quadro pois quando tomamos consciência das coisas já não podemos ser mais os mesmos, exige de nós uma refutação das falácias, sofismas e espantalhos usados como recursos pelo padre referido para denegrir a posição tradicionalista e levar as consciências a um estado de cegueira, único capaz de assegurar a letargia necessária para que tudo seja destroçado sem que ninguém oponha, às forças do mal, muralhas e exércitos.


Vamos, então, ao texto do padre referido com as devidas refutações.


No dia 11 de outubro de 2020 Leonardo Wagner escreveu este texto sob o título de “Fuja dos Rad-Trads” - em negrito e sublinhado - onde elenca que:



1- “Um problema que provoca um impacto negativo entre os fiéis católicos são os grupos tradicionais radicais. Tais grupos negam a autoridade do Papa Francisco, a validade da Missa de Paulo VI, a validade de canonizações, etc.”


Refutação: Em que consiste negar a autoridade de Francisco? Contestar a validade de sua eleição? Questionar a sua forma de governar?


A posição tradicionalista de linha lefebvrista sempre se caracterizou por criticar a forma do exercício da autoridade tal como esta se desenhou após o CVII e não por negá-la aos papas conciliares. Tal posição é a dos sedevacantes que não reconhecem os últimos papas como pontífices legítimos. Mesmo no caso deles seria absurda a acusação, desde o pressuposto do qual partem que é o de que tais papas teriam sido, na verdade, usurpadores o que obrigaria a resistir-lhes como a antipapas, não constando aí, rigorosamente falando, nem pecado de cisma ( que é a recusa de obedecer ao pontífice e permanecer em comunhão com ele pois isto exige que o acusado reconheça que exista um papa reinante ) nem de heresia ( pois não advogam a posição de Lutero, qual seja uma Igreja sem papa ou cabeça). Por outro lado toda autoridade deve ser exercida dentro de limites de modo que o poder civil se baseia na lei, num pacto entre governantes e governados, enquanto que o poder eclesiástico se funda em critérios estipulados por Nosso Senhor Jesus Cristo cujo princípio máximo é o da salvação das almas e onde o modo é hierárquico e imperativo e não dialogal e consensual.


Desde o CVII não só a maneira de exercer a “autoridade” foi modificada quanto a doutrina que a fundamenta. A maneira pois em vez de impor os hierarcas dialogam o que lhes revela a doutrina que subjaz a este novo modelo de “hierarquia”: a Igreja não tem a verdade plena por isso dialoga-se com o mundo, com as falsas religiões, com as seitas, com os homens de “boa vontade”; a Igreja de Cristo não é mais a mesma coisa que a Igreja Católica, apenas subsiste nela, como diz a Lumen Gentium, mas também pode subsistir fora dela nos vários caminhos do homem, de modo que os papas não devem mais agir de forma imperativa, ensinando o caminho da salvação e da verdade ao mundo, eles devem, também aprender dele, levando a uma síntese entre Igreja e Mundo.


Por isso que não são os tradicionalistas que negam a autoridade de Francisco mas ele mesmo que a recusa. E isto fica claro em dois documentos oficiais:;


- Primeiro na Evangelii Gaudium onde vemos no número 32 que:


“ Dado que sou chamado a viver aquilo que peço aos outros, devo pensar também numa conversão do papado”


Percebam que não se fala de conversão do Papa que pode, como pessoa individual, ser mais ou menos fiel ao múnus recebido de Cristo; antes Francisco fala de mudança – conversão é mudar de direção – do papado, da instituição.


Continuando:


“Compete-me, como Bispo de Roma, permanecer aberto às sugestões tendentes a um exercício do meu ministério que o torne mais fiel ao significado que Jesus Cristo pretendeu dar-lhe e às necessidades actuais da evangelização”.


Acima Francisco dá a entender que estaria a falar duma maior fidelidade ao seu encargo mas na sequência do texto vai ficando claro que é não é bem isso;


“O Papa João Paulo II pediu que o ajudassem a encontrar «uma forma de exercício do primado que, sem renunciar de modo algum ao que é essencial da sua missão, se abra a uma situação nova».[35] Pouco temos avançado neste sentido. Também o papado e as estruturas centrais da Igreja universal precisam de ouvir este apelo a uma conversão pastoral.”


Ou seja, não se trata de conversão pessoal mas de mudar estruturas.


Continuando:


“O Concílio Vaticano II afirmou que, à semelhança das antigas Igrejas patriarcais, as conferências episcopais podem «aportar uma contribuição múltipla e fecunda, para que o sentimento colegial leve a aplicações concretas».[36] Mas este desejo não se realizou plenamente, porque ainda não foi suficientemente explicitado um estatuto das conferências episcopais que as considere como sujeitos de atribuições concretas, incluindo alguma autêntica autoridade doutrinal.


Vejam: Bergoglio pede que conferências episcopais façam parte da Igreja Docente, tendo poder de doutrinar! Todavia o múnus de ensinar pertence apenas ao Papa e Bispos; as conferências episcopais são apenas associações nacionais de bispos duma região ou país, não fazem parte da estrutura hierárquica da Igreja. Neste caso a doutrina ensinada pelas conferências obrigaria cada bispo local – uma clara usurpação do poder episcopal. Como uma conferência poderia dedicir questões de doutrina levando em conta apenas contextos locais se a doutrina deve ser universal? Então teríamos uma doutrina para cada país? Neste contexto o poder do papa seria reduzido em matérias judiciais e legislativas, caminhando para se tornar apenas um coordenador da “unidade” entre as conferências. Ademais as conferências se organizam de forma democrática, baseadas no consenso e na maioria, são fruto do espírito colegial-democratizante do CVII, enquanto que a Igreja Católica é hierárquica.


E não estamos aventando hipóteses ou elucubrando ao vento: Francisco diz expressamente que deve haver uma doutrina para cada lugar e que o papa não deve decidir sobre todas as questões de fé, como vemos na Amoris Laetitia, número 3:


“Recordando que o tempo é superior ao espaço, quero reiterar que nem todas as discussões doutrinais, morais ou pastorais devem ser resolvidas através de intervenções magisteriais. ( redução explícita da autoridade papal – nota nossa ) Naturalmente, na Igreja, é necessária uma unidade de doutrina e práxis, mas isto não impede que existam maneiras diferentes de interpretar alguns aspectos da doutrina ou algumas consequências que decorrem dela. Assim há-de acontecer até que o Espírito nos conduza à verdade completa (cf. Jo 16, 13), isto é, quando nos introduzir perfeitamente no mistério de Cristo e pudermos ver tudo com o seu olhar. Além disso, em cada país ou região, é possível buscar soluções mais inculturadas, atentas às tradições e aos desafios locais. De facto, «as culturas são muito diferentes entre si e cada princípio geral (...), se quiser ser observado e aplicado, precisa de ser inculturado”.



Quanto a validade das canonizações pós CVII os tradicionalistas alertam para a falta dum processo seguro calçado no contraditório (advogado do diabo), no exame de todos os escritos do candidato e não apenas dos escritos públicos ( alguém pode ser herege em privado ), nos três milagres e nas virtudes heróicas do candidato, elementos ausentes ou – no caso dalgumas canonizações – dispensados. Nem se poderia mais falar, estritamente, em processo de canonização mas apenas em procedimento pois já não existe um julgamento da causa dependendo a decisão sobre o candidato aos altares apenas do cumprimento das fases procedimentais requeridas o que envolve, no mais das vezes, a mobilização de vultosos recursos financeiros por parte dos promotores o que coloca candidatos que advém de dioceses ricas e de organizações milionárias ( Caso de JoseMaria Escrivá da Opus Dei ) em posição de vantagem, pervertendo a coisa toda. Quanto a missa nova a posição tradicional sempre foi de que ela é ilícita mas não inválida. Portanto o padre Leonardo mente no tocante a estes dois pontos: nenhum tradicionalista trata as duas questões a partir da noção de invalidade mas da de suspeição e ilicitude. Obviamente o padre em tela precisa criar um espantalho feio em vez de pontuar as coisas com honestidade a fim de pintar o tradicionalismo como se fora o diabo em vez duma posição embasada na mais lídima doutrina católica.



2- “Além dessas más condutas, esses grupos atraem pessoas para a “tribo”. Por conta dos rigorismos impostos, a pessoa acaba desenvolvendo os escrúpulos de consciência, um defeito de consciência que muitos já devem conhecer. A partir daí, é ladeira abaixo, a pessoa vai se cansando, vai desenvolvendo uma fadiga espiritual, pois foi colocado um peso muito grande sobre o seu ombro. No final da história, ela acaba cansando e deixando a vivência da fé católica como um episódio passageiro da sua biografia”.



Que pessoas foram essas que o padre diz terem saído da Igreja e perdido a fé? Ele não aponta um só exemplo, não apresenta números, talvez por que tenha medo dos números envolvendo a missa nova e dos meios conciliares que mostram uma verdadeira fuga de vocações religiosas e sacerdotais além da fuga de fiéis, fatos que não preocupam Leonardo. Quando Paulo VI encerrou o Concílio Vaticano II em 1965, os religiosos estavam no máximo fulgor. Os membros dos institutos masculinos eram 329.799, as mulheres chegavam quase a um milhão (961.264). Eram os anos em que os religiosos davam exemplo da universalidade da Igreja, estando presentes nos lugares de missão espalhados pelo mundo, não temendo enfrentar as hostilidades dos estados seculares e encarnando o impulso à missão. A Europa já perdera a exclusividade da vida consagrada, enquanto as Américas, em particular os Estados Unidos, se povoavam com túnicas e véus. O tempo da prosperidade, porém, estava se esgotando. Apenas uma década depois, os religiosos já tinham caído 18,51% (-61.053), e as religiosas, 9,72% (-93.491). Desde então, a tendência ainda não se inverteu e só piora com o passar dos tempos. Durante os primeiros 40 anos pós-conciliares, as congregações clericais ou sacerdotais se contraíram em média 24,58%. Na Irlanda, por exemplo, foram ordenados apenas 14 sacerdotes no ano de 2015, contra uma média de quase 300 algumas décadas atrás! Na França, a redução foi de 85%, na Alemanha foi de 88%. Na FSSPX tradicionalista, ao contrário, entre 2013 e 2017 tivemos 23 sacerdotes ordenados por ano, mais que a Irlanda inteira.


No Brasil, apenas 37% dos católicos de missa nova afirmam que vão à igreja ao menos uma vez por semana, contra 76% dos protestantes. Na Argentina, terra natal de Francisco, o número cai para 15% e chega a apenas 9% no Uruguai. No Brasil, 54% dos atuais protestantes dizem ter sido criados como católicos. Como temos cerca de 50 milhões de protestantes no país segundo os últimos censos isso dá uma perda de mais de 25 milhões de almas durante a fase que o CVII foi aplicado no Brasil que coincidiu com os anos 60/70 em que tivemos um grande crescimento populacional ligado a ascensão do mundo urbano e a migração interna para os grandes centros industrializados do sudeste o que prova a ineficácia da pastoral baseada nos preceitos do aggiornamento do concílio.


Os dados não mentem, já o padre Leonardo não poupa no uso de mentiras para desinformar o seu público cativo. E não se esqueçam: se fugirem dos rad-trads, como pede o padre, cairão nos braços da Pachamama - https://oriundi.net/a-nova-moeda-do-vaticano-representa-a-pachamama


segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Cuidado com os amigos da China: Gala, Pepe Escobar e Dissidência na cama com Xi Jinping

Pepe Escobar, agente chinês. 


Nós, ano passado, mostramos como o governo Bolsonaro havia feito acordos favoráveis jamais vistos com o fito de que a China tivesse controle de nossas terras e nosso futuro alimentar apontando o entreguismo do atual governo como uma divisão de espólios entre China e EUA pelos nossos recursos naturais, divisão esta perfeitamente compreensível desde o ponto de vista da realidade da “Chimérica” que tomou forma nos anos 2000. Passado um ano a coisa toda evoluiu muito negativamente por várias razões: primeiro por que o eleitorado de base do presidente, apesar de se apresentar como patriota, anda pouco ou nada preocupado com a entrega de nosso patrimônio; segundo por que o quadro da Covid-19 debelou uma propaganda favorável ao regime chinês em nossas terras, apresentando a política sínica como eficaz no combate ao vírus, propaganda levada a cabo pela cena "dissidente" sobretudo calcada em nos fazer acreditar que a China foi exemplo de combate a uma peste que ela jamais foi capaz de prevenir se valendo de política sanitária em seus mercados de carne exótica, vírus do qual já se alertava faz anos; essa mesma “dissidência” que diz não trabalhar pela invasão do Brasil pela China vai implementando o soft power chinês cá dentro asseverando que o governo de Xi Jinping, em vez de encarnar o materialismo marxista representa uma síntese entre tradição espiritual taoísta e maoísmo que significariam uma continuidade histórica com o passado chinês ( desinformando sobre a natureza destrutiva da revolução cultural maoísta que proibiu e queimou obras taoístas apontadas como superstições abomináveis pelo Partido Comunista Chinês ) - http://novaresistencia.org/2020/03/22/a-dialetica-chinesa/. 

O que a “dissidência” não fala é que quando abriu a economia chinesa, por volta de 1988, o reformista Deng Xiaoping justificou sua “traição” ao maoísmo com a frase: não importa se o gato é preto ou branco mas se caça ratos. A filosofia por trás das ações tomadas nas últimas décadas pelo governo comunista de Pequim consiste no uso prático da máxima de Confúcio de que devemos copiar o que admiramos para depois superá-lo, dentro do quadro da dialética marxista. Nisto que consiste o “taoísmo” ou o “confucionismo” do partido: não se trata duma abertura metafísica ou espiritual da elite materialista do PC sínico mas sim duma instrumentalização de tradições que ainda tem lugar ante as massas chinesas para um fim estranho às mesmas. Seu “taoísmo” atende a tornar o ditador ateu Mao Tsé Tung num espírito do panteão taoísta, mascarando o culto politico aos líderes comunistas com uma casca mística que atinge o povo simples e assegura sua veneração; quanto a seu “confucionismo” visa apenas fornecer um cabedal de virtudes disciplinares para educar o povo na obediência a um Estado Totalitário. Somente um idiota completo que desconheça a dinâmica interna do governo de Pequim e da nova orientação dada por Hu Jintao ao PC chinês ( Jintao como secretário do partido em Ghizou, criou um clima de diversidade intelectual e ideais reformistas que visava lançá-lo como liderança comprometida com o passado maoísta e o futuro, angariando apoio da velha guarda do partido como dos mais progressistas o que fazia dele uma pessoa vista como coisas diversas por pessoas diferentes ) ou quiçá alguém dotado de má-fé poderia apresentar a “grande síntese” como uma reviravolta espiritual do comunismo sínico em vez dalgo meramente metodológico. 

A coisa se torna ainda mais tragicômica quando a mesma “dissidência” aponta a China como “civilização da fé/espírito” em contraponto ao Ocidente que, teria se tornado a civilização do lucro/ dinheiro ( como vemos aqui: http://novaresistencia.org/2020/03/24/a-resposta-chinesa-ao-covid-19-esta-essencialmente-ligada-a-doutrina-confucionista/). A China, aí, é apresentada como tendo instituições embasadas na tradição espiritual de Confúcio e como um poder benfazejo que se levantaria ante o materialismo ocidental como se o país não tivesse mergulhado de cabeça na onda consumista materialista a lá ocidente: https://www.vix.com/pt/bbr/2423/comunismo-6-provas-de-que-a-china-e-mais-consumista-do-que-voce-pensa. Quanto a China ter “vencido” o surto do Covid-19 nada é mais falso: novas ondas do vírus se manifestaram por lá em Junho, espalhando-se de Pequim para Liaoning. Aliás a China foir marcada, durante todo este ano, por novos surtos que vão desde a gripe aviária ( https://www.sbmt.org.br/portal/in-the-shadow-of-the-coronavirus-china-records-bird-flu-outbreak/) passando por nova onda de hantavírus ( https://www.lasexta.com/tecnologia-tecnoxplora/ciencia/divulgacion/hantavirus-infeccion-china-epidemia-covid19-coronavirus_202003265e7cad73d41df90001c201ae.html) quanto de Hepatite E inédita ( https://atanews.com.br/noticia/29619/china-relata-transmissoes-ineditas-de—hepatite-e--de-ratos-para-humanos) o que prova a incapacidade do governo em termos de controle sanitário. 

Ainda sobre a propaganda sínica em nossas terras cabe recordar e refutar três narrativas farsescas a respeito de Pequim. Uma alega que o inimigo a ser combatido é apenas a hegemonia liberal, a outra é que a China seria um contraponto a mesma e que mereceria apoio por parte de todo adversário do ocidente liberal e por fim a última alega que o “comunismo” do PC sínico seria “meramente estético” o que tornaria possível, a quem professa a fé no Deus cristão ou em alguma outra religião, um endosso ao papel chinês apesar de seu “comunismo” que, no fim das contas, não representaria risco algum as tradições religiosas. Primeiro é preciso dizer que o mundo não é tão simples como pensa a “dissidência”. A política ocidental atual está dividida entre partidos mais liberais e facções social democratas que tomam a globalização como fato consumado, é verdade, mas possuindo visões diferentes sobre a inserção de seus países no sistema novordista pós 1991. O sistema financeiro e seus agentes, via de regra, não tem partido, oscilando entre políticas de estado mínimo e políticas sociais a depender do momento; a política sistêmica é dividida entre neoliberais descarados, social democratas que aceitam algum nível de neoliberalismo, perpassando até partidos claramente eurocéticos e globocéticos de modo que a análise “dissidente” é risível pois não leva em conta as fraturas do sistema nem que mesmo os partidos de esquerda que são apontados como “liberais” por tomarem a peito politicas identitárias, não aderem a um neoliberalismo teórico duro, fechando com o mercado apenas em certa medida, porém defendendo mais estado do que neoliberais gostariam; portanto o mundo não funciona como um esquema fechado e simplista onde todo mundo é liberal no mesmo modo, grau e sentido ou mesmo liberal de verdade; que duguinistas queiram reunir tudo que há no ocidente sob o epíteto de “liberalismo” enquanto a China é, simplesmente posta fora deste quadro, que o façam já que seu compromisso é ideológico; o que a realidade nos aponta é que a hegemonia que há é dum progressismo liberal-social-laico, e não dum liberalismo em estado puro como se muito do igualitarismo de esquerda – que provém, queiram ou não, do espírito bolchevique, ao qual a “dissidência” adora acenar - já foi absorvido pelo sistema econômico e político ocidental - é preciso ser demasiado idiota para pensar a pauta LGBT, por exemplo, como fundada apenas na liberdade individual sem recordar que o discurso ocidental também engloba a noção de igualização do tratamento dado a casais héteros e duplas lgbts! 

Segundo é necessário expor as evidências de que a China continua sendo um estado calcado no marxismo. Na China só vota quem é do partido comunista, na China existe planificação econômica feita pela burocracia do partido, na China há coletivização das terras e das indústrias de base e do sistema bancário, a China implantou nas suas ZEEs uma espécie de NEP amplificada, na China o ateísmo é a linha mestra do partido, etc. O próprio líder da “dissidência” afirma que Xi Jijping estaria a fazer uma mistura de Maoísmo com Confucionismo. E Maoísmo seria o quê? Capitalismo liberal? ÓBVIO QUE NÃO. 

Ainda sobre isto é importante é trazer à baila a fala de Kelsey Broderick, analista especializada em China da consultoria Eurasia Group: “A "mão invisível" do Partido Comunista da China está em todos os aspectos da economia. As camadas inferiores trabalham de forma mais próxima ao capitalismo, mas o controle é definitivamente mais visível no topo da pirâmide econômica: o Estado determina, por exemplo, o preço do yuan e quem pode comprar a moeda chinesa. É o Estado que controla quase todas as maiores empresas do país, que administram os recursos naturais. Ele também é oficialmente o proprietário de toda a terra, embora, na prática, as pessoas possam ter propriedades privadas... Estado também controla o sistema bancário, decidindo quem pode tomar empréstimos... empresas privadas chinesas devem passar por inspeções estatais e ter "comitês partidários que possam influenciar a tomada de decisões", diz Broderick. também ocorre com algumas empresas estrangeiras, no caso de terem entre seus empregados três ou mais funcionários do Partido (situação comum, considerando que o grupo tem quase 90 milhões de membros).” - https://www.bbc.com/portuguese/internacional-49877815 

Quanto a China ser “contraponto” ao ocidente liberal e a hegemonia liberal é preciso lembrar que ela faz parte da OMC, instrumento fulcral para a tal hegemonia liberal da qual falam os “dissidentes” – lembremos que Clinton endossou a entrada da China na OMC com expectativas de que o capitalismo liberal gerasse mudanças na política interna sínica, e que foi Nixon quem inseriu a mesma na economia global via recepção de capitais americanos excedentes. Inclusive é necessário lembrar que G. W. Bush impediu sanções do FMI/ OMC a China por dumping na década dos anos 2000, dada a interface do poder chinês com a globalização ocidental. A China durante o governo de Hu Jintao passou a fazer parte do Fórum BOAO para a Ásia, um encontro que reúne a superclasse capitalista ocidental no oriente com o fito de manter a economia da China pujante e sob controle do dólar, o que levou o governo de Pequim a se valer, cada vez mais, do capitalismo liberal para salvar o que resta do socialismo maoísta/marxista apontando para uma síntese perigosa do que há de pior já produzido na história, não a síntese que a “dissidência” quer nos fazer acreditar mas aquela que envolve os piores aspectos dos dois materialismo brutais que escravizam a humanidade desde o começo do século 20. 

Aliás na crise de 2008 foram as rodadas de negociação entre Jintao e Obama que salvaram a hegemonia do liberalismo econômico ocidental através da consolidação da confiança de Pequim nos títulos públicos americanos fruto da aproximação prévia que já havia sido feita graças a várias organizações chinesas que trabalharam para apoiar a eleição de Obama em razão de seu compromisso em revisar protocolos ambientais que prejudicavam a China, o que levou o CFR ( um órgão que dirige o globalismo ocidental, uma cabeça de ponte da hegemonia liberal ) a dar início a um fórum de diálogo estratégico China-USA como se pode verificar aqui: https://china.usc.edu/making-american-policy-toward-china-scholars-and-policy-makers-economics-security-and-climate-change. 

É dessa “dissidência” e de atores como Paulo Gala e Pepe Escobar que vem o perigo quando se trata do soft power da China pois a medida que romantizam seu papel se valendo dum anti-americanismo que não é aquele que nos interessa – pois eivado de pró-sinismo – criam uma verdadeira militância de simpatizantes prontos a votar em futuros candidatos que acenem com uma política externa ideológica face a Pequim, em vez duma meramente pragmática voltada, no máximo, as relações comerciais que nos favoreçam num quadro de progressiva redução da dependência dos industrializados sínicos. Quanto a Escobar já se sabe que não passa dum agente que se vale de armadilhas mentais para criar a impressão de que a China estaria prestes a se tornar hegemônica em face duma suposta queda iminente dos USA, seja por que o capitalismo americano estaria a entrar em colapso ou por que uma guerra racial vai explodir a qualquer hora dividindo o Tio Sam, não restando outra opção razoável à política externa brasileira e ao brasileiro médio a não ser render-se ao poder chinês em ascensão, poder este incensado como sendo dotado dum poder moralizante ante a faceta materialista e brutal do poder estadunidense. 

É costume, também, nesses meios pró-China apresentar uma série de desculpas econômicas elegantes para o fato de sofrermos uma desindustrialização em face a ascensão chinesa, como se a culpa fosse tão só dos últimos governos. Apesar do comércio bilateral Brasil – China ter aumentado substancialmente nas últimas décadas, as importações brasileiras da China estão crescendo rapidamente, e a balança comercial, que até 2003 apresentava um resultado positivo para Brasil, está sendo invertida. A exportação brasileira de produtos manufaturados e semi faturados para a China representa apenas 5.5% do total das exportações para esse país; se o aumento das exportações de commodities, por um lado gera apreciação da moeda local, por outro traz obstáculos para o crescimento simultâneo dos produtos manufaturados. E isto é fruto duma política deliberada de Pequim em fazer de nós meros fornecedores de matéria-prima. Claramente, as trajetórias não são independentes: a ascensão da China já está influenciando a trajetória da economia brasileira em termos da participação no mercado mundial. A relocação da produção é a característica mais visível da entrada da China no mercado global fazendo dumping devido a uma adoção generalizada da estratégia offshoring. O México foi um dos países mais profundamente afetados, com aproximadamente 600 mil postos de empregos sendo perdidos pelas maquiladoras mexicanas para os fornecedores chineses que praticam dumping sem serem punidas pela OMC. Como podemos competir com a produção chinesa, mesmo que tivéssemos uma política industrial, num quadro de triplo dumping ( social, econômico e ambiental)? Por mais que tenhamos um governo nacionalista isto seria bastante dificultoso, mas os propagandistas da China aqui dentro jamais dizem isso, claro, afinal eles estão empenhados apenas em rebater a “desinformação atlantista” dando a entender que nacionalismo e só isso. Em estudo recente sobre as cadeias de produção têxtil baseadas em fibras químicas, observamos que, no início dos anos 1990, os novos produtores integrados chineses de commodities levaram empresas como BASF, Dow e Rhone Poulenc a mudarem seu portfólio de produtos, tornando obsoletas plantas aqui instaladas. As fábricas foram vendidas a grupos brasileiros, mas, apesar disso, a quantidade e a variedade de fibras produzidas localmente foram reduzidas e as importações aumentaram significativamente. O dumping chinês é deliberado: existe para quebrar nosso capital produtivo. 

Apesar de o dumping chinês ser conhecido, sujeitos como Paulo Gala fazem questão de desconsiderar os fatos para fazer um discurso ideológico e romântico sobre Pequim, dando a entender que a China, apesar de ser uma economia em desenvolvimento, considerando-se “menos obrigada” a reduzir as emissões de GEE, vai mesmo se comprometer com controle de emissão de poluentes, desinformando o público brasileiro sobre o fato do país ainda estar num processo de urbanização e industrialização, onde se torna impossível que tais emissões não continuem aumentando, como podemos ver aqui:
Paulo Gala, que chamou o Tik Tok chinês de tecnologia que colocaria os sínicos na frente dos USA! 
"Do ponto de vista da sustentabilidade, com sua ambição persistente de longo prazo de desenvolver a economia verde, a China deve estabelecer um padrão mais alto de proteção ambiental e emissão de poluição no novo plano de cinco anos. Isso inclui 18% para a participação de energia não fóssil no consumo total de energia (versus 15,3% em 2019 e meta de 15% definida para 2020), maior redução do uso de energia por unidade do PIB e das emissões de dióxido de carbono e dióxido de enxofre. Essa lógica entre sustentabilidade e desenvolvimento econômico, como elemento estratégico, ficou claro no Discurso de Xi Jinping na Assembléia Geral da ONU, sobre as medidas vigorosas para controlar a emissão de poluentes e alcançar a neutralidade de carbono antes de 2060."- https://www.paulogala.com.br/o-grande-salto-tecnologico-da-china/ 

Apostar que a China, que sequer se dá ao trabalho de impor uma vigilância sanitária sobre seus mercados de carne, origem da Covid-19, vai se esforçar por atingir essa meta irrealista e puramente propagandística prometida por Xi Jinping é desrespeito à inteligência alheia. Isto impede que o público tme consciência de que somos vítimas do dumping de Pequim. Ainda destacamos abaixo esse link que mostra como o soft power chinês está a ser desenhado para atuar na América Latina: fazendo exatamente o mesmo que os atores denunciados acima estão a realizar cá dentro. 

Quem tiver olhos que veja: → https://dialogochino.net/pt-br/comercio-e-investimento-pt-br/35646-chinese-ambassadors-in-latin-america-take-to-twitter/.

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Resenha de "Libido Dominandi" de E. Michael Jones por Breno Baral




No livro de E. Michael Jones, Libido Dominandi - Libertação Sexual e Controle Político, o autor mostra a contragosto dos liberais brasileiros puxa-sacos dos EUA - como a turminha das relações exteriores do atual governo - que a partir dos anos 50 e 60 o século XX os maiores inimigos da Igreja estavam no Ocidente e não em Moscou.


A chamada revolução sexual foi obra sobretudo dos grandes capitalistas do ocidente de linha malthusiana, como John D. Rockefeller III, Fundação Ford, etc. A esquerda ocidental, que por volta dos anos 60 já estava praticamente independente intelectualmente da URSS, desejava mais a revolução sexual do que o socialismo propriamente dito. Muitos se desiludiram com o comunismo porque nos anos 20 fora tentada uma revolução sexual na Rússia por influência de Alexandra Kollontai e que resultou em péssimas consequências sociais, desordens de todo tipo e surtos de sífilis, etc. Assim, a URSS acabou com a rápida revolução sexual para a tristeza dos esquerdistas ocidentais.


Por isso, depois da segunda guerra mundial muitos da esquerda ocidental abandonaram o discurso socialista de revolução proletária e foram cada vez mais adotando um discurso identitário, sendo o negro americano o objeto mais utilizado pela a esquerda como símbolo de liberdade sexual, pois este vivia de modo "primitivo" e passional, às margens da sociedade branca puritana.

Todavia, um intelectual e sociólogo negro chamado E. Franklin Frazier mostrou em seu livro The Negro Family in United States que este estado anárquico que o negro se encontrava era mais uma consequência de um desenraizamento de suas tradições, ausência de propriedades e relações orgânicas e de sua nova vida enxertado de modo atomizado em grandes cidades como Nova York.

O argumento de Frazier era de que a solução para a prosperidade do negro era a aquisição de propriedades e restrições morais que estas demandavam. Mas a proposta de Frazier era algo que não agradava a esquerda branca, pois esta precisava da imagem estereotipada do negro como um ser livre sexualmente a fim de lutar contra a moral convencional. Ou seja, a esquerda não estava preocupada com o bem-estar do negro, apenas queria usá-lo para validar suas ideias políticas.


Os capitalistas ocidentais, ao contrário, desejavam o controle populacional e para isso era necessário a reforma legislativa para crimes sexuais e a adoção de métodos contraceptivos. Os capitalistas acreditavam que as classes baixas, como os negros do gueto e as pessoas dos países subdesenvolvidos se reproduziam mais e que no futuro iriam gerar uma superpopulação na terra que iria diminuir o bem-estar material de todos, jogar os preços da matéria-prima para o alto por conta da alta demanda, gerando fome, escassez, crises econômicas e, consequentemente, gerar revoltas contra o sistema mundial. A solução era diminuir as taxas de natalidade do globo.


O que então chamamos de revolução sexual nada mais foi do que a união de interesses desses capitalistas com a esquerda cosmopolita ocidental: os capitalistas desejavam o controle de natalidade e a esquerda a liberdade sexual. O inimigo comum destes dois grupos era obviamente o cristianismo e sobretudo a Igreja Católica, já que muitos setores protestantes apoiavam as mudanças propostas pelos revolucionários.


Primeiro J. D. Rockefeller III financiou pesquisas como as de Alfred Kinsey a fim de mudar a legislação sobre crimes sexuais, pois a adoção de métodos contraceptivos só poderia se dar em uma sociedade com mais liberdade sexual. Kinsey falsificou vários relatos que resultaram no famoso "Relatório Kinsey" que mostrava que a vida sexual da maioria das pessoas era completamente diferente do que a legislação previa e que portanto esta precisava ser alterada. Kinsey coletou relatos em presídios e até de pedófilos.


Depois J.D. Rockefeller tentou intervir no Concílio Vaticano II a fim de que a Igreja aceitasse os métodos contraceptivos. Ele chegou a financiar uma conferência na Universidade de Notre-Dame, Indiana, em 1962, a fim de debater a questão e só chamou católicos liberais que concordavam com suas propostas. A conferência resultou em um documento que por fim não foi aprovado pelo então Papa Paulo VI. Para a Igreja estava então evidente que seus principais inimigos agora estavam nos EUA e não no bloco Comunista. Isso não significa claro que a Igreja tenha absolvido o comunismo. A adoção da OSTPOLITIK, um maior alinhamento com os países do leste do que com o bloco liberal ocidental, foi mais uma postura pragmática que resultou até na melhora das condições de vida dos católicos sob a cortina de ferro que antes eram ferozmente perseguidos.


A prova que temos destes planos e objetivos da elite liberal ocidental nesta trama toda que narramos é o famoso "Relatório Kissinger" de 1974 - NSSM - 200 - oculto da opinião pública até o começo dos anos 90, que traçou a política oficial dos EUA nas relações exteriores com os países subdesenvolvidos, entre eles o Brasil. O objetivo era aquilo que os Rockefellers os Ford sempre almejaram: o controle populacional nos países de terceiro mundo, impondo a estes uma agenda que previa os métodos contraceptivos, aborto, etc.


A esquerda ocidental com suas ongs, partidos, congressistas, pesquisas acadêmicas, recebem dinheiro e servem esta agenda, servem aos interesses do liberalismo ocidental. Eu acho que isso já é tão evidente que não é preciso dar mais explicações. Só não vê quem não quer. É por isso que é uma imbecilidade conservadores brasileiros almejarem alinhamento com os EUA e seu bloco, pois a agenda que este tem para países como nós, o Brasil, é a própria agenda da esquerda cosmopolita.


Breno Baral é formado em história e estudioso da filosofia


terça-feira, 15 de setembro de 2020

Prazer "divino": a heresia sexual de Bergoglio




Não foi com surpresa que fomos pegos perante a notícia de que Francisco teria afirmado ser o prazer sexual algo "divino", sobretudo em face de seu histórico de declarações bizarras e que não se coadunam com a tradição da fé. A maioria dos órgãos de mídia deram destaque a essa fala de Bergoglio como a dizer que a Igreja estaria entrando no contexto da revolução sexual que consistiu, justamente, na legitimação do prazer: que foi o anticoncepcional e mesmo o amor livre dos anos 60/70, como também a camisinha e demais métodos contraceptivos, senão a liberação do ato sexual do fórceps da procriação, permitindo que as pessoas buscassem o orgasmo como um fim em si e desconexo do matrimônio?

Há quem gostaria de acreditar que se trata de mais uma manipulação feita pela mídia para extrair das falas de Francisco a interpretação mais progressista possível a fim de legitimar a mudança radical de costumes seja na sociedade seja no interior da Igreja. Para alguns neoconservadores estaríamos perante uma "conjura" midiática. Na falta de provas consistentes desta conspiração o que resta como fato no meio de tanta narrativa é que a única conjura real é a dos neoconservadores sempre prontos para blindar as falas de Bergoglio de possíveis interpretações aviltantes a fé dando a impressão que tudo segue como "dantes no quartel de Abrantes". Porém os fatos avultam.

O primeiro deles é que, de fato, Francisco afirmou que o prazer é "divino". Para provar isso trazemos a fonte originária da afirmação: uma conversa entre Bergoglio e Petrini, um gastrônomo e escritor, sobre "ecologia integral" - a velha heresia da mater natura como fonte originária de todo o ser – que foi reproduzida pelo site de notícias do Vaticano - o Vatican News. Será que, desta vez, os católicos sempre a postos para blindar Bergoglio poderão acusar o site em tela de partícipe da conjura contra Francisco? Improvável a na ser que renunciem a realidade e enveredem, de vez, pelo mundo da fantasia e do subjetivismo. 


Reproduzimos aqui o trecho referido e o link da entrevista:



Igreja e prazer: um bem que vem de Deus


Em favor do prazer da comida que "não é abundância, mas sobriedade", o convidado agnóstico provoca o Pontífice, afirmando que "a Igreja Católica sempre mortificou um pouco o prazer, como se fosse algo a ser evitado". O Papa Francisco não concorda e lembra que a Igreja condenou o "prazer desumano, vulgar", mas aceitou o prazer "humano, sóbrio".


O prazer vem diretamente de Deus, não é católico ou cristão ou qualquer outra coisa, é simplesmente divino. O prazer de comer serve para nos manter saudáveis através da alimentação, assim como o prazer sexual é feito para tornar o amor mais belo e garantir a continuidade da espécie” - https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2020-09/laudato-si-terra-futura-papa-francisco-carlo-petrini.html


Percebam que Petrini entende mais de catolicismo do que Bergoglio: o ateu reconhece que, na história, a Igreja sempre manifestou desconfiança ante o prazer levando os fiéis ao caminho da mortificação, que quer dizer, da morte dos sentidos para obterem a vida em Deus, a via crucis do sacrifício.


Francisco, contudo, prepara um veneno em meio a um banquete, enganando, de forma sorrateira, os simples fiéis ao ensinar uma verdade misturada com uma falsidade: o prazer vem de Deus, sim pois é obra dele, mas disso ele conclui que é “divino”, ou seja, da mesma natureza do sobrenatural. O prazer sexual e gastronômico é meramente natural e atende a fins naturais: a procriação e a saúde. É um estímulo colocado na natureza para garantir a perpetuação da vida biológica. Em segundo lugar, é preciso recordar que o impulso para o prazer, no homem decaído, está em profunda desordem. No paraíso a concupiscência – ou seja, este ímpeto para comer e reproduzir – estava plenamente sob o controle da razão e do espírito humano. O corpo não estava num estado de rebeldia como sói ocorrer agora, no estado de queda em que nos achamos. Agora nosso corpo já não atende mais ao comando do espírito, assim como o espírito, frequentes vezes, se dobra ao impulso do corpo, numa clara inversão da ordem e hierarquia que deveria reinar no interior do homem. Tomemos a libido como exemplo: Santo Agostinho na Cidade de Deus, volume 2, Livro 14, Capítulo 23, assegura que, no Éden, os órgãos sexuais obedeciam a razão sem o recurso da libido, o que significa que, para a consecução do ato sexual não concorria o impulso carnal do prazer mas antes a ativação da mente, o que não significa que não houvesse prazer na conjunção carnal mas que não era a “fome” instintiva de satisfação a causa eficiente dela.


Claro está que após a queda os órgãos venéreos se rebelaram o que significa que passaram a estar sob domínio do instinto – ao que Santo Agostinho atribui a razão de usarmos vestimentas pois, já não estando isentos da “libido vergonhosa”, para usar sua expressão, responsável por ereções e furores involuntários, a falta duma roupagem tornaria inviável a vida social que exige o controle do ímpeto libidinoso.

Na religião católica, portanto, o homem deve manter uma guarda interior no tocante aos prazeres praticando a mortificação para viver a vida da graça; isto não quer dizer, porém, que a mortificação deva destruir a natureza, mas domá-la, subjugá-la e submetê-la em tudo. Não julgamos que cada um dos movimentos da natureza seja mau ou culpado em si mesmo. Ela, porém, tende para o mal; deixando-a livre e dando livre curso a busca do prazer, sem a vigilância interior, é sempre de se temer que ela abuse de sua liberdade para seguir seus maus instintos. De modo que Francisco ao dizer que a Igreja apenas rechaçou “o prazer desumano, vulgar” falsifica a realidade: se a Igreja apenas rechaça a falta de sobriedade e autoriza todo prazer legítimo ela acaba no naturalismo filosófico dos gregos que apenas preconizavam a moderação nos prazeres da vida, a frugalidade e simplicidade dos prazeres e nunca a mortificação. A Igreja vai além: ela incentiva não apenas a virtude mas a mortificação dos sentidos, ou seja, a crucificação da nossa carne, da nossa natureza em prol da graça. Francisco ignora essa dimensão e faz o catolicismo coincidir com o naturalismo grego.


A mortificação prossegue um fim diferente da mera moderação dos apetites. E precisamente por causa do seu fim específico que é submeter em tudo a natureza à graça; a mortificação vai mais longe do que elas pois impõe aos sentidos, às paixões, a todas as nossas faculdades, enfim, privações, sacrifícios que as outras virtudes cardeais não exigiriam ao menos diretamente. Assim a modéstia e a castidade interditam aos olhos todo olhar imodesto; a mortificação abster-se-á às vezes de contemplar os mais inocentes espetáculos. A temperança e a sobriedade impõem a moderação no beber e no comer e proscrevem todo ato de gulodice e outros atos semelhantes; não contente de guardar as leis da moderação, a mortificação se nutrirá de privações e amarguras, se alegrando na cruz.


Citemos exemplos admiráveis de mortificação: São Luiz de Gonzaga, que evitava até olhar para sua mãe; São Bernardo, que, após um ano de noviciado, não sabia se sua cela era de estuque ou de abóbada; o Santo Cura d’Ars, que se impunha não cheirar uma flor, não beber quando sentia sede, não enxotar uma mosca, não dar aparência de sentir algum mau cheiro, não manifestar jamais desgosto de objeto repugnante, não se queixar de coisa alguma que se referisse a ele, nunca se assustar, não se encostar quando de joelhos. E as austeridades de Santo Afonso, dum São Pedro de Alcântara, dum São João da Cruz, que, para reduzirem seu corpo à servidão, o submetiam a um verdadeiro e contínuo martírio, e que em nada seguiam os seus gostos naturais? Será que eles apenas rechaçam o prazer vulgar? Não, mas até mesmo prazeres legítimos.


A religião católica não é uma religião natural mas sobrenatural. Bergoglio passa por cima disso e a trata como se sempre tivesse sido um mero filosofismo a advertir os homens de seus excessos e não a religião do calvário.


Por outro lado a divinização do prazer é uma heresia típica da cosmovisão esotérica que vê o sexo enquanto meio de transcendência, de união com o absoluto, onde a mulher representaria a sophia, a parte feminina de Deus, enquanto o homem a parte masculina, resultando da conjunção carnal e do orgasmo uma experiência de unidade transcendental – mística. Estar unido a Deus neste caso seria como estar unido como homem e mulher. A vida eterna da alma e o paraíso neste mundo consistiriam na transubstanciação da união do homem com a mulher. Houve, por exemplo, os ritos coletivos dos Khlystis eslavos que incluíam a união sexual de homens e mulheres considerados uns como encarnações do Cristo, outras como encarnações da Virgem, um heresia sexual que via a união carnal como “divina”. Isto tudo remonta ao paganismo cujo caso mais típico é o dos Mistérios da Grande Deusa, onde se utilizavam práticas eróticas tendendo, precisamente, a atingir a transcendência. Há, também, uma tradição cabalista recolhida por Jacó Boehme que parte da idéia de que na origem, o ser humano devia ter sido criado andrógino, reunindo em si os princípios masculino e feminino. Para ele o sono de Adão não foi o estado em que foi mergulhado quando Deus quis tirar a Eva do seu corpo, esse sono é apresentado como o símbolo duma primeira queda; para Boehme isso faz alusão ao estado em que se encontrava Adão quando, abusando da sua liberdade, se separou do mundo divino e se imaginou no da natureza, tornando-se terrestre e degradando-se. Certos continuadores de Boehme associaram este sono quer à vertigem de que Adão se sente possuído ao ver o acasalamento dos animais, quer ao seu desejo de os imitar. A aparição dos sexos teria sido uma conseqüência desta queda original. Teria sido, contudo, também um remédio divino, como se Deus, ao ver o estado de privação e de desejo em que, a partir desse momento, se encontrou o ser decaído, lhe tivesse dado Eva por mulher para evitar conseqüências piores e lhe facultar uma retorno a ele através da experiência transcendente da união sexual com a fêmea, numa clave mística.


Bergoglio ao considerar o sexo 'divino', entra no terreno movediço do esoterismo e do misticismo, no plano da mais atroz heresia que retoma tradições pagãs. Na tradição católica em razão do pecado o sexo deve estar sob o regime do matrimônio – remédio para a desordem da concupiscência – que tem como fim primacial a reprodução e não o prazer, um mero meio para o fim sumo do mesmo qual seja gerar novos corpos para serem animados por almas imortais criadas por Deus, permitindo ao homem participar da obra criadora do Pai. Considerar o prazer “divino” é torná-lo um fim em si e, ao mesmo tempo, advogar o misticismo esotérico além de legitimar a revolução sexual que, aliás, se alimentou em doses generosas dum misticismo hindu, caso do movimento hippie dos anos 60/70 e seu contínuo recurso a cultos orientais de cariz pagão/tântrico além de sua filosofia do “amor livre” que fizeram a sociedade avançar na direção da quebra dos antigos tabus católicos sobre o sexo.


segunda-feira, 7 de setembro de 2020

7 de setembro de 2020: não há nada a comemorar mas muito a pensar!

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e pessoas em pé




Já mostramos aqui que o processo de separação de Brasil - Portugal em 1822 se tratou dum estratagema anglo-maçônico pois o projeto originário de Dom João VI - o verdadeiro libertador do Brasil - era integrar o nosso país ao Império Português, como Reino Unido dentro dum quadro que nos garantiria uma grandeza que a dita independência nos retirou em razão do fato de, desde o começo do Império, termos ficado a mercê do poder financeiro anglófilo, sob os auspícios dos Rothschild ( o caso do Barão de Mauá é bem emblemático no tocante a isto ).

Claro que depois de 198 anos não há muito mais o que fazer quanto a rutura entre Brasil e Portugal, restando apenas aceitarmos uma realidade de fato que se impôs historicamente, sem cairmos em saudosismos irrealistas o que, no entanto, não nos desobriga a pensar a possibilidade de grandeza para o Brasil dentro duma síntese que conserve o legado que Portugal nos deixou, ao mesmo tempo que integra as novas potencialidades de progresso que nossa terra, povo e história nos abrem. Neste sentido é preciso entender em que lugar estamos e o que, hoje, ameaça nossa soberania e nossa capacidade de realizar nossa vocação, quem são os inimigos a nos ameaçar e como devemos lutar contra estes poderes malignos. Entre estes inimigos se destacam, agora, o presidente Bolsonaro e setores da esquerda e direita política, nossa elite do atraso de mentalidade colonialista, o império estadunidense, Pequim e certos patriotas iludidos com soluções que não trarão solução. 

O primeiro ponto a destacar é que não temos nada a comemorar em 2020. Vivemos uma crise sanitária que poderia ter sido facilmente resolvida em Março se houvesse unidade nacional, um plano conjunto que integrasse ações gerais e locais, num momento em que o número de casos de Covid-19 eram muito baixos, o que revela a inépcia e o descompromisso de boa parte de nossa classe política com o interesse nacional, classe está que deve ser denunciada diuturnamente pelo estado deplorável ao qual chegamos. 

O segundo ponto é que temos o presidente mais descomprometido com o bem estar nacional da História pátria, o mais entreguista, o mais francamente adepto duma ingerência estrangeira em nossas plagas, o mais dedicado a destruir o aparato de Estado deixando-nos a mercê do poder estadunidense, do poder chinês e do poder do mercado financeiro, um verdadeiro calhorda que não mede esforços para manter Paulo Guedes no governo a fim de que viremos uma nação reduzida a fornecer matéria prima e mão de obra barata aos senhores do mundo . 

O terceiro ponto é que nos dias últimos vimos a elevação vertiginosa do custo de vida com aumentos dos gêneros alimentícios, capitaneados por uma compra recorde feita pela China o que está a nos levar a um estado de extrema insegurança alimentar, dado que Pequim, ano passado, como revelamos aqui, comprou nosso banco genético, ganhando o poder de decidir a qualidade e quantidade de nossa alimentação no futuro. Sobre este cenário terrificante, reproduzo cá um comentário mui pertinente dum amigo: 

"A relação de Pindorama com o Dragão asiático nos levará de vez para o buraco, o que ocorre entre ambos os países hoje, não difere em nada das relações comerciais das antigas colônias com as potências europeias, o famoso comércio triangular. Pindorama hoje é mero fornecedor de alimentos e minério in natura ao homem asiático em troca dos manufaturados lá produzidos, retroalimentando uma relação cada vez mais exploratória e vantajosa aos sínicos, que utilizam de seus lucros para assumir o controle das terras brasilienses e até de seu banco genético, na prática, os sínicos já tem o controle das sementes e de seus alimentos e, se assim desejarem, poderão ditar até o que vocês consumirão no futuro. A tendência é que tal relação seja ainda mais aprofundada conforme a renda per capita e a população sínica aumentam e os brasilienses conformam-se com o destino que a elite daquele país vos escolheu. Eis o futuro de vossos filhos: realizarem o trabalho braçal dos descendentes do Dragão para comprar suas quinquilharias eletrônicas superfaturadas, exportarem toda a comida cá produzida, enquanto pagarão mais caro pelas sobras, as piores carnes, os piores grãos etc."

O quarto ponto é que urge uma ação nacional arrojada e antenada com a realidade de hoje o que exige o abandono de anacronismos ( como o monarquismo liberal que se fia nos traidores Orleans e Bragança, os federalismos que só despedaçam o país, o minarquismo que tira do Brasil seus mecanismos de defesa ante o dinheirismo global, etc ) e dos projetos fajutos que nada tem que ver com nosso ethos ( eurasianismo, sulismo de cariz neo nazistas, paulistismos, direitismo patriótico neoliberal, olavismo, etc) sem o qual não seremos o país que podemos ser. 

Urge, portanto, deixar as ilusões de lado: nosso desenvolvimento perpassa pelo reforço do ethos solidarista católico, pela fé no poder organizador e civilizador do estado e pelo esforço em implementar uma economia humana e cristã que se oponha ao materialismo capitalista e marxista, uma pátria firmada em três vetores quais sejam:


- Um estado enquanto espada de Deus e da Nação tendo no seu chefe um mediador capaz de conciliar as classes, 


- Um espírito de desbravamento por parte das classes produtivas inspiradas na idéia de grandeza nacional


-Um povo pluri-racial a significar a união em torno do Brasil como civilização do terceiro milênio, a pátria do espírito em oposição ao vazio pós moderno com seu individualismo radical e sua aposta na fragmentação das identidades.


 

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Resposta ao Sr. André Luiz sobre a QTP

2016 novembre - EreticaMente






Existe uma tática retórica que consiste em tentar dissuadir o interlocutor do debate dando-lhe uma resposta extensa e complicada, quase impossível de destrinchar seja pelo tamanho ou por uma aparência de elevação e profundidade que, muitas vezes, não passa de “embromação”, para usarmos um termo popular. Este é o caso da recente resposta do sr. André Luiz da NR a uma série de contestações que fizemos num recente podcast.

Por isso seremos bem objetivos na nossa réplica.

Primeiro iremos resumir a contestação de André Luiz a alguns pontos basais:

Segundo o mesmo:

1- Dugin não identificaria, exclusivamente o Katechon com o Czar Russo mas usaria duma simbologia metafísica que se referiria a um pólo positivo existente em toda religião, pólo este responsável por segurar o desencadeamento do mal.

2- A concepção católica de tempo não é linear mas espiralada. A linearidade seria própria do iluminismo.

3- Não podemos falar de fatalismo em Evola/ Dugin pois Juízo Final, em termos de teologia católica, poderia ser interpretado, sob certa perspectiva, como fatalismo também.

4- Serafim de Sarov teria deixado claro que o “éden ainda está entre nós e que nós que não temos olhos para vê-lo” e que isto seria o fundamento do conceito de temporalidade católica romana em vez daquele que vê a história como processo unidirecional-linear.

Quanto ao ponto 1:

- Dugin diz que:

“a estrutura da compreensão cristã do tempo é simples: Cristo vem, vive 33 anos entre as gentes, funda a Igreja. Em seguida, o mundo cristão começa a ser construído, culminando no processo de cristianização do Império, isto é, na proclamação do imperador romano – o Katechon. E então, o Anticristo vem...Na Segunda Epístola aos Tessalonicenses, o Apóstolo Paulo descreve a vinda do Anticristo: “Porque o mistério da iniqüidade já está em ação, apenas esperando o desaparecimento daquele que o detém”. Ou seja, Katechon. Ele também é responsável por guardar o limiar da história. O Tsar Ortodoxo é aquele que se situa na última linha antes do Anticristo. E quando ele cai, e a lacuna no Ser é perfurada, o Anticristo vem...O Anticristo vem depois que o Cristianismo deixa de ser dominante – quando deixa de ser imperial”

Ele deixa explícito que, na sua compreensão do que seja a temporalidade cristã, a proclamação do imperador romano é o que segura a manifestação do mal visceral. O anticristo virá quando o Cristianismo não tiver mais um imperador romano e isto se dá quando o Czar desaparece. A posição de Dugin é um reflexo de sua cultura: como russo que é adere ao cesaropapismo, doutrina segundo a qual o Czar tem supremacia sobre a cristandade, unificando em si, o poder religioso e político. E é, também, reflexo de seu perenialismo: o Czar simboliza o “Rei do mundo”, uma figura presente na filosofia de René Guénon; para o mesmo a Tradição do Rei do Mundo (ou Tradição Primordial), seria conhecida sob a designação bíblica do rei Melquisedeque e análoga à Agharta oriental, nas suas funções de Autoridade Espiritual e Poder Temporal, expressas na Terra como manifestação real de Deus; segundo René os vários centros espirituais existentes ao longo da história – incluído aí o papado romano - foram sempre expressões secundárias de um Centro Espiritual Maior ou Omphalos do Mundo como meio subsistente e de resguardo da luz divina no atual período de obscurecimento espiritual da Humanidade, a Kali-Yuga.

Ou seja, não existe saída para Dugin: sua concepção de Katechon se funda em duas heresias:

- A primeira, ou cesaropapismo, que consiste em dar primazia ao poder político ( rei ) sobre o poder espiritual ( Igreja Católica ) no governo da cristandade, enquanto representação máxima da ordem cristã ante o mal e o caos.

- A segunda, ou perenialismo, que vê os tais pólos de ordem refletidos nas várias tradições, incluída aí a Igreja e o Papado, como meras expressões segundas dum Centro Espiritual Maior, identificado com o Rei do Mundo, figura que salvaguarda a luz divina em última instância.

Neste sentido a Igreja Católica e o Papado passam a coadjuvantes enquanto muralha que evita a manifestação do Anticristo e o Rei do Mundo ou figuras que o simbolizam ao de protagonista.

Quanto ao ponto 2:

- O sr. Luiz confunde deliberadamente os leitores fazendo uma miscelânea entre concepção temporal católica e a teologia sacramental da missa enquanto atualização do sacrifício de Cristo no altar a fim de atraí-los para dentro duma concepção heretizante.

Sobre a relação da missa com o sacrifício de Cristo o que temos aí é uma relação entre tempo e eternidade e não um “plano temporal superior” ao qual o homem poderia se vincular de modo vertical. Na verdade é Deus quem vincula o homem, dalgum modo, a vida eterna desde esta vida, onde vislumbramos a esperança da glória. Não há dois planos temporais superpostos mas uma inter-relação entre Deus e o mundo, entre o Eterno e o homem. Essa relação se chama história sagrada que é, nada mais, que a era da graça onde a Igreja cresce no mundo sob influxo do Espírito Santo até que chegue o Juízo Final. Essa história não é uma espiral mas uma linha. Espiral é uma curva plana que gira, mais ou menos próxima, em torno dum centro. Mas ela sempre gira. No caso da História Sagrada ela não é uma curva que vai e volta, num movimento cíclico: ela é uma linha que se aproxima do Juízo Final. Um dia ela chegará ao fim. Espirais, ao contrário, não cessam pois é da natureza dum círculo não ter começo nem término. O senhor Luiz usa espiral para evitar o termo ciclo, evitando ser acusado de aderir a um conceito hindu de história; isso pode funcionar com inexpertos mas não conosco.

E aqui é preciso fazer algumas distinções: foi Santo Agostinho quem melhor explicou a natureza da cosmovisão católica sobre o tempo. Embora o platonismo tenha deixado marcas no pensamento do santo, ele não foi tão longe nele quanto foi Orígenes. O contraste entre ambos é fundamental pois marca a estruturação da ortodoxia católica romana ante as tendências platonizantes exageradas de Orígenes e dalguns padres do oriente, tendência esta que marca os cismáticos como o sr. André.

Para Orígenes o processo temporal não tinha um “fim” - uma meta definitiva a atingir. Haveria, para ele, uma sucessão de mundos infindos através dos quais a alma imortal perseguia seu curso. Já que a alma é imortal ela pode cair do mais alto bem para o mais baixo mal ou ser resgatada do mais baixo mal para o mais alto bem. Embora Orígenes rejeite a doutrina helênica clássica do “Retorno de Todas as Coisas” ( A mesma que Evola aceita ) pois ela destruiria o livre arbítrio humano, aderindo a algo mitigado próximo da doutrina hindu do samsara, santo Agostinho a rechaça com a mesma força que usou para rejeitar a das recorrências cíclicas. A teoria do retorno, para Agostinho, é o efeito natural da crença da eternidade do mundo. Uma vez que aceitemos a doutrina da criação não podemos aceitar nem a tese da rotação circular das almas de Orígenes ou a de que nada novo ou final poderá acontecer no tempo que não é uma imagem rotativa da eternidade ( como quer fazer parecer o sr. Luiz ao usar o conceito de espiral ) mas um processo irreversível. Santo Agostinho explodiu os ciclos perpétuos; essa mudança de atitude já estava implícita pois toda a revelação cristã se funda em eventos temporais que possuem significado absoluto, único e irrepetível.


Quanto ao ponto 3:

- Sobre o fatalismo de Evola ele admitia, apenas, a possibilidade de reverter a decadência antes do ocaso do Kali Yuga o que significa se ela não tiver chegado a sua curva descendente final. Caso já estejamos nesta curva só nos restaria acelerar o desencadear do mal entregando-nos a ele: Evola acreditava que para a hora do crepúsculo seria condizente acelerar o fim da Kali-yuga “cavalgando o tigre”, acelerando os processos de dissolução que ocorrem nesses tempos deletérios.

Evola deixa clara essa posição em seu “Revolta Contra o Mundo Moderno”:

“Para alguns, o caminho da aceleração pode ser a abordagem mais adequada para uma solução, considerando que, dadas certas condições, muitas reações são o equivalente daquelas cãibras que apenas prolongam a agonia e, ao retardar o final, também atrasam o advento do novo princípio. Assim, seria conveniente assumir, juntamente com uma atitude interior especial, os processos mais destrutivos da era moderna, a fim de usá-los para a liberação; isso seria como virar um veneno contra si mesmo ou como "cavalgar o tigre".

- Sobre o Juízo Final poder ser entendido como “fatalismo” sob certa perspectiva, isto não o torna “fatal” como é o caso do fatalismo cíclico evoliano que, em certa fase da curva de descenso simplesmente admite a suspensão da responsabilidade e capacidade moral do homem em sua luta contra o desencadear final do mal, revertendo um processo. A cosmovisão católica não suspende, em momento algum do processo histórico, a responsabilidade ou capacidade de nos opormos ao mal; logo classificar a teologia da história católica como “fatalismo”, seja em que sentido for, é uma imprecisão: seria mais adequado falar de finalismo. O resultado do Juízo Final é incerto quanto a quem será julgado digno ou não. Mas é para esse fim que nos dirigimos mantendo, em todos os instantes da história universal, os acontecimentos em aberto inclusive o resultado deste fato derradeiro que é o Juízo Universal.

Quanto ao ponto 4:

- Serafim de Sarov se afasta completamente da fé católica romana na medida em que renega os efeitos do pecado original no homem e no mundo e que são irreversíveis historicamente no estado de queda em que nos encontramos: mesmos aqueles que estão em estado de graça e amizade com Deus vivenciam o poder da concupiscência que faz o homem tender ao pecado; poder este que permanece ativo, por desígnio de Deus, mesmo depois do batismo como um fator que estimula o homem na luta espiritual. Logo aduzir que “o éden está entre nós” é uma falsidade herética dado que nele o homem possuía dons preternaturais (imortalidade, integridade, impassividade) os quais, mesmo em estado de santidade, ninguém pode recuperar. Isto prova, decisivamente, que a teologia da história católica que vê o tempo como linearidade é o modo escorreito de ver as coisas. A não ser que o sr. André Luiz ache algum homem vivendo, agora, em algum lugar da terra, em estado adâmico, não restam mais recursos para o mesmo: esta sua concepção de tempo é anticatólica e heretizante.

Assim os católicos não estão autorizados a se filiar a uma organização – qual seja a NR - que postula uma filosofia da história calcada nos preceitos esotéricos de Evola e Dugin.