segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

O COMUNISMO NA REVOLUÇÃO ANTICRISTÃ (1961) - Padre Julio Meinvielle

Padre Julio Meinvielle

 

    A única modalidade de 'anticomunismo' que a meu ver realmente importa (e que é ao fim e ao cabo respeitável) é aquela que se formula a partir de uma perspectiva católica tradicionalista. É, com efeito, a única abordagem que faz as conexões certas e necessárias (marxismo - liberalismo - iluminismo - reforma protestante - renascimento), fundamentando a crítica do ideário comunista a partir do único paradigma realmente coerente, consequente e portanto válido para qualquer católico sério: a Doutrina Social da Igreja. 

É o anticomunismo de um Donoso Cortés, de um Maurras, de um Chesterton e de um belo livro como este, de autoria do padre argentino Julio Meinvielle, um notável caudatário desta nobre tradição.

 Manejando com maestria e fina verve retórica o aparato conceitual da Escolástica, Meinvielle vai ao amago da questão e liga todos os pontos com precisão cirúrgica. Trata-se sobretudo de interpretar o marxismo à luz d'uma "antropologia filosófico-teológica", bem como d'uma "teologia católica da história e da cultura", como esclarece o filósofo tomista Carlos Alberto Sacheri, conterrâneo do autor, em texto de apresentação à obra. 


A obra, "Comunismo na Revolução Anticristã", do Padre Júlio 


Meinvielle parte do princípio da existência de quatro dimensões essenciais na natureza humana (ser-sensível-racional-divino), que devem funcionar em harmonia com as funções básicas de toda sociedade (economia de execução - economia de direção - política sapiencial). Tal é o ordenamento tradicional, que deriva da própria natureza do Homem. Não obstante, a partir do nominalismo no século XIV, tem início um processo de crescente desagregação, que progride através de três marcos fundamentais: o Renascimento e a Reforma - a Revolução Francesa - a Revolução Russa, que em conluio com o demoliberalismo instaura o primado absoluto da Matéria sobre o Espírito no horizonte da consciência universal. 

É uma lástima que uma obra como esta não tenha maior divulgação / difusão por estas plagas, pois poderia ser um excelente antídoto contra o anticomunismo de fancaria que se tem difundido no Brasil nas últimas décadas, uma nefasta peçonha ideológica inoculada no debate público por legiões de pseudoconservadores e liberais; no Brasil e na própria terra natal do autor, diga-se de passagem, que acaba de alçar à presidência da república um execrável charlatão useiro e vezeiro nestes ilusionismos. 


Por Alfredo RR de Sousa