domingo, 29 de outubro de 2023

Por que Cristo é Rei das sociedades e não apenas das almas fiéis?

 


Sem a reta doutrina sobre a Realeza de Cristo nunca entenderemos a doutrina da guerra santa cristã 


    A festa de Cristo Rei foi instituída por PIO XI, Papa de feliz memória, para relembrar ao mundo ocidental cujos estados apostataram depois das revoluções liberais do século 18 e 19 que baniram Nosso Senhor da vida pública, que Cristo é Rei também das sociedades e não só das almas não podendo a religião ficar restrita a esfera privada. A mentalidade liberal contagiou a sociedade com o vírus da laicidade que consiste em separar os negócios do Estado dos negócios da Igreja separando a vida civil da lei divina como se a consciência errônea tivesse os mesmos direitos da consciência reta, igualando falsas religiões com a verdadeira que deixa de ter a devida proteção do governo. Essa mentalidade concebe que ao Estado cabe somente cuidar da vida material e do bem estar econômico ficando indiferente às coisas da alma. Leão XIII, Papa, lembra, na sua encíclica Libertas que as leis civis devem favorecer a salvação eterna. Ao Estado cabe prestar o devido culto e honra ao Deus Verdadeiro, pois o poder só é legítimo se vem dele, fonte de toda autoridade. 


Embora Cristo seja rei sobretudo espiritual pois reina nas almas dos fiéis diz PIO XI, na Quas Primas, que:  


    ERRARIA GRAVEMENTE aquele que negasse a Cristo-homem o poder sobre todas as coisas humanas e temporais, posto que o Pai lhe conferiu um direito absoluto sobre as coisas criadas, de forma tal que todas estão submetidas a sua vontade[...]Portanto, o domínio do nosso Redentor abrange todos os homens, como afirmam estas palavras do nosso predecessor, de imortal memória, Leão XIII, que aqui nós fazemos nossas: “O reino de Cristo não se estende somente aos povos católicos, ou aqueles que, regenerados na fonte batismal, pertencem, por direito, a igreja, ainda que opiniões erradas os afastem ou a divergência os divida da caridade; mas abrange também todos aqueles que não possuem a fé cristã, de forma que todo o gênero humano está sob o poder de Jesus Cristo”. Não há diferença entre indivíduos e sociedade doméstica e civil, pois os homens, unidos em sociedade, não estão menos sob o poder de Cristo do que o estejam os homens particulares”.


Este erro de considerar Jesus somente rei das almas e não das sociedades é o professado pelos protestantes e pelos católicos liberais da linha do Vaticano II e até por tradicionalistas que recusam a luta política em prol do estado católico em nome duma espera que Cristo reine em todas as almas para só então instituir seu Reino Social. Não foi assim na Idade Média quando, em muitos casos, através da conversão de reis, leis cristãs eram estipuladas proporcionando que povos (a exemplo dos francos) adotassem a fé católica, de forma que o reino social preparava as condições para estabelecer o reino espiritual. 


    A reforma da liturgia que gestou a Nova Missa, coloca a Festa de Cristo Rei no último domingo do ano litúrgico a indicar, como diz o Padre Matias Gaudron da FSSPX no seu livro “Catecismo da Crise”, onde expôs os erros do Vaticano II, que o reinado social de Jesus não deve se estabelecer na sociedade e na história mas apenas nas almas e que devemos esperar pelo fim dos tempos, deixando a vida civil sem o fermento do evangelho; mas isto constitui uma heresia já que limita o governo de Cristo à vida dos indivíduos opondo-se de forma explícita ao ensinamento de Pio XI na Quas Primas. Foi nesta linha que Paulo VI, Papa, depondo a luta pela constituição duma sociedade cristã, deu aos católicos a permissão de se filiar em partidos laicos acabando com os partidos católicos que, fomentados por Papas como Pio X e Pio XI, foram veículos para a retomada da cristianização da política no começo do século 20. A liturgia da Missa Tridentina, neste sentido, coloca a Festa de Cristo Rei no meio do ano litúrgico a fim de ressaltar que já agora é factível um Reino Social de Jesus, conforme o ensinamento de Pio XI na Quas Primas, ou seja, uma sociedade inspirada pelo ensinamento evangélico a que chamamos "Cristandade" e que existiu, apesar de suas imperfeições, durante a Idade Média, época em que a vida social, econômica e política obedecia ao poder espiritual da Igreja e, através dela, rendia culto a Deus. 


    Não devemos confundir a cristandade com a heresia milenarista que fala dum reinado pessoal de Jesus na Terra com os justos ressuscitados por mil anos. A cristandade é antes a convergência e a sincronia entre o poder terrestre ou político e o poder espiritual ou eclesiástico, ou seja, teocracia, um governo em nome de Deus. A cristandade não é uma sociedade onde o pecado está banido mas onde está mitigado para favorecer a saúde espiritual dos homens ajudando-os a chegar no seu fim último que é Deus e a vida paradisíaca no céu. 


    Viva Cristo, Rei das almas e das sociedades!