segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Padre Antônio Vieira revela por que Portugal perdeu o lugar para os povos loiros do norte

 




No sermão da Epifania do Padre Antônio Vieira, pregado em 1662 , ele defende a liberdade dos índios contra a cobiça dos colonos que desejavam usá-los como escravos, e explica a razão de Portugal ter perdido a hegemonia para os Países Protestantes do Norte relacionado ao fato de a defesa da escravidão do índio ter sido feita com base no argumento de que eram os “negros da terra”:


“Nos acusam de defender os índios por que não queremos que sirva ao povo mas somente a nós o que não é verdade pois devemos defender o gentio que Cristo trouxe a nós como Ele defendeu os Magos da Tirania de Herodes pois fê-los voltarem para sua terra livres e soberanos, não lhes tirando a pátria nem a liberdade natural e é assim que zelamos que os índios permaneçam […] Mas nada disto basta para moderar a cobiça dos nossos caluniadores por que dizem que são negros [os índios] e hão de ser escravos...Ora dos Magos que vieram visitar Cristo um era preto, Belchior, seria justo que Cristo o mandasse ficar em Belém para ser escravo de São José? Bem o pudera fazer pois é Senhor mas nos quis ensinar que os homens de qualquer cor são iguais por natureza e mais iguais ainda por fé se creem e adoram o Cristo como os Magos. Um etíope se se lava na água do Zaire fica limpo mas não fica branco mas se for batizado fica ambos: limpo e branco. Por isso é tão pouco a fé dos inimigos dos índios que depois de nós os termos feitos brancos pelo batismo eles o querem fazer escravos por negros.


Não é minha intenção que haja escravos...o mesmo sucedeu a São Paulo que tendo libertado do demônio uma escrava em Filipos, na Macedônia foi vítima do motim do povo contra eles – Paulo e Silas – que foram maltratados, presos e expulsos. Pois o povo queria apenas a escrava mas ela com o demônio: pois os cativeiros lícitos sem demônio são poucos e os ilícitos com demônio são muitos […] confundidos pela evidência o que dizem? Que sem escravos não se pode sustentar o Estado! Vede que coisas para se ouvir com ouvidos católicos e apesentar a um rei cristão: que só podemos nos sustentar com a carne dos miseráveis índios. E por que os pregadores do evangelho não querem entregá-los ao açougue dizem-lhe, fora de nossas terras! Ora o Castigo de Sodoma e Gomorra foi mais moderado que será das terras que expulsaram os pregadores de Cristo!


Já considerei por que aquelas terras [ do nordeste do Brasil ] fossem dominadas, pela permissão da Divina Providência, pelos hereges do norte [ holandeses adeptos do protestantismo que dominaram Bahia e Pernambuco no século 17 ]: e a razão é que nós somos tão pretos em relação a eles como os índios em relação a nós! E era justo que se fizemos tais leis por elas se executasse em nós o castigo. É como se dissesse Deus: já que vós fazeis cativos a estes por que sois mais brancos que eles eu vos farei cativos de outros que são mais brancos que vós!


As nações umas são mais pretas e umas são mais brancas pois estão mais vizinhas ou mais remotas do sol! E pode haver maior inconsideração de alguém deve ser senhor de outro por ser ter nascido mais perto ou mais longe do sol?”


Foi o incipiente racismo dos colonos, adverso a união mística das três raças consubstanciada no Brasil e que realiza o grande ethos português como monarquia cristã obrigada a converter e salvar os gentios pois para isto Cristo fundou e instituiu o reino de Portugal, a causa da ruína lusitana. Tiremos disso uma lição sobretudo nesta hora de trevas em que brasileiros se insurgem uns contra outros estimulados pelo bolsonarismo e lulismo que promovem o ódio regionalista entre nordeste x sul/sudeste