quarta-feira, 27 de julho de 2022

É falso que a Igreja maltratou índios nas escolas do Canadá

Francisco diz no Canadá que "fé não pode ser imposta" porém isso não aconteceu nas escolas indígenas administradas pela Igreja no Canadá: na maioria dos casos os pais indígenas mandavam seus filhos a estes estabelecimentos por livre vontade. 

 


    Um grupo de cerca de uma dúzia de acadêmicos no Canadá não acredita em toda a história sobre as escolas residências, administradas por freiras e padres, para crianças indígenas, que o Papa Francisco endossou chegando ao disparate de pedir perdão sobre fatos nunca comprovados. Antropólogos militantes pela pauta decolonial com ajuda da mídia internacional criaram a narrativa de que religiosos católicos associados ao estado canadense, teriam perpetrado um “genocídio” cultural e maus tratos generalizados sob a justificativa de salvar almas e civilizar selvagens. Porém diversos historiadores profissionais negam a versão assumida por Bergoglio. “Nenhum corpo foi encontrado”, disse Jacques Rouillard, professor emérito do Departamento de História da Université de Montréal, ao The Post. “Após meses de recriminações e denúncias, onde estão os restos mortais das crianças enterradas na Escola Residencial Indígena Kamloops?” Larry Read, porta-voz dos responsável pela comissão que analisa a denúncia, confirmou que nenhum corpo ainda foi exumado da escola Kamloops e nenhuma data foi definida para iniciar as escavações. Ele acrescentou que o relatório que mostra os resultados do radar de penetração no solo (GPR) não foi divulgado. Rouillard, que primeiro defendeu o que disse ser uma total falta de evidências para as valas comuns em um ensaio de janeiro, não nega que abusos graves possam ter ocorrido em escolas residenciais. 

Mas ele e outros questionam a narrativa altamente carregada sobre a escola Kamloops, que inclui crianças sendo assassinadas e enterradas no que alguns alunos do passado dizem ser um pomar de macieiras. Sarah Beaulieu, antropóloga da Universidade de Fraser Valley, foi contratada para escanear e pesquisar o local. Ela disse que sensores remotos detectaram “anomalias” e “reflexos” que indicam os restos mortais de crianças. Eles usam muitas palavras como ‘genocídio cultural'”, diz Rouillard e que “Se isso for verdade, deve haver escavações. Tudo é mantido vago. Você não pode criticá-los. Os canadenses se sentem culpados, então ficam quietos.” Os membros da “Primeira Nação”, índios que se consideram os descendentes dos indígenas que viviam no país antes da chegada dos europeus acreditavam há muito tempo que a área continha os restos mortais de estudantes de Kamloops. Quando eles decidiram usar os fundos federais que conseguiram durante o Covid para contratar um especialista para procurar os restos mortais, os resultados foram rápidos o que aponta para uma provável fraude paga para favorecer uma pauta política. Do ponto de vista do analista Yellowhorn, a evidência real da vala comum no local de Kamloops é escassa. Tudo o que o radar mostra é que existem anomalias ou reflexos”, disse ele. “A única maneira de ter certeza é descascar a terra e verificar o que está por baixo. Não chegamos ao ponto em que podemos fazer isso. É um trabalho enorme.” Apesar de seu próprio ceticismo, Yellowhorn diz que é perfeitamente possível que, se as escavações forem realizadas em Kamloops, restos humanos reais possam ser encontrados, assim como em 2014 na Irlanda, depois que o radar de penetração no solo mostrou anomalias em uma das notórias mãe do país e lares de bebês. Já a professora canadense Frances Widdowson disse que ninguém se atreve a questionar os líderes indígenas no Canadá nos dias de hoje, o que torna difícil verificar suas alegações sobre restos mortais de crianças enterrados. 

Afinal, os detentores do conhecimento não podem ser questionados, porque fazer isso seria visto como ‘desrespeitoso'”, escreveu Widdowson em “The American Conservative” em fevereiro. Widdowson é um ex-professor titular da Mt. Royal University em Calgary. Widdowson escreveu que a conversa “sinistra” de crianças indígenas enterradas circulou por mais de 25 anos e “agora está firmemente arraigada na consciência canadense”. Mas ela disse que não há provas concretas. Os professores canadenses também discordam dos relatos de que pelo menos 150.000 crianças indígenas foram forçadas a frequentar escolas residenciais, o que agora é aceito como evangelho no Canadá. Flanagan e outros historiadores dizem que o número é, na melhor das hipóteses, enganoso – porque uma grande porcentagem de pais indígenas optou voluntariamente por escolas residenciais, pois eram a única maneira de seus filhos obterem educação. 


Tom Flanagam, historiador da Universidade de Calgary


O caso de Tomson Highway, um Cree puro-sangue, mostra isso; ele é um conhecido compositor, autor e pianista canadense. Agora com 70 anos, ele conta que “a escola mais próxima de onde sua família perambulava como nômades ficava a 300 milhas ao sul, então a ideia de podermos caminhar alguns quarteirões até a escola ou pegar o ônibus para o ensino médio era um luxo inimaginável, não conseguíamos conceber isso”, disse ele. Então, para receber educação, Highway disse que entrou na Guy Hill Indian Residential School, em Manitoba, em 1º de setembro de 1958. Highway, que escreveu sobre sua infância sub-ártica em “Permanent Astonishment” do ano passado, disse que credita seus anos passados em Guy Hill por seu sucesso na vida. Fui porque meu pai queria”, disse Highway sobre seu pai, um caçador de caribus e campeão de trenós puxados por cães que era analfabeto. “Meu irmão mais velho também era analfabeto. Ele não queria que a mesma coisa acontecesse com o resto de nós, crianças. Então nós fomos."Highway disse que a escola de Guy Hill não era perfeita e que ele testemunhou e sofreu alguns abusos. Mas “não vi nenhuma morte estranha”, disse ele. “Muitos dos brancos de lá eram gentis. A educação que obtive lá... me preparou para a vida”. 


Tomsom Higwhay


Diante do exposto o endosso de Bergoglio a esta acusação é uma irresponsabilidade e um verdadeiro perigo sobretudo por que ela vem sendo ecoada para promover queima de Igrejas no Canadá e posterior eliminação do cristianismo através de um acerto de contas com o Catolicismo por supostos crimes cometidos na era colonial.


quarta-feira, 13 de julho de 2022

Por que o "marxismo" cultural é capitalismo?


 




A direita conservadora costuma fazer uma enorme confusão quando o tema é família e marxismo. A compreensão dominante na cena conservadora é que a nova esquerda é marxista e que o marxismo propugnava a destruição da família patriarcal. A raiz da confusão é a leitura superficial que fazem do livro de Engels sobre a Origem da Família, da Propriedade e do Estado, no qual ele postula que foi o desenvolvimento da propriedade privada que criou o patriarcado – um chefe com poder sobre os membros da gens ou clã – e que essa instituição estabeleceu o primeiro antagonismo de classes, entre homem e mulher, e por tabela o Estado. Engels considera, erradamente, que antes do estabelecimento do patriarcado teria existido um matriarcado e que nele, vigoraria o comunismo de bens e de relações sexuais: todos os homens do clã seriam de todas as mulheres e vice versa, sendo os filhos daí gerados, responsabilidade de todo o clã. Nesta forma de família a parentela é estabelecida pela linha materna, cabendo as matronas definir o lugar e função de cada membro do clã além de distribuir os bens como alimentos e campos de cultivo. Pois bem: essa tese jamais foi confirmada pelos antropólogos ou historiadores embora tenha sido defendida por Bachofen e Frazer, no século 19, que pegaram casos isolados de tribos do Havaí e Polinésia para generalizar que todos os povos passaram por um estágio de matriarcado para depois transitarem para o patriarcado. Hoje os antropólogos concordam que não existem provas consistentes de sociedades francamente matriarcais.


O erro dos conservadores é ignorar que o marxismo nunca adotou como práxis a luta contra o patriarcado mas sim a luta de classes, meio para debelar uma revolução que estabeleça uma propriedade coletiva dos meios de produção, que ficariam sob a regência do estado e não dum matriarcado. É verdade que Engels dizia, na obra supra citada, que “um lar sob direção feminina é um lar comunista” mas tomando em consideração a estrutura social de tribos polinésias em que uma suposta gens oriunda duma matriarca tinha bens em comum. Também é verdade que para o marxismo o fim do patriarcado virá com o fim do capitalismo: mas o foco nunca foi destruir o primeiro e sim o segundo para acabar com o primeiro. O marxismo nunca teve nem terá como foco a destruição duma estrutura familiar qualquer pois para Marx e Engels essas estruturas são produto do modo de produção capitalista e não realidades autônomas que poderiam deixar de existir mesmo dentro duma sociedade e economia capitalista.


A nova esquerda, nos anos 60, inverteu essa equação pois ela espera destruir o capitalismo matando a família patriarcal, nuclear, burguesa (que aliás são conceitos diferentes e que são confundidos pelos autores da esquerda). Marcuse, autor neomarxista, na obra Eros e Civilização, é quem vai avançar na tese de que a liberação da libido seria uma frente de luta contra a sociedade do capital. Assim ele entende que destruída a família patriarcal que reprime a libido, surgiria uma nova forma de sociedade onde o corpo do sujeito sexualizado daria lugar a novas relações de trabalho, abrindo caminho para o fim do capitalismo.


Acontece que o capitalismo já destruiu a família patriarcal que consistia no pai de família controlando os meios de produção; a industrialização acabou com a oficina familiar; o que restou do patriarcado foram alguns dispositivos jurídicos e uma cultura que diferencia o papel sexual masculino e feminino; para eliminar de vez esses resquícios o capitalismo soube absorver a proposta neomarxista desenvolvendo novos nichos de mercado a partir do Maio de 68, movimento claramente influenciado pelas teses marcusianas, através da indústria pornográfica, da erotização da cena musical internacional, etc. A nova ênfase cultural no desejo individual – proporcionada pelo marcusianismo - permitiu realocar capital em produção voltada a demanda e a diversificação de produtos, atendendo ao gosto do cliente, dando vazão, nos anos 70, a uma reestruturação do sistema capitalista mantendo-o como modelo vigente face a concorrência do socialismo soviético, cada vez mais estagnado. Nesse contexto é que entra a segunda onda do feminismo que assumiu a tese dum matriarcado nas origens da humanidade mas dentro dum enquadramento liberalizante: o objetivo não era recriar os velhos clãs matriarcais mas usar a tese para propagar a idéia de que não há uma natureza feminina ligada a cumprir uma missão como esposa e rainha do lar que era o valor dominante nos anos 50/60. Essa segunda onda visava liberar a mulher do esposo, pelo divórcio, da casa, pela inserção no mercado de trabalho, da maternidade, pelo uso de contraceptivos e pelo recurso ao aborto para dar vazão a liberdade sexual. Isso ajudou decisivamente a modernização técnica e produtiva do capitalismo dos anos 70 pois houve uma corrida ao corte de custos com substituição de fontes de mão de obra remunerada mais cara por outras mais baratas com destaque para a feminização da força de trabalho remunerado. Tanto é verdade que em 1940, as mulheres casadas que viviam com os maridos e trabalhavam por salário somavam menos de 14% do total da população feminina dos EUA. Em 1980, eram mais da metade.


Agora os novos formatos de “família” defendidos pelos partidos de esquerda não estão trazendo nenhum novo formato de propriedade capaz de desafiar o modo de produção capitalista: boa parte da militância lgbt é para que duplas gays possam se casar no civil a fim de que possam ter seus direitos patrimoniais garantidos. E não faltam pessoas de direita que defendam um contrato civil entre os envolvidos para assegurar seus direitos de propriedade individual.


Num futuro não muito distante, todo esse experimento em torno de novos arranjos “familiares” - mães solo, “famílias” formadas por filhos de pais diferentes, trisais, duplas lgbt – pode criar um caldo confuso em que será praticamente impossível determinar um herdeiro inconteste do patrimônio familiar, mas isso de per si não gera um contexto propício a retomada da propriedade coletiva, favorecendo o comunismo. Pelo contrário isso estabelece de vez a soberania do indivíduo contra o estado, a religião, a sociedade, a quem caberá decidir, em última instância, o que é ou não família.