segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Lista de heresias e erros da Fratelli Tutti de Bergoglio

Francisco a receber o ídolo Pachamama, divindade dos incas


Cada ponto representa um resumo dos erros e heresias da FT distribuídos nos seus 287 parágrafos. No termo de cada ponto está indicado o parágrafo corresponde ao erro/heresia encontrada. 




- Felicidade é amar o outro ( o amor a Deus não recebe destaque ) n1


- Encíclica dedicada a amizade social ( naturalismo - filantropia - amor natural ) n2


- Perverte a história de São Francisco de Assis com o Sultão dando-lhe caráter humanista ( não ressalta que o santo foi ter com ele para lhe converter a fé católica, antes dá a vista um caráter de universalismo humanista - algo que vence a diferença de cor, nação, religião ) n3


- Diz que São Francisco de Assis não impunha doutrina ( Falso pois foi pregar a fé católica ao Sultão defendendo Cristo diante dos doutores muçulmanos reunidos contra ele na corte de Al Kamil anunciando que todos deviam se converter ao Salvador ) n4


- Dá tom ecumênico a encíclica ao citar o Patriarca Bartolomeu e o Imã Ahmad n5


- Lamenta perda de força do projeto da UE e da Pátria Grande Bolivariana na América Latina n10/11


- Crítica positiva ao globalismo n12


- Crítica a colonização cultural ( ao mesmo tempo propõe uma cultura humanitária universal que é, nada mais, que a dissolução das identidades pátrias e colonização cultural progressista ) n14


- Crítica aos poderes econômicos da globalização enquanto advoga um projeto comum ( globalismo político sim, econômico não) n17


-Critica positiva ao descarte da pessoa pelos poderes econômicos n18/21


- Exaltação da cultura dos direitos humanos como base para superar a falta de qualidade de vida de populações excluídas dos bens da criação n22


- Advoga o feminismo amplo e geral ( igualitarismo mulher-homem) / não ressalta os diferentes papéis de cada sexo n23


- Quer uma globalização com um rumo comum ( governo global? Parlamento global? Medidas globais? Tomadas por quem? Que forma teria? Certamente calcada apenas na tal amizade social sem um horizonte sobrenatural) n29/31


- Pede abertura irrestrita de fronteiras mesmo em países europeus ameaçados pela mistura cultural com populações não católicas ( caso de Polônia, Hungria, etc) n37/41


-Condena o “fanatismo católico” dizendo que se trata de violência verbal n46


-Condena o colonialismo cultural dos países desenvolvidos sobre os subdesenvolvidos dizendo que isso cria baixo autoestima nacional que não ajuda no crescimento de cada povo conforme sua peculiaridade e cultura ( ao mesmo tempo, porém, ele pede uma cultura universal humanitária! Que contradição!) n51


- Fala de esperança num sentido meramente humano como sede do que é pleno, sem referência a vida eterna n55


- Se vale da Parábola do Bom Samaritano para embasar um conjunto de direitos humanos calcados em Deus mas há zero referência ao fato que só pela graça e fé em Cristo podemos amar perfeitamente o próximo e que poderia ser a via para reconstruir a cristandade. n57/62


- Faz uma provocação para que as barreiras históricas entre cristãos e judeus sejam superadas como se os segundos não fossem inimigos encarniçados dos primeiros e negadores de Cristo n84


- Fala da caridade apenas como virtude voltada para o homem, como abertura para o outro, reduzindo o seu caráter sobrenatural enquanto amor de Deus n91


- Assevera que amar é abrir-se e faz a leitura de que isso exige uma “sociedade aberta” ( mesma tese de Karl Popper que consiste numa sociedade sem “preconceitos”- leia-se sem valores religiosos e morais católicos mas aberta a todo tipo de costume e conduta ) n96/98


- Propõe um universalismo democrático multicultural sem homogeneização e eliminação das diferenças ( globalismo pluralista ) n99


- Critica positiva a liberdade econômica que por si só não cria condições dignas a todos. n 110


- Pede desenvolvimento do bem moral sem referência explícita ao fato que só na fé católica existe essa plena possibilidade n112/113


- Pede uma solidariedade meramente humana sem Cristo n114/117


- Ênfase positiva na destinação universal dos bens e na necessidade de colocar a propriedade privada orientada ao bem comum, enquanto direito relativo em vez de absoluto n118/120


- Ênfase positiva na necessidade de apoio às nações mais fracas a fim de que atinjam seu melhor IDH n124/127


-Diz que, no tocante aos grandes fluxos migratórios, as decisões dos estados nacionais não são legítimas nem suficientes pois todas elas recaem sobre a comunidade internacional n132


- Bergoglio pede uma governança global (legislação) para as migrações ( destruição prática das fronteiras nacionais ) n132


- Bergoglio pede uma síntese ocidente—oriente onde o Ocidente deve buscar no Oriente a cura para seu materialismo ( como se a Igreja Católica não pudesse oferecer isso duma maneira melhor que o Oriente!) n136


- Pede um ordenamento jurídico, politico e econômico global ( Governo Global ) n138


- Condena a defesa intransigente duma cultura e tradição como narcisismo localista/ toda cultura só é saudável se aberta aos outros ( não considera o caso de povos cristãos estarem sendo bombardeados por uma cultura laica anticatólica, pelo americanismo cultural, pela pressão da jihad islâmica em algumas áreas do Oriente, pelo Sionismo na Palestina, etc, e que, em muitos casos, esse fechamento é necessário para manter uma religião de pé e uma cultura milenar dotada de valores católicos) n146


- Povo é uma categoria aberta, é um vir a ser, não pode se fechar ( apelo a uma abertura multicultural que destrói a tradição dum povo ou apenas abertura na medida em que a novidade pode entrar em síntese com a tradição? Não fica claro) n160


- Crítica positiva a visão liberal: o indivíduo todo poderoso é uma falácia, o mercado não resolve tudo, a vida privada sem a ordem pública não subsiste n163/169


- Lamenta a perda de poder dos estados nacionais ante o crescimento dos poderes financeiros, mas, ao mesmo tempo, advoga um poder global comum para erradicar a fome e estabelecer os direitos humanos universais ( globalismo mercantil não pode/ globalismo político pode!) n172


- Pede autoridade mundial sem citar a Igreja Católica, a única autoridade mundial estabelecida por Deus na terra n172


- A política não deve se submeter a economia mas aos direitos humanos e bem comum mas nada de referir que a potestade política deve estar ligada a autoridade espiritual da Igreja ( humanismo laico ) n 177


- Amor social como caminho para uma civilização do "amor" sem referência a uma sociedade católica que embase isso; civilização do amor meramente humano. n183


- Fala da necessidade de buscar a verdade e que o relativismo não é o caminho para construir o bem comum mas nada de referir-se a Cristo como a Verdade. n206/209


- Defende o diálogo para chegar a verdades fundamentais e esquece de dizer que a Igreja já possui estas verdades: no mais tais verdades seriam, no máximo, aquelas naturais e acessíveis a razão e não as verdades reveladas sem as quais uma sociedade não pode ser redimida de suas feridas morais n211/214


- Paz social baseada na cultura do encontro e diálogo e não na redenção de Jesus Cristo: nada de restaurar todas as coisas Nele mas sim em confiar no homem ( otimismo iluminista ) n216/217

- Erra ao dizer que Jesus não autorizou o uso da violência e da intolerância; Nosso Senhor espancou os cambistas do templo, fazendo ele mesmo uso dela, assim como não mandou Pedro jogar fora a espada mas guardá-la ( base da doutrina do poder temporal dos papas que deu origem aos estados pontifícios durante a Idade Média e que foi consagrada na Bula Unam Sanctam ); outrossim deixou o mandamento de que aquele que depois de três admoestações não ouvir a Igreja que seja tratado como pagão e excomungado, consagrando o princípio da intolerância; São Paulo também diz em Romanos 16, 17 que os fiéis se afastem dos hereges n238


- Mente ao afirmar que as primeiras comunidades cristãs eram tolerantes com o mundo pagão em que vivia citando fora de contexto passagens de 2 Timóteo e Tito. Ora o Apóstolo São Paulo que pedia correção com suavidade se referia na mesma carta de 2 Timóteo 3, 1-9, do perigo que representam os homens de espírito corrupto desprezadores de Deus de quem os fiéis deveriam se precaver. São Paulo insiste que Timóteo no capítulo 4 de 2 Tim que combata o erro pois dias virão em que as pessoas não suportarão a sã doutrina. n239


- Heretiza ao rechaçar, in totus, a guerra e a pena de morte como recursos em casos graves; ora Santo Agostinho e Urbano II, papa que convocou as cruzadas, deram base teológica a guerra santa cristã e a Igreja sempre ensinou a liceidade da pena de morte como recurso em casos em que não resta outra via para restaurar a boa ordem. Se a guerra revela a condição de queda do homem nem sempre ela é má ou injusta como quer fazer parecer Bergoglio no número 261 n 255/270


-Apela a que todas as religiões se unam no reconhecimento de que somos filhos de Deus mas nem todas creem em Deus n271


-Lamenta o materialismo do mundo moderno mas numa clave de defesa dos “valores religiosos” em vez de se referir, claramente a que a única via para solucionar isto é a Igreja Católica, mãe e mestra da Verdade, e não valores de quaisquer religiões como se todas fossem igualmente boas n276


- Heretiza ao dizer que Deus age em outras religiões quando, na verdade, a Igreja é a única religião que guarda a revelação de Deus e pela qual ele continua a falar com o mundo n278


- Pede a intercomunhão plena das seitas protestantes e da Igreja Católica ( para que trabalhem pela humanidade não pela glória de Deus ) como se a unidade ainda estivesse por construir e não fosse, a própria Igreja Católica, o único rebanho de Cristo a quem todos devem se converter n280


-Diz que é possível a Paz entre a verdadeira religião e as falsas n281


-Condena as cruzadas e a inquisição como se derramar sangue culpado e herético fosse avesso a lei divina que permite o uso da força e da violência santa quando a salvação das almas e a vida da cristandade correm perigo n285






quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Refutação de Carlos Ramalhete sobre a liceidade das "uniões civis gays" de Bergoglio



De fato o diabo está a atacar o Papa: com a idéia de uniões civis gays o que se dará é justamente a progressiva equiparação das duplas gays aos casais héteros. 



Ramalhete se faz de besta.

Primeiro por que reconhecimentos de uniões de fato ( como já ocorre com as uniões estáveis ) no atual ordenamento jurídico ocidental implicam no que diz o caput do artigo 1.723 do Código Civil, que estabelece ser a união estável - protótipo dos regimes de "uniões" de ato-fato jurídico - constituída “com o objetivo de constituição de família". Todo a filosofia jurídica ocidental, nos últimos anos, passou a girar no entorno de uma base costumeira ( onde fato faz o direito em vez do direito, emanado da ética, da lei natural, da lei eterna, etc, regular os costumes ) de origem anglo-estadunidense que faz de hábitos sociais consolidados um direito. Assumir esse pressuposto é aplainar a estrada para amanhã autorizar e reconhecer sobre todo tipo de perversão.


Segundo que a expressão “com objetivo de constituição de família” têm o mesmo significado de natureza familiar na jurisprudência ocidental atual. A configuração da natureza familiar da união estável não depende de qualquer ato de vontade, ou seja, da vontade de constituir família. Ainda que os companheiros ou conviventes declarem expressamente, em algum ato jurídico, que não desejam constituir família, a natureza desta será determinada pelo juiz, tomando em conta apenas "fatos" e não o conceito reto do que seja família.


Terceiro que o art. 1.725 do Código Civil admite que os companheiros possam celebrar contrato escrito para regular “as relações patrimoniais”. Os "companheiros" podem adotar algum dos regimes aplicáveis facultativamente ao casamento o que significa a equiparação deste regime de união civil ao do casamento natural. A ausência desse contrato fará com que os bens adquiridos por qualquer dos companheiros na constância da união estável entrem na comunhão, segundo o regime de comunhão parcial do casamento, com ou sem participação de ambos na aquisição por decisão do juiz e em face a jurisprudência já consolidada. Logo, tais uniões, acabam ganhando o mesmo status que o casamento, ao fim e ao cabo.


Quarto que as uniões estáveis acabaram por, na prática, regulamentar a bigamia e a poligamia em desfavor da fidelidade matrimonial e da boa ordem social.


Quinto que, como diz Leão 13, as leis civis devem favorecer a salvação eterna das almas. Leis que favorecem aqueles que vivem amasiados no pecado vão na linha oposta ao deste princípio. Ainda que se pudesse alegar a necessidade duma união civil gay para regular direitos de patrimônio e sucessão no caso de morte ou separação da dupla, pergunto: qual a finalidade da transmissão dos bens patrimoniais senão a segurança da prole e sustento dos laços sanguíneos? Sodomitas não podem ter prole natural, de modo que as leis devem dificultar ao máximo que sua união de fato traga benefícios em termos de direitos que mais estimulam a desobediência a lei de Deus, facilitando o pecado, que a obediência, o dificultando.


Sexto que tal dispositivo facilitaria a adoção de crianças por duplas gays já que direitos de sucessão e transmissão estariam consolidados e equiparados ao do regime de comunhão de bens do casamento civil.


Enfim, por todos estes motivos esta proposta é completamente oposta ao que se poderia esperar dum católico bem informado quanto menos dum papa pela falta de prevenção que ela representa.

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Entenda por que o Chile está a beira da primeira revolução identitária da história: a América do Sul em perigo.


 

O que está a acontecer no Chile é uma revolução. Não se tratam apenas de protestos e de revolta popular contra um governo de direita que encareceu o custo de vida do povo mas duma mudança estrutural do país. Bom lembrar que revoluções começam, via de regra, através de manifestações populares de descontentamento que, capturadas por intelectuais, ganham uma direção que lhes falta. Foi assim na revolução francesa onde as ondas de rebelião no campo e nas cidades foi capturada pela gironda que tinha um projeto estruturado de monarquia constitucional delineada nos porões das lojas maçônicas pelos pensadores da ilustração. Foi também o que aconteceu na Rússia de 1917 em que os descontentamentos e a fome causada pela permanência na primeira guerra deram aos bolcheviques a oportunidade de tomar as rédeas dos soviets. Nos dois casos uma inteligência, uma minoria organizada, se sobrepõe às forças caóticas de destruição a fim de construir uma nova ordem dos escombros.

O que se passa no Chile deve ser descrito em três passos; no primeiro trata-se de entender que Chile temos, no segundo que Chile está sendo criado, no terceiro o que isso significa para a América do Sul.

A atual constituição do Chile é de corte neoliberal nascida na ditadura de Pinochet. Ela dá pouco destaque ao papel do Estado na prestação de servições de saúde, educação e previdência. Os protestos querem uma nova constituição que garanta esses serviços via Estado. A princípio pode parecer que temos uma revolução pró Estado mas não se enganem. A idéia de base do Unidad Social, movimento que unifica coletivos de esquerda e que passou a liderar as manifestações – a minoria organizada, a inteligência revolucionária – é a da sociedade civil organizada x Estado. Não custa lembrar que a lógica da era Pinochet também estava marcada por menos Estado no plano econômico e social embora por mais Estado no plano policialesco. Agora o discurso que sustém o projeto do Unidad Social é o inverso: mais serviços com menos poder. Explico: a Mesa Sindical que forma o Unidad Social criou uma estrutura de “cabildos populares” espécies de comunas que seriam protótipos da democracia direta a ser implementada via nova constituinte, ou seja, uma espécie de experimento anarquista. O clamor por um novo pacto social que garanta direitos básicos aos mais pobres é absolutamente legítimo porém as organizações da esquerda anarco-feminista e indigenista aprisionou esta aspiração justa dentro dum esquema completamente espúrio e que atende a interesses escusos. Para se ter uma idéia a Mesa da Unidad conta apenas com coletivos de esquerda em sua composição como se a sociedade chilena estivesse perfeitamente espelhada por elas. Na Mesa temos a CUT chilena e a “No Mas AFP”, organizações marcadas pela luta trabalhista e previdenciária mas quem dá o tom na Unidade Social são militantes que carregam um discurso democratizante/identitário ou comuno-anarquista. É o caso de Barbara Figueroa, professora universitária ligada ao movimento Juventud Comunistas de Chile. Figueroa se tornou líder da CUT afastando Arturo Martinez da direção da mesma, um socialista moderado. Barbara faz parte do “Colégio de Profesores” organização que lidera manifestações estudantis desde 2006 e cujos dirigentes são, na sua maioria, filiados ao partido comunista chileno, não representando, portanto, o conjunto do professorado chileno mas servindo de fachada para organizações partidárias. É o caso, inclusive, do seu atual presidente, Mario Aguilar, um dos fundadores do Partido de Los Verdes, de linha ecologista e ligado ao Movimento Siloísta fundado por Luiz Cobos e que tem por objetivo instaurar uma nova humanidade calcada na “diversidade”. Esse movimento deu origem, no Chile, ao Partido Humanista ao qual o sr. Aguilar pertence.

Barbara Figueroa, comunista líder da CUT do Chile

Outro nome importante nesse cenário é o de Alondra Carrilo, a líder do movimento feminista 8M que está por trás do vilipêndio às Igrejas. A 8M é uma “internacional feminista” que não representa organicamente a sociedade chilena. A 8M foi fundada pela comunista Angela Y. Davis, entre outras militantes feministas; Davis é a criadora da ONG Critical Resistance que trabalha pelo fim dos “complexos prisionais” e pelos “direitos” de criminosos. Outra fundadora é Mônica Benício da ONG Human Rights que está sob o auspício de várias fundações globais. Por tudo isto se vê em que direção está indo o Chile. Para aclarar ainda mais o cenário chileno lembro que a Human Rights Watch foi fundada como uma ONG americana em 1978, sob o nome de Helsinki Watch, cuja missão era monitorar o cumprimento pela então União Soviética dos Acordos de Helsinque. A Helsinki Watch adotou a prática de publicamente "nomear e envergonhar" governos abusivos através de coberturas jornalísticas e colaborações com formuladores de políticas. Ao expor internacionalmente as violações dos direitos humanos na União Soviética e em seus parceiros europeus, a organização contribuiu para as transformações democráticas da região no final de 1980, servindo, portanto como navio quebra gelo para a implantação da pax americana e a unipolaridade. Uma das organizações de mídia dos USA mais dedicadas a cobrir positivamente as mudanças no Chile é o Democracy Now, grupo financiado pela JM Kaplan, fundo de apoio a direitos humanos e ambientais, a Fundação Lannan que apoia a literatura indigenista e o indigenismo, a Park Foudantion, do magnata da mídia Roy Park, que financia causas liberais e ambientais, além da já conhecida e famigerada Fundação Ford, entre outras. Portando o que estamos a assistir no Chile é a velha e conhecida revolução colorida onde um governo não perfeitamente alinhado aos interesses americanos é substituído por outro: é a revolução permanente pela via da democracia e não mais do comunismo puro e simples, uma revolução que despoleta um processo de dominação dum país pelas ONGs estadunidenses, poderes financeiros internacionais, coletivos anônimos que obedecem a comandos estrangeiros e a pautas exóticas e exógenas, forças estas comprometidas com a destruição final da malha nacional dos países que são suas vítimas.

                Alondra Carrilo, a Sarah Winter de esquerda do Chile

Mas, no caso chileno ainda há um agravante que faz essa revolução colorida ganhar cor nova: o projeto da nova constituição aborda a autonomia das terras mapuches. A pauta pela criação do Estado Mapuche merece um artigo em separado pela extensão do problema que coloca em risco não só a soberania do Chile quanto da Argentina. Primeiro é preciso lembrar que jamais existiu um povo mapuche e o que se convencionou chamar de mapuches são remanescentes de 4 povos que existiam na Araucania e Patagônia. E em segundo lugar é preciso destacar que a luta pelo estado mapuche dentro dum novo estado comunal chileno se faz em torno da batalha pelo reconhecimento das identidades (sexuais, étnicas, geracionais) que marca a ideologia pós moderna. O historiador Fernando Pairicán vê na causa dos mapuches uma chance de incorporar o Chile de vez às tendências da pós-modernidade.

Isso tudo terá consequências desastrosas para a América do Sul caso realmente se concretize pois poderemos vir a assistir a primeira revolução anarco-colorida e identitária da história. Quem conhece o passado sabe bem como esse tipo de experiência revolucionária tem a capacidade de despoletar processos semelhantes em outros países. Sabemos que o Brasil vive, agora, um processo de implantação da pós modernidade via grande mídia e via  partidos/coletivos/intelectuais/propagandistas progressistas além do papel da new left. Sabemos como o cenário em toda a América do Sul vem se desenhando, nos mais variados países, em torno duma guerra híbrida entre partidos da direita patriótica neoliberal ao estilo  do partido republicano dos USA x identitários democratizantes pós modernos que é o esquema em cima do qual se desenha a revolução no Chile agora, assim como também por aqui, se delineiam reclamos cada vez mais intensos e organizados em torno de terras indígenas que podem vir a se valer do exemplo mapuche. Exportar essa mesma experiência pelo continente não será difícil se o exemplo do Unidad Social vingar e isto nos porá num quadro de balcanização do continente.


A bandeira Mapuche, colocada acima da do Chile, durante os protestos de 2019 em Santiago. 

Um outro elemento da equação é o recente alinhamento do Chile em direção a Ásia via acordo do Pacífico. Em 2015 o Instituto Inter American Dialogue, sediado em Washington, deixou claro que a China era o parceiro invisível do acordo e ligou o alerta de vários thinks thanks e organizações americanas quanto aos rumos do Chile.

Quem tiver olhos que veja.  



sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Fugir dos Rad-Trads para cair no colo de Pachamama: refutação do padre Leonardo

 



Antes e durante o Vaticano II as forças da dissolução da Igreja dentro da Igreja – os teólogos modernistas do movimento litúrgico, bíblico e ecumênico calcados na síntese de todas as heresias já condenada por São Pio X na Pascendi – não fizeram o caso de mascarar seu ímpeto progressista deixando claro que o objetivo era mesmo secularizar a Igreja aproximando-a do mundo e colocando-a à altura dos tempos modernos. Mas depois de décadas de aplicação das reformas do CVII e com os maus frutos decorrentes delas – perda de vocações, menos assistência aos sacramentos, perda de fiéis, etc – não é mais tão fácil convencer que o progressismo seja o caminho. Por isso foi preciso vestir a demolição da Igreja de capa e tiara, de batina e sobrepeliz, para dar-lhe novo fôlego com uma roupagem que tem ares de “tradição” sem que vá, de verdade, ao cerne do que seja a Tradição. Este o caso do padre em tela. Leonardo Wagner, egresso do carismatismo – mais um fruto podre das reformas do CVII – agora se apresenta como padre da “tradição”, um sacerdote apegado a missa “na forma extraordinária”, um “tradicionalista moderado” que rechaça o “tradicionalismo radical”, ou seja, um “tradicionalista” que atravessa uma corda bamba embaixo dum abismo e que tenta sintetizar o ensino imutável da Igreja com as novidades do CVII – todas elas condenadas pelos papas pré conciliares.


Por conta dessa revolução de capa e tiara – anunciada pela alta venda maçônica já no século 19 – agora sob a forma da idéia de hermenêutica da continuidade iniciada por Bento 16 é que padres como Leonardo ascenderam na cena católica do Brasil – na esteira de Padre Paulo Ricardo e outros adeptos da corda bamba que tentam equilibrar obediência a modernistas com missa de sempre.


Esse equilibrismo, que é medo de lutar e de perder o sentimento de que vai tudo bem e que tudo segue equilibrado na Igreja pois, se fosse diferente disto eles teriam que dar uma resposta existencial a este quadro pois quando tomamos consciência das coisas já não podemos ser mais os mesmos, exige de nós uma refutação das falácias, sofismas e espantalhos usados como recursos pelo padre referido para denegrir a posição tradicionalista e levar as consciências a um estado de cegueira, único capaz de assegurar a letargia necessária para que tudo seja destroçado sem que ninguém oponha, às forças do mal, muralhas e exércitos.


Vamos, então, ao texto do padre referido com as devidas refutações.


No dia 11 de outubro de 2020 Leonardo Wagner escreveu este texto sob o título de “Fuja dos Rad-Trads” - em negrito e sublinhado - onde elenca que:



1- “Um problema que provoca um impacto negativo entre os fiéis católicos são os grupos tradicionais radicais. Tais grupos negam a autoridade do Papa Francisco, a validade da Missa de Paulo VI, a validade de canonizações, etc.”


Refutação: Em que consiste negar a autoridade de Francisco? Contestar a validade de sua eleição? Questionar a sua forma de governar?


A posição tradicionalista de linha lefebvrista sempre se caracterizou por criticar a forma do exercício da autoridade tal como esta se desenhou após o CVII e não por negá-la aos papas conciliares. Tal posição é a dos sedevacantes que não reconhecem os últimos papas como pontífices legítimos. Mesmo no caso deles seria absurda a acusação, desde o pressuposto do qual partem que é o de que tais papas teriam sido, na verdade, usurpadores o que obrigaria a resistir-lhes como a antipapas, não constando aí, rigorosamente falando, nem pecado de cisma ( que é a recusa de obedecer ao pontífice e permanecer em comunhão com ele pois isto exige que o acusado reconheça que exista um papa reinante ) nem de heresia ( pois não advogam a posição de Lutero, qual seja uma Igreja sem papa ou cabeça). Por outro lado toda autoridade deve ser exercida dentro de limites de modo que o poder civil se baseia na lei, num pacto entre governantes e governados, enquanto que o poder eclesiástico se funda em critérios estipulados por Nosso Senhor Jesus Cristo cujo princípio máximo é o da salvação das almas e onde o modo é hierárquico e imperativo e não dialogal e consensual.


Desde o CVII não só a maneira de exercer a “autoridade” foi modificada quanto a doutrina que a fundamenta. A maneira pois em vez de impor os hierarcas dialogam o que lhes revela a doutrina que subjaz a este novo modelo de “hierarquia”: a Igreja não tem a verdade plena por isso dialoga-se com o mundo, com as falsas religiões, com as seitas, com os homens de “boa vontade”; a Igreja de Cristo não é mais a mesma coisa que a Igreja Católica, apenas subsiste nela, como diz a Lumen Gentium, mas também pode subsistir fora dela nos vários caminhos do homem, de modo que os papas não devem mais agir de forma imperativa, ensinando o caminho da salvação e da verdade ao mundo, eles devem, também aprender dele, levando a uma síntese entre Igreja e Mundo.


Por isso que não são os tradicionalistas que negam a autoridade de Francisco mas ele mesmo que a recusa. E isto fica claro em dois documentos oficiais:;


- Primeiro na Evangelii Gaudium onde vemos no número 32 que:


“ Dado que sou chamado a viver aquilo que peço aos outros, devo pensar também numa conversão do papado”


Percebam que não se fala de conversão do Papa que pode, como pessoa individual, ser mais ou menos fiel ao múnus recebido de Cristo; antes Francisco fala de mudança – conversão é mudar de direção – do papado, da instituição.


Continuando:


“Compete-me, como Bispo de Roma, permanecer aberto às sugestões tendentes a um exercício do meu ministério que o torne mais fiel ao significado que Jesus Cristo pretendeu dar-lhe e às necessidades actuais da evangelização”.


Acima Francisco dá a entender que estaria a falar duma maior fidelidade ao seu encargo mas na sequência do texto vai ficando claro que é não é bem isso;


“O Papa João Paulo II pediu que o ajudassem a encontrar «uma forma de exercício do primado que, sem renunciar de modo algum ao que é essencial da sua missão, se abra a uma situação nova».[35] Pouco temos avançado neste sentido. Também o papado e as estruturas centrais da Igreja universal precisam de ouvir este apelo a uma conversão pastoral.”


Ou seja, não se trata de conversão pessoal mas de mudar estruturas.


Continuando:


“O Concílio Vaticano II afirmou que, à semelhança das antigas Igrejas patriarcais, as conferências episcopais podem «aportar uma contribuição múltipla e fecunda, para que o sentimento colegial leve a aplicações concretas».[36] Mas este desejo não se realizou plenamente, porque ainda não foi suficientemente explicitado um estatuto das conferências episcopais que as considere como sujeitos de atribuições concretas, incluindo alguma autêntica autoridade doutrinal.


Vejam: Bergoglio pede que conferências episcopais façam parte da Igreja Docente, tendo poder de doutrinar! Todavia o múnus de ensinar pertence apenas ao Papa e Bispos; as conferências episcopais são apenas associações nacionais de bispos duma região ou país, não fazem parte da estrutura hierárquica da Igreja. Neste caso a doutrina ensinada pelas conferências obrigaria cada bispo local – uma clara usurpação do poder episcopal. Como uma conferência poderia dedicir questões de doutrina levando em conta apenas contextos locais se a doutrina deve ser universal? Então teríamos uma doutrina para cada país? Neste contexto o poder do papa seria reduzido em matérias judiciais e legislativas, caminhando para se tornar apenas um coordenador da “unidade” entre as conferências. Ademais as conferências se organizam de forma democrática, baseadas no consenso e na maioria, são fruto do espírito colegial-democratizante do CVII, enquanto que a Igreja Católica é hierárquica.


E não estamos aventando hipóteses ou elucubrando ao vento: Francisco diz expressamente que deve haver uma doutrina para cada lugar e que o papa não deve decidir sobre todas as questões de fé, como vemos na Amoris Laetitia, número 3:


“Recordando que o tempo é superior ao espaço, quero reiterar que nem todas as discussões doutrinais, morais ou pastorais devem ser resolvidas através de intervenções magisteriais. ( redução explícita da autoridade papal – nota nossa ) Naturalmente, na Igreja, é necessária uma unidade de doutrina e práxis, mas isto não impede que existam maneiras diferentes de interpretar alguns aspectos da doutrina ou algumas consequências que decorrem dela. Assim há-de acontecer até que o Espírito nos conduza à verdade completa (cf. Jo 16, 13), isto é, quando nos introduzir perfeitamente no mistério de Cristo e pudermos ver tudo com o seu olhar. Além disso, em cada país ou região, é possível buscar soluções mais inculturadas, atentas às tradições e aos desafios locais. De facto, «as culturas são muito diferentes entre si e cada princípio geral (...), se quiser ser observado e aplicado, precisa de ser inculturado”.



Quanto a validade das canonizações pós CVII os tradicionalistas alertam para a falta dum processo seguro calçado no contraditório (advogado do diabo), no exame de todos os escritos do candidato e não apenas dos escritos públicos ( alguém pode ser herege em privado ), nos três milagres e nas virtudes heróicas do candidato, elementos ausentes ou – no caso dalgumas canonizações – dispensados. Nem se poderia mais falar, estritamente, em processo de canonização mas apenas em procedimento pois já não existe um julgamento da causa dependendo a decisão sobre o candidato aos altares apenas do cumprimento das fases procedimentais requeridas o que envolve, no mais das vezes, a mobilização de vultosos recursos financeiros por parte dos promotores o que coloca candidatos que advém de dioceses ricas e de organizações milionárias ( Caso de JoseMaria Escrivá da Opus Dei ) em posição de vantagem, pervertendo a coisa toda. Quanto a missa nova a posição tradicional sempre foi de que ela é ilícita mas não inválida. Portanto o padre Leonardo mente no tocante a estes dois pontos: nenhum tradicionalista trata as duas questões a partir da noção de invalidade mas da de suspeição e ilicitude. Obviamente o padre em tela precisa criar um espantalho feio em vez de pontuar as coisas com honestidade a fim de pintar o tradicionalismo como se fora o diabo em vez duma posição embasada na mais lídima doutrina católica.



2- “Além dessas más condutas, esses grupos atraem pessoas para a “tribo”. Por conta dos rigorismos impostos, a pessoa acaba desenvolvendo os escrúpulos de consciência, um defeito de consciência que muitos já devem conhecer. A partir daí, é ladeira abaixo, a pessoa vai se cansando, vai desenvolvendo uma fadiga espiritual, pois foi colocado um peso muito grande sobre o seu ombro. No final da história, ela acaba cansando e deixando a vivência da fé católica como um episódio passageiro da sua biografia”.



Que pessoas foram essas que o padre diz terem saído da Igreja e perdido a fé? Ele não aponta um só exemplo, não apresenta números, talvez por que tenha medo dos números envolvendo a missa nova e dos meios conciliares que mostram uma verdadeira fuga de vocações religiosas e sacerdotais além da fuga de fiéis, fatos que não preocupam Leonardo. Quando Paulo VI encerrou o Concílio Vaticano II em 1965, os religiosos estavam no máximo fulgor. Os membros dos institutos masculinos eram 329.799, as mulheres chegavam quase a um milhão (961.264). Eram os anos em que os religiosos davam exemplo da universalidade da Igreja, estando presentes nos lugares de missão espalhados pelo mundo, não temendo enfrentar as hostilidades dos estados seculares e encarnando o impulso à missão. A Europa já perdera a exclusividade da vida consagrada, enquanto as Américas, em particular os Estados Unidos, se povoavam com túnicas e véus. O tempo da prosperidade, porém, estava se esgotando. Apenas uma década depois, os religiosos já tinham caído 18,51% (-61.053), e as religiosas, 9,72% (-93.491). Desde então, a tendência ainda não se inverteu e só piora com o passar dos tempos. Durante os primeiros 40 anos pós-conciliares, as congregações clericais ou sacerdotais se contraíram em média 24,58%. Na Irlanda, por exemplo, foram ordenados apenas 14 sacerdotes no ano de 2015, contra uma média de quase 300 algumas décadas atrás! Na França, a redução foi de 85%, na Alemanha foi de 88%. Na FSSPX tradicionalista, ao contrário, entre 2013 e 2017 tivemos 23 sacerdotes ordenados por ano, mais que a Irlanda inteira.


No Brasil, apenas 37% dos católicos de missa nova afirmam que vão à igreja ao menos uma vez por semana, contra 76% dos protestantes. Na Argentina, terra natal de Francisco, o número cai para 15% e chega a apenas 9% no Uruguai. No Brasil, 54% dos atuais protestantes dizem ter sido criados como católicos. Como temos cerca de 50 milhões de protestantes no país segundo os últimos censos isso dá uma perda de mais de 25 milhões de almas durante a fase que o CVII foi aplicado no Brasil que coincidiu com os anos 60/70 em que tivemos um grande crescimento populacional ligado a ascensão do mundo urbano e a migração interna para os grandes centros industrializados do sudeste o que prova a ineficácia da pastoral baseada nos preceitos do aggiornamento do concílio.


Os dados não mentem, já o padre Leonardo não poupa no uso de mentiras para desinformar o seu público cativo. E não se esqueçam: se fugirem dos rad-trads, como pede o padre, cairão nos braços da Pachamama - https://oriundi.net/a-nova-moeda-do-vaticano-representa-a-pachamama


segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Cuidado com os amigos da China: Gala, Pepe Escobar e Dissidência na cama com Xi Jinping

Pepe Escobar, agente chinês. 


Nós, ano passado, mostramos como o governo Bolsonaro havia feito acordos favoráveis jamais vistos com o fito de que a China tivesse controle de nossas terras e nosso futuro alimentar apontando o entreguismo do atual governo como uma divisão de espólios entre China e EUA pelos nossos recursos naturais, divisão esta perfeitamente compreensível desde o ponto de vista da realidade da “Chimérica” que tomou forma nos anos 2000. Passado um ano a coisa toda evoluiu muito negativamente por várias razões: primeiro por que o eleitorado de base do presidente, apesar de se apresentar como patriota, anda pouco ou nada preocupado com a entrega de nosso patrimônio; segundo por que o quadro da Covid-19 debelou uma propaganda favorável ao regime chinês em nossas terras, apresentando a política sínica como eficaz no combate ao vírus, propaganda levada a cabo pela cena "dissidente" sobretudo calcada em nos fazer acreditar que a China foi exemplo de combate a uma peste que ela jamais foi capaz de prevenir se valendo de política sanitária em seus mercados de carne exótica, vírus do qual já se alertava faz anos; essa mesma “dissidência” que diz não trabalhar pela invasão do Brasil pela China vai implementando o soft power chinês cá dentro asseverando que o governo de Xi Jinping, em vez de encarnar o materialismo marxista representa uma síntese entre tradição espiritual taoísta e maoísmo que significariam uma continuidade histórica com o passado chinês ( desinformando sobre a natureza destrutiva da revolução cultural maoísta que proibiu e queimou obras taoístas apontadas como superstições abomináveis pelo Partido Comunista Chinês ) - http://novaresistencia.org/2020/03/22/a-dialetica-chinesa/. 

O que a “dissidência” não fala é que quando abriu a economia chinesa, por volta de 1988, o reformista Deng Xiaoping justificou sua “traição” ao maoísmo com a frase: não importa se o gato é preto ou branco mas se caça ratos. A filosofia por trás das ações tomadas nas últimas décadas pelo governo comunista de Pequim consiste no uso prático da máxima de Confúcio de que devemos copiar o que admiramos para depois superá-lo, dentro do quadro da dialética marxista. Nisto que consiste o “taoísmo” ou o “confucionismo” do partido: não se trata duma abertura metafísica ou espiritual da elite materialista do PC sínico mas sim duma instrumentalização de tradições que ainda tem lugar ante as massas chinesas para um fim estranho às mesmas. Seu “taoísmo” atende a tornar o ditador ateu Mao Tsé Tung num espírito do panteão taoísta, mascarando o culto politico aos líderes comunistas com uma casca mística que atinge o povo simples e assegura sua veneração; quanto a seu “confucionismo” visa apenas fornecer um cabedal de virtudes disciplinares para educar o povo na obediência a um Estado Totalitário. Somente um idiota completo que desconheça a dinâmica interna do governo de Pequim e da nova orientação dada por Hu Jintao ao PC chinês ( Jintao como secretário do partido em Ghizou, criou um clima de diversidade intelectual e ideais reformistas que visava lançá-lo como liderança comprometida com o passado maoísta e o futuro, angariando apoio da velha guarda do partido como dos mais progressistas o que fazia dele uma pessoa vista como coisas diversas por pessoas diferentes ) ou quiçá alguém dotado de má-fé poderia apresentar a “grande síntese” como uma reviravolta espiritual do comunismo sínico em vez dalgo meramente metodológico. 

A coisa se torna ainda mais tragicômica quando a mesma “dissidência” aponta a China como “civilização da fé/espírito” em contraponto ao Ocidente que, teria se tornado a civilização do lucro/ dinheiro ( como vemos aqui: http://novaresistencia.org/2020/03/24/a-resposta-chinesa-ao-covid-19-esta-essencialmente-ligada-a-doutrina-confucionista/). A China, aí, é apresentada como tendo instituições embasadas na tradição espiritual de Confúcio e como um poder benfazejo que se levantaria ante o materialismo ocidental como se o país não tivesse mergulhado de cabeça na onda consumista materialista a lá ocidente: https://www.vix.com/pt/bbr/2423/comunismo-6-provas-de-que-a-china-e-mais-consumista-do-que-voce-pensa. Quanto a China ter “vencido” o surto do Covid-19 nada é mais falso: novas ondas do vírus se manifestaram por lá em Junho, espalhando-se de Pequim para Liaoning. Aliás a China foir marcada, durante todo este ano, por novos surtos que vão desde a gripe aviária ( https://www.sbmt.org.br/portal/in-the-shadow-of-the-coronavirus-china-records-bird-flu-outbreak/) passando por nova onda de hantavírus ( https://www.lasexta.com/tecnologia-tecnoxplora/ciencia/divulgacion/hantavirus-infeccion-china-epidemia-covid19-coronavirus_202003265e7cad73d41df90001c201ae.html) quanto de Hepatite E inédita ( https://atanews.com.br/noticia/29619/china-relata-transmissoes-ineditas-de—hepatite-e--de-ratos-para-humanos) o que prova a incapacidade do governo em termos de controle sanitário. 

Ainda sobre a propaganda sínica em nossas terras cabe recordar e refutar três narrativas farsescas a respeito de Pequim. Uma alega que o inimigo a ser combatido é apenas a hegemonia liberal, a outra é que a China seria um contraponto a mesma e que mereceria apoio por parte de todo adversário do ocidente liberal e por fim a última alega que o “comunismo” do PC sínico seria “meramente estético” o que tornaria possível, a quem professa a fé no Deus cristão ou em alguma outra religião, um endosso ao papel chinês apesar de seu “comunismo” que, no fim das contas, não representaria risco algum as tradições religiosas. Primeiro é preciso dizer que o mundo não é tão simples como pensa a “dissidência”. A política ocidental atual está dividida entre partidos mais liberais e facções social democratas que tomam a globalização como fato consumado, é verdade, mas possuindo visões diferentes sobre a inserção de seus países no sistema novordista pós 1991. O sistema financeiro e seus agentes, via de regra, não tem partido, oscilando entre políticas de estado mínimo e políticas sociais a depender do momento; a política sistêmica é dividida entre neoliberais descarados, social democratas que aceitam algum nível de neoliberalismo, perpassando até partidos claramente eurocéticos e globocéticos de modo que a análise “dissidente” é risível pois não leva em conta as fraturas do sistema nem que mesmo os partidos de esquerda que são apontados como “liberais” por tomarem a peito politicas identitárias, não aderem a um neoliberalismo teórico duro, fechando com o mercado apenas em certa medida, porém defendendo mais estado do que neoliberais gostariam; portanto o mundo não funciona como um esquema fechado e simplista onde todo mundo é liberal no mesmo modo, grau e sentido ou mesmo liberal de verdade; que duguinistas queiram reunir tudo que há no ocidente sob o epíteto de “liberalismo” enquanto a China é, simplesmente posta fora deste quadro, que o façam já que seu compromisso é ideológico; o que a realidade nos aponta é que a hegemonia que há é dum progressismo liberal-social-laico, e não dum liberalismo em estado puro como se muito do igualitarismo de esquerda – que provém, queiram ou não, do espírito bolchevique, ao qual a “dissidência” adora acenar - já foi absorvido pelo sistema econômico e político ocidental - é preciso ser demasiado idiota para pensar a pauta LGBT, por exemplo, como fundada apenas na liberdade individual sem recordar que o discurso ocidental também engloba a noção de igualização do tratamento dado a casais héteros e duplas lgbts! 

Segundo é necessário expor as evidências de que a China continua sendo um estado calcado no marxismo. Na China só vota quem é do partido comunista, na China existe planificação econômica feita pela burocracia do partido, na China há coletivização das terras e das indústrias de base e do sistema bancário, a China implantou nas suas ZEEs uma espécie de NEP amplificada, na China o ateísmo é a linha mestra do partido, etc. O próprio líder da “dissidência” afirma que Xi Jijping estaria a fazer uma mistura de Maoísmo com Confucionismo. E Maoísmo seria o quê? Capitalismo liberal? ÓBVIO QUE NÃO. 

Ainda sobre isto é importante é trazer à baila a fala de Kelsey Broderick, analista especializada em China da consultoria Eurasia Group: “A "mão invisível" do Partido Comunista da China está em todos os aspectos da economia. As camadas inferiores trabalham de forma mais próxima ao capitalismo, mas o controle é definitivamente mais visível no topo da pirâmide econômica: o Estado determina, por exemplo, o preço do yuan e quem pode comprar a moeda chinesa. É o Estado que controla quase todas as maiores empresas do país, que administram os recursos naturais. Ele também é oficialmente o proprietário de toda a terra, embora, na prática, as pessoas possam ter propriedades privadas... Estado também controla o sistema bancário, decidindo quem pode tomar empréstimos... empresas privadas chinesas devem passar por inspeções estatais e ter "comitês partidários que possam influenciar a tomada de decisões", diz Broderick. também ocorre com algumas empresas estrangeiras, no caso de terem entre seus empregados três ou mais funcionários do Partido (situação comum, considerando que o grupo tem quase 90 milhões de membros).” - https://www.bbc.com/portuguese/internacional-49877815 

Quanto a China ser “contraponto” ao ocidente liberal e a hegemonia liberal é preciso lembrar que ela faz parte da OMC, instrumento fulcral para a tal hegemonia liberal da qual falam os “dissidentes” – lembremos que Clinton endossou a entrada da China na OMC com expectativas de que o capitalismo liberal gerasse mudanças na política interna sínica, e que foi Nixon quem inseriu a mesma na economia global via recepção de capitais americanos excedentes. Inclusive é necessário lembrar que G. W. Bush impediu sanções do FMI/ OMC a China por dumping na década dos anos 2000, dada a interface do poder chinês com a globalização ocidental. A China durante o governo de Hu Jintao passou a fazer parte do Fórum BOAO para a Ásia, um encontro que reúne a superclasse capitalista ocidental no oriente com o fito de manter a economia da China pujante e sob controle do dólar, o que levou o governo de Pequim a se valer, cada vez mais, do capitalismo liberal para salvar o que resta do socialismo maoísta/marxista apontando para uma síntese perigosa do que há de pior já produzido na história, não a síntese que a “dissidência” quer nos fazer acreditar mas aquela que envolve os piores aspectos dos dois materialismo brutais que escravizam a humanidade desde o começo do século 20. 

Aliás na crise de 2008 foram as rodadas de negociação entre Jintao e Obama que salvaram a hegemonia do liberalismo econômico ocidental através da consolidação da confiança de Pequim nos títulos públicos americanos fruto da aproximação prévia que já havia sido feita graças a várias organizações chinesas que trabalharam para apoiar a eleição de Obama em razão de seu compromisso em revisar protocolos ambientais que prejudicavam a China, o que levou o CFR ( um órgão que dirige o globalismo ocidental, uma cabeça de ponte da hegemonia liberal ) a dar início a um fórum de diálogo estratégico China-USA como se pode verificar aqui: https://china.usc.edu/making-american-policy-toward-china-scholars-and-policy-makers-economics-security-and-climate-change. 

É dessa “dissidência” e de atores como Paulo Gala e Pepe Escobar que vem o perigo quando se trata do soft power da China pois a medida que romantizam seu papel se valendo dum anti-americanismo que não é aquele que nos interessa – pois eivado de pró-sinismo – criam uma verdadeira militância de simpatizantes prontos a votar em futuros candidatos que acenem com uma política externa ideológica face a Pequim, em vez duma meramente pragmática voltada, no máximo, as relações comerciais que nos favoreçam num quadro de progressiva redução da dependência dos industrializados sínicos. Quanto a Escobar já se sabe que não passa dum agente que se vale de armadilhas mentais para criar a impressão de que a China estaria prestes a se tornar hegemônica em face duma suposta queda iminente dos USA, seja por que o capitalismo americano estaria a entrar em colapso ou por que uma guerra racial vai explodir a qualquer hora dividindo o Tio Sam, não restando outra opção razoável à política externa brasileira e ao brasileiro médio a não ser render-se ao poder chinês em ascensão, poder este incensado como sendo dotado dum poder moralizante ante a faceta materialista e brutal do poder estadunidense. 

É costume, também, nesses meios pró-China apresentar uma série de desculpas econômicas elegantes para o fato de sofrermos uma desindustrialização em face a ascensão chinesa, como se a culpa fosse tão só dos últimos governos. Apesar do comércio bilateral Brasil – China ter aumentado substancialmente nas últimas décadas, as importações brasileiras da China estão crescendo rapidamente, e a balança comercial, que até 2003 apresentava um resultado positivo para Brasil, está sendo invertida. A exportação brasileira de produtos manufaturados e semi faturados para a China representa apenas 5.5% do total das exportações para esse país; se o aumento das exportações de commodities, por um lado gera apreciação da moeda local, por outro traz obstáculos para o crescimento simultâneo dos produtos manufaturados. E isto é fruto duma política deliberada de Pequim em fazer de nós meros fornecedores de matéria-prima. Claramente, as trajetórias não são independentes: a ascensão da China já está influenciando a trajetória da economia brasileira em termos da participação no mercado mundial. A relocação da produção é a característica mais visível da entrada da China no mercado global fazendo dumping devido a uma adoção generalizada da estratégia offshoring. O México foi um dos países mais profundamente afetados, com aproximadamente 600 mil postos de empregos sendo perdidos pelas maquiladoras mexicanas para os fornecedores chineses que praticam dumping sem serem punidas pela OMC. Como podemos competir com a produção chinesa, mesmo que tivéssemos uma política industrial, num quadro de triplo dumping ( social, econômico e ambiental)? Por mais que tenhamos um governo nacionalista isto seria bastante dificultoso, mas os propagandistas da China aqui dentro jamais dizem isso, claro, afinal eles estão empenhados apenas em rebater a “desinformação atlantista” dando a entender que nacionalismo e só isso. Em estudo recente sobre as cadeias de produção têxtil baseadas em fibras químicas, observamos que, no início dos anos 1990, os novos produtores integrados chineses de commodities levaram empresas como BASF, Dow e Rhone Poulenc a mudarem seu portfólio de produtos, tornando obsoletas plantas aqui instaladas. As fábricas foram vendidas a grupos brasileiros, mas, apesar disso, a quantidade e a variedade de fibras produzidas localmente foram reduzidas e as importações aumentaram significativamente. O dumping chinês é deliberado: existe para quebrar nosso capital produtivo. 

Apesar de o dumping chinês ser conhecido, sujeitos como Paulo Gala fazem questão de desconsiderar os fatos para fazer um discurso ideológico e romântico sobre Pequim, dando a entender que a China, apesar de ser uma economia em desenvolvimento, considerando-se “menos obrigada” a reduzir as emissões de GEE, vai mesmo se comprometer com controle de emissão de poluentes, desinformando o público brasileiro sobre o fato do país ainda estar num processo de urbanização e industrialização, onde se torna impossível que tais emissões não continuem aumentando, como podemos ver aqui:
Paulo Gala, que chamou o Tik Tok chinês de tecnologia que colocaria os sínicos na frente dos USA! 
"Do ponto de vista da sustentabilidade, com sua ambição persistente de longo prazo de desenvolver a economia verde, a China deve estabelecer um padrão mais alto de proteção ambiental e emissão de poluição no novo plano de cinco anos. Isso inclui 18% para a participação de energia não fóssil no consumo total de energia (versus 15,3% em 2019 e meta de 15% definida para 2020), maior redução do uso de energia por unidade do PIB e das emissões de dióxido de carbono e dióxido de enxofre. Essa lógica entre sustentabilidade e desenvolvimento econômico, como elemento estratégico, ficou claro no Discurso de Xi Jinping na Assembléia Geral da ONU, sobre as medidas vigorosas para controlar a emissão de poluentes e alcançar a neutralidade de carbono antes de 2060."- https://www.paulogala.com.br/o-grande-salto-tecnologico-da-china/ 

Apostar que a China, que sequer se dá ao trabalho de impor uma vigilância sanitária sobre seus mercados de carne, origem da Covid-19, vai se esforçar por atingir essa meta irrealista e puramente propagandística prometida por Xi Jinping é desrespeito à inteligência alheia. Isto impede que o público tme consciência de que somos vítimas do dumping de Pequim. Ainda destacamos abaixo esse link que mostra como o soft power chinês está a ser desenhado para atuar na América Latina: fazendo exatamente o mesmo que os atores denunciados acima estão a realizar cá dentro. 

Quem tiver olhos que veja: → https://dialogochino.net/pt-br/comercio-e-investimento-pt-br/35646-chinese-ambassadors-in-latin-america-take-to-twitter/.