sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Fugir dos Rad-Trads para cair no colo de Pachamama: refutação do padre Leonardo

 



Antes e durante o Vaticano II as forças da dissolução da Igreja dentro da Igreja – os teólogos modernistas do movimento litúrgico, bíblico e ecumênico calcados na síntese de todas as heresias já condenada por São Pio X na Pascendi – não fizeram o caso de mascarar seu ímpeto progressista deixando claro que o objetivo era mesmo secularizar a Igreja aproximando-a do mundo e colocando-a à altura dos tempos modernos. Mas depois de décadas de aplicação das reformas do CVII e com os maus frutos decorrentes delas – perda de vocações, menos assistência aos sacramentos, perda de fiéis, etc – não é mais tão fácil convencer que o progressismo seja o caminho. Por isso foi preciso vestir a demolição da Igreja de capa e tiara, de batina e sobrepeliz, para dar-lhe novo fôlego com uma roupagem que tem ares de “tradição” sem que vá, de verdade, ao cerne do que seja a Tradição. Este o caso do padre em tela. Leonardo Wagner, egresso do carismatismo – mais um fruto podre das reformas do CVII – agora se apresenta como padre da “tradição”, um sacerdote apegado a missa “na forma extraordinária”, um “tradicionalista moderado” que rechaça o “tradicionalismo radical”, ou seja, um “tradicionalista” que atravessa uma corda bamba embaixo dum abismo e que tenta sintetizar o ensino imutável da Igreja com as novidades do CVII – todas elas condenadas pelos papas pré conciliares.


Por conta dessa revolução de capa e tiara – anunciada pela alta venda maçônica já no século 19 – agora sob a forma da idéia de hermenêutica da continuidade iniciada por Bento 16 é que padres como Leonardo ascenderam na cena católica do Brasil – na esteira de Padre Paulo Ricardo e outros adeptos da corda bamba que tentam equilibrar obediência a modernistas com missa de sempre.


Esse equilibrismo, que é medo de lutar e de perder o sentimento de que vai tudo bem e que tudo segue equilibrado na Igreja pois, se fosse diferente disto eles teriam que dar uma resposta existencial a este quadro pois quando tomamos consciência das coisas já não podemos ser mais os mesmos, exige de nós uma refutação das falácias, sofismas e espantalhos usados como recursos pelo padre referido para denegrir a posição tradicionalista e levar as consciências a um estado de cegueira, único capaz de assegurar a letargia necessária para que tudo seja destroçado sem que ninguém oponha, às forças do mal, muralhas e exércitos.


Vamos, então, ao texto do padre referido com as devidas refutações.


No dia 11 de outubro de 2020 Leonardo Wagner escreveu este texto sob o título de “Fuja dos Rad-Trads” - em negrito e sublinhado - onde elenca que:



1- “Um problema que provoca um impacto negativo entre os fiéis católicos são os grupos tradicionais radicais. Tais grupos negam a autoridade do Papa Francisco, a validade da Missa de Paulo VI, a validade de canonizações, etc.”


Refutação: Em que consiste negar a autoridade de Francisco? Contestar a validade de sua eleição? Questionar a sua forma de governar?


A posição tradicionalista de linha lefebvrista sempre se caracterizou por criticar a forma do exercício da autoridade tal como esta se desenhou após o CVII e não por negá-la aos papas conciliares. Tal posição é a dos sedevacantes que não reconhecem os últimos papas como pontífices legítimos. Mesmo no caso deles seria absurda a acusação, desde o pressuposto do qual partem que é o de que tais papas teriam sido, na verdade, usurpadores o que obrigaria a resistir-lhes como a antipapas, não constando aí, rigorosamente falando, nem pecado de cisma ( que é a recusa de obedecer ao pontífice e permanecer em comunhão com ele pois isto exige que o acusado reconheça que exista um papa reinante ) nem de heresia ( pois não advogam a posição de Lutero, qual seja uma Igreja sem papa ou cabeça). Por outro lado toda autoridade deve ser exercida dentro de limites de modo que o poder civil se baseia na lei, num pacto entre governantes e governados, enquanto que o poder eclesiástico se funda em critérios estipulados por Nosso Senhor Jesus Cristo cujo princípio máximo é o da salvação das almas e onde o modo é hierárquico e imperativo e não dialogal e consensual.


Desde o CVII não só a maneira de exercer a “autoridade” foi modificada quanto a doutrina que a fundamenta. A maneira pois em vez de impor os hierarcas dialogam o que lhes revela a doutrina que subjaz a este novo modelo de “hierarquia”: a Igreja não tem a verdade plena por isso dialoga-se com o mundo, com as falsas religiões, com as seitas, com os homens de “boa vontade”; a Igreja de Cristo não é mais a mesma coisa que a Igreja Católica, apenas subsiste nela, como diz a Lumen Gentium, mas também pode subsistir fora dela nos vários caminhos do homem, de modo que os papas não devem mais agir de forma imperativa, ensinando o caminho da salvação e da verdade ao mundo, eles devem, também aprender dele, levando a uma síntese entre Igreja e Mundo.


Por isso que não são os tradicionalistas que negam a autoridade de Francisco mas ele mesmo que a recusa. E isto fica claro em dois documentos oficiais:;


- Primeiro na Evangelii Gaudium onde vemos no número 32 que:


“ Dado que sou chamado a viver aquilo que peço aos outros, devo pensar também numa conversão do papado”


Percebam que não se fala de conversão do Papa que pode, como pessoa individual, ser mais ou menos fiel ao múnus recebido de Cristo; antes Francisco fala de mudança – conversão é mudar de direção – do papado, da instituição.


Continuando:


“Compete-me, como Bispo de Roma, permanecer aberto às sugestões tendentes a um exercício do meu ministério que o torne mais fiel ao significado que Jesus Cristo pretendeu dar-lhe e às necessidades actuais da evangelização”.


Acima Francisco dá a entender que estaria a falar duma maior fidelidade ao seu encargo mas na sequência do texto vai ficando claro que é não é bem isso;


“O Papa João Paulo II pediu que o ajudassem a encontrar «uma forma de exercício do primado que, sem renunciar de modo algum ao que é essencial da sua missão, se abra a uma situação nova».[35] Pouco temos avançado neste sentido. Também o papado e as estruturas centrais da Igreja universal precisam de ouvir este apelo a uma conversão pastoral.”


Ou seja, não se trata de conversão pessoal mas de mudar estruturas.


Continuando:


“O Concílio Vaticano II afirmou que, à semelhança das antigas Igrejas patriarcais, as conferências episcopais podem «aportar uma contribuição múltipla e fecunda, para que o sentimento colegial leve a aplicações concretas».[36] Mas este desejo não se realizou plenamente, porque ainda não foi suficientemente explicitado um estatuto das conferências episcopais que as considere como sujeitos de atribuições concretas, incluindo alguma autêntica autoridade doutrinal.


Vejam: Bergoglio pede que conferências episcopais façam parte da Igreja Docente, tendo poder de doutrinar! Todavia o múnus de ensinar pertence apenas ao Papa e Bispos; as conferências episcopais são apenas associações nacionais de bispos duma região ou país, não fazem parte da estrutura hierárquica da Igreja. Neste caso a doutrina ensinada pelas conferências obrigaria cada bispo local – uma clara usurpação do poder episcopal. Como uma conferência poderia dedicir questões de doutrina levando em conta apenas contextos locais se a doutrina deve ser universal? Então teríamos uma doutrina para cada país? Neste contexto o poder do papa seria reduzido em matérias judiciais e legislativas, caminhando para se tornar apenas um coordenador da “unidade” entre as conferências. Ademais as conferências se organizam de forma democrática, baseadas no consenso e na maioria, são fruto do espírito colegial-democratizante do CVII, enquanto que a Igreja Católica é hierárquica.


E não estamos aventando hipóteses ou elucubrando ao vento: Francisco diz expressamente que deve haver uma doutrina para cada lugar e que o papa não deve decidir sobre todas as questões de fé, como vemos na Amoris Laetitia, número 3:


“Recordando que o tempo é superior ao espaço, quero reiterar que nem todas as discussões doutrinais, morais ou pastorais devem ser resolvidas através de intervenções magisteriais. ( redução explícita da autoridade papal – nota nossa ) Naturalmente, na Igreja, é necessária uma unidade de doutrina e práxis, mas isto não impede que existam maneiras diferentes de interpretar alguns aspectos da doutrina ou algumas consequências que decorrem dela. Assim há-de acontecer até que o Espírito nos conduza à verdade completa (cf. Jo 16, 13), isto é, quando nos introduzir perfeitamente no mistério de Cristo e pudermos ver tudo com o seu olhar. Além disso, em cada país ou região, é possível buscar soluções mais inculturadas, atentas às tradições e aos desafios locais. De facto, «as culturas são muito diferentes entre si e cada princípio geral (...), se quiser ser observado e aplicado, precisa de ser inculturado”.



Quanto a validade das canonizações pós CVII os tradicionalistas alertam para a falta dum processo seguro calçado no contraditório (advogado do diabo), no exame de todos os escritos do candidato e não apenas dos escritos públicos ( alguém pode ser herege em privado ), nos três milagres e nas virtudes heróicas do candidato, elementos ausentes ou – no caso dalgumas canonizações – dispensados. Nem se poderia mais falar, estritamente, em processo de canonização mas apenas em procedimento pois já não existe um julgamento da causa dependendo a decisão sobre o candidato aos altares apenas do cumprimento das fases procedimentais requeridas o que envolve, no mais das vezes, a mobilização de vultosos recursos financeiros por parte dos promotores o que coloca candidatos que advém de dioceses ricas e de organizações milionárias ( Caso de JoseMaria Escrivá da Opus Dei ) em posição de vantagem, pervertendo a coisa toda. Quanto a missa nova a posição tradicional sempre foi de que ela é ilícita mas não inválida. Portanto o padre Leonardo mente no tocante a estes dois pontos: nenhum tradicionalista trata as duas questões a partir da noção de invalidade mas da de suspeição e ilicitude. Obviamente o padre em tela precisa criar um espantalho feio em vez de pontuar as coisas com honestidade a fim de pintar o tradicionalismo como se fora o diabo em vez duma posição embasada na mais lídima doutrina católica.



2- “Além dessas más condutas, esses grupos atraem pessoas para a “tribo”. Por conta dos rigorismos impostos, a pessoa acaba desenvolvendo os escrúpulos de consciência, um defeito de consciência que muitos já devem conhecer. A partir daí, é ladeira abaixo, a pessoa vai se cansando, vai desenvolvendo uma fadiga espiritual, pois foi colocado um peso muito grande sobre o seu ombro. No final da história, ela acaba cansando e deixando a vivência da fé católica como um episódio passageiro da sua biografia”.



Que pessoas foram essas que o padre diz terem saído da Igreja e perdido a fé? Ele não aponta um só exemplo, não apresenta números, talvez por que tenha medo dos números envolvendo a missa nova e dos meios conciliares que mostram uma verdadeira fuga de vocações religiosas e sacerdotais além da fuga de fiéis, fatos que não preocupam Leonardo. Quando Paulo VI encerrou o Concílio Vaticano II em 1965, os religiosos estavam no máximo fulgor. Os membros dos institutos masculinos eram 329.799, as mulheres chegavam quase a um milhão (961.264). Eram os anos em que os religiosos davam exemplo da universalidade da Igreja, estando presentes nos lugares de missão espalhados pelo mundo, não temendo enfrentar as hostilidades dos estados seculares e encarnando o impulso à missão. A Europa já perdera a exclusividade da vida consagrada, enquanto as Américas, em particular os Estados Unidos, se povoavam com túnicas e véus. O tempo da prosperidade, porém, estava se esgotando. Apenas uma década depois, os religiosos já tinham caído 18,51% (-61.053), e as religiosas, 9,72% (-93.491). Desde então, a tendência ainda não se inverteu e só piora com o passar dos tempos. Durante os primeiros 40 anos pós-conciliares, as congregações clericais ou sacerdotais se contraíram em média 24,58%. Na Irlanda, por exemplo, foram ordenados apenas 14 sacerdotes no ano de 2015, contra uma média de quase 300 algumas décadas atrás! Na França, a redução foi de 85%, na Alemanha foi de 88%. Na FSSPX tradicionalista, ao contrário, entre 2013 e 2017 tivemos 23 sacerdotes ordenados por ano, mais que a Irlanda inteira.


No Brasil, apenas 37% dos católicos de missa nova afirmam que vão à igreja ao menos uma vez por semana, contra 76% dos protestantes. Na Argentina, terra natal de Francisco, o número cai para 15% e chega a apenas 9% no Uruguai. No Brasil, 54% dos atuais protestantes dizem ter sido criados como católicos. Como temos cerca de 50 milhões de protestantes no país segundo os últimos censos isso dá uma perda de mais de 25 milhões de almas durante a fase que o CVII foi aplicado no Brasil que coincidiu com os anos 60/70 em que tivemos um grande crescimento populacional ligado a ascensão do mundo urbano e a migração interna para os grandes centros industrializados do sudeste o que prova a ineficácia da pastoral baseada nos preceitos do aggiornamento do concílio.


Os dados não mentem, já o padre Leonardo não poupa no uso de mentiras para desinformar o seu público cativo. E não se esqueçam: se fugirem dos rad-trads, como pede o padre, cairão nos braços da Pachamama - https://oriundi.net/a-nova-moeda-do-vaticano-representa-a-pachamama


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