terça-feira, 15 de setembro de 2020

Prazer "divino": a heresia sexual de Bergoglio




Não foi com surpresa que fomos pegos perante a notícia de que Francisco teria afirmado ser o prazer sexual algo "divino", sobretudo em face de seu histórico de declarações bizarras e que não se coadunam com a tradição da fé. A maioria dos órgãos de mídia deram destaque a essa fala de Bergoglio como a dizer que a Igreja estaria entrando no contexto da revolução sexual que consistiu, justamente, na legitimação do prazer: que foi o anticoncepcional e mesmo o amor livre dos anos 60/70, como também a camisinha e demais métodos contraceptivos, senão a liberação do ato sexual do fórceps da procriação, permitindo que as pessoas buscassem o orgasmo como um fim em si e desconexo do matrimônio?

Há quem gostaria de acreditar que se trata de mais uma manipulação feita pela mídia para extrair das falas de Francisco a interpretação mais progressista possível a fim de legitimar a mudança radical de costumes seja na sociedade seja no interior da Igreja. Para alguns neoconservadores estaríamos perante uma "conjura" midiática. Na falta de provas consistentes desta conspiração o que resta como fato no meio de tanta narrativa é que a única conjura real é a dos neoconservadores sempre prontos para blindar as falas de Bergoglio de possíveis interpretações aviltantes a fé dando a impressão que tudo segue como "dantes no quartel de Abrantes". Porém os fatos avultam.

O primeiro deles é que, de fato, Francisco afirmou que o prazer é "divino". Para provar isso trazemos a fonte originária da afirmação: uma conversa entre Bergoglio e Petrini, um gastrônomo e escritor, sobre "ecologia integral" - a velha heresia da mater natura como fonte originária de todo o ser – que foi reproduzida pelo site de notícias do Vaticano - o Vatican News. Será que, desta vez, os católicos sempre a postos para blindar Bergoglio poderão acusar o site em tela de partícipe da conjura contra Francisco? Improvável a na ser que renunciem a realidade e enveredem, de vez, pelo mundo da fantasia e do subjetivismo. 


Reproduzimos aqui o trecho referido e o link da entrevista:



Igreja e prazer: um bem que vem de Deus


Em favor do prazer da comida que "não é abundância, mas sobriedade", o convidado agnóstico provoca o Pontífice, afirmando que "a Igreja Católica sempre mortificou um pouco o prazer, como se fosse algo a ser evitado". O Papa Francisco não concorda e lembra que a Igreja condenou o "prazer desumano, vulgar", mas aceitou o prazer "humano, sóbrio".


O prazer vem diretamente de Deus, não é católico ou cristão ou qualquer outra coisa, é simplesmente divino. O prazer de comer serve para nos manter saudáveis através da alimentação, assim como o prazer sexual é feito para tornar o amor mais belo e garantir a continuidade da espécie” - https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2020-09/laudato-si-terra-futura-papa-francisco-carlo-petrini.html


Percebam que Petrini entende mais de catolicismo do que Bergoglio: o ateu reconhece que, na história, a Igreja sempre manifestou desconfiança ante o prazer levando os fiéis ao caminho da mortificação, que quer dizer, da morte dos sentidos para obterem a vida em Deus, a via crucis do sacrifício.


Francisco, contudo, prepara um veneno em meio a um banquete, enganando, de forma sorrateira, os simples fiéis ao ensinar uma verdade misturada com uma falsidade: o prazer vem de Deus, sim pois é obra dele, mas disso ele conclui que é “divino”, ou seja, da mesma natureza do sobrenatural. O prazer sexual e gastronômico é meramente natural e atende a fins naturais: a procriação e a saúde. É um estímulo colocado na natureza para garantir a perpetuação da vida biológica. Em segundo lugar, é preciso recordar que o impulso para o prazer, no homem decaído, está em profunda desordem. No paraíso a concupiscência – ou seja, este ímpeto para comer e reproduzir – estava plenamente sob o controle da razão e do espírito humano. O corpo não estava num estado de rebeldia como sói ocorrer agora, no estado de queda em que nos achamos. Agora nosso corpo já não atende mais ao comando do espírito, assim como o espírito, frequentes vezes, se dobra ao impulso do corpo, numa clara inversão da ordem e hierarquia que deveria reinar no interior do homem. Tomemos a libido como exemplo: Santo Agostinho na Cidade de Deus, volume 2, Livro 14, Capítulo 23, assegura que, no Éden, os órgãos sexuais obedeciam a razão sem o recurso da libido, o que significa que, para a consecução do ato sexual não concorria o impulso carnal do prazer mas antes a ativação da mente, o que não significa que não houvesse prazer na conjunção carnal mas que não era a “fome” instintiva de satisfação a causa eficiente dela.


Claro está que após a queda os órgãos venéreos se rebelaram o que significa que passaram a estar sob domínio do instinto – ao que Santo Agostinho atribui a razão de usarmos vestimentas pois, já não estando isentos da “libido vergonhosa”, para usar sua expressão, responsável por ereções e furores involuntários, a falta duma roupagem tornaria inviável a vida social que exige o controle do ímpeto libidinoso.

Na religião católica, portanto, o homem deve manter uma guarda interior no tocante aos prazeres praticando a mortificação para viver a vida da graça; isto não quer dizer, porém, que a mortificação deva destruir a natureza, mas domá-la, subjugá-la e submetê-la em tudo. Não julgamos que cada um dos movimentos da natureza seja mau ou culpado em si mesmo. Ela, porém, tende para o mal; deixando-a livre e dando livre curso a busca do prazer, sem a vigilância interior, é sempre de se temer que ela abuse de sua liberdade para seguir seus maus instintos. De modo que Francisco ao dizer que a Igreja apenas rechaçou “o prazer desumano, vulgar” falsifica a realidade: se a Igreja apenas rechaça a falta de sobriedade e autoriza todo prazer legítimo ela acaba no naturalismo filosófico dos gregos que apenas preconizavam a moderação nos prazeres da vida, a frugalidade e simplicidade dos prazeres e nunca a mortificação. A Igreja vai além: ela incentiva não apenas a virtude mas a mortificação dos sentidos, ou seja, a crucificação da nossa carne, da nossa natureza em prol da graça. Francisco ignora essa dimensão e faz o catolicismo coincidir com o naturalismo grego.


A mortificação prossegue um fim diferente da mera moderação dos apetites. E precisamente por causa do seu fim específico que é submeter em tudo a natureza à graça; a mortificação vai mais longe do que elas pois impõe aos sentidos, às paixões, a todas as nossas faculdades, enfim, privações, sacrifícios que as outras virtudes cardeais não exigiriam ao menos diretamente. Assim a modéstia e a castidade interditam aos olhos todo olhar imodesto; a mortificação abster-se-á às vezes de contemplar os mais inocentes espetáculos. A temperança e a sobriedade impõem a moderação no beber e no comer e proscrevem todo ato de gulodice e outros atos semelhantes; não contente de guardar as leis da moderação, a mortificação se nutrirá de privações e amarguras, se alegrando na cruz.


Citemos exemplos admiráveis de mortificação: São Luiz de Gonzaga, que evitava até olhar para sua mãe; São Bernardo, que, após um ano de noviciado, não sabia se sua cela era de estuque ou de abóbada; o Santo Cura d’Ars, que se impunha não cheirar uma flor, não beber quando sentia sede, não enxotar uma mosca, não dar aparência de sentir algum mau cheiro, não manifestar jamais desgosto de objeto repugnante, não se queixar de coisa alguma que se referisse a ele, nunca se assustar, não se encostar quando de joelhos. E as austeridades de Santo Afonso, dum São Pedro de Alcântara, dum São João da Cruz, que, para reduzirem seu corpo à servidão, o submetiam a um verdadeiro e contínuo martírio, e que em nada seguiam os seus gostos naturais? Será que eles apenas rechaçam o prazer vulgar? Não, mas até mesmo prazeres legítimos.


A religião católica não é uma religião natural mas sobrenatural. Bergoglio passa por cima disso e a trata como se sempre tivesse sido um mero filosofismo a advertir os homens de seus excessos e não a religião do calvário.


Por outro lado a divinização do prazer é uma heresia típica da cosmovisão esotérica que vê o sexo enquanto meio de transcendência, de união com o absoluto, onde a mulher representaria a sophia, a parte feminina de Deus, enquanto o homem a parte masculina, resultando da conjunção carnal e do orgasmo uma experiência de unidade transcendental – mística. Estar unido a Deus neste caso seria como estar unido como homem e mulher. A vida eterna da alma e o paraíso neste mundo consistiriam na transubstanciação da união do homem com a mulher. Houve, por exemplo, os ritos coletivos dos Khlystis eslavos que incluíam a união sexual de homens e mulheres considerados uns como encarnações do Cristo, outras como encarnações da Virgem, um heresia sexual que via a união carnal como “divina”. Isto tudo remonta ao paganismo cujo caso mais típico é o dos Mistérios da Grande Deusa, onde se utilizavam práticas eróticas tendendo, precisamente, a atingir a transcendência. Há, também, uma tradição cabalista recolhida por Jacó Boehme que parte da idéia de que na origem, o ser humano devia ter sido criado andrógino, reunindo em si os princípios masculino e feminino. Para ele o sono de Adão não foi o estado em que foi mergulhado quando Deus quis tirar a Eva do seu corpo, esse sono é apresentado como o símbolo duma primeira queda; para Boehme isso faz alusão ao estado em que se encontrava Adão quando, abusando da sua liberdade, se separou do mundo divino e se imaginou no da natureza, tornando-se terrestre e degradando-se. Certos continuadores de Boehme associaram este sono quer à vertigem de que Adão se sente possuído ao ver o acasalamento dos animais, quer ao seu desejo de os imitar. A aparição dos sexos teria sido uma conseqüência desta queda original. Teria sido, contudo, também um remédio divino, como se Deus, ao ver o estado de privação e de desejo em que, a partir desse momento, se encontrou o ser decaído, lhe tivesse dado Eva por mulher para evitar conseqüências piores e lhe facultar uma retorno a ele através da experiência transcendente da união sexual com a fêmea, numa clave mística.


Bergoglio ao considerar o sexo 'divino', entra no terreno movediço do esoterismo e do misticismo, no plano da mais atroz heresia que retoma tradições pagãs. Na tradição católica em razão do pecado o sexo deve estar sob o regime do matrimônio – remédio para a desordem da concupiscência – que tem como fim primacial a reprodução e não o prazer, um mero meio para o fim sumo do mesmo qual seja gerar novos corpos para serem animados por almas imortais criadas por Deus, permitindo ao homem participar da obra criadora do Pai. Considerar o prazer “divino” é torná-lo um fim em si e, ao mesmo tempo, advogar o misticismo esotérico além de legitimar a revolução sexual que, aliás, se alimentou em doses generosas dum misticismo hindu, caso do movimento hippie dos anos 60/70 e seu contínuo recurso a cultos orientais de cariz pagão/tântrico além de sua filosofia do “amor livre” que fizeram a sociedade avançar na direção da quebra dos antigos tabus católicos sobre o sexo.


4 comentários:

  1. Que a sensualidade e a luxúria não me dominem. Não me entregues ao desejo vergonhoso. (Eclesiástico 23,6)

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  2.   A Enciclica Casti Connubi do Papa Pio XI de 1930 usa as seguintes palavras: Casta e sagrada união do vínculo nupcial.

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  3. Este homem que aí está, assentado no Trono de Pedro, NÃO É, NUNCA FOI, NEM JAMAIS SERÁ PAPA! Ele é o próprio enviado do Anticristo à Terra.

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  4. Oi, Rafael. Eu escrevi hoje, dia 18 de setembro de 2020, véspea da festa de São Januário e de Nossa Senhora da Salette, um artigo em meu blog homônimo em que dou uma interpretação particular ao que seja o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, como, no final das contas, algo que leva o homem não só à maioridade, mas também à cultura, daí suas vestimentas dadas pelo casal primordial Adão e Eva a eles mesmos nas tangas que fizeram de folhas de figueiras e dadas por Deus, enfim, na forma de vestes de peles.

    Espero que tu gostes do artigo, eis aqui o link para o mesmo https://joaoemilianoneto.blogspot.com/2020/09/as-faces-do-fruto-maioridade.html

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