segunda-feira, 15 de novembro de 2021

15 de Novembro e a necessidade dum Novo Estado Novo!

Precisamos duma Nova Elite Nacional capaz de nos livrar da velha elite fisiológica e coronelista cujos interesses privados se sobrepõem ao Brasil. 

 






Platão transcendeu o debate Monarquia x República no seu diálogo "As Leis" quando mostrou que, mais importante que a forma de governo, são as Leis que dão um conteúdo a esse governo: entre uma monarquia liberal e uma república aristocrática ficamos com a segunda embora concordemos que, teoricamente, a Monarquia seja, no aspecto da forma, pelas razões expostas por Santo Tomás de Aquino no “De Regno”, superior a República.


 Todavia, na prática, o sucesso da monarquia vai depender dum bom rei, o que nem sempre é fácil de encontrar ou produzir, óbice este inexistente nas repúblicas já que dependentes mais de boas instituições que de um chefe qualificado.


 Especificamente quanto a História do Brasil a queda da Monarquia não se deu por uma decadência da mesma mas justamente no momento em que ela começava a fazer as necessárias reformas das instituições, colocando o país na rota do progresso sem perder de vista nossa essência. Os que deram o golpe de 15 de Novembro instauraram, ao contrário, um regime que, tendo se tornado uma República de Fazendeiros e Coronéis que representava o mais feroz localismo, exprimindo a ideologia dos Luzias do Império (Liberais avessos a uma Elite Nacional calcada na ideologia do Estado como motor do desenvolvimento pátrio) e um americanismo indisfarçável (Como nos apresenta Eduardo Prado em sua obra de leitura obrigatória chamada “A Ilusão Americana”) acabou ganhando caráter reacionário e anacrônico pois desatento ao clamor do movimento abolicionista e dos ex escravos recém libertos assim como das camadas mais pobres e das camadas médias mais participativas da sociedade civil. 


A velha República, criada em 15 de Novembro,  em vez de ir na direção duma reparação histórica da escravidão por meio dum projeto de reforma agrária que seria posto em prática pela Princesa Isabel, uma vez Rainha do Brasil, e da implementação duma mais ampla cidadania, acabou brecando, por 40 anos, o progresso político e social do Brasil graças a adoção dum modelo estadunidense de república que privilegiou oligarquias, modelo no qual a Revolta de Canudos, uma insurgência de pobres sertanejos massacrados pelos coronéis que eram a elite política daquele regime atrasado e decadente, assume caráter de símbolo mais expressivo dessas múltiplas demandas nacionais esquecidas pela elite da Velha República.


É bem verdade que com Vargas a República no Brasil ganha, finalmente, ares nacionais e populares mas sem jamais perder esse fundo oligárquico perverso que nos impede de avançar e que vez ou outra se reapresenta e que agora se manifesta na forma de Centrão.


Portanto o 15 de Novembro deve ser, para todo nacionalista, uma data de reflexão que nos leve à pensar a construção duma República Nacional, oposta a esta que, tendo sido criada em 1988, após o trauma da ditadura, acabou nos legando uma constituição social-democrática fraca e defeituosa pois incoerente com nossas necessidades além de incapaz de dar voz ao povo, constituição que empodera indivíduos e minorias enquanto desempodera a Nação e o Estado frente aos poderes estrangeiros e financeiros impedindo a nascimento daquela Elite Nacional sonhada na era do Império pelos Saquaremas, que seria capaz de guiar a Nação, por meio da ação Soberana do Estado, à Grandeza, Prosperidade e Justiça.


Por um Novo Estado Novo que termine a obra redentora de Getúlio Vargas!

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Sobre a suposta iniciação do Padre Paulo Ricardo na Tariqa de Fritjot Schuon






Sobre uma suposta iniciação do Padre Paulo Ricardo na Tariqa Perenialista/Multiconfessional e de inspiração Islâmica de Fritjot Schuon e sua articulação com um esquema de penetração esotérica na Igreja é o seguinte:

1- Nos anos 1980, Paulo Ricardo cursou seu ensino médio em Michigan, na Fruitport High School. Indiana é um estado que fica do lado de Michigan. Da Escola em que Paulo Ricardo estudava (Na área do Pomona Park) para Blommington, Indiana, são 4 horas de carro, 5 de ônibus.
2- Exatamente a partir de 1982, Schuon foi desenvolver sua atividade nos USA, nessa mesma cidade, Blommington, ano em que Paulo Ricardo vira estudante na Fruitport. Nos Estados Unidos, onde viveu em uma chácara em meio à natureza, no estado de Indiana, Schuon escreveu seus últimos livros.
3- Foi nessa mesma época que Olavo de Carvalho ingressou na organização de Schuon.
4- Vinte anos depois - 2006 - quando já era professor de seminário e mestre em Direito Canônico com certa fama no meio eclesiástico nacional, inclusive tendo virado um referência dentro da RCC, através da Canção Nova, comunidade onde aparecia com frequência como sumidade em doutrina, o referido Padre aparece indicando Olavo de Carvalho como um filósofo a ser seguido. Pura coincidência ou fruto dum esquema que teria sido acertado nos EUA nos anos 80?
5-Tudo isso poderia ser apenas uma coincidência porém o Padre Paulo Ricardo é adepto da tese do Padre Arintero (Em seu site há uma referência a esse padre dominicano https://padrepauloricardo.org/.../50-anos-do-concilio...) que hoje já sabemos ter se tratado dum perenialista que defendia uma nova noção de santidade, acessível a todos, pois não mais através da via ascética e mística mas da filosófica; ora "santidade" via filosofia é o que os perenialistas preconizam.
6- O CDB, que é um organismo a serviço de Olavo de Carvalho, vende o livro Evolução Mística, do Padre Arintero, onde o mesmo defende a heresia da santidade acessível via metafísica.
7- Nos anos 2000 Olavo já tinha sido defenestrado como astrólogo, gnóstico e herege por Fedeli. Foi justamente a intervenção do Padre Paulo Ricardo, alegando que Olavo havia se convertido a fé católica, que fez uma multidão de católicos a tomarem o velho como um mestre em todo tipo de assunto. Um dos fatos que o Padre em tela usou para enganar o público foi sua visita a Olavo de Carvalho nos idos de 2006, quando declarou que o velho estava se casando no religioso com Roxane na Virgínia e que, portanto, sua ida aos EUA era especificamente para participar do Casamento que provaria sua conversão. Na ocasião a fotografia acima foi divulgada. Pouco depois, o suposto casamento, que justificou a viagem intercontinental do Pe. Paulo Ricardo, sofreu um rebaixamento passando a simples cerimônia civil que, para justificar a presença do sacerdote, coincidiu com as Bodas de Prata do casal que na verdade havia se unido em 1986.
8- Nesse mesmo ano - 2006 - foi que um ex amigo nosso nos indicou Olavo como um guia para os católicos dizendo-me, "olha, o velho se converteu, agora ele é católico, vamos tomá-lo como referência, etc". Eu já conhecia Olavo desde os anos 1990 quando lia a revista Planeta, uma publicação de cunho esotérico onde ele costumava escrever, lia vez ou outra alguma coisa dele que saía no Globo, e sabia que era um esotérico de quatro costados mas confiei em Padre Paulo Ricardo que divulgava essa conversão insólita de Carvalho.
9- Foi confiando no relato de Padre Paulo que me matriculei no COF e vi com meus olhos que nada havia mudado: Olavo continuava indicando Guenon e Schuon além do curso de Cosmologia e Astrologia do Filho, o Gugu. Fedeli é quem tinha razão: aquela conversão era mentirosa, Olavo seguia tendo a mesma doutrina. Por que Padre Paulo, mesmo sabendo disso, nunca deixou de recomendar Olavo?

Teria sido ele realmente iniciado ou tudo não passaria duma grande coincidência?

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

A Tradição da TFP não é Católica mas Liberal: o testemunho dum Carlista

TFP: Tradição Liberal, Família Burguesa, Propriedade de estilo capitalista. 







Tomamos nota e reproduzimos aqui, logo abaixo, a relevante fala dum conhecido chileno, vinculado ao movimento política do tradicionalismo carlista sobre a TFP que consideramos útil para desmascarar a farsa que essa associação representa e o risco em que coloca os católicos incautos: 


" Tive um debate com um TFP sobre o capitalismo liberal. Concluo que não tenho palavras suficientes para expressar como a TFP me carrega, Tradição (? ), Família (burguesa) e propriedade, acima de tudo isso. É do pior do catolicismo pseudo tradicional. É uma insuportável síntese burguesa e fusionista de catolicismo pseudo tradicional com liberalismo conservador anglo-saxónico, o pior do capitalismo liberal laissez faire do século XIX com o catolicismo mais ortodoxo e tradicional, a TFP dá razão aos ortodoxos orientais quando nos acusam de ser instrumentais ao liberalismo ocidental.

São burgueses, totalmente burgueses, reclamam com razão, da terrível degeneração do mundo contemporâneo mas defendem as mesmas forças que promovem essa degeneração total, as do capitalismo e o liberalismo atlantista, não as de uma inexistente URSS. Dão-lhe mais poder do que tem à esquerda neomarxista ou pós-marxista, ignorando como esta é marionete de poderes financeiros internacionais, que eles defendem por ser ′′o bom capitalismo". Repetem tudo isso de marxismo cultural, marxismo culturais e defendem esses paleo libertários com quem tem muito em comum. Na verdade eles são libertários em economia e isso é nojento. Reduzem ao mínimo a doutrina social da Igreja quase como deveres de caridade e excluem toda a crítica ao capitalismo riscando-a de socialismo. Misturam tudo isso com uma estética estética pseudo tradicional tão cortesã, versallesca, vitoriana, que não é senão oligárquica, das castas altas, são as ′′ gentes de ordem ′′ que o padre Osvaldo Lira criticava, por burgueses. Se lessem os Pais da Igreja condenarem os ricos dos proprietários acusá-los-iam de "socialismo ". É-me particularmente incomoda essa mistura de ortodoxia católica e liberalismo anglo-saxónico pelo farisaica que é, tanto que falam da Tradição e são meros marionetes do capitalismo, o mesmo que pisoteia dia e noite tudo que é sagrado. É cripto calvinista no final, todo esse culto ao capitalismo que tem a TFP, à ′′ propriedade privada absoluta ′′ mais perto de Locke do que de São Tomás, torna-os mais calvinistas do que católicos no final.

Opõem-se duramente ao carlismo, à Ação Francesa, a regimes como o de Oliveira Salazar, acusando-os de ′′ socialismo ", mas defendem, em vez disso, monarquias liberais como a dos Isabelinos na Espanha, idolatram a Rainha Victoria e Inglaterra liberal vitoriana, que dizimou meio mundo com seu imperialismo liberal. São atlantistas anglo-americanos em política e em geopolítica são pró EUA e radicalmente anti Rússia, sendo que a Rússia é a única potência que defende valores tradicionais mas esses burros imaginam que a Rússia atual ainda é ′′ comunismo ", reproduzindo Livretos de Guerra Fria de Reagan. Eles colocam um pouco de estética vitoriana e já acham que isso é a Tradição.

Plinio Correa de Oliveira tinha bons escritos e livros como Revolução e Contra-Revolução, mas não desenvolveu um pensamento tão profundamente antiliberal e teve demasiadas contradições e coisas turvas que foram denunciadas dele.

Se eu tiver algum contato TFP, que rejeita o capitalismo liberal e o poder hegemônico dos EUA e da Inglaterra, é antiliberal de verdade, de todo o coração os chamo a sair da TFP"

terça-feira, 14 de setembro de 2021

Afinal, o PT se vendeu às forças Neoliberais ou continua Socialista? Uma análise à luz da nota recente da NR





A NR lançou uma nota recente - escrita pelo Sr. André Luiz, como podemos ver aqui: https://www.facebook.com/novaresistenciabrasil/posts/1931681497009241 - alegando que Lula é Liberal, Reacionário e Amigo dos Banqueiros. Sobre a última acusação nada a opor. Sobre a primeira e a segunda nós discordarmos, embora devamos conceder que boa parte da política econômica da era Lula foi neoliberal. 

Quanto a ser reacionário isso não faz o mínimo sentido dentro da própria argumentação desenvolvida na nota da NR porque se Lula é um Liberal-Progressista não pode ser reacionário por uma questão de coerência lógica apesar dessa conceituação fazer algum sentido dentro do método de análise da QTP  que dá ênfase ao povo, categoria por excelência da teorização política de Dugin. Partindo deste postulado o Sr. André extrai a conclusão de que é Bolsonaro quem evoca melhor o sentimento de Brasil Profundo, ainda que de maneira falsa, compreendido, desde o ponto de vista da NR, dentro da noção do "povo contra as elites", através do apelo a religiosidade moralista, da pauta de armas e de enfrentamento do congresso. Não discordo mas é impossível não admitir que Lula também evoca, de certo modo, o Brasil Profundo quando fala de emprego, comida e saúde pública (Conservadorismo Brasileiro é Saquarema, ou seja, Estado dando Proteção, Estado Paternalista) e por isso a tendência é os dois polarizarem em 2022. 

Por outro lado há uma tendência de uma extrema esquerda - com quem o discurso da NR conecta em certa medida - de ver Lula como traidor da esquerda e do trabalhador. Na prática foi isso que o que PT fez: traiu as expectativas. Mas não se iludam: o horizonte do PT não é Neoliberal mas sim o de um Socialismo Democrático que mistura socialização do poder com controle público dos meios de produção, que é o ficou claro no seu terceiro congresso em 2007. O partido sabe que o Brasil tem um contexto mais complexo que o de Venezuela e Bolívia, onde Chavez e Morales tentaram emplacar esse Socialismo do Século 21, e sabe que aqui, dada essa complexidade, se esticar demais a corda antes de ter um forte controle institucional, perde o poder. Por isso o PT é mais democrático-legalista em sua metodologia de ação que o Chavismo: em vez de rupturas ou de reformas constitucionais prefere desencadear uma evolução natural das instituições para chegar a uma democracia social radical sob sua direção hegemônica. Por isso aceita jogar o jogo neoliberal e de contemporizar até ter condições de mudar o jogo. O problema é que quando alguém se envolve demais com o jogo acaba gostando dele e por isso o PT teve dificuldades de construir sua hegemonia muito por que também se beneficiou bastante do rio de dinheiro que abastecia o partido durante as eleições: em suma, em nome do projeto de poder - que dependia dessa complacência dos poderes financeiros -  o projeto de socialismo do século 21 foi sendo adiado. Esta realidade fica clara novamente agora: se em 2018 o PT era avesso a teto fiscal, agora passou a ser a favor dele como podemos ver aqui: https://valor.globo.com/politica/noticia/2021/09/13/ha-consenso-no-pt-sobre-nova-regra-fiscal.ghtml. 

Embora o PT postule uma regra mais flexível que a atual, se chegar ao poder vai jogar, de novo, o jogo de sempre como a diferença de que vai amenizar o ajuste neoliberal mas sem sair dele indicando seus limites enquanto partido que tenta um compromisso entre o Socialismo e o Neoliberalismo.  

A questão é que precisamos romper já com esse modelo antes que não sobre nada do país. Os quadros do PT não conseguem ver isso seja por excesso de pragmatismo, seja por falta dum plano consistente de ruptura, seja por compromisso com o establishment. Lula não oferece horizontes novos e é disso que precisamos. Além do mais o PT não consegue ir ao fundo dos problemas do Brasil porque, para o PT as questões nacionais tem lugar secundário face às causas sociais, que não podem ser solucionadas sem políticas nacionais mas que eles pretendem resolver com base na solidariedade internacionalista de esquerda que desconsidera que o pólo de luta agora é entre o Nacional x Global e não, primariamente, do Capital x Social. 



segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Refutando a tese sedevacante de que Paulo VI quis exercer Magistério

 

Recentemente um sedevacante alegou que o Breve de Paulo VI In Spiritu Sancto, era uma prova a favor da sé vacante pois significava a vontade expressa do Papa em impor o Vaticano II a todo o orbe católico. Mas não é bem assim.

O referido Breve é um mero decreto de encerramento do CVII, faltando nele os costumeiros anátemas dos quais a autoridade se vale quando está a ensinar dogmas.

Vejamos bem: para que o ensinamento do Romano Pontífice seja infalível ele tem de ter a intenção de impô-lo de modo definitivo e irreformável, fundando-se em sua autoridade recebida imediatamente de Cristo. Para isso o Papa deve se valer de fórmulas e anátemas. Sem isto o ato não tem nota de infalibilidade extraordinária. Mas teria nota de infalibilidade ordinária? Também não pois os Papas Conciliares não consideram a si mesmos voz de Cristo mas voz de todo o corpo místico de Cristo. O caso da Carta Ordinatio Sacerdotalis de João Paulo II deixa isto patente ao tratar da não ordenação das mulheres em que a questão não foi apresentada em razão da autoridade pontifícia mas como expressão da voz do povo de Deus - in persona populi Dei. Essa mudança de atitude foi solenemente declarada na Ecclesiam Suam de Paulo VI de 1964, anterior ao Breve de encerramento, e é a base hermenêutica para entendê-lo, ou seja, você inverte a ordem das coisas e parte dum documento cuja luz é mero reflexo da ES que diz :

"a Igreja deve entabular diálogo com o mundo...A Igreja torna-se palavra...mensagem...colóquio...o diálogo deve marcar nosso ministério apostólico (n. 59-62). Ainda: "A DIALÈTICA deste exercício nos fará descobrir ELEMENTOS DE VERDADE NAS OPINIÕES ALHEIAS"(N.77).

Para estruturar o diálogo Paulo VI criou instituições novas para exprimir essa novidade como é o caso da Comissão Teológica Internacional (CTI), que passou a reunir teólogos de tendências opostas, sendo representativa do pluralismo teológico, e que teve sua missão definida por Paulo VI, na sua Alocução de 6 outubro de 1969, nos seguintes termos: "aos teólogos cabe não apenas comentar os ensinamentos do Magistério, como supunha o esquema clássico de PIO 12, mas o de colaborar com o Magistério"(AAS, 61 1969, 713). Isto posto citar a In Spiritu Sancto sem antes referi-la a Ecclesiam Suam é um erro crasso de leitura.

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Por que Stálin não deturpou o marxismo nem foi nacionalista?

 




É bastante comum que nichos trotkistas acusem Stálin de ter deturpado o marxismo; os que compram essa narrativa apostam na noção farsesca dum Stálin nacionalista que teria deixado o aspecto mais fundamental do marxismo, qual seja o internacionalismo – incorporado pelos trotkistas, que seriam, por isso, os verdadeiros marxistas.


Apesar da alegação ser usada como acusação pelos trotkistas, há neo-stalinistas de linha QTP ou nacional bolcheviques russos que tomam essa noção em sentido positivo como prova de que Stálin, mais que marxista, teria sido um nacionalista russo. O debate não é sem importância pois envolve duas estratégias:


1- Limpar a barra do marxismo face às brutalidades cometidas por Josef Stálin indicando que as crueldades do totalitarismo soviético foram decorrentes dum desvio da proposta originária.


2-Preparar os espíritos para um Nacionalismo de Esquerda que tende a ver a questão nacional só sob ângulo econômico.


Sobre o ponto 1 gostaríamos de deixar claro que não é o caso de desconhecermos que a história se escreve com sangue: a própria trajetória do povo eleito por Deus foi feita de modo a que povos pagãos fossem vencidos e eliminados para dar lugar a uma forma superior de organização social, política e religiosa. O problema aqui é de finalidade e escala: a violência é legítima desde tenha por fim o restabelecimento da ordem ou a elevação de povos a uma ordem superior; depois ela só deve ser usada como último recurso e de forma racional, contra aqueles que representam um risco a ordem. Por ordem entendemos um conjunto de valores e princípios que envolvem desde instituições avançadas de justiça e governo como uma moral que coloque a pessoa humana no centro da organização social e política e que tenha por eixo a idéia dum Ser Absoluto, fonte dos princípios religiosos, filosóficos e éticos garantidores duma civilização onde prevaleça o bem comum, a dignidade da pessoa e uma ordenação que favoreça a perfectibilidade da personalidade espiritual do homem, cujo fim último é Deus.


Ora, o socialismo marxista nega a existência dum padrão objetivo de justiça fazendo tudo decorrer do interesse de classe, preconizando uma vingança da classe proletária contra a classe burguesa e uma sua eliminação completa (em vez duma violência racional que exigiria, apenas, a eliminação dos elementos burgueses mais atrozes e prejudiciais ao bem comum) assim como o extermínio de quaisquer segmentos sociais que não estejam a altura do novo modelo de sociedade socialista preconizada, que reduz tudo a aspectos materiais bloqueando o acesso do homem a seu fim último e o desenvolvimento duma civilização que dê forma a instituições que reflitam a transcendência da personalidade humana.


Logo, a violência stalinista além de brutal e colossal – pois responsável por cerca de 20 milhões de mortes por fuzilamento, fome, deportação ou prisão em campos de trabalho forçado – foi desordenada pois envolvia criar um sistema materialista onde o espírito humano ficasse a mercê das forças econômicas por sua vez sob a direção dum Estado Moloque, um verdadeiro moedor de carne humana, e não pode ser justificada de forma nenhuma.


Sobre o Ponto 2, primeiro cabe dizer que Está no Manifesto Comunista de Marx na página 44 e seguintes que:

"O proletariado vai usar seu predomínio político para retirar, aos poucos, todo o capital da burguesia, para concentrar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado – quer dizer, do proletariado organizado como classe dominante".


Logo não é possível dizer que "Marx não teorizou uma coletivizacão via Estado" para alegar que Stálin, ao fazê-la sob direção dele em vez de colocá-la sob auspício do proletariado, desviou-se de Marx.


O filósofo alemão pai do comunismo chamava os socialistas reformistas de "utópicos" justamente por que não tinham uma teoria da História, qual seja, o Materialismo Histórico que é a Base Teórica do Marxismo. Logo havia teorização em Marx o que envolvia a conceituação das etapas a serem seguidas de acordo com as leis da dialética histórica. O que nunca houve foi descrição dessas etapas pois isso envolvia aspectos concretos só passíveis de serem estabelecidas no processo da práxis revolucionária. E por que dizemos isso? Justamente por que há quem alegue que Stálin teria ossificado o marxismo dentro dum modelo teórico fechado como se o Marxismo fosse pura práxis sem teoria. Isto é falso.

No tocante ao Nacionalismo de Stálin cabe lembrar que ele, em 1913, escreveu um artigo cujo título é “marxismo e o problema nacional” onde enfoca a questão sob o seguinte prisma:


1- As nações são realidades históricas mutáveis dotadas duma língua, psicologia, mas que são resultado das condições materiais de produção. Em suma: a idéia dum espírito nacional, da essência dum povo inexiste na concepção de Stálin.


2- Há nações postergadas que lutam contra as classes dominantes das nações poderosas e, neste sentido, é preciso apoiar o movimento nacional pois, neste caso, ele vira instrumento da revolução proletária. Por esta razão Marx apoiou as pretensões de independência nacional da Polônia Russa. Disto se depreende que a questão nacional, para Stálin e os marxistas em geral, pode ser incorporada desde que em relação com as condições históricas, enfocadas no seu desenvolvimento. Aqui se trata, portanto, dum nacionalismo puramente como meio e não como fim.


A Guerra Patriótica de Stálin prova o que dissemos acima pois ela assumiu caráter de luta pela libertação da humanidade do Imperialismo, forma superior do Capitalismo no dizer de Lênin. Todo o processo de descolonização Afro-Asiática pós segunda guerra mundial seria inexplicável sem o apoio soviético, que era fundamentada numa dialética de embate dos povos conquistados (as nações postergadas) x imperialismo capitalista.


Ainda: se Stálin ossificou o marxismo em formas dogmáticas como ele conseguiu ressignificar o patriotismo, que era qualificado, em linhas gerais, como mistificação burguesa por Marx, no bojo da práxis revolucionária soviética? Se o marxismo não é dogmático então a questão da pátria pode ser ressignificada no processo dialético da revolução. Foi o que Stálin fez. No processo da práxis revolucionária assumiu a luta patriótica como etapa da luta pela libertação da humanidade em direção ao comunismo.


Logo ou o marxismo é só teoria sem práxis e Stálin deixou de ser um marxista ao assumir o conceito de Patriótico, ou ele é práxis e teoria e, Stálin, ao assumir tal conceito, transformando dialeticamente a práxis da revolução, foi fiel ao Marxismo enquanto Trotski não por ter se fixado numa forma teórica.

Ainda há que se diga que Stálin, no plano da organização estatal, fez o que Marx teorizou: Coletivizacão dos meios de produção. Marx já no Manifesto falava duma elite intelectual que iria liderar o Operariado com base nas leis do Materialismo Histórico o que nos leva até a Ditadura do Proletariado de Lênin. A leitura de Rosa Luxemburgo e dos críticos de Stalin é um atentado ao que Marx realmente defendeu. O "Nacionalismo" de Stalin era uma mera cola para juntar aquelas repúblicas todas, é a revisão da teoria à luz da práxis da revolução de modo que Trotski estava certo no plano teórico mas não no prático. Trotski era um fanático do internacionalismo, imaginando que só a revolução permanente daria base para a existência da URSS.


Em suma: Stálin reviu a teoria a luz da práxis. Nesse sentido ele foi mais fiel a Marx pois entendia o primado da práxis face a teoria, enquanto Trotski dava primazia a teoria ante a práxis.


Dito isto, podemos concluir duas coisas:


1- Stálin não deturpou o marxismo tendo sido, antes de tudo, mais fiel a inteireza do pensamento de Marx do que Trotski;


2- Ele não foi nacionalista a rigor mas se valeu do sentimento nacional russo – deformado e degenerado na forma de bolchevismo - apenas como ferramenta para espalhar a revolução;


3- Tendo sido Stálin o mais fiel dos marxistas, seu regime pode e deve ser caracterizado como inteiramente marxiano e os crimes dele como decorrência direta do Manifesto Comunista e não como um desvio.




segunda-feira, 26 de abril de 2021

A arte medieval era racista por retratar um Jesus Branco? Por Breno Baral*



     

    A prova de que a arte sacra medieval, renascentista e ocidental em geral representavam Jesus  Cristo, Virgem Maria e outras personagens bíblicos com traços europeus por uma simples questão de perspectivismo e não por conta de uma suposta ideologia da branquitude ou "branquismo" está em outros elementos anacrônicos em tais obras de arte: por exemplo, as vestimentas; todos os personagens nas gravuras vestem trajes que não eram habituais nas épocas que tais obras se referem. Não apenas as roupas. Há diversas imagens que mostram Jerusalém como uma fortaleza medieval, assim como era na época dos cruzados e totalmente diferente de como era realmente na época de Cristo. 


    Os soldados romanos, em vez de trajarem armaduras e escudos típicos dos romanos do primeiro século - tais como aquele que vemos em filmes - são, pelo contrário, representados com armaduras, elmos e escudos tipicamente medievais. 

    Logo, fica assim evidente que esses artistas representavam eventos de outros tempos e lugares, compostos etnicamente de pessoas e modas diversas, a partir da cultura e lugar onde viviam pessoas que o artista podia ver na sua experiência real. Sabendo que o mundo ocidental fora fechado do mundo antes das cruzadas e das grandes navegações, podemos imaginar que a totalidade do mundo conhecido era reduzido. Não apenas no sentido geográfico mas também histórico. 

    Hoje só temos uma noção histórica melhor, sabendo identificar épocas a partir de artes, roupas, artefatos, por conta do avanço da historiografia enquanto ciência e da arqueologia do século XIX. 

    Hoje é fácil para nós imaginar um soldado romano portanto um traje típico de sua época (até por conta de filmes que assistimos); para um medieval, porém, isso era quase impossível. O artista tinha que se virar com o que tinha disponível - em geral poucos textos que também não eram acessíveis a todos porque não existia ainda impressa e tais textos não ofereciam descrições detalhadas de outros tempos - e empreender um pouco da sua imaginação criativa. 

    Sem falar que o mais importante para os antigos era a "essência" da arte, dos textos, e não a exatidão da descrição histórica (algo que só começa a partir do século XIX) que seria uma coisa secundária e periférica. O importante em uma obra retratando a Paixão de Cristo, por exemplo, era mostrar o amor de Deus pela humanidade e não descrever o cenário com precisão histórica e científica; isto só seria importante para o historiador enquanto cientista e profissional. A arte é universal e popular. Na Idade Média, sobretudo nos vitrais das catedrais medievais, as imagens tinha uma função pedagógica para as pessoas simples que não podiam ler em aprender os ensinamentos da bíblia através da arte. Usando elementos e tipos de pessoas que os europeus da época podiam reconhecer e identificar, ficaria mais fácil assim compreender a essência de tais obras. 

    Completamente diferente é hoje a tentativa de hostilizar a arte ocidental como "racista" e, assim, representar um "Jesus negro" - que também é inexato historicamente - apenas para se CONTRAPOR ao suposto "branquismo" ou "europeísmo" da arte ocidental. Essa tentativa moderna sim é excessivamente IDEOLÓGICA: a ideologia do anti-ocidentalismo, do ressentimento, do identitarismo e racialismo que nada mais são do que braços e pautas que fazem parte de uma agenda global com fins meramente políticos. Como sabemos, para o "progressismo" contemporâneo, TUDO, absolutamente tudo tem um suposto significado político que oculta uma realidade de dominação de grupos mais fortes sobre mais fracos. 

    Refutar essas acusações desonestas e estúpidas dos modernos é livrar a arte da política contemporânea e elevá-la de volta ao plano independente e superior que ela sempre teve.


*O professor Breno Baral é docente com formação em História. 

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Pedido de Responsabilização de Olavo de Carvalho na CPI da Covid 19

 

Olavo segue "fodendo" tudo, agora promovendo a morte de mais de 300 mil brasileiros. 



Recentemente nós pedimos que a CPI da Pandemia investigasse a responsabilidade de Olavo de Carvalho no desastre sanitário que o país vivencia, nestes termos:





Já que vai ter CPI da Pandemia o negócio é pressionar o Congresso a convocar Olavo de Carvalho para prestar depoimento. Afinal, foi o discurso dele de 'gripezinha' e sua ascendência junto ao presidente que atrasaram as medidas do Governo Federal”


Ao que o próprio Olavo nos respondeu, nos seguintes termos:


Este bosta não sabe sequer que a idéia da "gripezinha" não foi minha, foi do Drauzio Varela, o qual, como médico e com amplo acesso à grande mídia, exerce mil vezes mais influência nos altos círculos do que eu. Esta nota é só intriga de um invejoso, um zé-ninguém em toda a linha.”


Temendo as consequências de um tal pedido Olavo tergiversa sobre os fatos. Mas contra eles não há argumentos, pois vejamos:


- Drauzio Varela não tem nenhuma ascendência sobre o Presidente, já Olavo sim, tanto que graças a isto conseguiu “fazer” três ministros: Velez, Weintraub e Araújo.


- Varela se manifestou sobre a Covid – 19 em 30/01/2020 nestes termos:


Não precisa parar de andar na rua, não temos uma catástrofe, de cada 100 pessoas que pegarem, oitenta a noventa só terão um 'resfriadinho'”.


Desconsiderando a fala de Drauzio, o presidente, em 04/02/2020, decretou “emergência de saúde pública” atuando em dissonância com o reducionismo de Varela o que prova e sua total falta de ascendência sobre Bolsonaro.


No mesmo mês de fevereiro, agindo preventivamente em dissonância com a fala de Drauzio, o presidente fez esforços para que brasileiros que estavam na China ficassem em quarentena por lá antes de voltarem para cá.


Importante reiterar que o decreto 13.979 de 04/02 representava um instrumento jurídico muito positivo assegurando meios eficazes de enfrentamento do quadro sanitário que viria pela frente: basta lê-lo para verificar que no seu artigo terceiro previam-se locautes, isolamentos verticais e horizontais, além de fechamento das fronteiras como o bloqueio de transportes inter-regionais como metodologia de enfrentamento do Covid-19.


Apesar disso o governo não aplicou o decreto que havia editado e a questão que fica é: por quê? A resposta está em Olavo de Carvalho.

Março de 2020 nos ajuda a entender o papel de Olavo na paralisia do Governo Federal.


Em 10 de Março, o presidente, num evento em Miami, chamou a crise da Covid-19 de “fantasia”.


Durante todo aquele mês Olavo negou que houvesse razões para preocupação, preferindo falar dum complô entre a mídia, OMS e o governo chinês.


Em 22/03/20, reforçando a crença do presidente que tudo não passava de “fantasia”, Olavo compartilhou uma postagem assegurando que o pavor em torno da doença era um plano comunista para atingir Bolsonaro, com o seguinte teor:




No mesmo dia num vídeo cujo link vai na sequência - https://br.youtube.com/watch?v=s7s9rM5swGg – Olavo admitiu que:


- O número de mortes da suposta epidemia não aumentou um único caso de morte por gripe no mundo;


-A epidemia, portanto, não existe;

-Para saber se alguém morreu de Covid-19 há que fazer o exame de cada órgão em separado mas ninguém fez, logo não há provas de que alguém morreu da doença;


Reagindo a isso, o Presidente, em 24/03/2020 disse num pronunciamento à nação que:


Caso fosse contaminado não precisaria se preocupar pois nada sentiria ou, quando muito, seria acometido por uma gripezinha”.


Em suma: o mesmo discurso de Drauzio Varela em 30/01/2020 que Olavo reiterou no dia 22/03/2020 afirmando, taxativamente, que concordava com a opinião dele como vemos aqui:






Isto posto resta provada a relação de causa – efeito entre as intervenções de Olavo por escrito e por vídeo em 22 e 23 de Março de 2021 e o desastroso pronunciamento de Bolsonaro em 24/03/20 responsável pelo atraso das medidas sanitárias e pelas mortes no país.


Mas agora Olavo alega que a culpa não é dele e sim do Dr. Drauzio desconversando sobre o endosso que ele mesmo deu a fala de Varela sobre “resfriadinho”.


Pedimos, deste modo, que Olavo seja responsabilizado como principal culpado pela morte de tantos cidadãos brasileiros. Os falecidos e suas famílias clamam por Justiça.


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