terça-feira, 14 de setembro de 2021

Afinal, o PT se vendeu às forças Neoliberais ou continua Socialista? Uma análise à luz da nota recente da NR





A NR lançou uma nota recente - escrita pelo Sr. André Luiz, como podemos ver aqui: https://www.facebook.com/novaresistenciabrasil/posts/1931681497009241 - alegando que Lula é Liberal, Reacionário e Amigo dos Banqueiros. Sobre a última acusação nada a opor. Sobre a primeira e a segunda nós discordarmos, embora devamos conceder que boa parte da política econômica da era Lula foi neoliberal. 

Quanto a ser reacionário isso não faz o mínimo sentido dentro da própria argumentação desenvolvida na nota da NR porque se Lula é um Liberal-Progressista não pode ser reacionário por uma questão de coerência lógica apesar dessa conceituação fazer algum sentido dentro do método de análise da QTP  que dá ênfase ao povo, categoria por excelência da teorização política de Dugin. Partindo deste postulado o Sr. André extrai a conclusão de que é Bolsonaro quem evoca melhor o sentimento de Brasil Profundo, ainda que de maneira falsa, compreendido, desde o ponto de vista da NR, dentro da noção do "povo contra as elites", através do apelo a religiosidade moralista, da pauta de armas e de enfrentamento do congresso. Não discordo mas é impossível não admitir que Lula também evoca, de certo modo, o Brasil Profundo quando fala de emprego, comida e saúde pública (Conservadorismo Brasileiro é Saquarema, ou seja, Estado dando Proteção, Estado Paternalista) e por isso a tendência é os dois polarizarem em 2022. 

Por outro lado há uma tendência de uma extrema esquerda - com quem o discurso da NR conecta em certa medida - de ver Lula como traidor da esquerda e do trabalhador. Na prática foi isso que o que PT fez: traiu as expectativas. Mas não se iludam: o horizonte do PT não é Neoliberal mas sim o de um Socialismo Democrático que mistura socialização do poder com controle público dos meios de produção, que é o ficou claro no seu terceiro congresso em 2007. O partido sabe que o Brasil tem um contexto mais complexo que o de Venezuela e Bolívia, onde Chavez e Morales tentaram emplacar esse Socialismo do Século 21, e sabe que aqui, dada essa complexidade, se esticar demais a corda antes de ter um forte controle institucional, perde o poder. Por isso o PT é mais democrático-legalista em sua metodologia de ação que o Chavismo: em vez de rupturas ou de reformas constitucionais prefere desencadear uma evolução natural das instituições para chegar a uma democracia social radical sob sua direção hegemônica. Por isso aceita jogar o jogo neoliberal e de contemporizar até ter condições de mudar o jogo. O problema é que quando alguém se envolve demais com o jogo acaba gostando dele e por isso o PT teve dificuldades de construir sua hegemonia muito por que também se beneficiou bastante do rio de dinheiro que abastecia o partido durante as eleições: em suma, em nome do projeto de poder - que dependia dessa complacência dos poderes financeiros -  o projeto de socialismo do século 21 foi sendo adiado. Esta realidade fica clara novamente agora: se em 2018 o PT era avesso a teto fiscal, agora passou a ser a favor dele como podemos ver aqui: https://valor.globo.com/politica/noticia/2021/09/13/ha-consenso-no-pt-sobre-nova-regra-fiscal.ghtml. 

Embora o PT postule uma regra mais flexível que a atual, se chegar ao poder vai jogar, de novo, o jogo de sempre como a diferença de que vai amenizar o ajuste neoliberal mas sem sair dele indicando seus limites enquanto partido que tenta um compromisso entre o Socialismo e o Neoliberalismo.  

A questão é que precisamos romper já com esse modelo antes que não sobre nada do país. Os quadros do PT não conseguem ver isso seja por excesso de pragmatismo, seja por falta dum plano consistente de ruptura, seja por compromisso com o establishment. Lula não oferece horizontes novos e é disso que precisamos. Além do mais o PT não consegue ir ao fundo dos problemas do Brasil porque, para o PT as questões nacionais tem lugar secundário face às causas sociais, que não podem ser solucionadas sem políticas nacionais mas que eles pretendem resolver com base na solidariedade internacionalista de esquerda que desconsidera que o pólo de luta agora é entre o Nacional x Global e não, primariamente, do Capital x Social. 



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