quarta-feira, 28 de julho de 2021

Por que Stálin não deturpou o marxismo nem foi nacionalista?

 




É bastante comum que nichos trotkistas acusem Stálin de ter deturpado o marxismo; os que compram essa narrativa apostam na noção farsesca dum Stálin nacionalista que teria deixado o aspecto mais fundamental do marxismo, qual seja o internacionalismo – incorporado pelos trotkistas, que seriam, por isso, os verdadeiros marxistas.


Apesar da alegação ser usada como acusação pelos trotkistas, há neo-stalinistas de linha QTP ou nacional bolcheviques russos que tomam essa noção em sentido positivo como prova de que Stálin, mais que marxista, teria sido um nacionalista russo. O debate não é sem importância pois envolve duas estratégias:


1- Limpar a barra do marxismo face às brutalidades cometidas por Josef Stálin indicando que as crueldades do totalitarismo soviético foram decorrentes dum desvio da proposta originária.


2-Preparar os espíritos para um Nacionalismo de Esquerda que tende a ver a questão nacional só sob ângulo econômico.


Sobre o ponto 1 gostaríamos de deixar claro que não é o caso de desconhecermos que a história se escreve com sangue: a própria trajetória do povo eleito por Deus foi feita de modo a que povos pagãos fossem vencidos e eliminados para dar lugar a uma forma superior de organização social, política e religiosa. O problema aqui é de finalidade e escala: a violência é legítima desde tenha por fim o restabelecimento da ordem ou a elevação de povos a uma ordem superior; depois ela só deve ser usada como último recurso e de forma racional, contra aqueles que representam um risco a ordem. Por ordem entendemos um conjunto de valores e princípios que envolvem desde instituições avançadas de justiça e governo como uma moral que coloque a pessoa humana no centro da organização social e política e que tenha por eixo a idéia dum Ser Absoluto, fonte dos princípios religiosos, filosóficos e éticos garantidores duma civilização onde prevaleça o bem comum, a dignidade da pessoa e uma ordenação que favoreça a perfectibilidade da personalidade espiritual do homem, cujo fim último é Deus.


Ora, o socialismo marxista nega a existência dum padrão objetivo de justiça fazendo tudo decorrer do interesse de classe, preconizando uma vingança da classe proletária contra a classe burguesa e uma sua eliminação completa (em vez duma violência racional que exigiria, apenas, a eliminação dos elementos burgueses mais atrozes e prejudiciais ao bem comum) assim como o extermínio de quaisquer segmentos sociais que não estejam a altura do novo modelo de sociedade socialista preconizada, que reduz tudo a aspectos materiais bloqueando o acesso do homem a seu fim último e o desenvolvimento duma civilização que dê forma a instituições que reflitam a transcendência da personalidade humana.


Logo, a violência stalinista além de brutal e colossal – pois responsável por cerca de 20 milhões de mortes por fuzilamento, fome, deportação ou prisão em campos de trabalho forçado – foi desordenada pois envolvia criar um sistema materialista onde o espírito humano ficasse a mercê das forças econômicas por sua vez sob a direção dum Estado Moloque, um verdadeiro moedor de carne humana, e não pode ser justificada de forma nenhuma.


Sobre o Ponto 2, primeiro cabe dizer que Está no Manifesto Comunista de Marx na página 44 e seguintes que:

"O proletariado vai usar seu predomínio político para retirar, aos poucos, todo o capital da burguesia, para concentrar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado – quer dizer, do proletariado organizado como classe dominante".


Logo não é possível dizer que "Marx não teorizou uma coletivizacão via Estado" para alegar que Stálin, ao fazê-la sob direção dele em vez de colocá-la sob auspício do proletariado, desviou-se de Marx.


O filósofo alemão pai do comunismo chamava os socialistas reformistas de "utópicos" justamente por que não tinham uma teoria da História, qual seja, o Materialismo Histórico que é a Base Teórica do Marxismo. Logo havia teorização em Marx o que envolvia a conceituação das etapas a serem seguidas de acordo com as leis da dialética histórica. O que nunca houve foi descrição dessas etapas pois isso envolvia aspectos concretos só passíveis de serem estabelecidas no processo da práxis revolucionária. E por que dizemos isso? Justamente por que há quem alegue que Stálin teria ossificado o marxismo dentro dum modelo teórico fechado como se o Marxismo fosse pura práxis sem teoria. Isto é falso.

No tocante ao Nacionalismo de Stálin cabe lembrar que ele, em 1913, escreveu um artigo cujo título é “marxismo e o problema nacional” onde enfoca a questão sob o seguinte prisma:


1- As nações são realidades históricas mutáveis dotadas duma língua, psicologia, mas que são resultado das condições materiais de produção. Em suma: a idéia dum espírito nacional, da essência dum povo inexiste na concepção de Stálin.


2- Há nações postergadas que lutam contra as classes dominantes das nações poderosas e, neste sentido, é preciso apoiar o movimento nacional pois, neste caso, ele vira instrumento da revolução proletária. Por esta razão Marx apoiou as pretensões de independência nacional da Polônia Russa. Disto se depreende que a questão nacional, para Stálin e os marxistas em geral, pode ser incorporada desde que em relação com as condições históricas, enfocadas no seu desenvolvimento. Aqui se trata, portanto, dum nacionalismo puramente como meio e não como fim.


A Guerra Patriótica de Stálin prova o que dissemos acima pois ela assumiu caráter de luta pela libertação da humanidade do Imperialismo, forma superior do Capitalismo no dizer de Lênin. Todo o processo de descolonização Afro-Asiática pós segunda guerra mundial seria inexplicável sem o apoio soviético, que era fundamentada numa dialética de embate dos povos conquistados (as nações postergadas) x imperialismo capitalista.


Ainda: se Stálin ossificou o marxismo em formas dogmáticas como ele conseguiu ressignificar o patriotismo, que era qualificado, em linhas gerais, como mistificação burguesa por Marx, no bojo da práxis revolucionária soviética? Se o marxismo não é dogmático então a questão da pátria pode ser ressignificada no processo dialético da revolução. Foi o que Stálin fez. No processo da práxis revolucionária assumiu a luta patriótica como etapa da luta pela libertação da humanidade em direção ao comunismo.


Logo ou o marxismo é só teoria sem práxis e Stálin deixou de ser um marxista ao assumir o conceito de Patriótico, ou ele é práxis e teoria e, Stálin, ao assumir tal conceito, transformando dialeticamente a práxis da revolução, foi fiel ao Marxismo enquanto Trotski não por ter se fixado numa forma teórica.

Ainda há que se diga que Stálin, no plano da organização estatal, fez o que Marx teorizou: Coletivizacão dos meios de produção. Marx já no Manifesto falava duma elite intelectual que iria liderar o Operariado com base nas leis do Materialismo Histórico o que nos leva até a Ditadura do Proletariado de Lênin. A leitura de Rosa Luxemburgo e dos críticos de Stalin é um atentado ao que Marx realmente defendeu. O "Nacionalismo" de Stalin era uma mera cola para juntar aquelas repúblicas todas, é a revisão da teoria à luz da práxis da revolução de modo que Trotski estava certo no plano teórico mas não no prático. Trotski era um fanático do internacionalismo, imaginando que só a revolução permanente daria base para a existência da URSS.


Em suma: Stálin reviu a teoria a luz da práxis. Nesse sentido ele foi mais fiel a Marx pois entendia o primado da práxis face a teoria, enquanto Trotski dava primazia a teoria ante a práxis.


Dito isto, podemos concluir duas coisas:


1- Stálin não deturpou o marxismo tendo sido, antes de tudo, mais fiel a inteireza do pensamento de Marx do que Trotski;


2- Ele não foi nacionalista a rigor mas se valeu do sentimento nacional russo – deformado e degenerado na forma de bolchevismo - apenas como ferramenta para espalhar a revolução;


3- Tendo sido Stálin o mais fiel dos marxistas, seu regime pode e deve ser caracterizado como inteiramente marxiano e os crimes dele como decorrência direta do Manifesto Comunista e não como um desvio.




4 comentários:

  1. O dia em que Stalin declara a homossexualidade um crime
    https://es.rbth.com/historia/79786-stalin-declaro-homosexualidad-como-delito

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    1. Proibiu viadagem...grande bosta!Não apaga os crimes dele em nome da judiaria internacional!

      Aliás, a mãe dele era moedinha:

      https://fitzinfo.net/2021/02/13/stalin-jewish-grave-of-stalins-mother-adorned-with-jewish-kiddush-cup-and-shroud/

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  2. Se o propósito era fazer de Stálin o herdeiro de Marx teria sido mais apropriado citar, caracterizar e comparar o socialismo em um só país com a produção de Marx. Ao invés disso, se escolheu contrapor à teoria da revolução permanente uma teoria do socialismo em um só país camuflada por eventos muito posteriores sem explicar porque o trotskismo se oporia a eles; ao mesmo tempo, e novamente, não se faz nenhum esforço para invalidar a teoria da revolução permanente com uma comparação pertinente com a teoria marxiana. O único que temos a modo de emular este processo de fundamentar o que se afirma são explicações vagas que oscilam livremente entre uma suposta campanha de calúnias antistalinista e o fantasioso apego de Trótski ao esquematismo. De forma não menos conveniente, se omite o papel político e a importância teórica de Trótski em todo o período de desenvolvimento da revolução Russa, compreendido entre 1905 e 1917; como se Trótski não houvesse desenvolvido, ainda em 1905, não a teoria em si, mas a aplicação da teoria da revolução permanente no contexto Russo, época e processo revolucionário que não dão testemunho do gênio marxista de Stálin.

    Enfim, façamos aquilo que o artigo não faz; segue trecho de A Ideologia Alemã com o qual o próprio Marx põe um ponto final a esta cansativa e mesquinha polêmica do "marxismo" de Stálin:

    "Para que se convierta en un poder «insoportable», es decir, en un poder contra el que hay que sublevarse, es necesario que engendre a una masa de la humanidad como absolutamente «desposeída» y, a la par con ello, en contradicción con un mundo existente de riquezas y de cultura, lo que presupone, en ambos casos, un gran incremento de la fuerza productiva, un alto grado de su desarrollo; y, de otra parte, este desarrollo de las fuerzas productivas (que entraña ya, al mismo tiempo, una existencia empírica dada en un plano histórico-universal, y no en la vida puramente local de los hombres) constituye también una premisa práctica absolutamente necesaria, porque sin ella solo se generalizaría la escasez y, por tanto, con la pobreza, comenzaría de nuevo, a la par, la lucha por lo indispensable y se recaería necesariamente en toda la miseria anterior; y, además, porque solo este desarrollo universal de las fuerzas productivas lleva consigo un intercambio universal de los hombres, en virtud de lo cual, por una parte, el fenómeno de la masa «desposeída» se produce simultáneamente en todos los pueblos (competencia general), haciendo que cada uno de ellos dependa de las conmociones de los otros y, por último, instituye a individuos histórico-universales, empíricamente mundiales, en vez de individuos locales. Sin esto, 1.º el comunismo solo llegaría a existir como fenómeno local; 2.º las mismas potencias del intercambio no podrían desarrollarse como potencias universales y, por tanto, insoportables, sino que seguirían siendo simples «circunstancias» supersticiosas de puertas adentro; y 3.º toda ampliación del intercambio acabaría con el comunismo local.(...) Para nosotros, el comunismo no es un estado que debe implantarse, un ideal al que haya de sujetarse la realidad. Nosotros llamamos comunismo al movimiento real que anula y supera al estado de cosas actual. Las condiciones de este movimiento se desprenden de la premisa actualmente existente. (...) Por tanto, el proletariado solo puede existir en un plano histórico-mundial, lo mismo que el comunismo, su acción, solo puede llegar a cobrar realidad como existencia histórico-universal. Existencia histórico-universal de los individuos, es decir, existencia de los individuos directamente vinculada a la historia universal."

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    1. Marxismo é uma colcha de retalhos (((cabalista))).É claro que vão mudar o método mas o objetivo final é o mesmo do neoliberalismo:A tirania global!

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