sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Lista dos crimes contra a Pátria cometidos por Bolsonaro em um ano de governo



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- Agenda de desinvestimento e desestatizações levantam 96.2 bilhões mas, assim mesmo o governo teve um défice fiscal de 95 bilhões, 15 bilhões acima da previsão do governo ( Que era de 80 bilhões) o que mostra a falácia da agenda das privatizações como meio de reduzir nossa dívida. 



- Governo mentiu sobre Embraer usando a farsa de que a negociação para sua venda era baseada no modelo de Joint Venture - acordo entre duas ou mais empresas que estabelece alianças estratégicas, com um objetivo comercial comum, por tempo determinado -, como foi sendo divulgado. A Boeing terá o controle operacional de gestão da nova empresa, que responderá diretamente ao CEO, seu presidente mundial. Se tiver uma condução errada de algo, quem é da Embraer não poderá fazer nada. Todos os países que possuem empresas desse porte não abrem mão delas, pois são geradoras de ciência e tecnologia. Ademais desde o anúncio formal da transação com a Boeing, no início de 2019, a Embraer tem enfrentado céus carregados. No mercado, ainda há muitas dúvidas quanto ao futuro da empresa, especialmente em meio ao momento delicado enfrentado pela companhia americana. E as ações da empresa brasileira refletem esses questionamentos. Desde o começo do ano, os papéis ON da Embraer (EMBR3) acumulam baixa de mais de 20% — o quarto pior desempenho entre as ações que compõem o Ibovespa. Começando pelo resultado líquido: a fabricante de aeronaves encerrou o terceiro trimestre de 2019 com um prejuízo de R$ 314,4 milhões — um salto de mais de 500% em relação às perdas de R$ 52,3 milhões contabilizadas há um ano.

-Economista da equipe do governo Bolsonaro prometeu, em 2018, 3.5 por cento de crescimento com as medidas liberalizantes porém crescemos só 0.9% em 2019; além disto refutar a capacidade da agenda monetarista e hiper liberal de Guedes, representou um claro ato de estelionato eleitoral 


- Jair Bolsonaro, que em 2000 se opôs a entrega da base de Alcântara aos EUA a fim de resguardar nossa soberania (Como revelou o WikiLeaks em 2011 o governo dos Estados Unidos sempre fez questão de impedir a produção de foguetes brasileiros. A organização vazou um telegrama enviado pelo Departamento de Estado dos EUA à embaixada de Brasília em que a política é reiterada. O texto ressalta a importância de garantir que a Ucrânia, nossa então parceira espacial, não transferisse tecnologia para a construção de foguetes. Historicamente, esse desencorajamento é justificado como forma de evitar que o Brasil produza mísseis balísticos intercontinentais, que são iguais aos foguetes utilizados para fins científico), decidiu entregá-la em 2019 colocando o Brasil na total dependência de tecnologia estadunidense em prejuízo de nosso avanço militar e científico.

-Mesmo o Brasil sendo auto-suficiente em Etanol, pois produzimos 30 bilhões de litro ano, Bolsonaro liberou a entrada de Etanol dos USA sem taxa extra de 20% para ajudar o TIO SAM sem abertura do mercado americano ao nosso açúcar. A liberação do mercado brasileiro para o etanol americano preocupa parte dos produtores, especialmente das regiões Norte e Nordeste, que produzem menos do que o Centro-Sul. Por questões econômicas e logísticas, a região acaba sendo o principal destino do etanol americano. Isso destroçará a indústria do etanol na área mais pobre do país, tão necessitada de empregos e renda.

-Bolsonaro fez uma reforma da previdência sem antes realizar a auditoria da dívida pública que ele chegou a defender, anos atrás. Todo os desvios dos recursos previdenciários previstos em lei feitos pelas DRUs nos governos FHC, Lula e Dilma, não foram levados em conta na hora do cálculo do défice real da previdência (na casa dos 50 bilhões entre o que entra e sai – previdência é fluxo e não estoque como o governo Bolsonaro vendeu uma mentira para a população, apresentando um défice muito mais alto pois somando fluxo com estoque) e a população mais pobre é que vai ter de pagar a conta do juros da dívida pública (pois parte do rombo previdenciário é resultante das seguidas DRUs para o serviço da dívida) se aposentando bem mais tarde e por valores menores.

- O governo se perdeu em brigas internas como as entre os filhos do presidente e o PSL o que deixou Jair sem partido no fim de 2019 com menos capacidade de passar suas medidas no congresso por redução de base parlamentar, prejudicando o andamento do pais.

-Bolsonaro comprou votos para passar a reforma da previdência seja por vias legais (liberação de 3 bilhões para emendas parlamentares) como por ilegais (como compra de votos tal como revela áudio de Carla Zambeli, deputada do PSL) usando o mesmo expediente de propina usado pelo PT na época de Lula, corrompendo ainda mais a já combalida vida política nacional transformada num balcão de negócios.



- Bolsonaro desviou 926 milhões da educação a fim de passar a reforma da previdência e servir ao poder financeiro global em prejuízo do ensino infantil e do futuro do país




- O presidente Jair Bolsonaro mentiu ao dizer que o dinheiro economizado com as universidades seria gasto no ensino básico, mas 2,4 milhões de reais foram bloqueados prejudicando creches, alfabetização e até ensino técnico que ele dizia pretender estimular



- Recentes acordos de Bolsonaro com a China comunista colocam nosso agronegócio e nossas terras na mão do socialismo maoísta, além de assegurar o avanço do seu soft power, através de 13 acordos fechados com Pequim, entre os quais destacamos: 

1- Plano de ação na área agrícola permite injetar dinheiro chinês na nossa agricultura = compra de bancos genéticos e de terras no nosso país por agroempresas chinesas (risco a soberania e segurança alimentar nacional)

2-Permissão para o China Media Group promover o cinema sínico no Brasil (Soft Power é ameaça a nossa cultura - lembrar do estrago que o cinema americano fez por aqui)
 

3- Plano de investimentos sínicos no setor de serviços (risco de perdermos o controle do nosso terceiro setor) 

4- Acordo com a State Grid Corporation para operar linha de transmissão elétrica entre Xingu e Rio de Janeiro  (risco para nossa segurança energética)

- Governo Bolsonaro criou Diretoria de direitos LGBT na pasta da Secretaria de Direitos Humanos de Damares coisa que não existia sequer no governo Lula (onde tais pautas não contavam com uma diretoria específica); o governo da moral cristã e do conservadorismo familiar promovendo a degeneração lgbt!


- Bolsonaro, para não ferir a relação com o STF e prejudicar a situação do filho Flávio Bolsonaro investigado pelo MP, não veta a equiparação de homofobia a lei de racismo pelo STF que constituiu ato legislativo o que permitiria ao presidente o exercício do poder de veto e, até, intervenção na corte suprema em vista da mesma ter extravasado sua competência constitucional, usurpando o poder do congresso nacional.


-Bolsonaro para servir ao sistema partidário, endossou um fundo eleitoral bilionário para enriquecer políticos ao mesmo tempo que faz cortes em áreas de saúde e educação; para piorar ainda mentiu alegando que poderia sofrer impeachment caso vetasse o fundo


-Bolsonaro sancionou a medida do Juiz de Garantias do deputado Marcelo Freixo do PSOL,um inveterado defensor de bandidos, descaracterizando o projeto Anti Crime (que tem claros objetivos de aumentar o poder de punitividade do Estado para conter a criminalidade) dando mais uma instância de proteção aos criminosos, indo na contramão de seu discurso de segurança e repressão.




quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Uber não é Empreendedorismo ou a ignorância de Kogos





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Kogos e sua camiseta maçônica. Precisa dizer mais? 


Recentemente o programa Fantástico da Rede Globo trouxe uma matéria sobre “empreendedorismo” onde exalta o fato de pessoas estarem se virando para sobreviver inventando formas de vender serviços e produtos usando plataformas cibernéticas ligadas as redes sociais e aos apps. A impressão passada pela referida matéria é que novos nichos de mercado estão nascendo e que isso traz ganhos de produtividade ao país em meio a recessão que vivemos – o Brasil cresceu pífios 1% em 2019! Quem embarcou nessa canoa furada foi o Ancap Paulo Kogos que se jacta de entendedor de economia.

Kogos lançou invectivas contra Felipe Neto, no vídeo que listamos aqui: https://www.youtube.com/watchv=n6uIpQwX7jE&lc=z23dtfbjhzjwj34pj04t1aokg5ksy0solyyklxqfrkh1rk0h00410 que teria criticado a matéria do Fantástico.

No dizer de Kogos, Neto estaria a desestimular as altas possibilidades produtivas abertas por plataformas como UBER EATS, IFOOD, RAPPI, etc. Segundo Kogos haveria altas vantagens para o pólo do capital representado pelas plataformas referidas quanto para o indivíduo que se emprega nessas atividades. Kogos reitera que a CLT trava a produção no país impedindo o emprego de pessoas cuja produtividade fica abaixo daquela requerida pela lei – que exige um salário-mínimo a ser pago ao funcionário. A falácia kogosiana é clara: por um lado ele exulta com as possibilidades produtivas abertas pelos serviços de apps, depois reconhece que a produtividade deste tipo de trabalho está abaixo do salário-mínimo o que prova que seu discurso está a serviço do grande capital e sua sanha por redução brutal de custos ao mesmo tempo que ele critica os monopólios numa clara expressão de dissonância cognitiva. O que Kogos e os jornalistas do Fantástico não entendem é que a produtividade nesse setor é definida não apenas pela demanda do que é entregue mas também pela oferta dos entregadores, para ficarmos só no exemplo dos serviços de entrega. O quadro nesse setor é de alta elasticidade nos preços pagos pela entrega. Se, por algum motivo, as pessoas param de comprar comida fora, isso vai afetar diretamente a margem de ganho de cada entregador. A curva de demanda aí é muito sensível a qualquer mudança nas condições gerais da economia – inflação de alimentos podem levar as pessoas a preferir cozinhar em casa que comprar lanches prontos por conta da elevação do preço. Mas se a demanda por entrega aumentar e o número de entregadores for pequena a tendência é que o recebido por entrega feita aumente em termos não só nominais mais reais. Esses elementos são os que determinam o ganho num setor onde prevalece o mecanismo da competição perfeita – a presença de muitos concorrentes incapazes de dominar amplas faixas do mercado e fadados a dividi-lo – o que leva todos a buscar reduzir custos, única forma de angariar maiores lucros num mercado onde a margem de lucro não pode ser aumentada via hegemonia. Se houver uma mudança institucional de redução de custos via uma reforma trabalhista como a que tivemos na era Temer, então os empreendedores vão criar lobbys para impedir que a margem de lucros diminua; todos vão impor um regime de redução de custos extremo. Reparem que é esse sistema brutal que Kogos defende ao mesmo tempo que alega que tais atividades permitiriam ao sujeito poupar para abrir seu próprio negócio! Num quandro de redução brutal de custos e pagamentos irrisórios por entrega onde o empregado é obrigado a ampliar suas horas de labuta para sobreviver falar de poupança – portanto num contexto de puro sobrevivencialismo – chega a ser um escárnio. A realidade é que Kogos tem uma função clara: legitimar o processo de Mamonismo, de culto ao lucro desmedido e de rapinagem empresarial incluído aí a sanha do capital global representado pela UBER – que já se vale de processos técnicos que visam substituir de vez o homem pela Inteligência Artificial num cenário de futuro fracamente distópico - que tomou conta do país faz um tempo. Não há nenhuma preocupação dele com o bem geral do país mas apenas com a defesa intransigente das “trocas voluntárias”, noção mercadológica aplicada a tudo, até a relações de trabalho que deveriam estar sob a regência duma ética, sem considerar a disparidade de poder que envolvem as mesmas e os consequentes abusos empresariais quando falta a proteção duma autoridade/poder/lei que modere a cupidez do pólo do capital.

Outrossim é uma piada de mau gosto Kogos chamar tudo isto de empreendedorismo. Isso não é empreendedorismo. Empreendedor é aquele que cria seu próprio trabalho e isso se dá quando ele identifica que há um nicho de mercado que não está sendo atendido e ele vê que o risco de criar um negócio vale a pena. Ele calcula que entre o grau de risco e aquele emprego conservador dele com salário certo, que vale a pena arriscar, que correr o risco é uma alternativa melhor e mais promissora se ele tem as condições mínimas para atender aquele nicho. A primeira coisa que determina o empreendimento é não a falta de possibilidades mas a presença delas, pois isso permite calcular riscos e tomar riscos. Quem trabalha com UBER e entrega não tem possibilidades, ou seja, está trabalhando ali pois é o que tem então não há opções. O empreendedorismo, via de regra, acontece em cenário de prosperidade e crescimento econômico e não de depressão pois ele depende do empreendedor identificar uma demanda não atendida e tentar atendê-la mas agora vivemos um cenário de depressão e falta de demanda pois não há novos desejos de consumo.; a demanda está estável, não há nenhum novo mercado surgindo.

Aliás Kogos desconhece a própria escola austríaca pois nela temos o conceito de Bawerk que seria o de circularidade ou produção indireta; este conceito implica em que quando temos taxas de juros mais baixas há um favorecimento a produção indireta pois geralmente produtos industrializados – que são feitos por etapas - demandam grande capital; num cenário de prosperidade econômica os bancos estão mais propensos a conceder crédito, nos de recessão os bancos jogam as taxas lá em cima de modo que os tipos de empreendimento que surgem nas fases de crescimento são de qualidade superior aos que surgem nos de período recessivo. Pensemos num cenário de milagre econômico a 12 por cento de crescimento por ano onde um sujeito quer criar uma fábrica de calculadora que vai exigir algum capital mas não tanto quanto para fazer um smartphone que exige mais tecnologia. Nesse cenário o banco vai liberar esse crédito pois há confiança; num outro cenário – recessivo - o banco não vai liberar crédito e se liberar talvez não seja vantajoso levar a produção de calculadoras a cabo pois a margem de lucro será muito baixa em face as taxas de juros que estarão altas. Suponhamos que o Brasil comece a vender minério de ferro a todo vapor para EUA e China; o que ia acontecer é que esses subempregos ( uberistas, entregadores, etc) iam murchar para dar lugar aos empregos formais pois os reajustes de salários tornarão esses empregos mais vistosos somados a segurança jurídica que oferecem; os empregos informais certamente vão oferecer ganhos mais altos em razão da produtividade geral da economia mas não a ponto de roubar os empregos formais; então há, para sermos aristotélicos, o bom e o mau empreendimento e a tendência é que os melhores empreendimentos nasçam na passagem da fase de recessão para a de crescimento e que os empreendimentos nascidos na fase recessiva desapareçam em face aos maiores ganhos fornecidos pelos empregos formais. Se há uma elevação qualitativa dos padrões de empregos a tendência é que esses empregos mais sofisticados acabassem superando em muito o ganho dos empregos informais. Logo o segredo da produtividade não está numa mera liberalização no setor de serviços como imagina Kogos mas está na dependência da produtividade geral do país o que passa por mudanças nas estruturas produtivas e no estímulo a demanda.


Créditos ao contributo do amigo Arthur Rizzi. 



terça-feira, 24 de dezembro de 2019

O Natal de Cristo por Dom Marcel Lefebvre

A imagem pode conter: 1 pessoa, em pé, criança e área interna
Sermão de Natal de 25 de dezembro de 1981






Meus queridos amigos
Meus queridos irmãos


A liturgia desta festa da Natividade de Nosso Senhor é tão bela, tão rica em expressões, em sentimentos, que se pergunta quais são aqueles sobre os quais devemos meditar mais e dos quais devemos aprender, tão profundo é esse mistério, tão extraordinário é esse mistério. Mas se a Igreja nos pede todos os anos para nos encontrarmos com o Presépio do Senhor e meditar nos ensinamentos deste presépio, é particularmente para nossa edificação, nosso bem espiritual, nosso bem sobrenatural.
Estamos na via, estamos a caminho, em direção à eternidade, e precisamos durante esta peregrinação reavivar nossa fé, reavivar nossas resoluções para nos desapegarmos deste mundo e sempre aumentar nosso amor por Deus, para almas, para o próximo.
As três missas que a Igreja nos pede para celebrar hoje expressam uma verdade particular, uma verdade especial. Na missa da noite, é especialmente a eterna geração de Nosso Senhor que a Igreja nos pede para meditar: Hodie ego genui te Hodie, ou seja, hoje hoje é eterno, hoje que ainda hoje existe: hodie ego genui te. Sim, a geração da Palavra não foi iniciada. Sempre foi assim. Sempre esteve na Santíssima Trindade.
A missa do amanhecer nos pede especialmente para meditar no nascimento de Jesus em nós, nossa santificação. De fato, Jesus nasceu em nós pela graça do batismo e sua divindade e sua humanidade estão sempre mais próximas de nós, pelos sacramentos que recebemos, pelos esforços que fazemos para estar cada vez mais unidos a Nosso Senhor Jesus Cristo.
E a terceira missa, a do dia, cujos textos acabamos de ouvir, em particular o do Evangelho, mostra-nos que é a geração temporal de Nosso Senhor que meditamos e que admiramos e que veneramos. durante esta missa. Alguns momentos atrás, nos ajoelhamos diante das palavras: E Verbum caro factum é: "E a Palavra se fez carne". E a Palavra viveu entre nós. E recitamos com tanta frequência, quando tomamos o cuidado de dizer esta bela palavra do Angelus: E Verbum caro factum est.
Sim, é bom para nós contemplarmos essa verdade extraordinária, incrível e inimaginável, que Deus foi feito um de nós. E assim, insistiremos particularmente nos arranjos de que precisamos para aproveitar plenamente esse grande mistério, este lindo dia de Natal. Parece-me que podemos insistir particularmente em três disposições particulares, que são aquelas que observamos naqueles que se aproximaram de Jesus, que eram de determinada graça, escolhidos e chamados a Jesus na manjedoura.
A primeira disposição é a da renúncia. Por um plano muito particular da Providência, o próprio Senhor queria nascer em um estábulo, numa manjedoura, mostrando-nos em particular que precisamos saber como renunciar às coisas deste mundo. Se Ele, o Criador de todas as coisas. Aquele que segura o mundo em suas mãos, Aquele que criou tudo. Aquele que poderia ter nascido em um palácio como nenhum outro príncipe neste mundo teria conhecido. Ele preferiu nos dar essa lição de renúncia, de pobreza, mostrando-nos pelo mesmo fato, quanta coisa espiritual é infinitamente superior às coisas materiais, que devemos desprezar essas coisas materiais em benefício das coisas espirituais.
E também vemos que, se Nosso Senhor queria nascer em uma manjedoura e em uma espécie de exílio, longe da casa de Maria e José, longe de Nazaré, ele também queria chamar aqueles ao seu redor e destacá-los da família, propriedade, casa. Maria e José foram reduzidos a acolher Jesus em uma manjedoura. Enquanto Maria é a Mãe de Deus, enquanto José é o guardião de Maria e Jesus, eles também tiveram que praticar renúncia, desapego. Sem dúvida, se eles estivessem em Nazaré, com que cuidado eles teriam preparado para a vinda de Jesus. Eles teriam os meios para recebê-Lo de maneira mais digna. Mas não, Jesus teve que escolher este lugar, pedir também a Maria e José, que abandonassem os bens deste mundo.
E então, quando Ele chamou os pastores, os pastores estavam a alguma distância de Belém. Vamos para Belém, eles dizem. Eles estão, portanto, a uma certa distância. Jesus pede que eles deixem seus rebanhos. Sem dúvida, eles confiaram a maioria de seus rebanhos a algumas pessoas que ficaram para trás. E eles foram embora. Eles deixaram o que estavam apegados, para ir a Jesus, a Nosso Senhor, mostrando assim que, se queremos encontrar Nosso Senhor, precisamos saber como abandonar o que estamos apegados.
E é o mesmo para os Três Reis. Os Três Reis também tiveram que deixar seu país, deixar suas casas, deixar suas casas. Sem dúvida, atravesse o deserto e por longos dias vá a Jesus em Belém.
E eles O reconheceram e O amavam. Veja quanto, para encontrar Jesus, para amar a Jesus, você precisa saber como se destacar. É o que diz São Paulo na epístola da missa de hoje: saiba viver de maneira sóbria, piedosa e santa, abandonando todos os desejos deste mundo.
Portanto, essas também são nossas disposições […] que seu coração também seja desapegado. Não basta ser desapegado fisicamente, fisicamente da própria pessoa, das riquezas deste mundo, dos bens deste mundo; também é preciso desapegar-se internamente de nossas almas.
Quanto a vocês, meus queridos irmãos, vocês que estão no mundo, sem serem do mundo - pois vocês não são do mundo sendo batizados - vocês são os filhos de Nosso Senhor Jesus Cristo, membros do Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Então você também, embora precise usar os bens deste mundo, se desapegue deles. Não coloque seu coração nisso; não coloque toda a sua alma nela, mas use-as de acordo com a vontade de Deus, desapegando-se de todos esses bens.


E então, o segundo sentimento que deve nos preparar para receber Jesus de uma maneira muito particular, profunda e real, é a fé.


Jesus pede fé. Hoje, infelizmente, os berços estão desaparecendo porque se diz que essas coisas são um tipo inútil de folclore que remonta à Idade Média e agora deve ser abandonado. Mas estamos muito errados. Porque essa fé simples que Jesus nos pede. Ele é a fé que salva. É pela fé que somos salvos.
E Jesus se apresenta precisamente em aspectos que exigem nossa fé. Ele poderia ter se manifestado como Deus. E então não precisaríamos ter fé. Teríamos visto Deus. Ele não queria isso. Ele queria se esconder sob essa aparência humilde, essa realidade de um corpo humano e uma criança, além disso. Ele poderia ter vindo, descido do céu, já adulto. Não. Ele queria se apresentar quando criança.
Então, por que os Três Reis, depois de terem feito uma jornada tão longa, chegando a ver o Rei de Israel, não foram adiados e não disseram para si mesmos: Mas não é possível, não é que o rei de Israel, somos enganados e teríamos voltado para casa.
Não, eles tinham fé. E os pastores também. Eles também tinham fé em Nosso Senhor; eles o amavam. E a Virgem Maria e São José também tiveram fé. E, no entanto, eles também poderiam ter dito a si mesmos: Mas não é possível que Jesus tenha nascido em uma manjedoura. Não é possível que o Filho de Deus chegue a um lugar tão pobre e miserável. Eles poderiam ter hesitado em sua fé. Não, não hesitamos, nem por Maria, nem por José. Eles já eram espirituais; eles entenderam que as coisas deste mundo não são nada.
Então nós também devemos ter fé; temos que entusiasmar nossa fé e acreditar que Jesus é o Filho de Deus, mesmo que ele pareça em forma humana, tão pobre, tão destituído, tão fraco. É o mesmo para nós todos os dias, quando recebemos a Santa Eucaristia. Aqui também o bom Senhor nos pede (para) ter fé. E fé. Ele nos pede isso de uma maneira incrível. Que Jesus, Deus, o Filho de Deus, esteja presente na Santa Eucaristia, neste pedacinho de pão; que o pão desapareça, que não haja nada além das aparências do pão e que Jesus tome seu lugar: coisa incrível!
E precisamente, é sob essas aparências de fraqueza, mas que revelam um amor infinito de Nosso Senhor por nós, que devemos excitar nossa fé e que Jesus nos pede, de nossa parte, para acreditar, acreditar em sua presença em sua humanidade. , acredite em sua presença na Santa Eucaristia.
E, finalmente, a terceira provisão que deve nos aproximar de Jesus, que deve nos fazer amá-Lo, é precisamente a caridade. Sim, Jesus veio a Belém nesta manjedoura, nasceu nesta miséria, nesta pobreza, por amor. Primeiro por amor a Deus, por amor a seu Pai. Ele queria restaurar a glória de seu pai.
Mas como podemos restaurar a glória de seu Pai, em aspectos tão pobres e fracos? Sim, a glória de Deus foi restaurada por Jesus Cristo. E os anjos cantaram: Gloria in excelsis Deo: Glória a Deus. E nós também devemos, portanto, aproximar-nos de Jesus com amor e pedir-Lhe para participar de seu amor por seu Pai. Tudo em Jesus lembra sua divindade e seu Pai. Ele é completamente tendido ao amor de seu pai. Ele veio a realizar sua vontade: Ecce venio (...) ut facimam, Deus, voluntatem tuam (He 10,7): "Aqui estou eu, para realizar sua vontade". Então, foi por amor a seu Pai que Jesus veio e também por amor a nós. Se ele queria se tornar um homem; é para nos libertar dos nossos pecados. Toda a liturgia nos ensina isso. Para que esse amor de Nosso Senhor Jesus Cristo também excite em nós um profundo amor por Ele e que tomemos hoje resoluções cada vez mais fortes, sempre mais eficazes, para amar a Deus acima de tudo; amar Nosso Senhor Jesus Cristo acima de tudo; querer seu reinado, seu reinado em nós, seu reinado em nossas famílias, seu reinado em nossas cidades, seu reinado por todo o mundo, até que ele venha nas nuvens do céu para mostrar seu reinado.
Desta vez. Ele virá no esplendor de sua divindade e manifestará sua divindade em toda criatura. Portanto, tenhamos certeza de que o reino de Nosso Senhor Jesus Cristo avança em nós e entre nós.
[…] Pediremos, em particular, a Virgem Maria para nos ajudar a ter esses arranjos que ela tinha para receber Jesus nela e recebê-lo no presépio, como ela o tinha nos braços. Peçamos à Virgem Maria que nos dê Jesus.

[Tradução e adaptação nossa do original em francês]

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Vargas e o Catolicismo

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Há, agora, entre vários segmentos católicos um rechaço preocupante a figura do ex-presidente Getúlio Vargas que, se não instaurou um Estado Católico, esteve muito longe de ser um anticatólico; bem ao contrário, Vargas promoveu vários postulados católicos o que o coloca, em certos aspetos até mesmo a frente de Dom Pedro II que, para temos uma idéia, mandou prender bispos anti-maçonaria durante o segundo reinado, bispos que apenas cumpriam com os ditames de Pio 9, papa que condenou taxativamente a maçonaria.

Sobre isto o insigne professor Eduardo Cruz, catedrático em História, esclarece o seguinte: 

"Um católico não pode ter essa opinião em hipótese alguma. Numa escala comparativa, Getúlio foi muito superior a Bolsonaro, tomando como critério o Magistério da Igreja:

(1) Consagrou Nossa Senhora Aparecida como Padroeira do Brasil, em 1931:
https://www.facebook.com/TrincheiraMoral/posts/499334023799577

(2) Reintroduziu o ensino religioso nas escolas públicas, por meio do Decreto nº 19.941, de 30 de abril de 1931.

(3) Proibiu a usura, nos termos do Decreto nº 22.626, de 7 de abril de 1933.

(4) Baniu os maçons do governo:
http://bensodicavour.org.br/.../95-a-maconaria-de-volta.../

(5) Solicitou ajuda do clero para elaborar a CLT:
https://www.facebook.com/TrincheiraMoral/posts/315070735559241.

(6) Instituiu incentivos ao casamento e à natalidade, por meio do Decreto-Lei nº 3.200, de 19 de abril de 1941. O texto foi redigido com sugestões do Centro Dom Vital.

(7) Reintroduziu o serviço de assistência religiosa nas Forças Armadas, nos termos do Decreto-Lei nº 6.535, de 26 de maio de 1944. O serviço havia sido extinto décadas antes, com a proclamação da República, que separou a Igreja do Estado.

(8) Determinou ao DOPS que reprimisse a propaganda anticatólica disseminada por maçons, protestantes, comunistas e demais transviados:
https://www.livrariacultura.com.br/.../os-quebra-santos...

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Vargas ao lado do Cardeal do RJ, Dom Sebastião Leme. 
Fato pouco conhecido é que durante o Estado Novo houve uma negociação entre o governo e a Santa Sé para a assinatura de uma Concordata, por força da qual o Brasil voltaria a ser um país oficialmente católico (1939). Por algum motivo, não se chegou a um acordo. Isso, sim, é um bom motivo para criticar Getúlio Vargas, não o fato de ter sido ditador. Ele deu vários passos rumo à construção do Estado Católico, mas não deu o passo definitivo, que seria o mais importante de todos."


Professor Eduardo Cruz, catedrático pela  Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Em torno da entrega do Brasil à China comunista: o papel de Olavo/ DEA-USA



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A primeira vista pode parecer contraditório a reorientação da política externa do Brasil para os interesses chineses - em razão das falas de Ernesto Araújo e de Olavo de Carvalho, logo no começo do governo onde tentavam, a todo preço, demolir qualquer via de diálogo com Pequim, sob justificativa de que estaríamos sob o risco de espionagem comunista e/ou de apoio a um regime que nega a liberdade dos cristãos e que seria preciso duma “santa aliança”, nas palavras de Araújo, contra a mesma - sobretudo quando o atual governo optou claramente pela via da aliança com os EUA, num momento em que Trump leva adiante a guerra comercial contra a China.

Nós ficamos a pensar no que poderia explicar essa mudança brutal em meio ao aumento da influência da ala olavete no governo - a mesma que sempre torceu o nariz para o "bloco sino-russo". A princípio tudo parecia ser um resultado da rearticulação da ala militar que teria conseguido um acordo pragmático onde a ala olavete/estadunidense havia falhado em conseguir algo semelhante com os EUA - vide o caso da venda de nossa carne ao mercado americano. Isto significaria um retorno da ala militar com a consequente perda da influência da ala olavete. Todavia a coisa parece ser diferente. Um dos fatos a considerar é que esse acordo amplo com China recém obtido mesmo depois de Araújo e Olavo terem sido avessos a aproximação com a mesma no início do ano, só pode ter sido alcançado se alguma nova orientação viesse do DEA/USA dada a total incapacidade de Bolsonaro de pensar para além do guru. O que está em jogo bem provavelmente é que a China compra nossa carne e deixamos para lá a venda da mesma no mercado americano salvando a produção dos EUA que pode seguir investindo no seu mercado interno para se refortalecer sem precisar levar a guerra comercial com os chineses tão longe neste momento, dando alguma vantagem aos mesmos no Brasil, enquanto ganha tempo. Talvez este acordo de bastidor explique o desinteresse das cias petrolíferas dos EUA no nosso leilão do Pré-Sal. Outrossim importa ressaltar que quem financia o consumo americano é a poupança chinesa - a China possui boa parte dos títulos públicos dos EUA - e faz-se necessário assegurar à mesma alguns mercados sem os quais ficaria impossível incrementar esse financiamento garantindo a continuidade da dinâmica de crescimento econômico da era Trump. O Brasil abre seu mercado para o excedente chinês enquanto o Partido comunista de Pequim aceita a supremacia estadunidense na Sul América. Vemos uma reedição da política externa da era Richard Nixon, onde, na década de 70 Washington buscou quebrar o bloco comunista atraindo a China para seu lado como parceira comercial do capitalismo ocidental enquanto fornecedora de mão de obra barata para as indústrias dos países desenvolvidos em troca de pesados investimentos e transferência de parques produtivos para suas zonas abertas. A vantagem era dupla pois criava as condições finais para a globalização do capital estadunidense/ocidental ao mesmo tempo que assegurava à China a condição de potência do Extremo Oriente com a anuência do Tio Sam. O mesmo se dá agora: os EUA se recolocam na dianteira da globalização enquanto dá a China um naco da América.

Agora isto tudo – a articulação americana em entregar o Brasil a China - fica ainda mais patente com os recentes acordos que vão entregar nosso petróleo, terras e mercado na mão chinesa. A gigante de tecnologia Xiaomi já anuncia a abertura de lojas no Brasil o que vai inviabilizar de vez as marcas de celulares nacionais; o grupo chinês Citic Agri Fund Management comprou a operação de sementes de milho da Dow AgroSciences Sementes e Biotecnologia Brasil por US$ 1,1 bilhão. A nova empresa, rebatizada de LP Sementes, já surge com cerca de 20% do mercado nacional de sementes de milho – terceira no ranking – e com planos ambiciosos para ir além. A Yuan LongPing High-tech Agriculture – subsidiária do Citic Agri Fund – é a líder de mercado de sementes na China e líder global de sementes de arroz híbrido. Com a compra, terá acesso total ao banco de germoplasma de milho brasileiro e à marca Morgan. Um fator preponderante que pode potencializar muito o apetite chinês para a produção agrícola no Brasil é a autorização da compra dessas terras por estrangeiros, tópico que está sendo discutido no Congresso Nacional depois de o projeto de lei referente a isto ter sido desarquivado(in:https://www1.folha.uol.com.br/colunas/mercadoaberto/2019/03/projeto-que-libera-compra-de-terra-por-estrangeiro-e desarquivado.shtml).

Cabe destacar que até 2032 o desmatamento da Amazônia vai ampliar em 950 mil hectares devidos aos projetos rodoviários em andamento para atender o escoamento para a China (o que torna toda a histeria bolsonarística contra os interesses de Macron e da França na Amazônia apenas cortina de fumaça para esconder quem de fato representa risco à soberania do Brasil sobre a mesma: em tempo gostaríamos de saber dos bolsonaristas onde a França tem necessidade do minério amazônico se ela tem amplas reservas no Sarre e Lorena e se a Siderurgia francesa vive um declínio produtivo, tendo a França se especializado noutras áreas de produção que demandam muito menos minério? Quem tem necessidade dele são os EUA e a China). Com o aval à China, dado pelo governo Bolsonaro, agora o terreno estará pronto para que o Partido comunista chinês compre terras no Brasil.

Portanto, o que estamos a assistir, bem provavelmente, é nosso país sendo retalhado entre o capitalismo americano e o comunismo chinês sob a anuência dum governo que se apresentava como anti-socialista e patriótico ( quem não se lembra do dístico “Brasil acima de todos”?); toda esta articulação entre interesses geopolíticos de EUA-China em torno do Brasil explica o silêncio de Olavo de Carvalho – um agente da DEA/USA determinado a garantir que o Brasil seja sacrificado à China comunista em troca da subida político/econômica dos EUA/Trump.




quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Em torno do Halloween como festa neopagã e esotérica


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Festival do Samhain no século 18
Muito se fala a respeito da festa do Halloween, celebrada no dia 31 de outubro sobretudo nos EUA e que merece, por lá, até feriado. Nas últimas década a data se consolidou no Brasil como referência cultural. A data também é celebrada no México como dia dos mortos, envolvendo elementos da antiga cultura asteca no que tange a exaltação do culto aos antepassados, numa tentativa clara de combater a influência da festa norte americana do Halloween, se valendo de símbolos locais. Deste modo é preciso compreender corretamente donde vem a festa em tela, objeto de imensas polêmicas pois há quem diga que ela nada mais é que uma versão popular da festa de todos os santos, tendo origem no calendário da liturgia católica enquanto outros insistem em referi-la unicamente a cultos pré cristãos e pagãos do mundo antigo e até a práticas satânicas. 

Em primeiro lugar é preciso que se diferencie a etimologia da palavra "Halloween" (Termo que se refere diretamente à data de todos os santos: hallow - santo/ eve - véspera; em suma, dia da véspera de todos os santos que cai em 1 de novembro) da festa que lhe dá origem - o Samhain, celebrado pelos celtas e galeses, durante a idade média, na Ilha da Britânia - atual Inglaterra. Durante o século 8 o Papa Gregório 3 mudou a data de todos os santos - antes celebrada dia 13 de maio - para o dia 1 de novembro. O objetivo era claro; substituir o culto do Samhain pelo dia de todos os santos. Na época a Igreja estava em franca expansão entre os celtas e bárbaros germânicos através das missões dos monges beneditinos que abriam mosteiros e escolas nas zonas habitadas por estes povos a fim de cristianizá-los. A mudança da data contextualiza a ação do Papa dentro destes esforços evangelizadores. 

Logo, o Samhain, É uma festa que remente a celebração celta de cunho agrário ligado ao fim do verão. Na época esse festival assumia caráter sacrifical. Durante o auge da cristandade o Samhain foi semi-esquecido tendo ficado restrito a seitas que praticavam a antiga bruxaria e magia dos povos pagãos, uma religião subterrânea que sobreviveu nos porões da sociedade medieval apesar dos esforços de cristianização da Igreja. Mas a tradição do Samhain foi recuperada na Inglaterra e assumida nos EUA no século 18/19 .Na Inglaterra as leis contra bruxaria foram suspensas em 1736. Essa suspensão mantinha relação com o advento do iluminismo que considerava a crença em bruxas um sinal das "trevas da ignorância" produzida pelo império da religião católica sobre as massas. Desde então, apesar de todo o racionalismo da época, houve um ressurgimento do interesse na bruxaria mas de forma a positivá-la. As bruxas passaram a ser vistas como mulheres incompreendidas e a bruxaria como um fonte de conhecimento ignorada pelas "trevas da religião". Neste contexto se dá a retomada da prática céltica do Samhain. No século 18 esse processo teve como resultado a publicação dos Grimoires - livros populares de magia que tencionavam facultar à população o acesso a esse conhecimento oculto e a cabala. Uma nova visão sobre a bruxaria começava a ser construída nos círculos intelectuais da Europa do século, concepção que acabaria se refletindo na cultura popular do Halloween que só toma força no século 19, período onde existiu uma retomada romântica da bruxaria via ocultismo que tem muita relação com as correntes que revalorizavam os cultos agrários e de fertilidade.

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O livro do historiador Jules Michelet reabilitou a bruxaria


Em 1828 Karl Jarche argumentava que a religião agrária do Samhain e a bruxaria a ela relacionada, eram a antiga religião dos povos bárbaros que a Igreja, falsamente, qualificou de culto ao Diabo. A literatura de Walter Scott, apresentando as bruxas como mulheres perseguidas injustamente, literatura que vai ter amplo alcance popular, terá um papel fulcral para a retomada do Samhain. Franz Mone e Michelet relacionavam a bruxaria à religião do povo, das camadas baixas, oprimidas pelas nobreza e clero católico em suas manifestações sagradas. A bruxaria seria a emergência do espírito democrático dos camponeses medievais contra a opressão da aristocracia feudal, uma religião popular de massas avessa a religião da ordem e da lei (o catolicismo).

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Livro de magia dos Grimoires


Foi justamente este caldo de cultura que foi transportado para os EUA no meado do século 19 dando origem ao "Halloween" moderno. Houve uma grande fome em torno de 1840 na Irlanda levando muitos irlandeses a migrar para os EUA. Por volta de 1870, 30 anos depois dessa migração, já vemos referências à celebração do Samhain nos EUA. Nela várias tradições se misturavam como o uso de maçãs para prever o futuro - algo originado nas práticas de bruxaria medievais - com referências a elementos da vida agrária - a abóbora, o espantalho, etc. Tudo isto porém, está fortemente relacionado ao culto a natureza e aos aspectos noturnos da natureza humana - a tradição de vestir-se de fantasma e do susto, por exemplo. 

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Crowley foi um grande divulgador da bruxaria e ocultismo na Europa e em Nova Iorque, EUA. 

O Samhain é o ano novo pagão que marca o fim das colheitas e o começo dum novo ciclo natural que será iniciado com a morte invernal - não é sem razão que a festa do Halloween faça menção constante a morte e aos mortos; no hemisfério norte, outubro é o mês da queda das folhas e da última colheita, da morte da natureza para ressurgir na próxima primavera.  Os esotéricos do fim do século 19 e início do século 20 - como os seguidores de Aleister Crowley e MacGregor adoravam Pã e Ísis como símbolos da natureza. O Samhaim celta era um culto a natureza. O Halloween é uma retomada deste culto. O caldo de cultura gerado pelo Halloween é, ao mesmo tempo, causa da retomada do paganismo antigo agora sob forma esotérica - no neopaganismo - como efeito de sua restauração no século 19. Não é a toa que Halloween esteja muito presente nos EUA, país fundado pela Maçonaria - que pratica ritos ligados ao culto da mãe natureza - e de forte influência britânica e irlandesa - cabe dizer que a Inglaterra foi o pólo de onde partiu grande parte do movimento wicca moderno, da literatura esotérica vinculada a magia - Crowley, MacGregor, Graves e Gardner, esotéricos ligados a thelema, golden dawn, etc, eram todos ingleses e tiveram seus livros amplamente divulgados nos EUA - e da restauração de cultos de bruxaria em razão de eles estarem vinculados a recuperação da tradição céltica - mais preservada na Inglaterra e Irlanda que em qualquer outro lugar da Europa. Assim devemos enxergar o Halloween como uma expressão popular dessa renascença neopagã que começa no século 19 e como uma festa frontalmente anti-católica. 


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Cartão postal em celebração ao Hallowenn, EUA década de 1920. 

terça-feira, 17 de setembro de 2019

A estratégia criminal de Olavo de Carvalho e os Jacobinos de direita.



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Olhem o simbolismo ("ad dexteram") e tirem vossas conclusões. 



O primeiro passo em direção a uma ação condizente para livrar o Brasil do risco que está a correr é entender o que se passa. Não há a mínima chance de abrir uma via legítima de resistência ao governo Bolsonaro que seja, ao mesmo tempo, uma via alternativa para a reconstrução da nação, sem a compreensão da lógica que o caracteriza e do perigo que nos ameaça agora.

O governo Bolsonaro é um compósito de cinco alas: militares, protestantes, lavajatistas, olavistas, liberais. Cada uma delas tem propósitos e valores diversos o que torna o governo altamente instável por si só. Desde o começo dele ficou claro que estas facções iriam se digladiar pela hegemonia. Cabe lembrar da luta que elas travaram por ministérios antes da posse presidencial e como os militares saíram em franca vantagem no início. Um setor do generalato unido em torno de Bolsonaro, conhecendo bem os caminhos do poder e as tramas do establishment, conseguiu uma boa quantidade de cargos e ministérios, garantindo um importante espaço com 46 militares em posições estratégicas. Mas o embate dalguns milicos – como Mourão e outros que puseram barreira às pretensões israelófilas de transferência de embaixada para Jerusalém assim como aos arroubos de intervenção militar na Venezuela - com as pretensões da ala olavista – comprometida com os interesses de Israel/EUA e encalacrada no ministério do exterior quanto no da educação e contando com o apoio de Eduardo e Carlos, filhos de Bolsonaro, que tem um peso grande dentro da condução do governo – acabou trazendo a demissão dos generais Santos Cruz, Juarez Cunha e Franklimberg Ribeiro, numa clara vitória de Olavo de Carvalho pela hegemonia ideológica sobre o presidente. No começo do ano dissemos que o objetivo de Carvalho era radicalizar a direita aglutinando-a em torno de si sob a alegação de que o governo estaria repleto de “aparelhamento socialista”. A ameaça do “comunismo petista” passou a funcionar como uma “palavra talismã” capaz de suscitar o medo e a mobilização em prol do governo, numa defesa intransigente dele, a ponto de caracterizar possíveis desvios do mesmo em face as promessas de campanha ou dos princípios que legitimaram a subida de Bolsonaro ao poder como produtos de “agentes infiltrados” no governo e não como fruto da inépcia ou da conveniência. Cabe dizer que os postulados que sustentaram a candidatura Bolsonaro eram os da moralização da máquina pública, tecnicidade do estado, império da lei, eliminação dos conchavos e do “toma lá dá cá”, liberação de armas, combate ao crime, valores religiosos, anticomunismo, estado mínimo, etc, postulados estes que em sua maioria foram sendo deixados de lado, seja sob a pressão de limites reais, seja pela falta de compromisso real com estes temas, usados na eleição apenas como instrumentos de demagogia. Assim a moralização do Estado deu lugar ao filhotismo político – com a indicação de Eduardo para embaixador nos USA - e a admissão de notórios corruptos vinculados a velha política dentro da base aliada do governo e nalguns ministérios – caso de Onyx Lorenzoni – o império da lei deu lugar a política da conveniência no caso Queiroz/Flávio Bolsonaro, o toma lá dá cá voltou para passar a nefasta reforma da previdência – que penaliza os trabalhadores com mais tempo de contribuição para o Estado em troca de aposentadorias com valores menores no benefício final – a idéia de armamentismo deu lugar a um decreto pouco incisivo neste sentido, o combate ao crime, via proposta de lei de Moro, está na gaveta, os valores religiosos e morais só existem no discurso dado que o governo está mais empenhado nas reformas econômicas liberais, etc. O que restou de todo blá blá blá eleitoral foi o apoio cego de setores protestantes – que veem o presidente como um “enviado divino" - dos setores do liberalismo econômico que ainda apostam nas reformas, apesar da falta de habilidade de Bolsonaro em negociar com o congresso, e do olavismo militante cada vez mais fanático e empenhado em salvar um governo que naufraga a olhos vistos, incapaz de gerar crescimento, emprego e renda e de cumprir boa parte de suas pautas além de cada vez mais isolado de suas apoiadores de primeira hora e de suas promessas originárias. Boa parte da direita – aquela mais liberaldemocrática e centrista – já deixou o governo. Deputados do PSL – agora dividido entre a ala próLava Toga e AntiLavaToga – já ensaiam uma cisão e a formação doutra sigla o que prenuncia que a ala lavajatista deverá ser ripada do governo como fora, em parte, a ala militar. O exército, dando sinais de descontentamento, já faz movimentos em clara provocação ao governo como a recente promoção do general exchefe da segurança presidencial de Dilma Roussef somado ao fato de o general Otávio do Rego, porta-voz presidencial, ter sido preterido à indicação da quarta estrela o que fará o mesmo encaminhar-se para a reserva.

Perante tudo isto Olavo se colocou na vanguarda da defesa do governo lançando-se de vez como ideólogo-mor dele. Nos seus últimos vídeos, já prevendo a crise iminente entre setores próLavaJato, que defendem o combate a corrupção em geral, e as necessidades de sobrevivência do governo Bolsonaro – que envolvem o arquivamento das investigações sobre o Senador Flávio Bolsonaro, que poderiam resvalar no presidente, abrindo brechas para a queda do governo – o velho abriu fogo e lançou críticas ao lavajatismo acusando-o de descolar o combate à corrupção do combate ideológico ao PT. Para Carvalho o fato da LavaJato realizar-se sob os auspícios da neutralidade da lei impossibilita um combate eficaz ao petismo – razão de ser máxima do governo Bolsonaro, para o astrólogo – que, no fim das contas, seria a única coisa que de fato interessaria. Isto tudo permite dizer que, pouco a pouco, Olavo vai atingindo seus fins, quais sejam o de alcançar a hegemonia ideológica sobre a direita bolsonarista reaglutinando-a em torno do combate ao “fantasma petista” - a tal palavra talismã – apresentado-se como o único que tem o conhecimento efetivo para dar cabo de tal ameaça.

A idéia força de Carvalho é a renúncia a valores e princípios para uma defesa intransigente e pragmática do “Chefe”. Nem conservadorismo, nem combate a corrupção, etc, nada do que foi prometido durante as eleições importam agora mas, tão só, impedir que “O PT volte” e que o “Chefe” caia. O pressuposto do velho astromante é que politica se faz com luta pelo poder entre grupos opostos e não com idéias abtratas ou princípios gerais, ao mesmo tempo que se vale de idéias abstratas rasas – anticomunismo vago – para separar e distinguir sua facção das outras, ao mesmo tempo que aglutina os eleitores bolsonaristas perplexos com as recorrentes crises debeladas pelo governo, em torno dum princípio geral – o combate ao “petismo” (que, no linguajar olavista, significa tudo que não condiz com a narrativa do velho da Virgínia) – evitando, assim, sua dispersão. Como a facção olavista é a única que possui um intelectual como timoneiro de suas ações, a única que tem uma ampla rede de blogs, sites e canais capazes de ecoar uma narrativa política que atue no plano do sentimento popular, qual seja a raiva anti-petista que tomou conta do país - “quem defende lava toga ajuda o petismo pois cria instabilidade”, "MBL é comunista", etc - a única que tem “intelectuais” orgânicos atuando para formatar a opinião do eleitorado bolsonarista, ela acabará engolindo de vez as demais se nada for feito. Importa dizer que a facção olavista adotou um Gramscismo de Direita: eles são o Partido do Brasil. Eles são a encarnação da vontade do povo. Olavo é o Robespierre da Direita. Seus blogueiros e youtubers são seus Jacobinos a guilhotinar, ideologicamente, os divergentes. É bem verdade que os liberais ao estilo Guedes, tem seus thinks thanks, seus círculos e seus intelectuais orgânicos, contudo eles estão pouco interessados em impedir a ascensão do círculo olavista, a não ser que ele se engaje num anti-reformismo liberal – coisa absolutamente improvável pois, por anos a fio, Olavo foi um dos grandes divulgadores da escola austríaca de economia. O cenário é de completa deterioração da vida política brasileira e do estado nacional, prestes a ser capturado, mais uma vez, por um Partido, como já fora sequestrado na era PT, pelo esquerdismo militante tresloucado e facínora.

A ala olavete não medirá esforços para tanto. Seu Gramscismo de Direita levará inevitavelmente ao mais atroz imoralismo e maquiavelismo, destruindo de vez a malha ética necessária para um vida política minimamente razoável no país - cometendo os mesmos pecados que consagraram as ações do PT uma vez no poder - abrindo caminho, quem sabe, para um conflito sem fim e a consequente divisão definitiva do Brasil em facções inconciliáveis o que exigirá, como mostra a história, uma ditadura para assegurar a governabilidade – aí se encaixam as recentes declarações de Carlos Bolsonaro em torno da necessidade de fechar o congresso para que o presidente governe em paz. Este imoralismo e maquiavelismo fica evidente nas viradas repentinas de discurso – antes o STF era inimigo público número um pois recheado de juízes a reboque do petismo, agora é preciso governar sem irritá-lo, o inimigo real é o Foro de SP e não os juízes, etc – e nas composições de conveniência – como no caso da omissão do presidente em vetar a iniciativa do STF de equiparar racismo a homofobia, indo contra seu eleitorado religioso e conservador. Cabe dizer que Gramsci era um leitor dedicado de Maquiavel e que, para o escritor florentino, a política não pode ser fundada nos preceitos da moral ou da religião. Num amplo parágrafo dos seus Cadernos, Gramsci reflete sobre isto nestes termos: “Um conflito é ‘imoral’ quando torna o fim mais distante ou não cria condições que tornem o fim mais próximo (ou seja, não cria meios mais adequados à conquista do fim)...Desse modo, não se pode julgar o político por ser ele honesto ou não...Ele é julgado não pelo fato de atuar com equidade, mas pelo fato de obter ou não resultados positivos...”. Todos os conflitos que servirem ao fim de olavetizar de vez o governo – o que significa torná-lo um instrumento dum regime de força a serviço do direitismo – serão estimulados e promovidos. Portanto, a estratégia gramsciana agora incorporada pela facção olavete vai delinear a ação política em torno de dois métodos, quais sejam, o da  violência e do consenso: acusação sistemático de petismo/comunismo contra quem apoiar a LavaToga, divergir duma vírgula, etc, e caça às bruxas (a criação duma lista de inscrição para a formação da militância bolsonarista sob a chefia de Allan dos Santos do Terça Livre e a abertura da gratuidade do COF do senhor Carvalho para policiais militares envolve este objetivo, qual seja, forjar uma malta de fanáticos e uma força paramilitar que possa ser mobilizada contra os adversários usando até mesmo a força e o recurso ao assassinato) associada a construção duma narrativa – “estamos impedindo a volta do PT e limpando o Brasil, quem discorda é inimigo do povo, etc”.

Perante tudo isto que expomos ou há uma tomada de consciência sobre o problema que se avizinha ou a nação será engolida pelo vórtice do jacobinismo olavista.