A
primeira vista pode parecer contraditório a reorientação da
política externa do Brasil para os interesses chineses - em razão
das falas de Ernesto Araújo e de Olavo de Carvalho, logo no começo
do governo onde tentavam, a todo preço, demolir qualquer via de
diálogo com Pequim, sob justificativa de que estaríamos sob o risco
de espionagem comunista e/ou de apoio a um regime que nega a
liberdade dos cristãos e que seria preciso duma “santa aliança”,
nas palavras de Araújo, contra a mesma - sobretudo quando o atual
governo optou claramente pela via da aliança com os EUA, num momento
em que Trump leva adiante a guerra comercial contra a China.
Nós
ficamos a pensar no que poderia explicar essa mudança brutal em meio
ao aumento da influência da ala olavete no governo - a mesma que
sempre torceu o nariz para o "bloco sino-russo". A
princípio tudo parecia ser um resultado da rearticulação da ala
militar que teria conseguido um acordo pragmático onde a ala
olavete/estadunidense havia falhado em conseguir algo semelhante com
os EUA - vide o caso da venda de nossa carne ao mercado americano.
Isto significaria um retorno da ala militar com a consequente perda
da influência da ala olavete. Todavia
a coisa parece ser diferente. Um dos fatos a considerar é que esse
acordo amplo com China recém obtido mesmo depois de Araújo e Olavo
terem sido avessos a aproximação com a mesma no início do ano, só
pode
ter sido alcançado se alguma nova orientação
viesse do DEA/USA
dada
a total incapacidade de Bolsonaro
de pensar para além do guru. O
que está em jogo bem provavelmente é que a
China compra nossa carne e deixamos para lá a venda da mesma no
mercado americano salvando a produção dos EUA que pode seguir
investindo no seu
mercado interno para se refortalecer sem precisar levar a guerra
comercial com os chineses tão longe neste
momento,
dando alguma vantagem aos
mesmos
no Brasil, enquanto ganha tempo. Talvez este
acordo de bastidor
explique o desinteresse das cias petrolíferas dos EUA no nosso
leilão do Pré-Sal. Outrossim
importa
ressaltar que
quem financia o consumo americano é a poupança chinesa - a China
possui boa parte dos títulos públicos dos EUA - e faz-se necessário
assegurar à
mesma
alguns mercados sem os quais ficaria impossível incrementar esse
financiamento garantindo
a continuidade da dinâmica de crescimento econômico da era Trump. O
Brasil abre seu mercado para o excedente chinês enquanto o Partido
comunista de Pequim aceita a supremacia estadunidense na Sul América.
Vemos uma reedição da política externa da era Richard Nixon, onde,
na década de 70 Washington buscou quebrar o bloco comunista atraindo
a China para
seu lado
como parceira comercial do capitalismo ocidental enquanto fornecedora
de mão de obra barata para as indústrias dos países desenvolvidos
em troca de pesados investimentos e transferência de parques
produtivos para
suas zonas abertas. A vantagem era dupla pois criava as condições
finais para a globalização do capital estadunidense/ocidental ao
mesmo tempo que assegurava à China a condição de potência do
Extremo Oriente com a anuência do Tio Sam. O
mesmo se dá agora: os EUA se recolocam na dianteira da globalização
enquanto dá a China um naco da América.
Agora
isto tudo – a articulação americana em entregar o Brasil a China
- fica ainda mais patente com os recentes acordos que vão entregar
nosso petróleo, terras e mercado na mão chinesa. A gigante de
tecnologia Xiaomi já anuncia a abertura de lojas no Brasil o que vai
inviabilizar de vez as marcas de celulares nacionais; o
grupo chinês Citic Agri Fund Management comprou a operação de
sementes de milho da Dow AgroSciences Sementes e Biotecnologia Brasil
por US$ 1,1 bilhão. A nova empresa, rebatizada de LP Sementes, já
surge com cerca de 20% do mercado nacional de sementes de milho –
terceira no ranking – e com planos ambiciosos para ir além. A Yuan
LongPing High-tech Agriculture – subsidiária do Citic Agri Fund –
é a líder de mercado de sementes na China e líder global de
sementes de arroz híbrido. Com a compra, terá acesso total ao banco
de germoplasma de milho brasileiro e à marca Morgan. Um fator
preponderante que pode potencializar muito o apetite chinês para a
produção agrícola no Brasil é a autorização da compra dessas
terras por estrangeiros, tópico que está sendo discutido no
Congresso Nacional depois
de o projeto de lei referente a isto ter sido
desarquivado(in:https://www1.folha.uol.com.br/colunas/mercadoaberto/2019/03/projeto-que-libera-compra-de-terra-por-estrangeiro-e
desarquivado.shtml).
Cabe
destacar que até 2032 o desmatamento da Amazônia vai ampliar em 950
mil hectares devidos aos projetos rodoviários em andamento para
atender o escoamento para a China (o que torna toda a histeria
bolsonarística contra os interesses de Macron e da França na
Amazônia apenas cortina de fumaça para esconder quem de fato
representa risco à
soberania do Brasil sobre a mesma: em
tempo gostaríamos
de saber dos bolsonaristas
onde a França tem necessidade do minério amazônico se ela tem
amplas reservas no Sarre e Lorena e se a Siderurgia francesa vive um
declínio produtivo, tendo a França se especializado noutras áreas
de produção que demandam muito menos minério? Quem tem necessidade
dele são
os
EUA e a China).
Com
o aval à China, dado pelo governo Bolsonaro, agora o terreno estará
pronto para que o Partido comunista chinês compre terras no Brasil.
Portanto,
o que estamos a assistir, bem provavelmente, é nosso país sendo
retalhado entre o capitalismo americano e o comunismo chinês sob a
anuência dum governo que se apresentava como anti-socialista e
patriótico ( quem não se lembra do dístico “Brasil acima de
todos”?); toda esta articulação entre interesses geopolíticos de
EUA-China em torno do Brasil explica o silêncio de Olavo de Carvalho
– um agente da DEA/USA determinado a garantir que o Brasil seja
sacrificado à China comunista em troca da subida político/econômica
dos EUA/Trump.
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