Isaías
profetizou que Cristo ao ser sepultado “descansaria na paz” ( Is
57, 2) pois, por sua morte, ele restabeleceu a paz entre o céu e a
terra. Ora esta era a paz que existia no Jardim do Éden.
Não é, portanto, sem razão que Jesus foi sepultado num jardim e nele ressuscitou. Não
é sem razão, também, que Cristo morreu e reviveu no começo da
primavera no hemisfério norte. No livro de Cantares se fala de um
horto fechado, uma fonte selada. Lembremos que os judeus mandaram
fechar o jardim pois temiam que os apóstolos roubassem seu corpo
para dizer que ele havia ressuscitado. Tal fonte selada e tal jardim
fechado é o Salvador: pois sua alma só tendia a Deus, como a amada
tende apenas a seu amado. Cantares em 2,14 afirma que a 'amada' é
chamada a se levantar do 'buraco da pedra' que designa a câmara que
ficava diante da porta do sepulcro do Cristo.
Nosso
Senhor ressurgiu não no verão ou outro tempo mas na primavera pois
neste tempo fica o primeiro mês dos hebreus onde acontece a festa da
páscoa. Isto se reveste dum sentido místico pois foi neste tempo que se deu a origem do mundo pois disse o
Senhor que “produza a terra a erva verde e que dêem sementes
segundo sua espécie e semelhança.” O lugar da sepultura era um
horto e a Vida – ele mesmo com seu corpo sepultado - lá foi
plantada pois Jesus disse: Eu sou a Vida. Foi plantada na terra para
limpar a maldição que Adão trouxe à mesma com seu pecado. Por
conta dela a terra produziu abrolhos e espinhos, mas é da terra,
como se profetizou, que germinará a fidelidade ( Salmo 84, 12). Em
Cantares se diz que a amada recolheu mirra, aromas e aloés (Cantares
4, 14). Nos evangelhos vemos as mulheres e Nicodemos levando misturas
de mirra e aloé ao sepulcro de Cristo ( Jo 19, 39), frutos da
primavera, do renascimento. O aloé é uma planta que frutifica em
terra árida como Cristo que frutificou a Graça na terra dos judeus
que não o receberam, tinham a alma árida. O aloé é cicatrizante
assim como Cristo que veio cicatrizar a ferida dos pecados.
Deste
modo, Nosso Senhor ressurge na primavera pois esta foi a primeira
estação da história, dado que foi nela que Deus começou a criação
da terra. A primavera é a ressurreição da natureza depois da morte
trazida pelo inverno onde as árvores já não dão flores nem
frutos, onde os animais hibernam. Jesus é a ressurreição da
humanidade da morte espiritual pois já não dava frutos de justiça
para Deus. Em Cristo o mundo ressurge – é uma nova criação que
começa, uma nova humanidade. Cristo é o novo Adão. Como novo Adão
ele recomeça nossa história desde um jardim pois ele é a Árvore
da Vida. Notemos que ele aparece na forma de um jardineiro antes de se revelar a Madalena, no horto da ressurreição. Como Deus cultivou um Jardim para por o primeiro homem, Jesus cultiva um novo jardim para o novo homem renascido pela fé: ele é o jardineiro do Pai. Sua cruz é o madeiro donde vem a Vida Nova, é a planta donde virão os frutos que curam as nações.
É como se a
Semana Santa resumisse, em poucos dias, o ciclo completo da natureza
e da vida, mas também o da história da salvação, unindo, num só
quadro, a religião cósmica e natural, onde se pode adorar a Deus a
partir da beleza da criação, com a religião revelada, onde vemos
Deus se apresentar por meio de fatos redentores: a chegada triunfal
do Cristo em Jerusalém entre uma multidão que agita palmas (os
ramos, uma semana antes da Páscoa) já anunciam o fim da era
invernal; em seguida a morte de Cristo, que representa a morte do antigo
mundo, depois a ressurreição de Cristo, que é a criação de um
novo mundo, de uma nova era, de um novo homem, que significa a volta
da esperança, um novo fluxo da vida, a vitória sobre a morte.
Assim como tudo começa num jardim tudo se torna pleno e acabado
nele. Do jardim do túmulo sai a Vida Vitoriosa. Voltando ao jardim
do qual Adão foi expulso, pela fé na ressurreição, teremos acesso
ao fruto da Árvore da Vida pelo qual ganharemos a Vida Eterna.
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