terça-feira, 27 de março de 2018

A estratégia dos "centros culturais católicos".


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 CDB: centro católico ou militância olavista? 





Os fatos assomam e exigem que falemos deles. Propositalmente demos um tempo para avaliar se o que supúnhamos era mesmo real, até que os eventos foram confirmando nossas suspeitas. Estamos falando da estratégia dos Centros Culturais. Nos últimos meses vários deles surgiram pelo Brasil com um fito claro: agregar católicos para iniciativas de luta cultural. Faz tempo que uma certa direita - que de católica não tem muito já que flerta com liberalismo, tradição estadunidense e capitalismo usurário - vem plantando a semente de uma guerra ideológica/cultural contra a esquerda; crentes de que ela se pauta por guerra cultural gramsciana, a direita adotou a mesma tática o que passou a envolver, inclusive, a instrumentalização da Igreja Católica como fez a esquerda com suas CEBs e os padres vermelhos que orientaram, por anos a fio, o eleitorado católico para o voto no PT. Assim tais Centros Culturais, embora falem de luta pela Igreja e sua Tradição, se portam mais como veículos para guiar fiéis na direção dos ensinos de Olavo de Carvalho - o mesmo que diz que a salvação do Ocidente passa pelo restauro da Maçonaria e duma aliança dela com a Igreja -  seja para se valer disso a fim de criar uma militância anticomunista reativa que se embasa em contestação ao socialismo mas não com a Doutrina Social da Igreja na mão e sim com conservadorismo americano, Burke, Russel Kirk, et caterva. 

Comecemos tratando do caso do Centro Dom Bosco do RJ. Liderado por neoconservadores que reconhecem o Concílio Vaticano II - Concílio que se calou sobre o comunismo; é bastante irônico que anticomunistas se baseiem num Concílio que abriu a Igreja para o diálogo com o comunismo como bem mostra a Ostpolitik de Paulo VI, bem estudada pelo historiador Roberto De Mattei - o Centro referido recentemente publicou um jornal - ou seria panfleto? - onde, pasmem, não se encontra um único artigo de espiritualidade, teologia revelada, magistério romano, nada relativo a fé católica! Nada! O jornal do referido Centro Católico, fala de Bolsonaro, põe Olavo na capa e traz Carlos Nougué num rodapé, o que deixa claro por quem o CDB é pautado. Nougué é apenas um professor coadjuvante no CDB tanto que, depois de um bom tempo contribuindo para o grupo, não conseguiu orientar nenhum dos líderes do Centro para longe das diretivas de Olavo de Carvalho nem para longe do neoconservadorismo baseado na absurda hermenêutica da continuidade. 

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Também é preciso que se fale da conexão estreita entre os vários Centros Culturais "Católicos", todos nascidos sob os auspícios dos alunos de Olavo. O Centro Anchieta, no Espírito Santo, é mais um caso; o referido Centro tem em Garschagen, um seguidor das idéias de Von Mises, que classificava o Evangelho de Jesus Cristo como abjeção comunista, uma referência : 



Outro caso igualmente estranho é do Instituto Hugo de São Vítor. O Instituto que tem em Clístenes Fernandes uma de suas lideranças oferece curso de "Astros e Símbolos" como podemos ver abaixo: 






seus membros sobretudo entre jovens mais ou menos letrados, quechegaram a alcançar algum grau de informação sobre as doutr...
Sumário do livro de Olavo, Astros e Símbolos. Centros católicos oferecendo isso como curso? Como é possível? 


O curso sobre Astros e Símbolos é a base da astrologia perenialista que vê nos planetas e estrelas símbolos da atuação de poderes angélicos - quer dizer, de demônios - ensinada por Olavo de Carvalho e seu filho Luiz Gonzaga de Carvalho. Astrologia mil vezes condenada pela Igreja mas exaltada por várias linhas esotéricas. Será que o Sr. Clístenes desconhece o que vem sendo ensinado em seu Instituto? Se não desconhece por que permite? E será que o CDB desconhece que o Instituto do sr. Clístenes oferece um curso herético e malsão? Um Centro que quer defender a fé católica pode associar-se a um Instituto que oferta tal coisa? Os líderes do CDB deviam ler o referido livro de Olavo onde o mesmo diz que o Islam é uma dos pilares da tradição e um lugar onde podemos ouvir o eco da Palavra dirigida por Deus aos homens!

mais baixa de cultura letrada, o jornal, não atinge mais que uma parcelamínima e insignificante do público —, nesse panora...
Página 11 do Astros e Símbolos de Olavo de Carvalho.



Que a atuação dos referidos centros está articulada a Olavo está mais que provado pelo próprio testemunho de Bruno Mendes, uma das lideranças do CDB; percebam que a maioria das referências intelectuais do CDB são de alunos do sr. Carvalho: 



A pergunta que não quer calar é: até que ponto tudo isto é católico? Ao que nos parece tudo não passa de estratégia cultural dum perenialismo difuso, associado a direitismo americanista chulé, a qual talvez nem os líderes destes Centros compreendam dado que tais coisas são organizadas desde o cimo de sociedades secretas.

Quem tiver olhos que veja!




2 comentários:

  1. A coisa está mais clara do que nunca... Mas Rafael, eu gostaria só de fazer um adendo ao seu texto. Nele você escreve que "O curso sobre Astros e Símbolos é a base da astrologia perenialista que vê nos planetas e estrelas símbolos da atuação de poderes angélicos" -- o que acaba por sugerir que essa temática estaria confinada aos círculos perenialistas cujo expoente máximo talvez seja o Rene Guenon. Contudo isso é um equívoco, porque esse tema dos astros enquanto símbolos de potestades angélicas (ou às vezes até mais que isso) é coisa recorrente em qualquer sistema gnóstico: um exemplo disso é o hermetismo, em sua forma mais geral, que teve bastante influência, por exemplo, na filosofia gnóstica do ex-frade Giordano Bruno, que acabaria por ser queimado na fogueira em virtude de suas ideias e doutrinas abomináveis.

    Enfim, o perenialismo do Guenon decerto oferece algumas ideias novas, mas o seu cerne é o mesmo tema gnóstico de sempre, que remonta a vários séculos, milênios... De fato, nessa área, é difícil um homem inventar algo que seja realmente novo, que nunca tenha sido dito por ninguém; mas esses perenialistas são tão arrogantes, que tratam o Guenon como se tivesse sido um inventor dum sistema absolutamente novo, o que é uma mentira safada e cretina. O Prof. Fedeli desmascarou facilmente o Olavo porque tinha essa ideia bem presente; aliás, é incrível como tudo o que o Olavo fala (a respeito desses temas) é uma cópia malfeita, a princípio, das ideias de Guenon, e posteriormente dos delírios de Schuon.

    Assim como tudo o que o Pe. Paulo Ricardo fala em matéria de política tem sido, em geral, um arremedo panfletário das teses do Olavo; e em religião, uma repetição ainda mais sentimental e canhestra do pensamento de Joseph Ratzinger, seu grande mestre... Aliás, Rafael, eu gostaria de lhe fazer uma pergunta: percebeu como nos últimos tempos o Pe. Paulo Ricardo se tem mostrado terrivelmente sentimentalista e chorão? É incrível como ele tem lacrimejado por qualquer coisa, uma chatice completa, um sentimentalismo exacerbado... Este nosso mundo de hoje confunde amor com pieguice, e prudência com fraqueza e frouxidão, e acha que quanto mais chora, mais ama, e quanto mais cede, mais é prudente...

    Enfim, é isso... Ótimo artigo, desmascarando esses servos do filósofo demoníaco. Eu mesmo há alguns anos comecei a ler "O Mínimo", do "genial" Olavo de Carvalho, "filósofo católico", e embora reconheça que aí haja artigos realmente bons, fiquei perplexo e até abandonei o livro, porque alguns textos me pareciam flagrantemente heréticos e usavam conceitos que não se coadunavam com a doutrina católica, mas antes tinham uma forte tendência gnóstico-perenialista... Se eu, cujos conhecimentos relativos a esse tema são bem limitados, percebi rapidamente o logro, espanta-me que certos "professores católicos" não o tenham advertido com prontidão ainda maior... Seria um lapso generalizado naqueles que circundam o mago da Virgína? ou talvez seja algo mais...

    Um abraço!

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  2. https://sophiaperennis.com.br/professores/?fbclid=IwAR1gdXINhS04ZdaTa86KEUquCWtCJObRD4V4DusRfJ2ydHH9WmqvcoaCVZs

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