Olavo-Rosseau, Bolsonaro-Robespierre e Moro-Napoleão: a trinca revolucionária que vai matar o Brasil |
O episódio Moro x Bolsonaro nos
lançou, de vez, numa nova etapa da dialética que vem sendo aplicada
no país faz tempo. Os dois fenômenos se imbricam num
primeiro momento ( tese ) porém agora
se
distinguiram defnitivamente ( antítese ):
Morismo e Bolsonarismo
não são a mesma coisa mas fazem parte do mesmo processo. (Ver
quadro no fim do artigo!)
Para entender este processo é
preciso remontar à campanha dos anos 90 – então encabeçada pelo
Petismo contra Collor – de “Ética na Política” um marco no
“combate a corrupção” e a primeira etapa de embate contra as
velhas elites políticas fisiológicas e oligárquicas, vistas como
um resquício da “ditadura militar”, um elemento estranho à nova
ordem surgida com a Constituição Federal de 1988 que encarnava o
sentido duma “revolução francesa” para o Brasil onde se daria a
emergência duma nova era de direitos em oposição ao autoritarismo.
A ideologia da nova república nascida em 1988 é caracterizada pela
velha idéia revolucionária, jacobina e americanista de império da
lei, da virtude republicana, do interesse público, etc.
É justamente neste enquadramento que
devemos avaliar os últimos fatos da nossa vida política. A ascensão
do petismo, do Bolso-Olavismo e do Morismo são, nada
mais que faces duma mesma realidade essencial, momentos dialéticos
do mesmo “processo revolucionário”. Alguns poderão dizer que
não faria sentido encaixar o Bolso-Olavismo como momentos dum
processo de revolução dado seu rechaço ao “comunismo” o que
não quer dizer absolutamente nada: revolução não significa apenas
socialismo mas quebra e ruptura dum velha ordem em prol da criação
dum nova ordem política e social seja ela qual for.
Olavo de Carvalho vem tratando,
ultimamente, do tema “revolução brasileira”,
diferenciando-a do que ele chama de revolução no sentido de
“concentração de poder na mão duma elite revolucionária”.
Segundo Carvalho a tal “revolução brasileira” se daria
quando o povo, passando por cima das elites políticas, tomasse as
rédeas do poder e do destino nacional. Para Olavo de Carvalho esta
noção está calcada em vários autores nacionais. Um deles –
pasmem – é Sérgio Buarque de Holanda – um dos fundadores do PT.
No seu livro “Raízes do Brasil” ele fala do descompasso
entre “sociedade e política” no Brasil: dum lado teríamos uma
sociedade oligárquica/coronelista ao mesmo tempo que uma política
fundada em elementos da revolução francesa e americana como um mero
aparato jurídico incapaz de, sozinho, mudar a substância do Brasil
no caminho duma democracia efetiva. A solução para tal descompasso,
segundo Buarque é, exatamente a tal “revolução brasileira” que
consistiria em fazer uma mudança vertical e mudar a substância da
política tradicional brasileira trazendo à tona atores novos que
substituíssem de vez a velha elite com seu estilo de mando
oligárquico: nesta revolução vertical o mote seria a
despersonalização democrática, o povo como agente político mor, o
povo como hipóstase ( como uma idéia, substância, realidade suma,
algo que remete à vontade popular/geral de Rosseau). É exatamente
este o cariz das falas recentes do sr. Carvalho: revolução do povo,
o povo nas ruas, o povo no poder, democracia direta e quebra das
velhas elites. Isto integra o Bolso-Olavismo e ao Morismo ao
mesmo processo no qual está o PT: se Lula/Dilma foram responsáveis
pela integração do povo ao reino do consumo ( até então reservado
às classes altas ), se criaram uma classe média do terciário, do
setor de serviços, agora é a hora de superar esta fase e seguir
para a próxima, que é a da luta extremada contra a “corrupção”
( símbolo da luta contra a oligarquia patrimonialista ), afinal o PT
fez tudo isso se alinhando à velha elite fisiológica pmdebista, aos
estamentos e ao “deep state” ainda contaminado pelo coronelismo.
Neste ponto o Bolso-Olavismo e o Morismo são consequências lógicas
do luta petista por “ética na política” contra a velha
política.
A distinção entre Morismo e
Bolso-Olavismo começou, justamente, quando o papel de Olavo como
ideólogo mor do governo ficou delineado – em meados de 2019. Como
dissemos no ano passado, Olavo pretende dirigir o processo de
revolução brasileira desde que encabeçado por Jair Bolsonaro pois
assim, ele teria o controle das etapas revolucionárias seguintes,
onde a sua nova elite – seus alunos e seu círculo de adeptos –
surgiriam como a mais tenra liderança de Estado depois dele ser
varrido dos atuais congressistas, do STF, da ala militar nomeada por
Lula/ Dilma, etc:
“Nos seus últimos vídeos, já
prevendo a crise iminente entre setores pró-LavaJato, que defendem o
combate a corrupção em geral, e as necessidades de sobrevivência
do governo Bolsonaro – que envolvem o arquivamento das
investigações sobre o Senador Flávio Bolsonaro, que poderiam
resvalar no presidente, abrindo brechas para a queda do governo – o
velho abriu fogo e lançou críticas ao lavajatismo acusando-o de
descolar o combate à corrupção do combate ideológico ao PT. Para
Carvalho o fato da LavaJato realizar-se sob os auspícios da
neutralidade da lei impossibilita um combate eficaz ao petismo –
razão de ser máxima do governo Bolsonaro, para o astrólogo –
que, no fim das contas, seria a única coisa que de fato
interessaria. Isto tudo permite dizer que, pouco a pouco, Olavo vai
atingindo seus fins, quais sejam o de alcançar a hegemonia
ideológica sobre a direita bolsonarista reaglutinando-a em torno do
combate ao “fantasma petista” - a tal palavra talismã –
apresentado-se como o único que tem o conhecimento efetivo para dar
cabo de tal ameaça.” - In:
https://catolicidadetradit.blogspot.com/2019/09/a-estrategia-criminal-de-olavo-de.html
E onde o Morismo entra nesta
dialética? É bem simples: Moro é um produto da luta anti-Corrupção
e da luta anti-Petista iniciada desde a emergência da crítica ao
mensalão ( em 2006 ); o Morismo é a mais avançada etapa de
modernização do Estado e da sociedade brasileira: pois é isto que
está em jogo. O Petismo, o Bolso-Olavismo e o Morismo são
recusas do “Brasil Real”, a vontade política
revolucionária de levar até ao fim o ideal democrático da CF88
substituindo o brasileiro cordial por um novo brasileiro de cariz
liberal-igualitário, um brasileiro moderno, ocidentalizado.
Onde o PT falhou em levar adiante a
tal “revolução brasileira” o Bolso-Olavismo e o Morismo
se colocam na vanguarda. Sobre o Bolso-Olavismo que ninguém
se iluda com os ares autoritários de Bolsonaro: todas as vezes que o
presidente invoca ações da FA em prol de, nas entrelinhas, “fechar
o regime” são no quadro de defesa da “democracia e liberdade”
como disse o presidente nas manifestações do dia 03/05/2020, na
capital federal:
“Chegamos ao limite...temos as
FAs ao nosso lado para defender a democracia e a liberdade”
Quem definiria o significado de
“democracia” num regime autoritário de clave bolsonarista seria,
evidentemente, Olavo de Carvalho que chamará o pretenso regime de
força, de democrático pelo fato de ser a expressão da “vontade
direta do povo”, da relação direta “povo – presidente” sem
a mediação das elites políticas, aquelas que precisam desaparecer
para dar lugar à “revolução brasileira”.
Desde então o Morismo passa a
ser a oposição a esta captura jacobina à direita do Estado se
tornando o Partido da Lei contra o “Robespierre Bolsonaro”:
se a direita jacobina bonorista incorpora a idéia do presidente como
“chefe que vai conduzir o povo na revolução brasileira contra
as elites”, o Morismo subentende o Judiciário como o
mediador dessa revolução, como o lídimo representante da revolução
brasileira que teria que se dar sob o Império da Constituição e
não do Presidente como Encarnação dela ( Lembram de Bolsonaro
falando “Eu sou a Constituição”?). É comum, nas
revoluções históricas, surgirem diferentes partidos mais ou menos
radicais na implantação dos princípios que elas carregam. E nós
estamos num franco processo revolucionário. Prova disto é que a
Lava Jato desencadeou a formação de uma gama de novos partidos que
se fizeram fortemente presentes na eleição de 2018, reduzindo o
papel da velha elite fisiológica. O Morismo aí é a fase
mais avançada desta revolução pois a que melhor encarna a tal
“despersonalização democrática” da qual fala Sérgio
Buarque pois descolada do culto à personalidade como expressou Moro
quando falou que “Há lealdades maiores que as pessoais” (
A lealdade de Moro é, sobremaneira, à CF88 como uma “bíblia”,
como encarnação do Rule Of Law num sentido
americanista: algo que está sob o controle do juiz como intérprete
final do sentido dela). Ambos os partidos em luta agora são,
nada mais que aquilo que já viemos revelando aqui faz tempo: facetas
do americanismo, ódio ao Brasil profundo, dialética que continua,
do lado direito, o processo de destruição de nossa identidade
iniciada pela esquerda. Se o Bolsonarismo é diabólico, o
Morismo é satânico ao cubo pois o primeiro ainda consegue
fazer acertos com a velha política – via Centrão – já o
Morismo encarna o purismo revolucionário . Neste
sentido a fase Morista da revolução brasileira poderá nos
lançar num quadro ainda pior que aquele no qual o Bolsonarismo
nos colocou.
Esquema de sucessão lógica da
“revolução brasileira”:
Momento 1 ( Tese/ Petismo ) →
O PT eleva as massas à condição de consumidoras/ O PT cria uma
nova classe média do terciário via ações do Estado
Momento 2 ( Antítese A/
Antipetismo ) → Esta nova condição cria uma nova
mentalidade de classe social vincada ao modelo de “American Way of
Life” ( o modo estadunidense de vida ) e uma nova forma de ver a
política → ( “Mais Brasil, Menos Brasília” = Federalismo a lá
USA/ A burguesia se sentindo confiante para seguir sem o Estado,
passa a exigir liberalismo econômico para promover um novo salto de
prosperidade) + caldo de formação da nova direita
Momento 3 ( Antítese B/
Antipetismo ) → Judiciário como reserva moral da nação =
modelo americano de justiça onde o Poder Judiciário passa a ter
Poder Legislativo para compor as lacunas da Constituição a fim de
assegurar os direitos da sociedade civil na sua luta contra os abusos
do Estado + ideologia do Estado Mínimo + Moro = herói na luta para
suprir, com seu ativismo judicial, as lacunas da CF88 ( Interferência
judicial no MP para assegurar a condenação da corrupção petista
que emperra a “revolução brasileira”).
Momento
4 ( Síntese
das antíteses antipetistas – Nova Tese: Bolsonarismo
) →Bolsonarismo
incorpora o American Way Of Life, o federalismo, o liberalismo e o
judicialismo.
Momento
5 ( Antíteses
dentro da Nova Tese Bolsonarista)
→
Olavismo breca o judicialismo ( Nada
de Lava Jato eterna/ Combate a corrupção? Só
a do PT – o combate tem de ser ao socialismo/ A revolução
brasileira é contra o socialismo e não a luta pelo Império
Abstrato da Lei representado pelo LavaToguismo do PSL e agora pelo
Morismo) = Ruptura entre
Bolso-Olavismo e Morismo:
Momento 5 ( Nova Tese:
Bolso-Olavismo ) → Revolução Brasileira sob
auspício do Chefe ( Presidente) / O Chefe é o Povo/ Nova Elite;
círculo de alunos do COF
Momento 6 ( Nova
Tese: Morismo ) → Revolução Brasileira sob auspício
da Idéia Abstrata de Lei/ O Judiciário é quem guia o processo/
Nova Elite: Togados Esclarecidos.
Uma visão interessante que não desperta interesse das elites políticas econômicas e intelectuais e muito menos da grande massa que sempre será manobrada na velha e eficaz política do "pão e circo ", mesmo assim um novo jeito de pensar a nação se deve pautar nos valores perenes que a mantém de pé: Deus(católico), pátria( quem sabe monarquia ) e família tradicional.
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