terça-feira, 5 de maio de 2020

A Revolução Brasileira: do PT a Olavo e Moro, a dialética da destruição do país.


Olavo, Moro e Bolsonaro | Missão Política
Olavo-Rosseau, Bolsonaro-Robespierre e Moro-Napoleão: a trinca revolucionária que vai matar o Brasil


O episódio Moro x Bolsonaro nos lançou, de vez, numa nova etapa da dialética que vem sendo aplicada no país faz tempo. Os dois fenômenos se imbricam num primeiro momento ( tese ) porém agora se distinguiram defnitivamente ( antítese ): Morismo e Bolsonarismo não são a mesma coisa mas fazem parte do mesmo processo. (Ver quadro no fim do artigo!)

Para entender este processo é preciso remontar à campanha dos anos 90 – então encabeçada pelo Petismo contra Collor – de “Ética na Política” um marco no “combate a corrupção” e a primeira etapa de embate contra as velhas elites políticas fisiológicas e oligárquicas, vistas como um resquício da “ditadura militar”, um elemento estranho à nova ordem surgida com a Constituição Federal de 1988 que encarnava o sentido duma “revolução francesa” para o Brasil onde se daria a emergência duma nova era de direitos em oposição ao autoritarismo. A ideologia da nova república nascida em 1988 é caracterizada pela velha idéia revolucionária, jacobina e americanista de império da lei, da virtude republicana, do interesse público, etc.

É justamente neste enquadramento que devemos avaliar os últimos fatos da nossa vida política. A ascensão do petismo, do Bolso-Olavismo e do Morismo são, nada mais que faces duma mesma realidade essencial, momentos dialéticos do mesmo “processo revolucionário”. Alguns poderão dizer que não faria sentido encaixar o Bolso-Olavismo como momentos dum processo de revolução dado seu rechaço ao “comunismo” o que não quer dizer absolutamente nada: revolução não significa apenas socialismo mas quebra e ruptura dum velha ordem em prol da criação dum nova ordem política e social seja ela qual for.

Olavo de Carvalho vem tratando, ultimamente, do tema “revolução brasileira”, diferenciando-a do que ele chama de revolução no sentido de “concentração de poder na mão duma elite revolucionária”. Segundo Carvalho a tal “revolução brasileira” se daria quando o povo, passando por cima das elites políticas, tomasse as rédeas do poder e do destino nacional. Para Olavo de Carvalho esta noção está calcada em vários autores nacionais. Um deles – pasmem – é Sérgio Buarque de Holanda – um dos fundadores do PT. No seu livro “Raízes do Brasil” ele fala do descompasso entre “sociedade e política” no Brasil: dum lado teríamos uma sociedade oligárquica/coronelista ao mesmo tempo que uma política fundada em elementos da revolução francesa e americana como um mero aparato jurídico incapaz de, sozinho, mudar a substância do Brasil no caminho duma democracia efetiva. A solução para tal descompasso, segundo Buarque é, exatamente a tal “revolução brasileira” que consistiria em fazer uma mudança vertical e mudar a substância da política tradicional brasileira trazendo à tona atores novos que substituíssem de vez a velha elite com seu estilo de mando oligárquico: nesta revolução vertical o mote seria a despersonalização democrática, o povo como agente político mor, o povo como hipóstase ( como uma idéia, substância, realidade suma, algo que remete à vontade popular/geral de Rosseau). É exatamente este o cariz das falas recentes do sr. Carvalho: revolução do povo, o povo nas ruas, o povo no poder, democracia direta e quebra das velhas elites. Isto integra o Bolso-Olavismo e ao Morismo ao mesmo processo no qual está o PT: se Lula/Dilma foram responsáveis pela integração do povo ao reino do consumo ( até então reservado às classes altas ), se criaram uma classe média do terciário, do setor de serviços, agora é a hora de superar esta fase e seguir para a próxima, que é a da luta extremada contra a “corrupção” ( símbolo da luta contra a oligarquia patrimonialista ), afinal o PT fez tudo isso se alinhando à velha elite fisiológica pmdebista, aos estamentos e ao “deep state” ainda contaminado pelo coronelismo. Neste ponto o Bolso-Olavismo e o Morismo são consequências lógicas do luta petista por “ética na política” contra a velha política.

A distinção entre Morismo e Bolso-Olavismo começou, justamente, quando o papel de Olavo como ideólogo mor do governo ficou delineado – em meados de 2019. Como dissemos no ano passado, Olavo pretende dirigir o processo de revolução brasileira desde que encabeçado por Jair Bolsonaro pois assim, ele teria o controle das etapas revolucionárias seguintes, onde a sua nova elite – seus alunos e seu círculo de adeptos – surgiriam como a mais tenra liderança de Estado depois dele ser varrido dos atuais congressistas, do STF, da ala militar nomeada por Lula/ Dilma, etc:

“Nos seus últimos vídeos, já prevendo a crise iminente entre setores pró-LavaJato, que defendem o combate a corrupção em geral, e as necessidades de sobrevivência do governo Bolsonaro – que envolvem o arquivamento das investigações sobre o Senador Flávio Bolsonaro, que poderiam resvalar no presidente, abrindo brechas para a queda do governo – o velho abriu fogo e lançou críticas ao lavajatismo acusando-o de descolar o combate à corrupção do combate ideológico ao PT. Para Carvalho o fato da LavaJato realizar-se sob os auspícios da neutralidade da lei impossibilita um combate eficaz ao petismo – razão de ser máxima do governo Bolsonaro, para o astrólogo – que, no fim das contas, seria a única coisa que de fato interessaria. Isto tudo permite dizer que, pouco a pouco, Olavo vai atingindo seus fins, quais sejam o de alcançar a hegemonia ideológica sobre a direita bolsonarista reaglutinando-a em torno do combate ao “fantasma petista” - a tal palavra talismã – apresentado-se como o único que tem o conhecimento efetivo para dar cabo de tal ameaça.” - In: https://catolicidadetradit.blogspot.com/2019/09/a-estrategia-criminal-de-olavo-de.html

E onde o Morismo entra nesta dialética? É bem simples: Moro é um produto da luta anti-Corrupção e da luta anti-Petista iniciada desde a emergência da crítica ao mensalão ( em 2006 ); o Morismo é a mais avançada etapa de modernização do Estado e da sociedade brasileira: pois é isto que está em jogo. O Petismo, o Bolso-Olavismo e o Morismo são recusas do “Brasil Real”, a vontade política revolucionária de levar até ao fim o ideal democrático da CF88 substituindo o brasileiro cordial por um novo brasileiro de cariz liberal-igualitário, um brasileiro moderno, ocidentalizado.

Onde o PT falhou em levar adiante a tal “revolução brasileira” o Bolso-Olavismo e o Morismo se colocam na vanguarda. Sobre o Bolso-Olavismo que ninguém se iluda com os ares autoritários de Bolsonaro: todas as vezes que o presidente invoca ações da FA em prol de, nas entrelinhas, “fechar o regime” são no quadro de defesa da “democracia e liberdade” como disse o presidente nas manifestações do dia 03/05/2020, na capital federal:

“Chegamos ao limite...temos as FAs ao nosso lado para defender a democracia e a liberdade”

Quem definiria o significado de “democracia” num regime autoritário de clave bolsonarista seria, evidentemente, Olavo de Carvalho que chamará o pretenso regime de força, de democrático pelo fato de ser a expressão da “vontade direta do povo”, da relação direta “povo – presidente” sem a mediação das elites políticas, aquelas que precisam desaparecer para dar lugar à “revolução brasileira”.

Desde então o Morismo passa a ser a oposição a esta captura jacobina à direita do Estado se tornando o Partido da Lei contra o “Robespierre Bolsonaro”: se a direita jacobina bonorista incorpora a idéia do presidente como “chefe que vai conduzir o povo na revolução brasileira contra as elites”, o Morismo subentende o Judiciário como o mediador dessa revolução, como o lídimo representante da revolução brasileira que teria que se dar sob o Império da Constituição e não do Presidente como Encarnação dela ( Lembram de Bolsonaro falando “Eu sou a Constituição”?). É comum, nas revoluções históricas, surgirem diferentes partidos mais ou menos radicais na implantação dos princípios que elas carregam. E nós estamos num franco processo revolucionário. Prova disto é que a Lava Jato desencadeou a formação de uma gama de novos partidos que se fizeram fortemente presentes na eleição de 2018, reduzindo o papel da velha elite fisiológica. O Morismo aí é a fase mais avançada desta revolução pois a que melhor encarna a tal “despersonalização democrática” da qual fala Sérgio Buarque pois descolada do culto à personalidade como expressou Moro quando falou que “Há lealdades maiores que as pessoais” ( A lealdade de Moro é, sobremaneira, à CF88 como uma “bíblia”, como encarnação do Rule Of Law num sentido americanista: algo que está sob o controle do juiz como intérprete final do sentido dela). Ambos os partidos em luta agora são, nada mais que aquilo que já viemos revelando aqui faz tempo: facetas do americanismo, ódio ao Brasil profundo, dialética que continua, do lado direito, o processo de destruição de nossa identidade iniciada pela esquerda. Se o Bolsonarismo é diabólico, o Morismo é satânico ao cubo pois o primeiro ainda consegue fazer acertos com a velha política – via Centrão – já o Morismo encarna o purismo revolucionário . Neste sentido a fase Morista da revolução brasileira poderá nos lançar num quadro ainda pior que aquele no qual o Bolsonarismo nos colocou.




Esquema de sucessão lógica da “revolução brasileira”:


Momento 1 ( Tese/ Petismo ) → O PT eleva as massas à condição de consumidoras/ O PT cria uma nova classe média do terciário via ações do Estado

Momento 2 ( Antítese A/ Antipetismo ) → Esta nova condição cria uma nova mentalidade de classe social vincada ao modelo de “American Way of Life” ( o modo estadunidense de vida ) e uma nova forma de ver a política → ( “Mais Brasil, Menos Brasília” = Federalismo a lá USA/ A burguesia se sentindo confiante para seguir sem o Estado, passa a exigir liberalismo econômico para promover um novo salto de prosperidade) + caldo de formação da nova direita

Momento 3 ( Antítese B/ Antipetismo ) → Judiciário como reserva moral da nação = modelo americano de justiça onde o Poder Judiciário passa a ter Poder Legislativo para compor as lacunas da Constituição a fim de assegurar os direitos da sociedade civil na sua luta contra os abusos do Estado + ideologia do Estado Mínimo + Moro = herói na luta para suprir, com seu ativismo judicial, as lacunas da CF88 ( Interferência judicial no MP para assegurar a condenação da corrupção petista que emperra a “revolução brasileira”).

Momento 4 ( Síntese das antíteses antipetistas – Nova Tese: Bolsonarismo ) Bolsonarismo incorpora o American Way Of Life, o federalismo, o liberalismo e o judicialismo.

Momento 5 ( Antíteses dentro da Nova Tese Bolsonarista)

Olavismo breca o judicialismo ( Nada de Lava Jato eterna/ Combate a corrupção? Só a do PT – o combate tem de ser ao socialismo/ A revolução brasileira é contra o socialismo e não a luta pelo Império Abstrato da Lei representado pelo LavaToguismo do PSL e agora pelo Morismo) = Ruptura entre Bolso-Olavismo e Morismo:

Momento 5 ( Nova Tese: Bolso-Olavismo ) → Revolução Brasileira sob auspício do Chefe ( Presidente) / O Chefe é o Povo/ Nova Elite; círculo de alunos do COF

Momento 6 ( Nova Tese: Morismo ) → Revolução Brasileira sob auspício da Idéia Abstrata de Lei/ O Judiciário é quem guia o processo/ Nova Elite: Togados Esclarecidos.



3 comentários:

  1. Uma visão interessante que não desperta interesse das elites políticas econômicas e intelectuais e muito menos da grande massa que sempre será manobrada na velha e eficaz política do "pão e circo ", mesmo assim um novo jeito de pensar a nação se deve pautar nos valores perenes que a mantém de pé: Deus(católico), pátria( quem sabe monarquia ) e família tradicional.

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