“Tendo
dito que Cristo é o caminho e que, para segui-lo, é preciso morrer
à própria natureza tanto nas coisas sensíveis quanto nas
espirituais, quero explicar agora como se realiza isto; pois ele é
nosso modelo e luz.
Quanto
ao primeiro ponto, é certo que Nosso Senhor morreu a tudo quanto era
sensível, espiritualmente durante a vida e naturalmente em sua
morte. Na verdade, segundo suas próprias palavras, não teve onde
reclinar a cabeça na vida e muito menos na morte. Quanto ao segundo
ponto, é manifesto ter ficado na hora da morte também aniquilado em
sua alma, sem consolo nem alívio algum, no desamparo e abandono do
Pai, que o deixou em profunda amargura na parte inferior da alma. Tão
grande foi esse desamparo que o obrigou a clamar na cruz: “ Meu
Deus, Meu Deus, por que me desamparastes?( Mt 27, 46). Nessa hora em
que sofria o maior abandono sensível, realizou a maior obra que
superou os grandes milagres e prodígios operados em toda a sua vida:
a reconciliação do gênero humano com Deus, pela graça. Foi
precisamente na hora do maior aniquilamento do Senhor em tudo que
essa obra se fez: aniquilamento quanto à sua reputação, reduzida a
nada aos olhos dos homens, e estes, vendo-o morrer na cruz, longe de
estimá-lo, dele zombavam; quanto à natureza, pis nela se aniquilava
morrendo; e, enfim, quanto ao seu espírito igualmente exposto ao
desemparo pela privação do consolo interior do Pai que o abandonava
para que pagasse puramente a dívida da humanidade culpada, efetuando
a obra da redenção nesse aniquilamento completo. Profetizando sobre
isso diz Davi: “Também eu fui reduzido a nada e não sabia” ( Sl
72, 22). Compreenda agora o bom espiritual o mistério dessa porta e
desse caminho – Cristo – para unir-se com Deus. Saiba que quanto
mais se aniquilar por Deus segundo as duas partes, sensitiva e
espiritual, tanto mais se unirá a ele e maior obra fará. E quando
chegar a reduzir-se a nada, isto é, à suma humildade, se consumará
a união da alma com Deus, que é o mais alto estd que se pode
alcançar nesta vida. Não consiste a vida cristã em recreações,
nem gozos, nem sentimentos espirituais e sim, numa viva morte de cruz
para o sentido e para o espírito, no interior e no exterior.” In:
São João da Cruz. A Subida do Monte Carmelo. Editora Vozes,
Petrópolis, 2010. P. 117.
“Todos
pediam sua morte, todos O odiavam, todos O injuriavam. Tudo isto
fazia Jesus sofrer imensamente mais que as inexprimíveis dores que
pesavam sobre seu corpo. E havia pior. Havia o pior dos males. Havia
o pecado, o pecado declarado, o pecado protuberante, o pecado atroz.
Se todas aquelas ingratidões fossem feitas ao melhor dos homens já
seriam absurdas, mas elas eram feitas ao Homem – Deus e constituíam
contra a Trindade Santíssima um pecado supremo. Eis aí o mal da
injustiça e da ingratidão. “- Plínio Correa de Oliveira; in: Via
Sacra. Pigma Gráfica e Editora, São Paulo, 2017. P. 11
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