sexta-feira, 14 de abril de 2017

A paixão de Cristo segundo São João da Cruz





“Tendo dito que Cristo é o caminho e que, para segui-lo, é preciso morrer à própria natureza tanto nas coisas sensíveis quanto nas espirituais, quero explicar agora como se realiza isto; pois ele é nosso modelo e luz.

Quanto ao primeiro ponto, é certo que Nosso Senhor morreu a tudo quanto era sensível, espiritualmente durante a vida e naturalmente em sua morte. Na verdade, segundo suas próprias palavras, não teve onde reclinar a cabeça na vida e muito menos na morte. Quanto ao segundo ponto, é manifesto ter ficado na hora da morte também aniquilado em sua alma, sem consolo nem alívio algum, no desamparo e abandono do Pai, que o deixou em profunda amargura na parte inferior da alma. Tão grande foi esse desamparo que o obrigou a clamar na cruz: “ Meu Deus, Meu Deus, por que me desamparastes?( Mt 27, 46). Nessa hora em que sofria o maior abandono sensível, realizou a maior obra que superou os grandes milagres e prodígios operados em toda a sua vida: a reconciliação do gênero humano com Deus, pela graça. Foi precisamente na hora do maior aniquilamento do Senhor em tudo que essa obra se fez: aniquilamento quanto à sua reputação, reduzida a nada aos olhos dos homens, e estes, vendo-o morrer na cruz, longe de estimá-lo, dele zombavam; quanto à natureza, pis nela se aniquilava morrendo; e, enfim, quanto ao seu espírito igualmente exposto ao desemparo pela privação do consolo interior do Pai que o abandonava para que pagasse puramente a dívida da humanidade culpada, efetuando a obra da redenção nesse aniquilamento completo. Profetizando sobre isso diz Davi: “Também eu fui reduzido a nada e não sabia” ( Sl 72, 22). Compreenda agora o bom espiritual o mistério dessa porta e desse caminho – Cristo – para unir-se com Deus. Saiba que quanto mais se aniquilar por Deus segundo as duas partes, sensitiva e espiritual, tanto mais se unirá a ele e maior obra fará. E quando chegar a reduzir-se a nada, isto é, à suma humildade, se consumará a união da alma com Deus, que é o mais alto estd que se pode alcançar nesta vida. Não consiste a vida cristã em recreações, nem gozos, nem sentimentos espirituais e sim, numa viva morte de cruz para o sentido e para o espírito, no interior e no exterior.” In: São João da Cruz. A Subida do Monte Carmelo. Editora Vozes, Petrópolis, 2010. P. 117.


Todos pediam sua morte, todos O odiavam, todos O injuriavam. Tudo isto fazia Jesus sofrer imensamente mais que as inexprimíveis dores que pesavam sobre seu corpo. E havia pior. Havia o pior dos males. Havia o pecado, o pecado declarado, o pecado protuberante, o pecado atroz. Se todas aquelas ingratidões fossem feitas ao melhor dos homens já seriam absurdas, mas elas eram feitas ao Homem – Deus e constituíam contra a Trindade Santíssima um pecado supremo. Eis aí o mal da injustiça e da ingratidão. “- Plínio Correa de Oliveira; in: Via Sacra. Pigma Gráfica e Editora, São Paulo, 2017. P. 11

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