Olavo mentiu para mim: Episódio 3!
Todos sabem que Olavo se jacta de ser católico mas todos sabem, também, que várias de suas falas destoam, radicalmente, do ensino magisterial da Igreja Católica.
Mais uma vez o mago de Campinas mostra seu enorme compromisso com a ortodoxia romana ao postular uma doutrina estranha sobre a salvação, pois vejamos:
O que Carvalho diz, é próximo demais da visão forense de salvação, postulada por Lutero. O heresiarca alemão, responsável pelo movimento protestante, aduzia que a salvação viria somente pela fé, sem a necessidade de obras. O que Olavo assevera não é exatamente isso mas é próximo, muito próximo disso. Segundo Lutero, como somos pecadores e, mesmo depois da atuação da graça em nós pela fé, continuaremos a sê-lo( Lutero identifica pecado e concupiscência; na teologia católica concupiscência é apenas tendência ao pecado) então não poderemos entrar no céu senão por um decreto judicial da parte de Deus: Cristo nos cobrirá com o "manto da justiça" e o Pai, ao invés de olhar para nosso interior pecaminoso e impuro, olhará para o manto de Cristo, onde estão cravados seus méritos. Mesmo impuros, entraremos no céu por conta duma salvação puramente externa, jurídica, fiducial.
Olavo diz quase o mesmo na primeira postagem: se nossas obras não forem suficientemente marcadas pelo amor de Deus e estiverem enxameadas de impurezas e de amor desordenado às criaturas, então Cristo usará essa má imitação dele por nós, contra os demônios, para nos salvar. Segundo Carvalho até aos demônios repugnará tal decisão arbitrária de Cristo que, mesmo sabendo de que o imitamos mal - o que equivale a dizer que não o imitamos - nos dará a salvação sem mérito sobrenatural de nossa parte (ou seja, sem que estejamos imbuídos de obras de caridade, de amor a Deus). Na postagem seguinte a coisa piora; ali ele tenta conciliar duas teses contrárias: a de que somos salvos só pela fé e a de que a fé sem obras é morta; a confusão é total pois quando São Paulo diz que o "justo viverá pela fé" não aduz que a pura fé, a pura confissão de Cristo, basta para a salvação. A argumentação de São Paulo na mesma epístola aos Romanos, onde fala de que o justo vive pela fé, mostra claramente que a fé de Abraão foi operativa: por que ele creu, agiu e ofertou o filho a Deus. A fé leva às boas obras. Essa contradição entre fé e obras só existe na insanidade herética dos protestantes, jamais no interior da doutrina católica. Ademais, a repulsa de São Paulo a certas obras, como via de salvação, se refere às obras antigas, às observâncias da antiga lei e não dos mandamentos da nova lei, trazida por Nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, Olavo parte de uma premissa protestante, de um pressuposto luterano fundado num falso problema e numa irreal oposição entre salvação por fé e ou por obras, para avaliar a questão da redenção.
A seguir o bruxo da Virgínia admite que o bem que fazemos não serve à nossa salvação mas apenas serva para que Deus tenha um "pretexto" para nos salvar. Mais uma vez a heresia luterana se insinua. A doutrina católica admite que sem fé é impossível agradar a Deus mas entende, igualmente, que as obras nos mantém na graça, pois fomos salvos para praticar o que é bom; outrossim o homem, sem a graça, nada pode fazer de bom; a posição católica é clara: a fé nos redime pela graça e nos dá os meios sacramentais necessários para que façamos o bem que agrada a Deus e sem o qual não podemos ser salvos pois nada de impuro pode entrar no céu. Como diz o catecismo tridentino:
“[…] Tudo atribuindo à Sua bondade [de Deus], agradecemos sem cessar Áquele que nos comunicou o Seu Espírito, por cuja valia nos encorajamos a chamar "Abba, Pai!". Depois, consideraremos, seriamente, o que nos toca fazer, e o que nos toca evitar, a fim de conseguirmos o Reino do céu. Com efeito, Deus não nos chamou para a inércia e preguiça, porquanto chegou até a dizer: ‘O Reino do céu cede à violência, e são os esforçados que o arrebatam’ [Mt 11,12]. E noutra ocasião: ‘Se queres entrar para a vida, observa os Mandamentos’ [Mt 19,17]. Por conseguinte, aos homens não lhes basta pedirem o Reino de Deus, se de sua parte não houver zelo e diligência para o alcançar; precisam pois, colaborar vigorosamente com a graça de Deus [1Cor 3,9], e manter-se no caminho que conduz ao céu” [ Catecismo Romano. Edições Serviço de Animação Eucarística Mariana. Tradução de Frei Leopoldo Pires Martins, O. F. M. Pg 526-527.]
A tese do "pretexto" é semelhante à da redenção judicial de Lutero pela qual alguém é salvo apesar de suas más obras, ou apesar da insuficiência de caridade de suas boas obras, por um decreto divino que usa o manto de Cristo como pretexto jurídico. Comparem a afirmação de Lutero à de Carvalho:
“Se és um pregador da graça, então pregue uma graça verdadeira, e não uma falsa; se a graça existe, então deves cometer um pecado real, não fictício. Deus não salva falsos pecadores. Seja um pecador e peque fortemente, mas creia e se alegre em Cristo mais fortemente ainda…Se estamos aqui (neste mundo) devemos pecar…Pecado algum nos separará do Cordeiro, mesmo praticando fornicação e assassinatos milhares de vezes ao dia” [Carta a Melanchthon, 1 de agosto de 1521 - American Edition, Luther’s Works, vol. 48, pp. 281-82, editado por H. Lehmann, Fortress, 1963]
Embora haja uma diferença de tom e forma, em termos de conteúdo as alegações de Lutero e Carvalho são substancialmente próximas.
Quem tiver olhos que veja: Olavo mentiu. Olavo não é católico.
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