Dr Plinio, fundador da TFP. |
Serviço de Imprensa da TFP, 25 de fevereiro de 1994
A
evidência dos fatos deixa patente que a partir do Concílio Vaticano II
penetrou na Igreja, em proporções impensáveis, a "fumaça de Satanás", de
que falou Paulo VI,
a qual se foi dilatando dia a dia mais, com a terrível força de expansão
dos gazes. Para escândalo de incontáveis almas, o Corpo Místico de
Nosso Senhor Jesus Cristo entrou no sinistro processo da como que
autodemolição, a que aludiu aquele mesmo Pontífice, em Alocução de 7
de dezembro de 1968.
A
História narra os inúmeros dramas que a Santa Igreja Católica, Apostólica,
Romana sofreu nos vinte séculos de sua existência. Oposições que
germinaram fora dEla, e de fora mesmo tentaram destruí-La. Tumores
formados dentro dEla, extirpados, contudo, pela própria Esposa de Cristo;
mas que, já então de fora para dentro, tentaram destruí-la com ferocidade.
Quando,
porém, viu a História, antes de nossos dias, uma tentativa de demolição da
Igreja, já não mais articulada por um adversário, mas qualificada de como
que autodemolição em altíssimo pronunciamento de repercussão mundial?
A
atitude normal de um católico vendo a Igreja, sua Mãe, passar por essa
crise deve ser antes de tudo de profunda tristeza,
porque é lamentável que isso seja assim. É um perigo para incontáveis
almas que a Igreja seja afligida por tal crise. E, por essa razão, pode-se
ter a certeza de que, quando Nosso Senhor, do alto da cruz, viu todos os
pecados que haveriam de ser cometidos contra a obra da Redenção que Ele
consumava de modo tão profundamente doloroso, sofreu enormemente, em vista
de tal gênero de pecados, cometidos em nossos dias.
E,
evidentemente, todos esses pecados produziram sofrimentos verdadeiramente
inenarráveis no Sapiencial e Imaculado Coração de Maria, que pulsava de
dor no peito da Santíssima Virgem enquanto Ela estava de pé, junto à Cruz.
Considerando quanto Nosso Senhor e sua Santíssima Mãe sofreram por causa
do que agora está se passando, é impossível não se ficar consternado,
muito mais do que em qualquer Sexta-Feira Santa anterior, porque,
talvez, este seja dos pontos mais agudos da Paixão e que se mostra em toda
a sua hediondez, nas atuais circunstâncias da vida da Igreja.
* * *
O homem
contemporâneo é um adorador do prazer, do gáudio, da diversão, e tem
horror ao sofrimento.
Ora,
está-se aqui em presença de um padecimento agudíssimo. Pode-se
compreender, pois, embora tal atitude não seja justificável, a posição de
tantas almas que evitam pensar nisso e considerar a fundo o que está se
passando para não sofrer em união com Nosso Senhor esta situação trágica,
como trágica foi a Paixão.
Em face
do drama em que se encontra a Santa Igreja, muitas almas procuram, então,
assumir uma posição de indiferença, parecida com a de numerosos
contemporâneos de Nosso Senhor, que acreditavam que Ele era
Homem-Deus. Mas que, durante a Via Sacra, vendo-O passar, em vez de se
compadecer por seus lancinantes sofrimentos, achavam entretanto melhor não
considerá-los, mas pensar em outras coisas.
E eis a
prova: Nosso Senhor pregou maravilhas e fez milagres portentosos que devem
ter impressionado pelo menos uma parte considerável do povo que O cercava.
Não seria concebível que essa parte, santamente impressionada, tenha se
mantido numa atitude tão quieta, inerte, diante do que se passava. E que a
única pessoa que fez algo em prol do Redentor, durante a parte inicial da
Via Sacra, tenha sido a Verônica com o seu véu, no qual ficou estampada,
depois, a face sagrada do Salvador. Verdadeiramente, mais ninguém tomou
tal atitude a não ser ela.
As
santas mulheres e Nossa Senhora juntaram-se mais adiante a Nosso Senhor e
foram até o alto do Calvário. A Virgem Santíssima está acima de todo
elogio. As santas mulheres, que A acompanharam, merecem um elogio que
participa do louvor a que Nossa Senhora fez juz. Mas, fora disso, inércia.
Por
ocasião da Semana Santa, o que mais se deve pedir a Nossa Senhora, é que
Ela nos liberte desse estado de espírito, de tal mentalidade.
Se
nosso Redentor está sofrendo, devo querer padecer aquilo que O
atormenta. E sofrerei isso meditando nas dores dEle. Esse é o meu dever,
dada a união que Ele condescendeu misericordiosamente em estabelecer entre
Si mesmo e mim. E o que não for isso não pode deixar de ser qualificado
senão de abominável.
Os dias
em que vivemos são de gravidade, de tristeza, mas na última fímbria do
horizonte aparece uma alegria incomparavelmente maior do que qualquer
gáudio terreno: a promessa de um sol que nascerá – o Reino de Maria,
anunciado, no ano de 1917, por Nossa Senhora, em Fátima.
Dr Plínio Côrrea de Oliveira.
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