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Dom Helder , dito o "profeta da paz"! |
Caros amigos são muitos os que chamam Dom Hélder
de profeta, santo, etc. Há até quem defenda sua canonização. Há, decerto, os
ignorantes : pensam que Dom Hélder era um homem fiel a Igreja e que se
notabilizou pelo auxílio aos pobres. Outros, maliciosamente reconhecendo sua preferência
pelo socialismo - condenado pelos Papas e proibido de ser professado por
católicos sob pena de excomunhão - tentam tergiversar sobre esta faceta obscura
de Dom Hélder dando a entender que o "socialismo" do arcebispo era
outro e que associá-lo ao marxismo foi produto de uma acusação criada para
desmoralizá-lo.
Portanto começamos aqui uma série de artigos que
formarão o “DOSSIÊ DOM HELDER” do qual este texto constitui a primeira parte.
Estas séries de artigos visam provar que Dom
Hélder era comunista e que a acusação é pertinente.
Em 1947 , o Padre Hélder organizou o secretariado
nacional da ACB ( Ação católica brasileira ) que tinha a finalidade de integrar
leigos e a Igreja. Movimento espalhado pelo mundo inteiro e implantado no Brasil
pelo Cardeal Leme em 1935, agora ele contaria com a vasta experiência do Padre
Hélder que já havia militado no integralismo nos anos 30. Anos depois Dom Hélder
diria de sua passagem pelo integralismo que "foi um erro de juventude". O
aspecto social não era um forte dos meus mestres no seminário. Nossa visão era
de que tudo se dividia em capitalismo e comunismo. E nos sopravam discretamente
que dos males o menor. Pouco a pouco foi fácil ver que esse embate não era
verdadeiro".
Sabe-se que nos anos 50 a ACB sofreu forte
influencia de pensadores católicos humanistas - como Emmanuel Mounier (Mounier, segundo o padre Lima Vaz, "foi o mestre mais seguido pela juventude
católica brasileira" dos anos 60 : rejeitando categoricamente o sistema
capitalista, ele considera que os cristãos podem aprender enormemente com o
marxismo. Definindo sua própria filosofia social, ele escreve em 1947: "O
personalismo considera que as estruturas do capitalismo são um obstáculo que se
levanta no caminho da libertação do homem e que elas devem ser destruídas em
proveito de uma organização socialista da produção e do consumo". E.
Mounier, "Qu'est-ce que le personnalisme?" (1947), Oeuvres, III,
Paris, 1963, p.244.), Teilhard de Chardin (Chardin teve suas obras condenadas
pela Igreja por conta de seu monismo e de seu evolucionismo.O Santo Ofício solicitou ao Arcebispo de
Paris que detivesse a publicação das obras. Em 1957, um decreto deste mesmo
órgão decidiu que estes livros fossem retirados das bibliotecas dos seminários
e institutos religiosos, não fossem vendidos nas livrarias católicas e não
fossem traduzidos. Este decreto não teve muita adesão. Cinco anos mais tarde,
uma advertência foi publicada, solicitando aos padres, superiores de Institutos
Religiosos, seminários, reitores das Universidades que "protejam os
espíritos, principalmente o dos jovens, contra os perigos da obra de Teilhard
de Chardin e seus discípulos". Segundo esta advertência, "sem fazer
nenhum juízo sobre o que se refere às ciências positivas, é bem manifesto que,
no plano filosófico e teológico, estas obras regurgitam de ambiguidades tais e
até de erros graves que ofendem a doutrina católica") e Jacques Maritain( Pai da noção de uma “cristandade laica”- uma
civilização cristã sem um eixo religioso cristão , onde apenas a lei natural seria a norma e onde se faria a síntese do dogma católico com os princípios
iluministas da liberdade religiosa e de consciência e igualdade; em suma
Maritain defendia uma “cristandade” nova sem referência a Cristo!) além
do Padre Louis Joseph Lebret (1897-1966), dominicano francês ligado ao
movimento Economia e Humanismo, que durante a década de 50 influenciou o
“pensamento social católico” diretamente ligado aos agentes da ACB.
Em
suma : a ACB se transformou, nas mãos de Dom Hélder, em uma plataforma
para uma síntese entre fé católica e
marxismo que se realizaria através do influxo teológico e filosófico das idéias
de Mounier , Maritain , Chardin , etc.
Na
mesma época Dom Helder articulou com a Santa Sé a criação da CNBB ( Conferência
nacional dos Bispos do Brasil) com o claro objetivo de unificar a ação pastoral
da Igreja no Brasil em torno das novas orientações que impunha a ACB ,
orientações de cunho socialistizante.
Dom
Hélder na época dizia que à CNBB visava “coordenar e subsidiar as atividades de
orientação religiosa , de beneficência , de filantropia e assistência
social( In : Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro p. 1525)” em todo o
Brasil. A atividade da CNBB nos anos que se seguiram ficaram mais marcadas por
ações no campo social que por assistência caritativa ou orientação religiosa.
A
criação da CNBB por meio da ação direta de Dom Helder tem uma razão específica
: enfraquecer a posição do então líder da Igreja no Brasil , o Cardeal Dom
Jaime de Barros Câmara , arcebispo do RJ e herdeiro do Cardeal Leme. O projeto
eclesial do Cardeal Leme, continuado pelo Cardeal Barros Câmara, era a romanização
dos ambientes católicos do Brasil ainda muito marcados por um catolicismo
popular , pietista e sentimental.
Para
Dom Hélder a figura de Dom Jaime como líder da Igreja no Brasil e porta voz
dela era um escolho pois impedia que a Igreja Brasileira respirasse ares
novos. A idéia de criar a CNBB amadureceu durante o Congresso mundial de Leigos
em Roma em 1950 onde através de contatos com o Monsenhor Montini – futuro Papa
Paulo VI- Dom Hélder consegue do Papa PIO XII a criação da CNBB.
Deste
modo a CNBB brota de certo modo da ACB pois Dom Hélder, na qualidade de
seu assistente , dela se valeu para convocar os dois primeiros encontros da
hierarquia eclesiástica. Com a ligação estreita da ACB com a CNBB a primeira
ganhou muito pois, ficando livre das diretrizes de cada bispo diocesano – alguns
bispos avessos a linha progressista da
ACB costumavam limitar seriamente seu ativismo- passou a tratar diretamente com
um órgão de representação nacional o que lhe trouxe mais autonomia para se
manifestar sobre questões de ordem temporal, ou seja , para se posicionar a
favor do marxismo sem precisar prestar contas aos bispos. Contando com a ajuda da
CNBB a ACB pode se desviar, pouco a pouco, da Doutrina Social da Igreja e
experimentar a síntese do pensamento social católico com as idéias marxistas.
No
fim da década de 50, a ACB se aproximou decididamente de setores da esquerda
política formando o que viria a ser a teologia da libertação.
A
CNBB, sob influxo de Dom Helder que, segundo Della Cava, se tornou desde então o
“líder de fato da Igreja Brasileira” ( In : Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro p. 1526), tornou- se rapidamente um órgão para a socialistização do
catolicismo no Brasil : de um catolicismo popular pietista predominante e de
uma tentativa de romanização sem sucesso nos anos do Cardeal Leme, para um
catolicismo social engajado em lutas temporais. Em 1956 a CNBB liderou uma
grande reunião em Campina Grande com ministros do Governo Kubitschek para
“discutir os problemas socioeconômicos da região”.
Ainda
nessa época Dom Hélder dava inicio à “Cruzada de São Sebastião” com caráter imanentista que buscava :
1-Promover, coordenar e executar
medidas e providências destinadas a dar solução
racional,humana e cristã ao problema das favelas do Rio de Janeiro;
2. Proporcionar, por todos os meios ao seu alcance,assistência
material e espiritual às famílias que residem nas favelas cariocas; mobilizar
os recursos financeiros necessários para assegurar, em condições satisfatórias
de higiene, conforto e segurança,moradia estável para as famílias faveladas;
3. Colaborar na integração dos ex-favelados na vida normal
do bairro da Cidade.
Embora a Arquidiocese do RJ já
tivesse a Fundação Leão XIII que cuidava da assistência social aos mais pobres
, Dom Helder resolveu criar a cruzada pelos seguintes motivos :
a) Aproximação da Fundação Leão XIII com setores políticos conservadores e
antimarxistas como a UDN.
b) A Cruzada São Sebastião se concretizou graças ao apoio do pacto
populista representado pelo Partido Social Democrata (PSD) e o Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB) mais inclinados ao socialismo.
Vejamos que os
objetivos da Cruzada eram primariamente materiais : em primeiro lugar dar
assistência material e só depois espiritual. Mas não nos enganemos : a Cruzada
não tinha nenhum escopo evangelístico ou catequético. Não havia um plano de
assistência religiosa as famílias pobres no sentido de formá-las dentro da fé
católica .Os objetivos da Cruzada eram basicamente materiais : dar conforto ,
higiene , segurança. Há que lembrar que muitos dos moradores das favelas eram
imigrantes do interior do Brasil vindos para o sudeste em busca de trabalho,
diante do surto industrial que o país vivia. Muitos desses imigrantes perderam
,na vida da cidade grande, a cálida experiência de religiosidade e piedade
tradicional católica proporcionada pela
vida no campo. Ainda que esta experiência de piedade católica fosse marcada por
supertições populares, elas criavam um caldo de cultura -ainda que apenas superficialmente católica-
que mantinha gerações e gerações ligadas umbilicalmente a Igreja. Nos
ambientes urbanos essa cultura não existia. A assistência da Igreja se fez
sentir no campo social , mas no campo religioso essa assistência era de menor
grau ou nula. A despreocupação do clero com a questão da catequese abriu espaço para a
proliferação das seitas neopentecostais de cunho protestante que invadiram os
grandes centros urbanos e se espalharam , sobretudo sobre as periferias. A "cruzada" de cruzada só tinha o nome : não visava a conquista espiritual dos pobres mas apenas a atenuação de sua pobreza material
A
cruzada contou , para o plano de urbanização, com a ajuda de arquitetos que
buscavam, através do planejamento dos imóveis a serem construídos para abrigar
os favelados, estimular o empoderamento do pobre em face das classes
superiores dando-lhe acesso a vida em apartamentos que lhes proporcionassem uma
nova consciência capaz de afrontar a
questão da desigualdade de classes : “nos anos 40, o apartamento já era
um símbolo de status para parte do universo das camadas médias brasileiras:
“(…) o apartamento não surgiu, entre nós, como um recurso para atender às
necessidades das classes modestas; até uma certa época, cuja limitação ainda
não se pode definir perfeitamente pelo efeito da proximidade dos dias que
correm, o apartamento foi, pode-se dizer, um luxo; hoje, se ainda não deixou de
ser um luxo, tornou-se para a pequena burguesia dos funcionários públicos e
empregados uma necessidade de aparência, de aproximação com a classe superior.”
(In : CONSTRUÇÃO CIVIL.O observador Econômico e Financeiro, Rio de Janeiro, ano
7, n. 76, p. 13-21, mai. 1942. p. 14-15.) A cruzada seguiu uma tendência inovadora na arquitetura da habitação social brasileira,
a qual fora influenciada pela vanguarda moderna e socialista européia dos anos
20 (formada por expoentes de movimentos e tendências artísticos como o
Construtivismo russo, De Stijl e Bauhaus).O objetivo era claro : comunistizar a mentalidade dos pobres através de uma experiência estética e arquitetônica que dessa vasão a ideais coletivistas
Muitos bispos , clérigos e leigos
marginalizados com a nova orientação que a Igreja no Brasil tomava se engajaram
sob a liderança de Plínio Correa de Oliveira na criação da “Sociedade de defesa
da Tradição , Família e Propriedade(TFP)" contrária ao catolicismo com
engajamento social criado por Dom Hélder e asseclas. O núncio Dom Lombardi , porém
, apoiava a facção social da CNBB , o que demonstra que ,sob o Pontificado de
João XXIII, haviam ventos favoráveis soprando para Dom Hélder e a CNBB
confirmando – os nessa linha de engajamento social marxistizante.
A influência de Dom Hélder não
pararia na CNBB, mas se estenderia por toda a América Latina: em 1958 foi
delegado do Brasil na 1 reunião do CELAM ( Conferencia Episcopal Latino
Americana). Depois em 1960 foi eleito segundo vice presidente do CELAM.
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Livro que prova a ligação da JUC com o PC do B |
Nesse contexto nasce a JUC ( Juventude
Universitária Católica) no seio da ACB que era dominada pelo Arcebispo dos
pobres. a JUC dos anos 1960-62 representou a primeira tentativa, em todo
o continente, de desenvolver um pensamento “católico” utilizando elementos do
marxismo. Apesar de seu fracasso imediato,
lançou sementes que iriam germinar mais tarde - no Brasil e no conjunto da
América Latina. Com razão Pablo Richard se refere ao Congresso dos 10 anos da
JUC (1960) como "o início de uma nova etapa na história do cristianismo
brasileiro e latinoamericano"(in :Pablo Richard; Morte das cristandades
e nascimento da Igreja, S.Paulo, Edições Paulinas, 1984, p.154.). Cabe acrescentar que se tratava não só do movimento estudantil
universitário : a JUC foi para o campo
da educação popular (MEB) e mais tarde para o terreno da ação política (AP).
Os ideólogos jucistas diziam não se inspirar em Marx mas ao mesmo tempo rejeitavam o tabu anti-marxista( rejeitam portanto que sejam contrários ao
marxismo , ao menos lhe reconhecem alguns méritos e algum valor ); segundo
dizia o líder da JUC Herbert de Souza( O conhecido sociólogo Betinho que nos
anos 90 criou o programa "Natal Sem Fome"), "não temos Marx como mestre,
pois já tínhamos um outro, antes. Mas sabemos ler também Marx". As
principais referências dos documentos da JUC são estritamente católicas: Santo Tomás,
Leão XIII, Pio XII, João XXIII, etc. Porém cabe dizer que
embora a JUC não tenha aderido a nenhum modelo
existente de marxismo no Brasil -como o PCB, ou alguma de suas dissidências
- trata de fazer sua própria leitura do
pensamento de Marx e da realidade brasileira e chega a ter até conclusões bem
mais radicais que o PCB, alinhado com o populismo governamental.
Diante disso tudo fica a questão : Por que o Brasil foi o primeiro país em que esta
mistura absurda , herética e diabólica de cristianismo e marxismo pôde se
desenvolver - conseguindo, no curso dos anos de 30 a 60, maior impacto do que
em qualquer outra Igreja da América Latina?
A resposta é clara : não fosse a articulação de
Dom Helder isso não teria sido possível. Foi através dele que o marxismo chegou
a ACB e por meio dela aos mais diversos ambientes eclesiais. Sem a fundação da
CNBB, sob os auspícios de Dom Hélder, a generalização da linha socializante de
ação da Igreja no Brasil não teria sido possível. Sem as articulações de Dom
Helder a JUC não existiria e nem tampouco a Teologia da Libertação. Dom Helder é o culpado pela socialistização da Igreja no Brasil.
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Gramsci , pai do marxismo cultural. |
Dom Hélder atuou aí como um intelectual
orgânico do marxismo, infiltrado na
Igreja para fins de subversão , dentro dos quadros teóricos do pensamento de
Antônio Gramsci que entendia ser fundamental “terrestrializar o pensamento”
para efetivar o socialismo. Como
afirma Olavo de Carvalho “Gramsci, teórico do socialismo e militante do partido
comunista italiano , estava
particularmente impressionado com a violência das guerras que o governo
revolucionário da Rússia tivera de empreender para submeter ao comunismo as
massas recalcitrantes, apegadas aos valores e praxes de uma velha cultura.
Gramsci descobriu que era necessário amestrar o povo para o socialismo antes de fazer a revolução. Fazer com
que todos pensassem, sentissem e agissem como
membros de um Estado comunista enquanto ainda vivendo num quadro externo
capitalista. Quando viesse o comunismo, as resistências possíveis já estariam
neutralizadas de antemão e todo mundo aceitaria o novo regime com a maior
naturalidade. O que interessa realmente é mudar as estruturas profundas de
pensamento: os valores, os símbolos, a linguagem etc., e tudo, de preferência,
sem nem falar em propaganda comunista. Isto vai criar uma mutação cognitiva, as
pessoas vão passar a julgar de outra maneira, e é preciso que esse processo
seja tão lento que seja imperceptível. Gramsci percebeu que era necessário
infiltrar-se nas organizações dedicadas à cultura, nas redações dos jornais,
nas comunidades religiosas.”
Nesse
quadro nada era melhor que usar a Igreja Católica como aliada na luta pelo
marxismo.
Dom
Hélder ao deslocar o eixo da Igreja no Brasil dos assuntos de cima( salvação , santidade,
vida terna , pecados , virtudes , oração ) para os de baixo ( salário , moradia
, emprego , justiça social ) , apelando para a caridade cristã com o próximo , atua
subvertendo o sentido ínsito da fé católica com propósitos revolucionários
marxistas mas não sem vestir tal subversão com uma capa de aparências piedosas – o apelo a virtude da caridade e ao desapego aos bens
materiais na verdade serviam, dentro do projeto da CNBB, não à edificação do homem católico e da
cristandade, mas sim a um projeto político ideológico identificado com o
socialismo.
Se trata aí da tática gramsciana dos
marxistas, que descobriram que o método mais promissor para chegar ao poder é
dominando a cultura nacional o que implica em um processo para lograr uma forte
influência na religião, nas escolas, nos meios de comunicação e nas
universidades. É neste contexto que se deve entender a teologia da libertação:
como uma doutrina política disfarçada de crença religiosa com um significado
anti-papal e anti-livre empresa, destinada a enfraquecer a independência da
sociedade face ao controle estatista-socialista.