segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Expondo a ignorância sedevacantista e conservadora sobre o Magistério da Igreja

 

Sedecavantistas e conservadores abandonaram a noção de analogia caindo no barbarismo teológico 

Há dois erros sobre Magistério da Igreja:


1- Dos sedevacantistas e conservadores, uns e outros exagerando quanto ao grau de assentimento que devemos ter ao magistério ordinário dos Papas: para estes não há diferença entre o ensino solene e o ordinário.

2- Dos modernistas e neomodernistas que reduzem de tal maneira a autoridade do magistério ordinário que ele se torna um magistério humano.

Apesar das aparências em contrário o erro dos modernistas e dos sedevacantes e conservadores é o mesmo: só existe um único grau de magistério.

Porém o Magistério é uma participação no Magistério de Nosso Senhor Jesus Cristo, e essa participação tem graus diversos em virtude da maior ou menor intervenção humana em cada ato magisterial.

O Magistério Solene só se verifica quando estão presentes as quatro condições dadas pelo Concílio Vaticano I: (i) que o papa (ou o Concílio) ensine enquanto autoridade universal da igreja, (ii) utilizando a plenitude de sua autoridade apostólica, (iii) que a vontade de definir seja manifesta e (iv) que a matéria seja relativa à fé ou à moral. Se uma dessas quatro condições está ausente não haverá um ato solene de Magistério Pontifício.


Já o Magistério Ordinário tem as seguintes características:

- Do Papa: requer numerosas condições que são : a importância que dá o Papa ao documento (sempre o papel fundamental da voluntas definiendi), a importância que dão os papas posteriores, a solenidade do ensinamento, a universalidade do ensinamento, a atenção dada pelos teólogos ao ensinamento, a repercussão do documento no mundo católico em geral, a duração com que o ensinamento é pacificamente transmitido em todo o universo católico, o caráter ininterrupto do ensinamento, a importância de que goza no documento e, finalmente, a maneira com que a doutrina é apresentada no ensinamento.

- Do Papa e dos Bispos: O magistério do Papa e dos Bispos dispersos pelo mundo se exerce sob as seguintes condições:

(1º) que os bispos estejam em comunhão com o sucessor de Pedro (2º) de acordo em matéria de fé e moral, (3º) sobre uma doutrina a ser tida como definitiva. A precisão é necessária: o critério externo de definitividade permite não guardar um ensinamento provisório concordante do Papa e dos bispos (o fato que os bispos estejam de acordo em ensinar a doutrina de uma encíclica não torna tal doutrina infalível; O próprio Código de Direito Canônico expressa a necessidade de tal manifestação no Cânon 749, §3º: Nenhuma doutrina se considera infalivelmente definida, se isso não constar manifestamente). Os diversos graus de autoridade determinam os diversos graus de magistério.

Assim, quando a autoridade suprema e universal da Igreja utiliza a sua voluntas difiniendi/obligandi em matéria de fé ou moral, o Magistério atinge a participação mais perfeita no sacerdócio de Cristo, com garantia absoluta de infalibilidade, de ausência de erro. Nesse Magistério, há muito mais de divino do que de humano. Quando a autoridade suprema ensina sem querer canonizar uma fórmula definitiva, temos um grau inferior de em que a parcela humana é maior o que torna os termos desse magistério menos precisos e até passíveis - no caso de uma mera concordância momentânea entre o papa e bispos quanto a matéria provisória - de algum erro, como aduz certos teólogos. 


Com isto resta clara a ignorância seja de sedevacantistas quanto de conservadores ou modernistas no que tange ao que significa Magistério: dotados de uma estrutura mental pobre e simplória e muitas vezes ocupados numa apresentação ideológica do ensinamento da Igreja de modo a favorecer certas posições práticas tornam-se incapazes de conceber o assunto de forma reta o que exige a compreensão da analogia e dos graus inerentes aos modos do magistério.


Bibliografia:


- Dom Paul Nau. The Ordinary Magisterium of the Catholic Church. Angelus Press, 1998, Kansas City


- I. Salaverri. De Ecclesia Christi. Bac, 1955, Madrid


- Lucien, CHOUPIN. Valeur des Décisions Doctrinales et Disciplinaires du Saint Siège. Beauchesne Éditeur, Paris, 1913

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Democracia vira peido vocal no Brasil





A crise da democracia ocidental chegou com tudo no Brasil. Já não há mais consenso sobre o que ela significaria e como seria possível aplicar seus princípios o que vem fazendo que os partidos em disputa, cada um ao seu modo, defendam o fim da democracia para "manter a democracia", pasmem! Entre as razões que apontam para essa quebra da democracia para "salvá-la" temos os seguintes fatos:

1- Os bolsonaristas vem falando de Intervenção Militar para repor a ordem quebrada pela suposta fraude eleitoral em contradição ao Art 142. A hipótese aventada de decretar estado de defesa para comprovar se tivemos "quebra da lei e ordem" é inverter a ordem das coisas e usar a força para criar "provas".
2- Há, além disso, uma contradição básica no bolsonarismo que não vê o absurdo de pedir AI5 para repor liberdades constitucionais perdidas.
3- Por outro lado os adversários do bolsonarismo aderiram ao mesmo vale tudo que estão tentando deter: fizeram vista grossa quando juiz do supremo abriu inquérito e fazem agora quando Moraes afasta governador, prerrogativa de assembléia estadual.
4- Além de tudo Moraes falou de responsabilização 'política' dos bolsonaristas que se fizeram presentes no oito de janeiro, usando linguajar de tribunal revolucionário fora o fato de ter quebrado a chamada Lei Orgânica da Magistratura Nacional, cujo artigo 36, inciso III, dispõe que é vedado ao magistrado “manifestar, por qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de julgamento, seu ou de outrem" .
5- Para piorar Gilmar Mendes já fala de limitar liberdades de reunião sob a justificativa de "salvar" a democracia o que beira a loucura já que reunir povo para deliberar e reivindicar é a essência do regime democrático. Tal lei criaria duas classes de cidadãos - a que pode se reunir e a que não pode em razão de sua ideologia, partido, alinhamento, opinião, etc - eliminando a isonomia.
6- Assim a palavra democracia foi corroída a tal ponto de ter se tornado um flatus vocis sem substância que cada grupo maneja de acordo com seus interesses. Chegamos ao que é descrito pelo escritor Millôr Fernandes: "democracia é quando eu ganho, quando é você que ganha é ditadura".
7- Sob influxo da Globo e demais cias de Mídia de Massa as pessoas estão problematizando efeitos - tentativa de golpe - sem refletir sobre causas já que o Bolsonarismo é, em boa parte, produto da crise da democracia e do lulismo, ferida na qual muitos não querem botar o dedo pois sabem que isso poria abaixo a velha classe política com a qual estão comprometidos.

Diante do exposto fica patente que a crença no império da lei já não existe mais tampouco o Estado de Direito, estuprado pelas mais altas autoridades: o terreno está pronto para uma guerra civil e isso porque vivemos uma crise ampla, fruto duma contradição básica: a CF88, feita para garantir direitos sociais, é impossível de implementar sob base neoliberal. Então temos um Brasil que garante coisas no papel mas não na prática pois fornece sub empregos, serviços de má qualidade e uma economia que não sai dos um ou dois por cento de crescimento médio ao ano. A ascensão do bozismo se deveu, em boa parte a isso: uma classe média baixa que insatisfeita com a perda de seu poder de compra passa a ver no Estado e na Política o problema depositando suas fichas no Mercado que sem conseguir oferecer saídas provoca o retorno de Lula, ante o fracasso do governo de Bolsonaro, articulado a velha política que aposta em mais do mesmo: constituição cidadã e neoliberalismo, quer dizer, programas sociais + trabalho de salário mínimo sem horizonte de um "Brasil Potência" gerador de empregos de qualidade e fortes investimentos. Para sair do impasse o Brasil precisa dum Novo Vargas que una desenvolvimentismo, soberanismo, conservadorismo religioso com bem estar social através duma nova "revolução de 30", uma ruptura institucional capaz de nos fornecer um sistema político que melhor represente aspirações sufocadas e abortadas às quais o atual regime é insensível dado o compromisso, tanto da nossa esquerda, quanto da direita e do centrão, com a ordem financeira global.