segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Francisco muda o sentido de magistério para legitimar o caótico Vaticano II

No neo magistério de Francisco há lugar até para o Budismo. 

 


Francisco, numa audiência ao Departamento Nacional de Catequese da Itália em 30/01/2021, sublinhou que o Concílio Vaticano II faz parte do “Magistério da Igreja”.


A fala provocou reações seja na cena sedevacantista, seja na cena neoconservadora quanto na progressista.


Os primeiros a usaram para provar que a Sé esta vacante, pois, argumentam, Francisco ao tentar impor um conciliábulo como magistério não pode mesmo ser Papa, não restando outra norma de conduta senão a de proclamar a vacância do trono petrino.


Os segundos a usaram para provar que o único caminho é o da hermenêutica da continuidade, numa síntese entre tradição e CVII; enquanto que os progressistas se valeram da fala para sublinhar que as mudanças na Igreja são fatais e que já não é possível voltar atrás na virada modernizante operada em 1962.


Em ambos os casos a metralhadora se volta contra os católicos de posição lefebvrista cuja posição é a da mediania e prudência que nos assegura que nem podemos dizer, peremptoriamente, que a sé esteja vacante, nem que o Vaticano II faça parte da Tradição da Igreja.


Deste modo é preciso pesar a fala de Francisco sem cair em leituras enviesadas com base em viés de confirmação.


Em primeiro lugar importa destacar o que significa “magistério” para os papas conciliares. O Vaticano II inverteu a ordem de causa e efeito entre Magistério – o ensino ordinário e extraordinário dos papas, sínodos, concílios e bispos – e sensus fidei, o senso comum da fé dos simples fiéis. No passado concebia-se que o Magistério é causa do sensus fidei. Desde o Vaticano II passou-se a considerar que o sensus fidei é a causa do Magistério – ou melhor do neo “magistério”. Para o CVII o magistério tem a função de unificar a pluralidade dos sentires do povo fiel. Justamente neste esquema que os sínodos vem sendo realizados desde que as reformas do Vaticano II passaram a vigorar: a cada 5 anos os bispos recolhem as tendências eclesiais dominantes em cada região, discutem uma questão sob perspectivas opostas e terminam os debates propondo textos de compromisso entre posições doutrinais contrastantes, processo que lembra o de um parlamento democrático moderno onde vige o consenso e não a verdade.


Outrossim a noção de Igreja que subjaz ao Vaticano II é de Povo. A Igreja seria, neste esquema, primacialmente, um Povo. A Lumen Gentium, documento do Vaticano II sobre a natureza da Igreja, entende o sacerdócio como pertencente a todo Povo de Deus. O sacerdócio ministerial dos padres e bispos seria apenas uma função que emana do sacerdócio geral do Povo, algo que ecoa a noção de sacerdócio universal em Lutero. Por dois milênios os católicos acreditaram que a função de Cristo como rei, sacerdote e profeta era participada, integralmente, apenas pelo papa e bispos em razão de seu poder de ensinar, reger, santificar. A LG, todavia, mudou isto: no número 11/12 diz que todos participam igualmente do ofício de santificar, profetizar, etc.


Onde queremos chegar? É simples: a chave de leitura da recente preleção de Bergoglio sobre Magistério e Igreja é que o significado destes dois termos no discurso dele tem, respectivamente, base na noção de sensus fidei e povo de Deus é não no que o Magistério perene definiu como sendo Magistério – causa e não efeito do sensus fidei – e Igreja – Corpo de Cristo antes de Povo de Deus.


Vamos examinar a fala inteiriça de Francisco para situarmos a questão, partindo do seguinte link (https://domtotal.com/noticia/1497033/2021/02/vaticano-ii-faz-parte-do-magisterio-quem-nao-o-segue-nao-esta-com-a-igreja-diz-o-papa/):


No seu discurso, o papa sublinhou a importância da catequese e recordou palavras do papa Paulo VI no primeiro encontro com a CEI depois do concílio, em que considerou este acontecimento magno da Igreja Católica como "o grande catecismo dos novos tempos". "Por isso, observou Francisco, a catequese inspirada pelo Concílio é uma escuta contínua do coração do homem, sempre com o ouvido alerta, sempre atento a renovar-se". E foi justamente neste seguimento que o papa deixou de lado o texto que tinha preparado e disse, em jeito de reflexão: "O concílio é Magistério da Igreja. Ou nós estamos com a Igreja e, portanto, seguimos o concílio, ou se não seguimos o concílio ou o interpretamos à nossa maneira, à nossa própria vontade, não estamos com a Igreja””



Notem a ênfase dada ao CVII como “catecismo dos novos tempos” e como “escuta do homem”, ou seja, o Vaticano II seria expressão do sentir humano, do sentir moderno, do sentir dos fiéis afinado com os novos tempos. Obviamente essa noção nada tem que ver com a noção tradicional de Magistério que julga o espírito do tempo com base no depósito da revelação e não a revelação a partir do sentir de cada época.



Neste caso estar com a Igreja, dentro da lógica bergogliana, é estar com o Povo de Deus – a Igreja de Bergoglio é, antes de mais nada, povo sacerdotal que Corpo Hierárquico - em seu sentir afinado com os tempos modernos, em que a escuta do homem tem primazia sobre a revelação. A seguinte expressão confirma nossa tese:



Retomando a leitura do discurso, o papa incentivou os responsáveis pela catequese a "não ter medo de falar a linguagem das mulheres e dos homens de hoje", de "falar a linguagem do povo".



Ou seja: em vez de falar a linguagem da revelação, falar a linguagem do “povo”. O que isso tem a ver com a fé tradicional da Igreja? Nada!



Que fique claro: um católico que recuse a noção de Magistério e de Igreja tal como a entende o Vaticano II e Francisco não está fora da Igreja tampouco estaria praticando desobediência ao Papa. É Bergoglio quem desobedece o parecer perene da Igreja sobre o que é Magistério ao alegar que o CVII constitui Magistério. A acusação de desobediência deve pesar sobre ele e não sobre nós que recusamos tais novidades.



Por outro lado, faltando uma vontade objetiva de impor uma doutrina em razão de Bergoglio escorar-se no sensus fidei como causa do magistério, não é possível tratar essa preleção como magistério ordinário, que exigiria uma concepção hierárquica que é faltante em Francisco. Logo tampouco tem razão sejam os sede vacantistas, quanto neo conservadores e progressistas: a fala não obriga de maneira nenhuma a consciência católica.



No mais os possíveis delitos contra a fé perpetrados por Bergoglio não atentam em nada contra a Sede Apostólica pois são delitos da pessoa privada do pontífice e não da fides apostolica sedis, não do cargo papal. O romano pontífice não perde o livre arbítrio ao ser eleito e nem o fato dele poder ser seduzido pelo Diabo põe em xeque a promessa de Cristo que é a de estar todos os dias com a Igreja e a feita em favor da fé de Pedro enquanto pessoa pública e restrita a ensinamentos dados pelo Magistério supremo. Preleções em encontros de catequese tem a mesma autoridade que a duma homilia e não podem ser elevados ao status de ato de magistério ainda que Bergoglio tivesse noções ortodoxas de Magistério e Igreja.



Santo Tomás expõe que é a heresia, e não a verdade, que causa escândalo. Resistir na fé de sempre não é escandaloso; incensar o neo magistério conciliar é que constituiu escândalo para ouvidos pios.



Há que haver escândalos, diz Nosso Senhor, mas ai dos homens por quem o escândalo vem, melhor seria não terem nascido.



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