Dia destes nos deparamos com uma reportagem do The Intercept assinada por Rosana Pinheiro destacando a figura de Jack Donovan como representativa do “machismo”, conceito que reuniria num só gênero diversas espécies como o patriarcalismo tradicional, o fascismo e o ideal masculinista de Donovan. Evidentemente isto só existe na cabeça da jornalista em destaque dado que o Patriarcado tradicional e o fascismo – que descende da antiga tradição imperial romana, portando do modelo patriarcal latino - recusam o modelo masculinista por várias razões.
Primeiro é preciso elencar o que é Patriarcado que consiste numa preponderância do Pai sobre um clã familiar, um agregado extenso de pessoas que consubstanciam uma parentela. Neste quadro temos alguns modelos clássicos como o do patriarca hebreu, romano e grego.
Entre os Hebreus o Pai era chefe militar e juiz do clã. Abraão é um exemplo bem acabado do patriarca hebraico: ele controlava e dividia as funções dentro do clã, decidia que extensões das estepes cabia a cada núcleo familiar usar para alimentar seus rebanhos, tinha ingerência sobre casamentos e acordos com outros povos, etc. O Patriarca era uma espécie de Rei que tinha deveres para com parentes, esposas e filhos, estando atrelado a fortes obrigações éticas; caso não as cumprisse poderia ser derrubado por outro homem do clã que fizesse jus a tais deveres.
Entre os romanos os Pater eram chefes de clãs que se identificavam em razão dos deuses que adoravam e dos antepassados que honravam: portanto eles eram reis-sacerdotes. Entre suas obrigações estavam a manutenção do culto aos antepassados e das virtudes ancestrais. A dedicação a família, a esposa e aos filhos marcava o ethos do Pater romano sempre ocupado em manter a honra, a propriedade e a segurança da linhagem.
Entre os gregos o culto da Andreia (virilidade em grego) marca a cultura do Patriarca. Na Grécia o Pai era, nas origens da sociedade helênica, o Basileus, o rei duma tribo. Seus direitos envolviam a ordenação das atividades de produção no Oikos, terra comunal donde a família extraía sua subsistência. Isto exigia do Basileus que atuasse como chefe militar e administrador. Foi da atividade dos Patriarcas-Basileus que surgiram as primeiras aldeias muralhadas da Grécia, gênese das Cidades-Estado. Assim o Patriarca e o ideal de Homem se associaram para forjar a idéia de que ser viril é ser heróico o que quer dizer estar disposto a sacrificar-se pela Pólis e pela segurança de mulher e filhos, pondo o homem a serviço duma Idéia mais alta que ele mesmo enquanto indivíduo.
A história ensina que a elevação dum padrão cultural está diretamente ligada a um esforço moral e a uma disciplina social para alcançá-lo. Nas sociedades matrilineares, os padrões morais eram mais frouxos pois se baseavam no culto da deusa mãe, em ritos de fecundidade da natureza onde reinava a licenciosidade sexual. Tais sociedades exigiam menos esforço moral e menor grau de repressão sexual o que impedia a sublimação da energia sexual em energia criativa na arte, filosofia, religião, etc. A família patriarcal por sua vez exige mais da natureza humana pois solicita virgindade e auto sacríficio da esposa, obediência e disciplina por parte dos filhos e um pesado ônus de responsabilidade ao pai que tem de submeter seus sentimentos pessoais aos interesses da família. Isso faz dela algo SUPERIOR. Tal família não se restringe mais à função primária de reprodução sexual mas passa a ser um eixo de organização social, política, econômica e cultural de alta complexidade donde brotam valores como piedade, honra, modéstia e religião. Platão dirá que com a família patriarcal nasce no homem o sentimento da eternidade, de ultrapassar o tempo deixando depois de si filhos que possam cultuar os deuses e continuar uma tradição moral.
O masculinismo de Jack, como podemos ver, se diferencia radicalmente do Patriarcalismo. Seu ideal é brutalista, a força é a “virtude” básica do macho. Seu masculinismo vai além daquele pensado por canalhas morais que, se valendo da liberação sexual da fêmea, pensam em levar uma vida de sexo sem compromisso onde o objetivo passa a ser “meter a pica e deixar na pista”, como dirão tais degenerados. Essa cena masculinista inicialmente calcada nas idéias de Nesahan Alita, que exprimia um ressentimento ante a figura feminina moderna como sendo de uma vadia que, depois de temporadas de fornicação com os machos alfa, procura um cara médio para ser seu “cuck” - referência ao pássaro Cuco que cria o filho de outros machos – ressentimento até certo ponto justificado mas mal resolvido pois incapaz de oferecer uma solução moralizante à crise provocada pela revolução sexual, foi a base donde as sandices de Jack se desenvolveram. E isto serve de alerta a sujeitos que flertam com o ideário MGTOW, Canal do Búfalo, Blog Silvio Koerich: o futuro deles é virarem Donovan, o sodomita “viril”.
No Patriarcado a força é elemento importante mas está a serviço de uma Idéia, dum Deus, duma Tradição, duma Moral. Não é fim mas meio para realizações civilizatórias. Donovan recusa a associação do homem a mulher e prefere que homens vivam organizados em gangues a sodomizar uns aos outros. Na Grécia Antiga o máximo admitido era um rito de passagem onde jovens ficavam sob treinamento e tutoria militar de Erastas para aprender as virtudes masculinas que envolviam uma filo-sodomização pelo erômeno – o rapaz iniciado nos ritos másculos era encoxado pelo Erasta sem que isso envolvesse penetração anal a fim de indicar, apenas, a dominação, hierarquia e a virilidade do Pater; o rito em tela não envolvia paixão sexual. Logo depois desses ritos de passagem o homem deveria se associar pelo resto da vida em casamento a uma mulher. Jack recusa isso. Ele prefere que homens vivam em comunas-gangues; o sexo com mulheres seria restrito a fins reprodutivos e estaria descolado de casamento o que levaria, por tabela, a destruição das linhagens familiares restando apenas comunidades másculas sem parentesco, baseadas unicamente em gostos comuns por caçadas, artes marciais, uma “tribo” fundada nos gostos pessoais dos membros: nada mais Pós-Moderno que isso mas Donovan jura que está lutando contra a Modernidade feminizante. Ao que tudo indica a sua mentalidade masculinista foi feminizada também pois Jack não é outra coisa senão produto da pós modernidade da qual emerge o feminismo defendido por Rosana Pinheiro do The Intercept que consiste na ideologia da supremacia do desejo individual sobre a razão, tradição, religião. As sandices de Jack são o lado B, a outra face do feminismo atual: da mesma forma que essas recusam o “macho opressor” e preferem relações lésbicas, Donavan rejeita a fêmea absolutamente em prol das pequenas tribos de homens.
Jack é também um identitário como são as feministas de esquerda. Ele exalta as identidades tribais da América do Norte e defende organizações tribais de homens brancos contra o multiculturalismo. Ou seja, contra o tribalismo de esquerda ele propõe outro por isso se filiou a Igreja de Satanás e ao Wolfs Of Vinland, organização Odinista que nasceu de gangues de motoqueiros pagãos cujos membros incendeiam Igrejas como foi o caso de Maurice Michaely. Para fugir da Modernidade, Donovan preconiza um pensamento tribal: os esquerdistas foucaltianos, as feministas, o movimento LGBT, tudo que ele recusa mais que estão igualmente empenhados na demolição da razão, agradecem o serviço prestado por Jack.
Isto posto vemos que a tentativa de aproximar o masculinismo de Donovan ao Patriarcado é frustra, a senhora Pinheiro está mais próxima dele do que pensa e nós do Patriarcalismo é que representamos a solução para o caos civilizatório no qual feministas e masculinistas querem nos lançar.