terça-feira, 17 de novembro de 2020

Refutação da difamação de Dom Lefebvre pelo site "Catequista"


 

Nos 50 anos de fundação da FSSPX, obra criada por Dom Marcel Lefebvre para preservar a missa de sempre e o ensino imutável da Igreja contra as novidades instauradas no seio dela pelas reformas do Vaticano II, era de se esperar que setores progressistas e neoconservadores fizessem uma campanha de difamação do seu legado e figura. Neste sentido o site “O Catequista” que tem como marca uma “nova evangelização”, através duma linguagem irreverente – exemplo disso são artigos que exibem os seguintes títulos: “Periquita, se eu não der, vou encalhar?” - publicou um artigo injurioso afirmando que Dom Marcel foi um “rebelde insolente, tal qual Lutero”, escrito pela pena de Daniel Fernandes, sujeito que se define como um alto intelectual o que nos deixa deveras espantados pois não é do feitio de intelectuais associar-se a uma choldra que trata as coisas sagradas com um linguajar de bordel.


No mais além do site em tela, o canal “Santa Carona”, que se vale da mesma barafunda do “Catequista”, fez a divulgação do artigo o que aponta para uma articulação nos bastidores. Lembramos que nos últimos dias um novo escândalo envolvendo a figura de João Paulo II - tido como exemplo por estes nichos conservadores que o enxergam como o Papa que uniu a tradição com a novidade, a síntese do impossível já condenada na Pascendi de São Pio X com o nome de modernismo que consiste na heresia de reinterpretar os dogmas da fé com base nas inovações modernas no campo do pensamento teológico e filosófico - veio a tona mostrando que ele promoveu McCarrick a arcebispo de Washinton D.C. mesmo sabendo de sua má conduta sexual. Isto põe em xeque sua canonização feita a toque de caixa para viabilizar o projeto de um novo modelo de Igreja sob os auspícios do Vaticano II e da abertura ao mundo – que o site “Catequista” sabe encarnar bem ao usar a mixórdia do mundanismo para tratar de coisas divinas que só podem ser comunicadas corretamente com uma linguagem grave e solene. Evidente que interessa a tais grupos desviar a atenção do público católico de mais um grave escândalo que põe em questão os pontificados pós Vaticano II levando-os a crer que o problema está nos lefebvristas que sempre se levantaram para denunciar o arruinamento da fé e dos costumes por obra dos clérigos que deviam defendê-la.


Vamos ao artigo e a sua refutação. Em tempo é preciso lembrar que o seu articulista é formado em história mas, desconsiderando a metodologia comezinha para qualquer historiador, passou por cima dos fatos, não consultou as fontes e preferiu montar uma narrativa fantasiosa que não encontra estofo nos documentos primários.


1- Em primeiro lugar o artigo admite que Santo Atanásio pode ter sido excomungado injustamente mas não concede, ao caso da excomunhão de Dom Lefebvre, o mesmo direito a admiti-lo. Em havendo um caso na história por que não poderia haver outro? Ademais a retirada da excomunhão dos 4 bispos ordenados em Ecône por Dom Marcel em 1988, por ordem de Bento 16, prova que podemos estar perante um caso de excomunhão injusta similar a que atingiu, hipoteticamente, Santo Atanásio.


2- O artigo assevera que Lefebvre se recusou a rezar a missa nova dando a entender que isto era um ato de rebeldia contra a autoridade mas vejamos:


- A Bula Quo Primum Tempore, do Papa São Pio V, canonizou o rito gregoriano – dita missa tridentina porque confirmada pelo Concílio de Trento mas que vem da era dos apóstolos tendo ganho forma definitiva na sua parte essencial na época do Papa Gregório Magno – nestes termos:


Ordenamos que a Missa, no futuro e para sempre não seja cantada nem rezada de modo diferente do que está conforme este missal por nós publicado...em virtude de nossa Autoridade Apostólica...concedemos e damos o indulto seguinte: Doravante em qualquer Igreja se possa sem restrição seguir este missal com permissão de usá-lo livre e licitamente sem nenhum escrúpulo de consciência e sem que se possa incorrer em nenhuma pena, sentença e censura e isto para sempre...não sejam obrigados ( Bispos e Padres ) a celebrar a missa doutro modo...a presente Bula não poderá JAMAIS, EM TEMPO ALGUM, ser revogada nem modificada mas permanecerá sempre firme e válida.


Se alguém, contudo, tiver a audácia de atentar contra estas disposições saiba que incorrerá na indignação de Deus todo poderoso e de seus bem-aventurados apóstolos São Pedro e São Paulo”


Ora foi justamente nesta Bula que Dom Marcel se baseou para recusar a missa nova e foi justamente indo contra ela que Paulo VI ab-rogou a missa de sempre cometendo um ato ilegítimo pois o que um Papa liga na terra é ligado no céu e nenhum papa posterior pode desligar quando for da vontade do papa anterior a perpetuidade daquela decisão (é o caso da Bula Quo Primum Tempore). Portanto quem agiu como Lutero que se insurgiu contra a autoridade não foi Marcel mas o Papa Montini.


3- O artigo alega que Lefebvre afirmou que Roma tinha se tornado sede do Anticristo. Isto é falso pois Dom Marcel, para dizer isto, precisaria afirmar que o Papa havia apostatado da fé, colocando o trono pontifício nas mãos dum negador de Jesus Cristo. Mas não é o caso pois em 1977, 78, 79 e 82 Dom Marcel reafirmou reiteradas vezes que a situação da crise da Igreja era incerta e que, portanto, não era possível afirmar categoricamente a apostasia do Papa; vejamos:


18/03/77:


"Se o Papa fosse apóstata, herege ou cismático, conforme a opinião provável de alguns teólogos (se fosse verdadeira), o Papa não seria Papa e, por conseguinte, estaríamos na situação de Sede Vacante. Essa é uma opinião. Não digo que não possa ter alguns argumentos a seu favor... Porém, por ora creio que seria um erro seguir essa hipótese".


16/01/79:


Enquanto não tenha a evidência de que o Papa não é Papa, tenho a presunção a favor dele. Não digo que não haja argumentos que possam pôr uma certa dúvida. Porém, é necessário ter a evidência: não é suficiente uma dúvida, inclusive se é válida. Se o argumento é duvidoso, não há direito de tirar conclusões que têm conseqüências imensas. Não se pode partir de um princípio duvidoso. Prefiro partir do principio de que há que defender nossa fé.”



29/06/1982:


"Também nós nos sentimos tentados de dizer: ‘Não é Papa, não pode ser Papa, se faz o que ele faz'. Ou senão, em troca, como outros que divinizariam a Igreja ao ponto de que tudo seria perfeito nEla, poderíamos dizer: 'Não é questão de fazer algo que se oponha ao que vem de Roma, porque tudo é divino em Roma e devemos aceitar tudo o que venha dali'. Quem assim diz procede como aqueles que diziam que Nosso Senhor era de tal maneira Deus que não lhe era possível sofrer, mas que todo aquilo era aparência de sofrimento, que na realidade não sofria, que na realidade seu Sangue não escorria, que não eram senão aparências que impressionavam os olhos de quem o rodeavam, porém não é uma realidade. O mesmo sucede hoje em dia com alguns que continuam dizendo: 'Não, nada pode ser humano na Igreja, nada pode ser imperfeito na Igreja'. Também esses se equivocam. Não admitem a realidade das coisas. Até onde pode chegar a imperfeição da Igreja, até onde pode chegar - diria eu - o pecado na Igreja, o pecado na inteligência, o pecado na alma, o pecado não coração e na vontade? Os fatos no-lo mostram”.


Por outro lado o artigo retira do devido contexto a fala de Dom Lefebvre na carta dirigida aos futuros Bispos escrita em 1987, conjuntura esta que é bem explicada por Dom Lourenço, conforme vai abaixo:


Estando a Cadeira de Pedro e os postos de autoridade de Roma ocupados por anticristos, a destruição do Reino de Nosso Senhor alastra rapidamente no seio de seu Corpo Místico nesta terra, especialmente pela corrupção da Santa Missa, expressão magnífica do triunfo de Nosso Senhor pela Cruz – “Regnavit a ligno Deus” – e fonte de extensão do seu Reinado nas almas e nas sociedades.” - Carta de Mgr. Lefebvre aos futuros bispos [Nota de D. Lourenço: A expressão é forte, mas deve ser entendida sem preconceitos: Mgr. Lefebvre não diz que tal ou tal pessoa é o Anti-Cristo, e sim que os postos do Vaticano estão ocupados por anti-cristos, ou seja, autoridades que trabalham para a destruição da Igreja, e não para sua edificação. Nesse sentido lemos na 1ª Ep. de São João: "todo o espírito que divide Jesus não é de Deus; mas este é um Anticristo."]



Portanto Dom Marcel entendia que o papa pode se cercar de maus colaboradores e favorecer a ruína da Igreja sem comprometer sua infalibilidade pois há uma dimensão humana na Igreja. Uns dizem que a Igreja sendo tão divina não podemos ter um papa que favoreça a ruína então ou ele não é papa – como pensam os sedevacantes – ou ele é e devemos aceitar a ruína como verdade de fé – como pensam os conservadores. Não era desta forma que Dom Lefebvre pensava.


4- O artigo aduz que Lefebvre, ao fazer as consagrações de Ecône,pecou por desesperança” na promessa duma autorização de Roma para ordenar um bispo da FSSPX a fim de dar sequência ao seu trabalho. Essa é outra falsidade pois:


- Dom Marcel clamou, por 20 anos, às autoridades romanas uma solução para a crise da fé sem sucesso. Alguém que pede, clama, suplica ao Papa, ao Cardeal Villot da congregação para a doutrina da fé, etc, medidas para resolver a crise pode ser apontado como alguém desesperançado nas autoridades? Dom Marcel foi, antes de tudo, paciente demais mesmo com os sinais de má vontade que vinham continuamente de Roma como as perseguiões a missa de sempre promovida pelo Bispo de Versalhes e de Bourges contra o Padre Lecareux, tirania perante as quais Roma não moveu um dedo.


- Quanto a carta de Ratzinger datada de 1987, esta impunha um cardeal visitador a FSSPX a fim de encontrar uma forma jurídica para a mesma, forma esta que seria baseada no código de direito canônico de 1983. O cardeal ficaria responsável por ordenar os futuros padres formados no seminário da FSSPX. Isso tiraria certa autonomia de Dom Marcel que, apesar disso, aceitou a proposta mostrando sua boa vontade. A carta estipulava que a FSSPX teria o direito de formar seus padres em seu “carisma” como se o trabalho da Fraternidade não se tratasse não da defesa da fé mas dum modelo arcaico de Igreja defendido por costume arraigado. Esse cardeal, além do mais, seria o garantidor da ortodoxia no seminário da FSSPX. Apesar de todas estas limitações Dom Lefebvre aceitou conversar para chegar a um termo. O Cardeal Gagnon foi recebido festivamente na Fraternidade em 1987 e ficou a esperança de que fosse ele o visitador. Isto levou a assinatura do protocolo de acordo em 05/05/88 onde ficava acertada a ordenação do bispo o que levou Dom Marcel a entregar a terna ( três nomes para Bispo). Logo após a assinatura Lefebvre passou a cobrar uma data para a definição do bispo. Mas Roma recusou apresentar o nome em 30 de junho, recusou entre 15 de julho e 15 de setembro alegando ser período de férias, recusou definição para início de novembro e para o Natal! Foi então que Dom Marcel percebeu ter sido enganado. Isso levou-o a decidir pelas consagrações. Lefebvre seguiu apostando paciente numa solução de Roma mas acabou traído apesar de sua boa vontade. Para quem ainda duvida que a hierarquia desejava enganar Dom Marcel basta lembrar do caso do Mosteiro do Barroux no qual o prior recebeu a oferta do Vaticano para que traísse Lefebvre e assinasse o protocolo no lugar dele ainda em 1988. Foi o que foi feito. Todavia o Barroux, que virou Fraternidade São Pedro, nunca recebeu o direito de ter um bispo e acabou vendo Dom Gerard, seu líder, celebrando a Missa de Paulo VI por exigência de Roma; na época do acordo as autoridades romanas davam a entender a Gerard que eles não precisariam reconhecer o Vaticano II e que tudo seguiria como antes mas não foi o que se deu. Quem estava movido de má vontade eram as autoridades romanas e não Dom Marcel.


Isto posto fica provado que Dom Marcel nem foi desobediente, nem rebelde nem desesperado mas fiel, leal e esperançoso. É frustra a acusação do catequista!




terça-feira, 10 de novembro de 2020

Trump não é o anti-sistema: a luta pelo rumo da globalização entre democratas e republicanos!




Trump anti-sistema é a falácia da hora. Vamos ver como ele apenas defende uma realocação dentro do sistema nascido em 1945 para fortalecer o império combalido pela perda de espaço em razão do processo de globalização e não uma refundação das bases que estruturam o mundo desde então. 


1- O sistema que emergiu da vitória aliada na 2GM foi o do Padrão Dólar. Há dois modos de dominar um povo: pelas armas e pelos meios financeiros. Na medida em que o dólar virou o lastro de todas as moedas os USA passaram a governar o mundo de modo sutil mas real. 


2- Deste sistema emergiram instituições como ONU/FMI/BID/CFR/OMC/OIT/OCDE etc. Eles tinham por fim assegurar os direitos humanos - cujo principal fiador era e é os USA via ONU cujo grosso do financiamento vem de Washington -  além do padrão dólar que instituiu mecanismos para um mercado global onde os USA teriam a hegemonia financeira mas abrindo espaço para uma co-hegemonia com Alemanha, França, Reino Unido, Japão e, a partir dos anos 70, China. 


3- Neste desenho a elite americana, europeia, chinesa e japonesa dividiriam o mundo entre si. Só que o pedaço do bolo foi ficando cada vez menor para os USA. Apesar disso Clinton, Bush e Obama não se mexeram por que o capitalismo americano - cada vez mais financeirizado e terceirizado quanto a produção -  parecia ainda bem robusto. Foi a crise de 2008 que acendeu o alerta pois quem forneceu boa parte dos recursos financeiros para os bancos americanos se recuperarem foi a China, detentora de grande parte dos títulos públicos americanos. A China passou a cobrir os défices orçamentários dos EUA. O BC chinês não comprou títulos do Tesouro americano visando a auferir juros. Ele comprou dólares apenas para manter o valor do dólar apreciado em relação ao yuan, para que os americanos pudessem comprar mais produtos dos exportadores chineses. E então utilizou esses dólares para comprar títulos do Tesouro americano.


4- Trump percebendo isso busca virar o jogo e não acabar com ele.  Ele desvaloriza o dólar para enfraquecer a China, aumenta tarifas para cobrir défice comercial, repatriando capital. Só da Apple, Trump repatriou mais de 800 bilhões de dólares. Para que repatriar capital? Simples: para que seja o fluxo de dinheiro no mercado interno e a obtenção de dólares via exportação quem garanta o financiamento do orçamento dos USA que, com isso, reduziria sua dependência da China. 


5- O que dissemos no início? Que se domina um povo pelas armas ou pelas finanças.  A China, ao se tornar a grande financiadora dos USA, passou a pautar, em parte, a política econômica dos EUA. Por outro lado isto era interessante às mega corporações americanas que pagam menos imposto na China (Nos EUA, antes de Trump, pagavam 35 por cento) e menos pela força de trabalho. Donald, então, fez uma reforma tributária para as grandes corporações ( Trump quer manter a hegemonia delas, não é um revolucionário anti-sistema coisa alguma) voltarem a exportar dos EUA em vez de fazerem isso da China. Para isto reduziu as garantias trabalhistas, reduziu impostos sobre bancos e grandes companhias para 21% ( menor taxa dos últimos anos) aumentando a concentração de renda. Isso reforçou sobretudo o setor de Big Techs ( Apple e Microsoft de Gates foram as grande beneficiadas). A reforma de Trump reduziu a progressividade do imposto de renda favorecendo os grandes bilionários além de isenção para heranças.  Não a toa Starbucks, Comcast, Disney Company, JP Morgan, Walmart e Big Techs apoiaram a reforma do presidente. Onde isso é ser anti-sistêmico? Nunca foi nem será. 


6- O FMI passou a temer que isso trouxesse desaceleração do comércio global - se você levanta tarifas a tendência é que todos levantem para se proteger num efeito cascata. Trump quer, com isso, destruir a globalização? Não. Desacelerar é ganhar tempo. Imagine um time que está perdendo um jogo por que o adversário toca rápido a bola. O segredo é cadenciar, reduzir o ritmo da partida para retomar o fôlego e contra-atacar, virando o placar. O que Trump imagina é: os EUA precisam refortalecer seu mercado interno primeiro. Só depois de recuperá-lo é que podemos falar de acelerar o jogo do comércio global. O fechamento do Império traz perdas mas ele tenta, enquanto ganha tempo, compensá-las com governos títeres como o do Brasil de Bolsonaro. 


7- Então que peças do sistema não apoiam Trump? Wall Street e o Global Research apontavam um alto risco para os mercados caso Biden vencesse: 


"Uma vitória dos Democratas pode ameaçar políticas defendidas por Trump e geralmente saudadas por Wall Street, incluindo taxas mais baixas de impostos corporativos e menor regulação, disseram analistas...Uma vitória em potencial de Joe Biden... e, em maior medida, uma 'virada Democrata", geralmente são consideradas resultados mais hostis ao mercado"


https://www.cnnbrasil.com.br/business/2020/06/09/investidor-se-prepara-para-volatilidade-conforme-trump-cai-nas-pesquisas


O que fez Wall Street mudar no fim da eleição se Trump apoiou a retirada da lei Dodd-Frank que impunha restrições a derivativos, criada depois da crise de 2008 como as desregulações dos fundos de pensão como pedia Wall Street? 


Simples: o pessimismo, de setores do mundo financeiro, em uma recuperação econômica dos USA sem um pacote de políticas sociais e sem arrecadação com impostos (lembrem que Trump cortou impostos). Stiglitz e Soros passaram a apostar no discurso de que, com a renúncia fiscal americana, o défice não será coberto e o crescimento impossível num quadro de covid-19 que demandaria política orçamentária e não apenas monetária. Por outro lado o temor de que a globalização sofra ainda mais retrocessos com a pandemia fê-los apostar em Biden que não parece tão disposto a uma guerra comercial. 


Em conclusão: há setores financeiros ao lado de Trump e outros contra Trump, ele não quer o fim da globalização mas o USA com o maior naco da riqueza gerada pela globalização, quer as instituições globais - FMI/FED/OCDE, etc. - seguindo os ditames duma retomada industrial da economia americana e, por isso, menos dedicadas a fomentar abertura comercial , além de suster a politica de baixos juros do governo estadunidense para reassegurar aos EUA o espaço perdido. LOGO, O QUE ESTÁ A ACONTECER É APENAS UMA LUTA INTRASISTÊMICA PELO SENTIDO DA GLOBALIZAÇÃO E NÃO ENTRE O SISTEMA E O ANTI-SISTEMA.  


Abaixo uma MATÉRIA de 2016 do site "Politico Magazine" com o título: "Por que Wall Street está de repente apaixonada por Trump? Não é apenas o retorno de ‘Government Sachs’ na pessoa do novo estrategista da Casa Branca Steve Bannon. Os comerciantes estão pensando que as políticas de Trump podem realmente funcionar - pelo menos para eles".


https://www.politico.com/magazine/story/2016/11/wall-street-donald-trump-2016-214452



segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Manifesto contra a autonomia do Banco Central que fará do Brasil escravo definitivo do mercado financeiro.


 


Nos anos 70 a crise do petróleo desencadeou a subida da dívida externa dos países latino-americanos (inclusive do Brasil). O serviço da dívida (o pagamento dela), então, passou a requerer mais de 80 por cento das nossas exportações impedindo investimentos que resultassem em desenvolvimento. Foi este cenário que fez nosso país virar refém do poder financeiro estadunidense sob a direção do FMI/FED. Exportar a inflação americana para a América Latina via subida dos juros foi mortal pois isso levou-nos a perder a nossa autonomia na execução da política macroeconômica. Porém nada é tão ruim que não possa piorar. A recente notícia de que o BC ganhará autonomia reforça uma tendência histórica na direção dum projeto americano e neoliberal de destruição de nossa soberania que vem sendo posto em prática mais decisivamente desde os anos 1980.


Na década de 80 a América Latina e o Brasil passaria, em vista do contexto acima referido a ser um exportador líquido de recursos à media anual de 5% de seu PIB! FMI/FED resolveram na época que cabia ao Brasil e países latino-americanos buscar, por conta própria, soluções que resolvessem o problema orçamentário o que passaria a envolver a contração das importações mais que expansão das exportações. Isso levou a uma expropriação de 195 bilhões de dólares da América Latina por parte dos bancos americanos, o dobro do valor que os EUA destinou ao Plano Marshall! O governo brasileiro teve que se virar aumentando a receita tributária, pegando crédito interno a curto prazo e a taxas de juros altas. Na época o Plano Baker, do tesouro americano, previu, até, que o Brasil pagasse a sua dívida com ações de suas empresas! Com o Plano Brady os EUA passam a acenar para renegociação da dívida desde que os países da América Latina abram suas economias: isso aponta para o fato de que a abertura neoliberal no Brasil se deveu mais a chantagem norte-americana que aos méritos da teoria neoliberal. Só para termos uma ideia isso levou a uma redução de nosso saldo comercial com os USA que saiu dos 3.6 bilhões de dólares para cerca de 1.5 bilhões de dólares. Tudo isto aplainou o caminho para o Consenso de Washington ( Baseado em 10 pontos: Disciplina fiscal, reforma tributária, liberalização financeira, desregulação, privatizações, etc.) que passou a servir de modelo de modernização imposto sobre as costas dos países da América Latina e que convergem para dois lados: a redução drástica do Estado e a corrosão do conceito de Nação. Nessa abordagem só resta o modelo ortodoxo de Estado reduzido à função de manutenção da lei e ordem que emergiria da soberania absoluta do mercado que nem a Inglaterra – pátria de Adam Smith que preconizava o Laissez Faire – nem os EUA jamais praticaram pois nestes países de capitalismo avançado se destacam as grandes corporações dirigidas por executivos e não mais por seus proprietários, empresas socializadas e oligopolísticas, num quadro de competição imperfeita onde preços são administrados a salvo das incertezas da lei de oferta e procura, economias onde o Estado exerce atividade de regulador da atividade econômica para garantir o pleno emprego, o consumo de massa e o desenvolvimento.


A panaceia neoliberal vem acompanhada do discurso de que monopólios estatais são ineficazes mas ele não leva em conta que aqui no Brasil e no resto da América Latina, a gestão delas foi sacrificada pela contenção dos preços públicos em função dum combate equivocado a inflação que acabou refletindo no orçamento dos governos. Na maior parte dos casos a privatização vira desnacionalização como no caso das Aerolíneas Argentinas que passaram para o controle da Ibéria, empresa da Espanha. Como dizia Foster Dulles, secretário de estado do governo Eisenhower: “há duas maneiras de conquistas um povo, uma é pela força das armas, outra por meios financeiros”. Foi exatamente pela segunda maneira que os USA/Mercado Financeiro capturou o Brasil ao conseguir que, no governo Collor, o país se dobrasse às demandas neoliberais que exigem abertura completa ao capital especulativo. Os USA, ao contrário, controlam, por exemplo, o investimento estrangeiro em seu território como o investimento das empresas americanas no exterior podendo exigir aumento de remessas de dividendos de suas multinacionais para repatriar capital isso por que as multinacionais americanas não tem só papel comercial mas também como instrumentos da politica externa de Washington. A decolagem do Consenso de Washington com Collor levou o mesmo a negociar bilateralmente com os USA forçando o Brasil a rever sua lei de propriedade industrial, lei de informática, etc., exigindo aprovação do congresso nacional nessas matérias. Com a nomeação de Marcílio Marques Moreira, homem da comunidade financeira internacional, Collor renunciou ao papel de dirigir a economia nacional dando aos credores o poder de definir os rumos do país. De lá para cá tivemos FHC criando o plano real num quadro de monetarismo onde a estabilidade da moeda é posta acima do pressuposto do desenvolvimento nacional criando as condições para a contração da demanda, as privatizações e a consequente redução do papel macroeconômico do Estado que foi o receituário seguido pelo governo Lula graças a presença de Henrique Meirelles no BC, pelo governo Dilma via Joaquim Levy na economia e agora pelo governo Bolsonaro através de Paulo Guedes, super ministro da economia.


Com a autonomia do BC se fecha um ciclo iniciado pelo Consenso de Washington. O mercado tenta fazer valer a proposta sob a alegação de que ela visa blindar a instituição de “interferências políticas” como se estas fossem negativas. Decerto para os investidores, cujo interesse máximo é especular sem o risco de desvalorização da moeda, a interferência política no BC é extremamente negativa. Interferência política consiste em que o presidente tenha a autonomia para definir nossa política monetária em razão de nossas necessidades de crescimento. A panaceia é apresentada como saída para a questão fiscal, ou seja, para os neoliberais de plantão o país não existe mas tão só os investidores. Apesar dos especialistas do mercado financeiro apontarem a autonomia do BC como solução para atrair investimentos e gerar crescimento os mesmos especialistas insistem que “só isso não basta, precisa passar todas as reformas” numa clara tentativa de chantagear a sociedade brasileira a aceitar toda a agenda de destruição da soberania nacional. A pergunta que fica é que crescimento a reforma trabalhista e previdenciária proporcionaram, apontadas como soluções pelo mercado na época em que eram debatidas, trouxeram ao país? O que tivemos foi o crescimento do desemprego. Levando em conta as necessidades de retomada geradas pelo quadro da Covid-19 e duma política orçamentária condizente com elas, implantar a autonomia do BC fará de nosso país não mais um refém do sistema financeiro mas um escravo sem nenhuma perspectiva de uma futura alforria. Diga não a autonomia do BC!


Encaminhe este artigo no formato de envio de mensagem/formulário ao Senado Federal para evitar a escravidão do nosso povo aos banqueiros internacionais por este link: https://www12.senado.leg.br/institucional/falecomosenado


Professor Rafael Gonçalves de Queiroz, membro fundador da Legião da Santa Cruz, a iniciativa de nacionalismo católico na Terra de Santa Cruz.