O Brasil vive um caos político, moral, social, econômico poucas vezes vista em toda a sua história. Tomado por gangues políticas da pior espécie, o país sangra sob sua batuta, somada a desinformação gerada pela grande mídia que não quer que a população acorde e se una.
A greve recente dos caminhoneiros é um momento importante para fazer uma análise geral do que está acontecendo com nosso país. No entanto, nos meios católicos, vige uma espécie de criticismo de origem claramente midiática contra a greve, vista por alguns elementos como agenda petista ou como mero egoísmo de classe dos motoristas.
Este criticismo fica bem patente numa fala recente do professor Carlos Nougué que disse:
O referido professor repete a lenga lenga jornalística de que tal greve seria responsável pelo caos mas, ora, o caos é anterior a mesma: 13 milhões de desempregados, violência urbana a níveis estratosféricos, trabalhadores que estão deixando de comprar o essencial para sobreviver com menos que o básico, indústrias paradas, lojas falidas, etc. Os caminhoneiros não visam o desabastecimento mas uma melhora do preço do diesel para desestrangular nossos transportes. De facto: não se pode fazer omeletes sem quebrar ovos. Que Nougué mostre- nos qual a façanha capaz de dar origem a uma omelete sem que se faça isso! Nougué inverte a realidade ao dizer que efeitos de uma crise geral são meios visados conscientemente. Inverte ainda mais quando fala de "país ainda mais falido" quando ignora que sem custeio de combustível e energia podemos parar. O país não pode se limitar a pagar dívidas: deve estimular crescimento ainda que o governo só possa fazer isso timidamente, é preciso voltar a investir, e a desoneração do diesel passa por isso; sem investimentos é que o pagamento da dívida ficará impossível. Há um caso recente que mostra que, sem subsídio a combustível, não há crescimento! A Malásia, que passou a subsidiar 30% da gasolina e do diesel, puxou seu recente crescimento assim. Nos últimos dois anos isso trouxe aumento dos gastos públicos mas, por outro lado, ajudou o país a reduzir sua dívida pública em dois bilhões ( https://pt.tradingeconomics.com/malaysia/government-debt-to-gdp) . Segundo o diretor da UHY, Eric Waidergorn, em pesquisa recente, “enquanto o governo da Malásia perde uma grande quantidade de dinheiro por ter um subsídio aos combustíveis, ele argumenta que faz tal contribuição para ajudar no crescimento do PIB do e que está disposto a aceitar a perda. Isso poderia ser um estímulo para o pensamento do governo brasileiro“. O preço dos combustíveis influencia diretamente o custo dos bens de consumo e alimentos no Brasil, uma vez que 60% da produção industrial nacional é transportada por rodovias.
Mesmo que a gestão da dívida seja posta em primeiro plano há que dizer que o Brasil só retomará investimentos puxando a produção. E isso só com subsídio do Estado, já ensinava Keynes. Numa crise as forças de mercado tendem a estagnar a economia. Isso é facto histórico indiscutível. Com uma economia parada é que ninguém paga dívida nenhuma. A leitura dos factos é uma só: de um lado há quem defenda o neoliberalismo de Temer e seus preços flutuantes e doutro há quem queira a retomada do papel indutor do estado na economia, subsidiando uma área estratégica - dos transportes - levando o país a sair aos poucos da lógica perversa em que foi lançado a dois anos - sem nenhum resultado consistente na geração de empregos. A opção é entre ficar refém da dívida ou tentar ajustar aqui e ali para puxar a produção.
Sobre tal situação consideramos que a fala do amigo Lucas Muniz Hadade foi a melhor leitura do que está acontecendo agora:
"Empresariado nacional e trabalhadores brasileiros VS Burocratas vendidos e especuladores internacionais
A greve dos caminhoneiros tem, obviamente, a articulação e o apoio das transportadoras, do patronato - por isso é tão eficiente. Tudo isso mostra que a cooperação entre classes é muito mais forte e intimidadora aos burocratas e especuladores internacionais que a "luta de classes" - não à toa essa última sempre foi fomentada pelo grande capital especulativo, vide a história das revoluções.
De um lado está a força produtiva nacional (transportadoras e caminhoneiros); do outro estão os burocratas e especuladores internacionais (políticos financiados por carteis bancários, agentes da usura que ganham dinheiro com juros e também precificando moedas e ações, gente que nada produz). Uns querem nossa petrolífera servindo a quem produz, a quem usa dos insumos produzidos para agregar valor transportando bens e prestando serviços; outros querem apenas o produto sendo vendido a preço de mercado internacional para que possam tirar dividendos de negociatas.
A grande mídia, em especial a Globo, já divulgou uma notícia falsa que houve acordo, quando não houve. Já há colunistas criticando a participação da classe patronal chamando tudo de "locaute". Pois eu digo que o empresariado brasileiro do setor de transporte e seus funcionários estão de parabéns por darem aula do que a cooperação entre classes pode fazer.
Escolham seus lados."
Alguns católicos que fizeram críticas a esta greve devem lembrar do Solidariedade da Polônia que em 1989 parou o país por meses, fechando inclusive linhas férreas, montando milícias operárias e tudo com apoio de João Paulo II. O governo ficou tão desesperado que teve cortar as linhas telefônicas para impedir a articulação. Devem lembrar também dos Cristeros que, sob a liderança do padre Vega, mataram 51 civis dum comboio do governo; devem se lembrar de Victoriano Ramirez, um dos chefes Cristeros, que matou 14 sujeitos que haviam sido contratados para matá-lo. A brigada Cristera de Zapopan roubava armas, provisões e dinheiro para suster a frente de batalha. Assim como não há maquiavelismo algum aí, não teve maquiavelismo algum na greve dos caminhoneiros. Eles deixaram passar caminhão que visava forças armadas, hospitais e serviços essenciais. A pauta do diesel - pouco interessa agora se ela de início foi uma pauta só de uma classe ou não - mostrou sua capacidade de unir pessoas de diversas classes numa unidade nacional contra três inimigos: o governo Temer, o legado petista e o globalismo financeiro. Evidente que a mídia não poderia deixar isto acontecer. Ela precisava inventar que agora vai faltar comida - como se estivéssemos comprando tudo a preço baixo e como se todo mundo não tenha deixado de comprar muita coisa nestes últimos anos - e que o caos se instalará como se 13 milhões de desempregados já não fosse o caos. Infelizmente - aí sim infelizmente - muitos católicos se deixaram levar por este discurso mentiroso e farsesco da mídia.
O advogado Roberto Cavalcanti, deu, a nosso ver a melhor caracterização deste cenário midiático:
"Na mídia corporativa entra em cena o ingrediente emocional: falta de medicamentos, carências nos hospitais, tudo, enfim, por causa do movimento dos caminhoneiros. Porém, nada disso é novidade na estrutura da saúde pública de nosso país. Eu reforço, então, com um solene "CENSURADO"! O movimento deve continuar a estrangular a população, conduzindo-a não contra o caminhoneiro, mas contra o verdadeiro inimigo: o Governo Federal. Deve ser declarada GUERRA TOTAL ao Governo Federal, e em todo tipo de GUERRA o elemento "SACRIFÍCIO" é FUNDAMENTAL. Em toda GUERRA há baixas, e essa GUERRA é legítima! Este sacrifício, aliás, nos ELEVA como seres humanos. A cultura de paz, que é o que a Rede Globo mais quer, nos torna passivos e auto-suficientes. A cultura de guerra fomenta um comportamento ativo e solidário entre membros de um mesmo povo, a ponto de nos vermos como elos de uma mesma cadeia."
Senhor Nougué! Não é maquiavelismo! É sacrifício em prol dum bem maior.
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