Uma das marcas da dialética hegeliana é a justaposição dos opostos: na filosofia metafísica clássica, o um é sempre um e o dois sempre dois; na dialética hegeliana não: o um pode virar dois e o dois um tudo a depender do processo histórico, que é o que faz as coisas "serem" o que são; no entanto, não se enganem: o ser, na visão hegeliana, não passa de uma estabilização momentânea a espera da próxima etapa onde o mesmo deixará de ser o que é; em suma tudo é devir, nada é. Por isso tal dialética pode ser considerada como a expressão filosófica da torre de Babel, onde as línguas foram confundidas e ninguém mais se entendia.
Que marxistas usem a dilética hegeliana não espanta: Marx deu a ela uma forma materialista. Faz parte da tradição marxista - seja de que viés for - o uso largo da mesma.
O que espanta mesmo é ver alguém como Olavo, que diz lutar contra a esquerda socialista-marxista, fazer uso dela. Mentira? Nada disso: a mais pura verdade. Leiam:
Vamos analisar algumas frases:
"Defendo as idéias conservadoras porque elas foram excluídas da sociedade e elas são tão necessárias quanto quaisquer outras idéias".
As palavras são suficientes: o que Olavo diz é que idéias conservadoras, liberais, marxistas, etc, são absolutamente necessárias; o que Olavo advoga é o pluralismo ideológico puro e simples, como todo bom liberal faria. E como todo bom marxista também: afinal é preciso que existam idéias contrastantes para que exista luta cultural, política, social, ideológica, e daí, se extraia o progresso dos tempos. Em suma: Olavo diz que não importa se as idéias conservadoras são idéias verdadeiras mas se são úteis politicamente. Além de pluralista, Olavo é pragmatista, o que quer dizer imanentista, o que significa que recai na condenação da Pascendi e, por tabela, em heresia.
"O Brasil precisa de uma corrente política conservadora forte e atuante, para contrabalançar quatro ou cinco décadas de comunismo x tucanismo."
Basta isso: para Olavo basta que o conservadorismo seja o contrapeso. Espanta que ao mesmo tempo ele diga que é preciso banir o comunismo? Só espanta a quem jamais leu Hegel. Para quem leu, entender isso é simples: Olavo fala a vários públicos. O primeiro precisa de palavras de ordem, convocações bélicas e mandamentos absolutos. O segundo, formado por um círculo mais interno de alunos do cof, recebem uma instrução mais precisa: " é o seguinte vamos combater o comunismo mas não é para acabar com ele...é só para abrir espaço...no fundo precisamos do contrapeso, do embate de idéias".
Como explicar isso senão pela simpatia que Olavo tem pela democracia liberal? E como explicar tal simpatia senão pelo fato de que todo maçom defende a mesma porque ela dá às lojas possibilidades de ação na sociedade através das liberdades que elas proporcionam? E o que a atual democracia senão o espaço da luta ideológica total?
Olavo mesmo já admitiu - várias vezes - que o importante não é a unidade doutrinal mas sim a abertura de espírito à "totalidade da realidade", que insistir nisso é desnecessário. Para ele são os símbolos, e não os dogmas, as vias do saber. Nada, portanto, de doutrinas sistemáticas. Nem mesmo no campo político.
Quem sempre combateu a idéia de unidade doutrinal senão a maçonaria? Não é típico da mesma estimular a divisão doutrinal? Quem diz isso? Olavo mesmo diz:
"uma sociedade iniciática, qualquer que seja, não tem necessidade de controlar as opiniões de seus membros, já que tem pleno domínio, sobre seu imaginário. Na verdade quanto mais a liberdade de crença vigore ali dentro, quanto mais frouxa e menos dogmática for a doutrina da organização, mais eficaz será esse controle, que tem todas as vantagens em permanecer implícito. Uma organização que timbre em defender um dogma explícito não em outro remédio senão explicitá-lo...a partir desse instante tornam-se objetos de raciocínio, de assentimento ou discordância intelectual, de crítica... Ao contrário de todas as organizações dogmáticas, as sociedades secretas, pela dialética de sua busca de sobrevivência, alimentam as dissidências e as cisões; pois cisão aí, significa automaticamente isolamento e isolamento significa imposibilidade de um confronto direto"-In: Olavo de Carvalho. Jardim das Aflições. Páginas 241-242. Segunda edição, revista, 2004.
Lendo isso cabe perguntar: Olavo não insiste numa assistematicidade da filosofia? Olavo não insiste no cof sobre a formação do imaginário através, exclusivamente, da literatura que ele indica?
O que ele está a fazer senão impor, por vias implícitas, seu controle sobre o imaginário do alunado sem dar ao mesmo uma filosofia sistemática e dogmática que possa ser objeto de análise?
E qual seu objetivo em termos políticos, quando estimula uma corrente conservadora, senão o mesmo controle do imaginário, sem que seja necessário eliminar as idéias "adversárias", abrindo espaço para o exercício desse poder implícito ? Ou seja o que Olavo advoga para a sociedade é o mesmo que se faz no interior da maçonaria e a mesmíssima coisa que ela faz nas suas ações dentro da sociedade civil.
A estratégia de Olavo não passa de modus operandi maçônico.
"Se não elevarmos o patamar de consciência intelectual deste país, o de consciência moral vai permanecer abaixo da linha de pobreza. A moral não existe no ar, solta e independente. Vem com a CULTURA e é parte dela."
Não sr. Olavo: consciência moral não depende - necessaraimente - de elevada consciência intelectual. Fosse isso Satã não seria mau já que se destaca pela grandíssima inteligência. Dizer que uma depende de outra - rigorosamente - seria colocar abaixo toda a teologia moral de Santo Agostinho e da Igreja que admite o pecado de malícia - que é querer o mal sabendo que é o mal. A maior prova de que inteligência não traz, necessariamente, moralidade, são cafajestes como o sr.
Em tempo: o que Olavo quer é criar uma casta intelectual sob seu controle; como quem determina a moral determina as ações da sociedade e das pessoas, tal casta terá poder absoluto, ou melhor o seu "pai-guru" terá poder absoluto. O que está por trás disso tudo é a tentativa de construir uma nova "casta sacerdotal"( uma elite intelectual portadora da tradição primeva que é nada mais que o perenalismo) no sentido que Guenón dava a isso: casta que estará a serviço do sr. Olavo.
Imaginação nossa? Não: Olavo mesmo não disse que se soubessem o que ele deseja o considerariam megalomaníaco???
Cremos que, com tudo que viemos expondo aqui esse ano, passo a passo, e ao que outros também expuseram - destaco aqui o papel do blog prometeo liberto - fica claro o seguinte:
1- A forma mentis e o modus operandi de Olavo é perenialista/maçônica.
2- Que Olavo vem, pouco a pouco, ensinando e aplicando princípios maçônicos que orientam a teoria e a prática de seus alunos.
3- Que, assim sendo, seus alunos, cônscios ou não, promovem, destarte, a maçonaria e um iniciado que está a serviço do Grande Oriente.
Partindo daí podemos dizer que:
A- Olavo está excomungado ipso facto.
B- Os alunos que, tendo tomado ciência de tudo isso, continuam a segui-lo, promovendo-o direta ou indiretamente, mesmo que seja apenas pagando a taxa do cof, também estão excomungados ipso facto.
E por que dizemos isso? Por que a Igreja Católica considera motivo de excomunhão quem quer que se aliste na maçonaria como quem quer que a ajude ou promova de algum modo.
Quem tiver olhos que veja.
Para quem ainda duvida da ligação estreitíssima de Olavo - a ponto de defender o caráter cristão da mesma - com a maçonaria e seus objetivos, reproduzo aqui um artigo publicado por Mirian Macedo, ex aluna do mesmo.
O link é este: http://blogdemirianmacedo.blogspot.com.br/2014/06/recordar-e-viver-e-maconaria-olavo-de.html
"sexta-feira, 20 de junho de 2014
Recordar é viver: e a maçonaria, Olavo de Carvalho?
Mírian Macedo: "Citando René Guénon, o senhor defendeu a união da maçonaria com o cristianismo. E pode?!"
Olavo de Carvalho: "Parece que houve aí uma divisão de trabalho: a maçonaria ficou com os Pequenos Mistérios e a Igreja com os Grandes Mistérios. Não é preciso dizer que este simples fato é causa de inumeráveis desequilíbrios. Enquanto estas duas ordens de conhecimento não forem de novo articuladas, a unidade espiritual do Ocidente não será reconquistada."
Íntegra da resposta de Olavo de Carvalho*: "Este problema que você coloca é dos mais cabeludos. Eu dificilmente poderia explicá-lo aqui. Mas é preciso considerar que a maçonaria tal como a conhecemos hoje se origina no século XVIII, a partir da unificação de antigas iniciações de ofícios, sobretudo dos construtores medievais que, durante mil anos, tinha funcionado perfeitamente bem dentro do contexto cristão sem nenhum problema.
A encrenca começa a partir do momento em que, dentro da própria maçonaria, começam a surgir outras sociedades, estas sim verdadeiramente secretas, que se apossam de áreas inteiras com o objetivo de transformar a maçonaria em instrumento da revolução.
Isto é muito bem explicado num livro já clássico, de um mestre maçom chamado John Robinson, intitulado Proof of Conspiracy. O livro saiu no começo da história republicana aqui nos Estados Unidos.
Evidentemente, foi bastante lido pelos maçons da época, inclusive o presidente George Washington, que, vendo a penetração destas idéias revolucionárias na maçonaria, confirmou que aquilo existia e disse: "Eu espero que isto não se propague aqui nos Estados Unidos (pois isto estava acontecendo na Europa, principalmente na França).
Quando se fala de maçonaria, não se pode falar de um negócio assim em bloco, porque existem camadas e camadas de complexidade aí. Mas, em todo caso, o fato da maçonaria originar-se nestas comunidades de ofício mostra que ela não tem originariamente uma inspiração anti-cristã.
Por outro lado, estas comunidades legaram à maçonaria inumeráveis conhecimentos, sobretudo sobre a constituição da ordem política, da ordem do Estado. E estes conhecimentos são realmente importantes para a administração do mundo.
Como havia aquela distinção dos Pequenos Mistérios e Grandes Mistérios (Pequenos Mistérios são aqueles que se referem aos conhecimentos de ordem cosmológica, ordem do mundo, constituição do mundo, inclusive do mundo histórico, social, político; e por outro lado, os Grandes Mistérios, que se referem à ordem puramente espiritual, da imortalidade da alma, Deus etc), parece que houve aí uma divisão de trabalho: a maçonaria ficou com os Pequenos Mistérios e a Igreja com os Grandes Mistérios.
Não é preciso dizer que este simples fato é causa de inumeráveis desequilíbrios. Enquanto estas duas ordens de conhecimento não forem de novo articuladas, a unidade espiritual do Ocidente não será reconquistada.
Pior ainda: à medida que o tempo passa, aparecem sociedades secretas dentro de sociedades secretas, conspirações dentro de conspirações, tornando tudo uma bagunça monumental.
É evidente que as conspirações existem, mas também é tolo imaginar, como faz este senhor Armindo Abreu, que certas sociedades secretas são controladoras do mundo.
Ninguém controla o mundo, o pessoal disputa poder e faz confusão.
Pior ainda, quando os elementos causadores de uma situação contêm um forte elemento secreto, é muito difícil entender até historicamente o que aconteceu. A história do mundo, além de tornar-se extremamente violenta, ainda tem a questão de que ninguém sabe quem fez o quê. A prevalência do segredo como elemento histórico importante é um dado do século XX."
*PS: . Olavo de Carvalho respondeu às minhas perguntas no dia 12/02/2007 (a resposta está no link, a partir de 13 min20seg até 20min36seg. O email (abaixo) foi enviado ao programa True Outspeak. http://www.olavodecarvalho.org/midia/070212true.html
"Professor Olavo, como vai?
Sou Mírian Macedo, de São Paulo. Tenho acompanhado a sua participação no podcast de Yuri Vieira e ouvido seu programa de rádio True Outspeak. Brilhantes, parabéns. Eles têm sido muito esclarecedores para mim, mas, por outro lado, também me confundiram, principalmente no que se refere à união da maçonaria com o cristianismo. E pode?!
A propósito: não entendo de profundidades filosóficas, sou só uma esforçada e curiosa ex-jornalista e rainha do lar que tem o vício de gostar de assuntos de que nada entende e que são, em geral, difíceis e complicados. Fazer o quê?
Na conversa com Yuri, o senhor, citando René Guenón, defendeu a união da maçonaria com o cristianismo como única saída para o furdunço em que está transformado o mundo. O professor falou em maçonaria anti-cristã e maçonaria pró-cristã. O que seria uma e outra?
E esta última, é um clube de bondades e bons propósitos, uma entidade de princípios éticos, dedicada ao culto da fraternidade, respeitosa de todas as religiões e do Deus de cada uma? E como fica a encíclica Humanus Genus e o documento que a ratifica, escrita pelo cardeal Ratzinger em 83?
Outra coisa: falar em mistérios, mesmo que sejam pequenos mistérios, não é contrariar o próprio Senhor Jesus Cristo, que mandou gritar sobre os telhados o que se ouvisse na surdina, garantindo que nada havia para ser ocultado?
A tese de que todas as religiões (inclusive o cristianismo) têm sua gnose é cara a muitos estudiosos do assunto, como é o caso do romeno Mircea Eliade. Ele cita, em defesa de sua idéia, o Evangelho de Mateus, as obras de Orígenes e Clemente de Alexandria e a carta aos Efésios, de São Paulo.
Segundo ele, a hierarquia eclesiástica da Igreja dos primeiros tempos combateu a gnose e o esoterismo pelo temor de que certos gnósticos pudessem introduzir no cristianimso doutrinas e práticas radicalmente opostas ao éthos do Evangelho. Eliade afirma:
- Não era o " esoterismo" e a "gnose" como tais que se revelaram perigosos, mas as "heresias" que se infiltravam sob o manto do "segredo iniciatório".
Vale lembrar: Eliade faz a ressalva de que, no caso do cristianismo, a existência de um ensinamento esotérico praticado por Jesus e continuado pelos seus discípulos é negada pelos Padres da Igreja e historiadores antigos e modernos.
E, de volta à questão: não é heresia negar as próprias palavras de Jesus Cristo de que não existe nada secreto?
Um abraço.
Mírian Macedo
São Paulo,capital"
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