sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

O mistério do Natal: Por que foi o Filho que se fez homem e não o Pai ou o Espírito Santo?

Por que foi o Filho que se fez homem e não o Pai ou o Espírito Santo?








Chegados ao Natal celebramos, por mais um ano, o nascimento do Verbo de Deus entre nós. “Um salvador nasceu para vós em Belém que é Cristo Senhor”, é o anúncio da legião angélica. O significado disto é imenso mas tem passado ao longe das preocupações de uma sociedade cada mais materialista e pouco preocupada com o sentido profundo do nascimento de Nosso Senhor

Aquele que nasceu em Belém não foi um mero sábio, profeta ou médium – como querem algumas falsas doutrinas – mas Deus mesmo. Esta é a boa nova: Ele veio nos visitar tomando a forma de uma criança. Esta é a doutrina basilar do Natal: Deus se fez homem em Cristo. Compenetremo-nos desta verdade e veremos como ela é altíssima e sobrenaturalíssima na medida em que indica que O ETERNO não está longe de nós mas se fez igual a nós – exceto no pecado.

Sobre tal verdade meditemos primeiro que, aqueles que receberam Jesus no estábulo, não foram os cidadãos de destaque, a elite social ou intelectual, os ricos da nação de Israel da época, tampouco as autoridades políticas judaicas ou romanas, o que significa que Jesus não veio conforme os padrões do reino deste século. Em segundo lugar meditemos que o menino e sua mãe não encontraram lugar nas pousadas da cidade mas encontraram acolhida junto aos animais - a criação rende louvar a seu Deus - e aos simples pastores, símbolo dos pobres do Pai, dos humildes, daqueles que tem o espírito aberto ao Verbo Eterno e que, longe da corrupção do mundo buscam o Pai no silêncio, na oração e na humildade. Em terceiro lugar meditemos que ele nasce longe da cidade - que estava corroída por impiedade e ambição desmedida - e é acolhido e adorado pelos reis magos, príncipes sábios do Oriente que vendo a estrela reconheceram ali o verdadeiro Deus; sendo reis adoraram o verdadeiro regente do cosmos: os reis da terra adoram o rei dó céu. Trouxeram-no mirra, ouro e incenso por que Cristo é o homem das dores, é rei e é Deus. Mirra para preparar seu corpo para a sepultura depois da sua paixão e morte; ouro para sua coroa régia como soberano do Universo; incenso como sinal de adoração ao Filho do Pai, igual ao Pai, consubstancial a Deus.

Perante tal realidade mística a razão, iluminada desde o alto pela fé, pergunta-se: Por que foi o Filho que encarnou e não o Pai ou o Espírito Santo? Por que convinha mais ao Filho a encarnação que às outras pessoas da Trindade? O Doutor Angélico é quem nos responde na Suma Teológica em seu tomo 15, questão 3, artigo oitavo.

Como de Costume Santo Tomás elenca as objeções à conveniência da encarnação do Filho, que ele reduz às seguintes:

1- Cristo veio ao mundo para dar aos homens o verdadeiro conhecimento de Deus o que, segundo alguns, conviria mais ao Pai dado que há aqueles que não distinguem, no Filho, a mesma natureza do Pai, fixando-se só em sua natureza humana. Ainda segundo estes, seria mais conveniente que o Pai tivesse encarnado pois isso teria evitado a heresia de Ário que, baseando-se num entendimento errado da frase de Cristo: “ o Pai é maior que eu”( quanto a sua natureza humana), negou sua divindade. Para evitar tal escolho parece que teria sido melhor o Pai se encarnar e não o Filho.

2- O efeito da encarnação é a “recriação”, pela graça, da natureza do homem. Ora, o ofício de criar é mais do Pai que do Filho; logo, seria mais condizente a encarnação do Pai que do Filho.

3-A encarnação se ordena à remissão dos pecados: “Seu nome será Jesus, o salvador; pois ele salvará o povo de seus pecados” (Mateus 1, 21). A escritura atesta que a remissão dos pecados é atribuída ao Espírito Santo ( João 20,22). Sendo assim convinha mais a encarnação do Espírito Santo que a do Filho.


Em resposta a tais argumentos Tomás diz que:

Contra isto diz São João Damasceno que “a encarnação manifestou a sabedoria e virtude de Deus; a sabedoria pois nos foi revelado o segredo de como pagar uma dívida difícil; a virtude pois, o que foi vencido, se fez novamente vencedor”.

Em resposta a objeção 1, o Doutor Angélico nos diz que era mais conveniente o Filho encarnar pois mais semelhante a nós já que ele é o conceito – Verbo – de toda a criação. O Pai criou olhando o Filho e modelou as coisas conforme a imagem d'Ele; cada criatura foi feita com base em uma perfeição que o Pai viu no Filho. Como toda a criatura existe como reflexo do Cristo convinha que nossa natureza fosse remodelada – depois do pecado – pelo seu modelo eterno, perfeito e imutável: Jesus Cristo. Assim, o Verbo é a sabedoria eterna, base e fundamento de todo verdadeiro saber humano. O homem se aperfeiçoa na sabedoria pois é alma racional, desde que participe da vida do Filho. 

Em resposta a objeção 2, Tomás explica que convinha mais ao Filho que ao Pai a encarnação pois nos tornamos predestinados a vida eterna como herdeiros do Pai e, para sermos herdeiros, temos que ser filhos e, para sermos filhos, temos que ser irmãos de Jesus, o filho natural de Deus. Por ele somos adotados pelo Pai. Em Romanos 8, 29 São Paulo deixa claro que fomos recriados conforme a Imagem Perfeita de Jesus por sermos filhos adotivos.

Em resposta a objeção 3 ele nos explica que convinha mais a Jesus – que é a Sabedoria do Pai – encarnar-se que ao Espírito Santo, pois ele veio para remediar o pecado que fora resultado do desejo desordenado pela ciência. O desejo incontido do homem de conhecer o bem e o mal, além dos limites impostos por Deus, precisava ser curado pela Verdadeira Sabedoria: Cristo que é a ciência do Pai veio ensinar aos homens o verdadeiro conhecimento, no lugar do falso ensinada pelo Diabo a Adão e Eva e seus descendentes.

Que neste natal Cristo, o Verbo, nos faça conhecer o Pai.




Professor Rafael G. de Queiroz. 

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