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O governo Bolsonaro - talvez o mais identificado com os EUA, na história do Brasil - representa a entrada definitiva do país no esfera da ideologia da grande Babilônia moderna |
Há
uma verdadeira tara por parte dos “conservadores” brasileiros em
torno dos EUA e de símbolos como a data de sua independência – o
infausto 4 de Julho - que torna deveras contraditória a posição
conservantista dos mesmos, afinal, a idéia por trás dela é a de
que o “conservadorismo” seria a ideologia perfeita para garantir,
dentro da vida social, a prevalência de certos costumes morais e
religiosos contra a degeneração da new left, ou nova esquerda, a
mesma que defende direitos lgbt, feminismo, laicismo, cotismo,
relativismo moral, etc. O americanismo dos “conservadores”
brasileiros é uma posição esquizóide pois postula “conservar”
uma tradição – a dos EUA - estranha à sua própria nação. O
que esperar, normalmente, de conservadores senão que conservem a
própria forma de viver, ser, pensar? Todavia aqui no Brasil a atual
onda de “conservadorismo” é um fato sui generis, único na
história e no mundo: é a primeira que visa , não a sua identidade
mas a dos outros, o que prova que o Brasil caminha – infelizmente –
para deixar de ser um país normal. Não custa lembrar que o culpado
mor deste processo de deformação moral, que acontece agora aqui, é
o senhor Olavo de Carvalho. O velho guru acostumou o seu público
cativo a acreditar em três coisas:
1-
Os EUA são a nação mais cristã da história;
2- A
independência dos EUA não foi uma revolução mas uma
contra-revolução (um oposto, portanto, da revolução francesa, que seria aí o símbolo mor das revoluções) e portanto o antídoto para todas as
revoluções.
3- O
Brasil deve adotar o modelo social americano para evitar o comunismo
e virar uma civilização.
Primeiro
é preciso que se diga que os EUA não são a maior nação cristã
da História mas a maior nação protestante da História. Alguns vão
objetar que “protestantes são cristãos”, o que não deixa de
ser verdade mas uma verdade fraturada pois eles só são cristãos
pela metade. O ato fundador dos EUA, como modelo de sociedade, foi a
chegada do Navio Mayflower em 1620, época das 13 colônias. Em que
consistiu este fato senão na idéia de que aquela nova terra era uma
terra de liberdade onde todas as profissões de fé, modos de ser,
variedades de costumes, poderiam florescer sem a interferência do
poder do rei da Inglaterra que impunha uma religião oficial aos
súditos, opondo à liberdade, uma autoridade absoluta? Os
calvinistas do Mayflower só queriam um lugar onde pudessem adorar a
Deus do seu modo, com liberdade. A lógica por trás da colonização
começada em 1620, de forma espontânea sem a interferência inglesa,
era a de que se você era um calvinista que fosse para uma colônia puritana, se fosse quaker que fosse para uma colônia quaker, se
fosse batista que fosse para uma colônia batista. Havia tantas
colônias e vilas quanto o número de cabeças e de
filosofias/religiões. O que estava em jogo ali não era assegurar a
reconstrução da sociedade católica destroçada pelos reis
anglicanos da Inglaterra. Se 1620 significasse um êxodo dos
perseguidos pelo rei para refazer a cidade católica que fora a
glória e salvação da Inglaterra anterior ao ato de supremacia de
Henrique VIII, em 1532 , aí a história americana seria uma
epopéia digna de ser louvada e cantada pelos séculos. Entretanto as 13 colônias foram a vitória da renascença pagã
no mundo cristão protestante – e nada mais anticristão que o renascimento e seu culto da liberdade de pensamento, ou seja, da
liberdade de renunciar aos dogmas da fé. As 13 colônias eram um
“paraíso” anárquico onde a liberdade de pensamento renascentista, na forma de liberdade religiosa, finalmente podia
florescer, longe do poder autocrático dos monarcas absolutos –
preocupados em manter alguma unidade de pensamento em seus domínios, alguma unidade moral/religiosa.
Segundo
que, por tudo isto, a Independência dos EUA, iniciada em 1776, foi
apenas um capítulo dum longo processo de maturação duma nova
sociedade que nascia, não baseada na obrigatoriedade do dogma ou da
lei divina, ou na obrigatoriedade da obediência mas no direito de
desobedecer e de pensar livremente. E, por isso, ela foi uma
revolução pois ela coloca início ao fim da era moderna dos reis
absolutos em que se apostava na união entre rei-igreja e no controle
do pensamento, sujeitando-o à verdade religiosa. Ela poderia ter
sido uma revolta justa se seus colonos, rechaçando seus pais
fundadores protestantes dissessem: nós queremos voltar a ser
católicos e então vamos desobedecer às leis intoleráveis de Jorge
III e restaurar aqui a Inglaterra Católica. Só aí ela não seria
uma revolução mas uma contra-revolução que sempre tem caráter
restaurador. Entretanto a Independência teve móveis mais mundanos:
luta contra os impostos, considerados abusivos já que os colonos não
tinham representação no Parlamento Inglês, o que inaugurava uma
nova era, a da liberdade negativa, aquela que não afirma nenhuma
verdade mas nega todas elas a fim de dar ao homem infinitas possibilidades; luta contra
a autoridade, o que implodia a noção tradicional de nobreza, trazendo, com isso, a era da autonomia do indivíduo frente
ao poder constituído, o que constitui uma inversão, uma reviravolta
política, e, logo, uma revolução pois o que são elas senão mudanças
de 360 graus na história? Neste caso os governantes, que
antes tutelavam, passam a ser governados e tutelados pelos indivíduos
e pelo pacto social; em suma a autoridade e o poder, que antes seguia de
cima para baixo, agora passava a vir de baixo para cima.
Terceiro
que, por mais que os ridículos “conservadores” brasileiros
tentem afirmar uma diferença cabal entre a Independência dos EUA –
ou melhor dizendo, revolução americana, a mãe de todas as
revoluções – e a revolução francesa, o fato é que a história
desautoriza esta leitura. O amor das liberdades chegou a França
através da Inglaterra e dos EUA. A juventude nobre da França,
contagiada pelo exemplo de 1776, mostrava enorme entusiasmo pelas
maneiras igualitárias e desprezo pelo “espírito aristocrático”
já na década de 1770/1780, anos que antecederam a revolução em
Paris. A jovem nobreza, a primeira a ser invadida pelo contágio do
espírito filosófico, trazia, do exemplo americano ,um gosto
entusiasmado pelas formas do governo representativo e pelas
liberdades da tribuna. 1776 passara a servir de farol aos que
pensavam em revolucionar também a França:
“Embora
não houvesse dez republicanos de verdade, em Paris em 1789, como
disse Camilo Desmoulins, que era certamente um desses dez, era
“chic”, em Versalhes, dizer-se republicano, à moda americana.
Foi por isso que muitos jovens nobres seguiram Laffayete à América,
para ajudar a causa dos rebeldes democráticos yankees (L. Madelin -
Les Hommes de la Révolution, pg. 8).
“O
entusiasmo pela jovem América se manifestou inicialmente em
panfletos, canções, libelos contra a monarquia caduca; mas não
parou lá; toda a jovem nobreza, de repente enamorada pela
democracia, embarcou e atravessou o Oceano, indo até aos EUA, para
contemplar de perto a aurora dos novos tempos” (G.Lenotre, En
France, jadis-pg.190).
A
mania democrática chegou a tal ponto que se deixou de jogar o whist,
jogo inglês, e se passou a jogar o “Boston”, cujo nome – que
lembrava o Tea Party, episódio da independência americana - dava
ao jogador um “que” de insurreto. (Hugues de Montbas, La Police
Parisienne seus Louis XVI, pg.169).
Não
sem razão Hanna Arendt, em sua obra “ A vida Do Espírito”,
examinando a mentalidade dos pais fundadores dos EUA, nota que 1776
buscava ser um novo começo para a história, um novo início da
humanidade, identificada na frase lapidar que se encontra num dos
símbolos numismáticos do país, o dito “Novus Ordo Seclorum”,
ou seja, Nova Ordem dos Tempos. 1776 quis ser o sepulcro do passado e
o nascedouro do futuro – da era de liberdade/igualdade, da era
maçônica. Para ritualizar esta nova fundação do mundo – não
mais em Deus mas no Homem feito um “deus” - George Washington,
primeiro presidente dos EUA, ergueu a pedra inicial do futuro
Capitólio, vestido com os paramentos maçônicos, onde, dirigindo
orações ao “deus” natureza, à divindade da maçonaria, se
valeu do rito do lançamento da pedra angular existente nas Lojas do
Grande Oriente, em que consagrava a mesma com trigo, vinho e azeite e a
media, simbolicamente, com um triângulo de madeira e um régua em T,
significando que aquela era a Nova Pedra Fundamental do Mundo, a
pedra perfeita. Ora sabemos que, na tradição cristã, Cristo é a
Pedra Angular. Porém não foi nesta pedra que os EUA foram fundados
e sim na Pedra Maçônica que significa o esforço do homem em
tornar-se, pelo uso da razão em liberdade e igualdade, alguém que
seja capaz de despertar, em si, a “centelha divina”. A idéia aí
é: o homem deve desenvolver ao máximo o seu poder até igualar-se a
divindade. Os EUA são a concretização desta ideia na forma
política, um Estado que serve ao homem como a um “deus”. Esta é
a mesma base ideológica na qual a new left se escora, new left pela qual os
conservadores brasileiros sentem repulsa. E isto só prova
que o movimento criado pelo senhor Carvalho é, não a alta cultura,
mas Satanás revestido de anjo de luz; no fim das contas trata-se de um regimento de imbecis crentes de que estão a servir a Deus quando, na verdade, estão a acender uma vela para o cabrunco e a preparar, sem saber, o seu reinado definitivo sobre o mundo.
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Washington lançado a pedra maçônica de fundação do capitólio em 1793 |
Em
quarto lugar nos 243 ANOS da Independência Americana o que tivemos
foram guerras contra monarquias católicas, saque ao México, apoio a
revolucionários de toda sorte, criação da cultura de massas,
revolução sexual, expansão da democracia iluminista laica,
nascimento do tráfico internacional de drogas na década de 1920,
bombas atômicas, apoio irrestrito ao infame ESTADO DE ISRAEL, 5
MILHÕES DE MAÇONS, guerras ininterruptas – de modo que os
historiadores falam de intervalos pequeníssimos sem algum
envolvimento em conflitos bélicos por parte dos EUA, ao longo de sua
existência como Estado – etc. Não há nada a comemorar nem a
aprender de positivo com os norte americanos. O Brasil não precisa
emulá-lo para se tornar uma civilização pois os EUA não são uma
civilização mas uma barbárie com verniz de prosperidade econômica.
O homem de hoje, levado pelo brilho da matéria e do poder do
dinheiro se deixa fascinar por esta sociedade neopagã mas aqueles
que realmente amam a Deus e querem conservar a vera tradição cristã
não podem ter outra atitude senão odiar, do mais fundo da alma, a
Babilônia do Norte.