domingo, 25 de agosto de 2019

São Luís IX, rei de França, modelo de estadista católico


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Introdução


Impregnar as realidades do mundo com o espírito cristão é um dever de todo católico e São Luís IX foi quem melhor encarnou esse espírito na política. Num tempo onde tantos católicos se deixam levar pelos cantos de sereia da esquerda e da direita sem ter como norte da ação política o Estado Católico, num tempo onde tantos se contentam com participar de manifestações de mera defesa da lei natural como sói ocorrer nos chamados movimentos pró vida ou contrários a ideologia de gênero, defesa que não integra a idéia de cristandade mas apenas dum combate pela moral natural, nos limites da constituição laica do Estado atual, São Luís aparece como um farol de luz a nos indicar a via certa.

A Europa do Século 13

A época em que São Luís desenvolveu sua atividade foi uma das mais fecundas da história pois nela desabrochou a arte gótica, a autonomia das Universidades e a escolástica de Santo Tomás. O século 13, segundo Regine Pernoud em sua obra Lumiére du Moyen Age”, é o apogeu duma era que marcou a máxima organicidade da sociedade medieval, na expressao de Jean de Salisbury. Por sua complexidade e a multidão de órgãos interligados concorrendo todos a existência como ao equilíbrio, a sociedade medieval apresentava notável semelhança com o organismo humano. Senhorias e províncias ciosas de suas prerrogativas, conquistadas através do tempo, corporações e Universidades com insenções garantidas pela tradição em correspondência com o saber dos seus mestres, respeitadas pelos reis e barões – um admirável mosaico de direitos e obrigações onde entre o indivíduo e o Estado se interpunham os corpos intermédios onde o poder era temperado pela tradição, lei divina e lei natural. Nesta época o poder central do rei é o árbitro entre os súditos: o poder que ele exerce é um direito de controle, um poder de julgar as querelas entre os vassalos, apaziguando a vida social e protegendo os usos e costumes.

São Luís IX encarnou o chefe de Estado dentro do ideal de Santo Tomás: o povo não foi feito para o príncipe mas o príncipe para o povo, levando ao mais alto grau a figura do detentor do poder soberano, numa sociedade orgânica e de cariz sobrenatural, inspirada pelo Evangelho como lembra Leão 13:

Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil. Então a religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda parte era florescente, graças ao favor dos príncipes e à proteção legítima dos magistrados. Então o sacerdócio e o império estavam ligados em si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios. Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda expectativa, frutos cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer.”- Encíclica Immortale Dei, número 28

São Luís o pacificador

O fato de ter vivido em tais condições sociais e politicas que favoreceram sua função não tira mas antes realça o mérito do santo rei. Já no século 13 víamos os primeiros sinais de decadência moral dos reis onde tendiam a se afastar da orientação da Igreja seguindo, assim uma busca por independência em face ao poder do Papa. É o que explica, por exemplo, as lutas entre Frederico II, imperador alemão, e o Papa Inocêncio III, entre os barões ingleses e os herdeiros do Rei João Sem Terra. São Luís, fiel às tradições de seus antepassados foi, ao contrário, o pacificador e justiceiro defensor dos pequenos atingindo a santidade no exercício do poder público. A grande tentação que sempre assaltou os governantes foi o orgulho e a busca da glória, vício oposto às duas virtudes que seu cargo requer, quais sejam a moderação e a justiça.


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São Luís atendendo aos leprosos
Quando pediram a São Luís para deixar seus barões combaterem entre si, a fim de que eles enfraquecessem, respondeu: “ Se eles vissem que eu os deixo combater poderiam perceber e dizer: o rei nos deixa lutar por malícia; então eles viriam e, por ódio a mim, me combateriam e eu perderia e atrairia para mim a cólera divina pois Cristo diz: bem aventurados os pacíficos”. Por isto o santo rei proibiu toda guerra privada em seus domínios.

A virtude da justiça, não menos importante num chefe de Estado, para o católico se reveste de enorme valor pois foi com ela que os Evangelhos distinguiram São José: “José, seu esposo, que era justo”( São Mateus 1, 19). Ela que é uma virtude cardeal, tem graus. E ela chega ao grau máximo quando significa o sacrifício do próprio interesse. Foi o que praticou São Luís ao devolver aos ingleses, mesmo depois de conquistados, os territórios de Quercy, de Périgord, de Limousin, dizendo: “Estou cero que os antepassados do rei da Inglaterra perderam tudo por direito de conquista que possuo; as terras que lhes devolvo não as dou senão para manter na paz e amizade os meus filhos e os deles que são primos-irmãos. E parece-me que ainda assim faço bom uso da terra pois o rei da Inglaterra antes não era meu vassalo e agora será”. E com isto seu rival mais terrível tornou-se seu súdito, por ter terras na França e a paz ficou garantida entre os dois países por meio século.

Não só nas causas públicas mas também nas privadas Luis IX era o anjo pacificador da França. Como conta o cronista e biógrafo dele, Jean Sire de Joinville, onde mostra a disposição do rei de despachar diretamente os processos durante sua estadia em Vincennes durante o verão, atendado a cada pessoa em sua petição na medida do justo e adequado. Por isto Cesar Cantu disse: “Luís IX era São Francisco de Assis no trono”. São Luís aconselhava o filho nestes termos: “ Faze-te amar pelo povo pois preferiria eu deixar o trono a um escocês para governar bem que deixá-lo a ti se vier a governar mal”.

O santo rei fundou vários institutos de beneficência: O hospital dos cruzados para os cavaleiros que voltavam mutilados das expedições no Oriente, o Colégio da Sorbonne, abrigos para donzelas, etc.

São Luís pai da unidade cristã européia.

Regine Pernoud, na obra citada acima, fala sobre as relações internacionais na idade média ns seguintes termos: “ Praticamente a cristandade pode se definir como a universalidade dos príncipes e povos cristãos, obedecendo a uma mesma doutrina, animados duma mesma fé e reconhecendo o mesmo magistério espiritual. Ela repousa essencialmente sobre um acordo ou entente mística entre os povos. Essa comunidade de fé traduziu-se por uma ordem européia complexa em suas ramificações e grandiosa...a paz dos séculos 12 e 13 foi precisamente, segundo a bela definição de Santo Agostinho, a tranquilidade da ordem”

A autoridade de São Luís, numa sociedade deste naipe, só poderia ser enorme. Sua santidade e sabedoria era reconhecida em toda a Europa mas acima de tudo, sua largueza de vistas políticas ficou evidente pelas relações com a Inglaterra. Quando o rei Henrique III, filho de João Sem Terra se nega a reconhecer as autonomias que seu pai assinara ao chancelar a Carta Magna dos Barões ingleses em 1215, é a São Luís que os Barões vão recorrer. Na sentença arbitral de Amiens, o santo fá-los ceder em algumas exigências a Henrique III chegando a um bom termo e trazendo a concórdia para os dois lados do Canal da Mancha.

Se entendermos que as cruzadas foram guerras defensivas contra a ameaça islâmica que dominando todo o Oriente Próximo, invadindo a Espanha e ameaçando o sul do Mediterrâneo, veremos que São Luís foi o primeiro defensor da Europa contra as hordas orientais e que sua ida a Terra Santa como cruzado foi baseada no amor da cristandade, dessa unidade européia em torno da fé católica.


O perfeito cavaleiro cristão


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Sétima cruzada


São Luís foi o modelo perfeito de cavaleiro cristão que, nas cruzadas, mostrou outras virtudes raras: desprendimento e zelo pela causa da Igreja. Salientar o seu desprendimento é importante para rebater historiadores que não veem nas cruzadas senão ambição material. Claro que houve nas cruzadas e entre os cruzados elementos que, se aproveitando do entusiasmo geral, faziam valer seu proveito próprio. Mas a história relata a legenda dourada de cavaleiros que partiram com real pureza de intenções: Godofredo de Buillion, Tancredo de Siracusa, Luís VII da França, Conrado da Alemanha, Ricardo Coração de Leão, mas entre todos brilha São Luís.

Quando ele, sentindo-se chamado por Deus para a nobre empresa, se ergueu do leito e, mesmo depois de longa enfermidade, não puderam retê-lo: sua mão fez longas considerações políticas sobre os ricos da empresa mas de nada valeram: estava convicto de deixar França e seguir para salvar a Cristandade de seus inimigos. O seu cronista Joinville conta como foi amargo deixar terras, castelos, mulher e filhos à proteção da Igreja para se aventurar no Oriente. O sacrifício do rei que ia sem saber se voltaria foi imenso. Isto foi um daqueles atrevimentos cristãos dos quais fala Camões nos Lusíadas.

No Oriente o entusiasmo de São Luís levou a conquista de Damieta, caminho para o Oriente através do Egito. Como bem diz Michaud, a tática de atacar as cidades do Egito, dificultando a comunicação do Sultão do Cairo com Jerusalém foi digna dum hábil estrategista. A queda de Damieta trouxe o pavor aos mouros que voltaram a respeitar os francos como eram chamados os cavaleiros cruzados. Apesar disso São Luís não conseguiu liberar Jerusalém por conta das atitudes quixotecas de seu irmão, o Conde D'Artois, que mandou atacar as Muralhas de Mansourah, enquanto o grosso do exército estava retido na travessia do Nilo. Isto resultou a prisão dos chefes cruzados incluso São Luís. Em razão da devolução de Damieta como resgate, São Luís fora libertado. O santo rei não quis admitir a devolução mas sua esposa a rinha Margarida de Navarra, para salvar a vida do esposo, devolveu a cidade. Depois deste desastre o santo rei ainda permaneceu no Oriente tentando ajudar os templários e hospitalários na luta contra os islamitas. Eles que andavam divididos por rivalidades foram unidos pela mediação de São Luís. O santo chegou a carregar pedras para reconstruir castelos templários como um simples pedreiro, o que mostra seu intenso ardor cruzadístico. Em virtude da morte de sua mãe, Branca de Castela, ela volta a França mas logo é consumido pela tristeza de ter retornado sem a conquista de Jerusalém. Logo que obteve víveres e dinheiro voltou para o Oriente onde tenciona converter o Sultão de Túnis depois de vencê-lo em batalha. Mas uma epidemia de escorbuto interrompeu o cerco de Túnis que dizimou o exército católico. O filho de São Luís, Tristão, morre durante este evento. Por fim o próprio rei foi atingido e faleceu as 3 horas da tarde - a mesma hora em que Cristo morreu na cruz – do dia 25 de agosto de 1270, com os braços em cruz, deitado sobre cinza como poderia aos que o assistiam.

Embora sem ter conseguido seu objetivo São Luís cobriu-se de glória em razão de seu zelo destemido pela causa da Igreja. Com sua morte se desvanecia o maior ideal medieval, o da criação dum reino de Cristo na cidade onde ele havia sido crucificado e onde lhe recusaram o trono que lhe era de direito.

Neste dia 25 de agosto de 2019 em que vivemos um crise de fé jamais vista, pedimos a São Luís que rogue por nós a fim de que novos cruzados se levantem no sei da Igreja! Deus Vult!

Professor Rafael G. de Queiroz



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