sábado, 21 de abril de 2018

Vargas na história pátria: refutando as mentiras do Brasil Paralelo!

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Vargas mandou fechar lojas maçônicas e se aproximou de setores católicos da vida política nacional; a CLT foi, em grande parte, fruto da influência destes setores que prezavam pela aplicação da Doutrina Social da Igreja nas relações sociais a fim de impedir a luta de classes. A partir daí entendemos o ódio do Brasil Paralelo a Vargas, na medida em que o BP se atrela ao liberalismo maçonizante. 





Senhores, trazemos aqui o parecer do ilustre professor de História Eduardo Cruz* sobre o mais novo absurdo do Brasil Paralelo, que abriu um processo acusatório difamante contra a figura do Presidente Getúlio Vargas. No fundo, a acusação se pauta por uma defesa escrachada do liberalismo. Nos vídeos anteriores do Brasil Paralelo tal defesa era implícita, misturada com apelos à tradição católica do Brasil. O objetivo do embuste era capturar a simpatia do público católico para a iniciativa e fazê-lo aceitar, de modo quase imperceptível, uma narrativa liberal da nossa História. Uma tática parecida com a do estuprador que, pretendendo atrair a vítima para seu terreno, a adula com carícias a fim de seduzi-la e violentá-la. O Brasil Paralelo é o "estupro liberal" da nossa memória: é uma ressignificação esdrúxula do nosso passado a fim de justificar um futuro desejado, qual seja, um futuro onde o Brasil seja pautado por Estado mínimo, liberalismo econômico nas relações de trabalho, individualismo, americanismo. A releitura da nossa História, feita pelo BP, é claramente ideológica: é um recorte canhestro que serve a fins políticos subordinados a uma causa estranha ao nosso interesse nacional. Para o Brasil Paralelo, Vargas foi, ao mesmo tempo, pró-comunista, fascista, positivista, psicopata, gênio da política, simpatizante do nazismo, etc. Como foi possível ele ter sido tudo isto é o grande mistério. O Brasil Paralelo transformou Getúlio no "Tio Chico" (aquele pentecostal maluco que disse ter sido maçom, islâmico, pai de santo, rosa cruz, travesti, etc.) da nossa História. Sobre a péssima qualidade do documentário é preciso dizer que:


1 - Logo de cara há uma propaganda em prol das monarquias liberais - Noruega, Inglaterra, etc. - e dos EUA e Alemanha, vistos como exemplos de democracia para países que respeitam as "liberdades". Os coitados não entendem que a noção de democracia no século 19 se dirige para o igualitarismo jacobino que abrirá caminho para o comunismo em razão duma coisa simples: as liberdades para as classes baixas eram só nominais; elas passarão a desejar uma liberdade real e concreta; para isso os Estados serão instados a criar leis igualizantes/democratizantes. 

Liberdades liberais geram democracia, que gera insatisfação com a nominalidade dos direitos jurídicos, que gera o anseio pelo socialismo. A panacéia proposta pelos membros do Brasil Paralelo só será capaz de fazer com que o pesadelo comunista – o qual eles deploram – venha a vingar no Brasil.

2 - A República Velha é apresentada como "época estagnada onde nada aconteceu". Só analfabetos em História podem levar isso a sério.

3 - Sem citar prova alguma, Olavo acusa Vargas de chacinar todos os seus inimigos no Nordeste após desarmá-los. Não especifica onde e quando teria ocorrido tal episódio.

4 - O vídeo é feito, quase todo, por propagandistas do liberalismo como Constantino et caterva. Historiador, quase nenhum.

5 - Vargas é chamado de positivista e gênio político por Olavo; logo depois o mesmo Olavo diz que Vargas era um psicopata; outro "especialista" diz que ele era fascista. Entre fascismo e positivismo há uma distância imensa. Eles não sabem disso? Positivistas se fundam na idéia de um exército formal; fascistas fundam seu ativismo em grupos paramilitares, pois perderam a confiança nas Forças Armadas; SS nazi e Squadristi de Mussolini provam-no. Positivistas são pró1789, fascistas são anti1789.

6 - Pondé – até Pondé! O que o dinheiro de institutos liberais não é capaz de fazer, hein? – diz que fascismo, comunismo e varguismo são a mesma coisa! Pondé vendeu sua inteligência ao poder do dinheiro.

7 - Narloch aparece chiando porque Vargas controlou bancos. Agora já está tudo claro: o BP serve à velha elite bancária talmudista. Nós dissemos!

8 - Nada é dito sobre o fato dos fazendeiros paulistas terem movido uma guerra contra Vargas por razões econômicas, dado que ele havia quebrado a política de valorização do café e acabado com o esquemão de eleições fraudadas. Tudo é apresentado como se os paulistas lutassem apenas por Constituição e direitos! Os paulistas queriam continuar escravizando o Brasil aos seus interesses; não havia nada de moralizante na "revolução constitucionalista".


O Brasil Paralelo ainda assevera que o "Plano Cohen" foi inventado por Vargas para justificar a implantação do Estado Novo em 1937. Ora, em 1935 houve uma insurreição comunista liderada por Prestes e havia fundadas razões para se temer um novo assalto, como veremos adiante. Depois Narloch, aos 43 minutos, diz que Vargas foi um "cara mau" porque proibiu a usura. Um sujeito reclama que Vargas "acabou" com nossa "tradição liberal". Enfim eles deixaram claras as coisas: são apenas liberais e nada mais. Servos dos bancos, inimigos do povo - há uma crítica geral à CLT no vídeo do BP - etc. Que anticomunismo é este que deplora o ditador que impediu uma revolução comunista? É a pergunta ser feita!


Sobre os erros do documentário, demos a palavra ao Prof. Eduardo Cruz, que comenta o seguinte sobre a Revolução Constitucionalista:

"Aos 29:16 do vídeo, o entrevistado Rafael Brodbeck afirma que os paulistas se rebelaram em 1932 porque Getúlio não cumpriu sua promessa de entregar uma nova Constituição. Não sei quem é este senhor, mas a afirmação está FACTUALMENTE ERRADA. Getúlio agendou a eleição da Assembléia Constituinte em 14 de maio de 1932, quando assinou o Decreto nº 21.402, tendo designado, no mesmo ato, a comissão encarregada de redigir o anteprojeto da Carta. A Revolução eclodiu em 9 de julho, ou seja, dois meses depois. Logo, é incorreto estabelecer uma relação de causa e efeito entre a protelação da promessa e a insurreição. A suposta causa da revolta deixou de existir dois meses antes da sua deflagração".

O Prof. Eduardo desmente uma suposta colaboração de Vargas com os comunistas, veiculada no documentário, cujo narrador sugere que a Intentona de 1935 teria resultado do rompimento desta [inexistente] aliança:


"Além disso, aos 40:30 o narrador afirma o seguinte, referindo-se ao período 1930-1935: 'Por muito tempo, Vargas se aproveitou de ambos os movimentos. Com habilidade e oportunismo, engajou comunistas e integralistas. Utilizava ambas as vertentes a seu favor, comparecia a eventos políticos de ambos e trocava favores com seus líderes. A relação seria estremecida até o rompimento, quando lideranças comunistas acusaram Vargas de caminhar para uma ditadura fascista. Passam a postular o poder para si e tornam-se inimigos do Presidente. O primeiro grande ataque foi lançado pelos comunistas, em mais uma tentativa de golpe que a jovem república brasileira assistiu. O capitão do Exército convertido ao comunismo Luiz Carlos Prestes comandou o levante: a Intentona Comunista [de 1935]' ------- Não sei quem redigiu o texto lido pelo narrador, mas esta alegação é rigorosamente FALSA!!! Jamais houve qualquer colaboração entre Vargas e o PCB entre 1930 e 1935. Não houve sequer negociações! Vargas não 'compareceu a eventos' do PCB nem 'trocou favores' com líderes do Partido, que naquele período atuava sob a capa da UOC (União Operária e Camponesa) e da ANL (Aliança Nacional Libertadora). O Partido Comunista Brasileiro seguia as diretrizes da União Soviética, que determinava oposição irrestrita ao governo Vargas, conforme resoluções aprovadas na II Conferência dos Partidos Comunistas da América Latina, realizada em Moscou, de 2 a 10 de outubro de 1930, e na III Conferência dos Partidos Comunistas da América Latina, realizada em Moscou, de 16 a 28 de outubro de 1934 (Fonte: OLIVEIRA, Marcos Aurélio Guedes de. 'O Cominter e a Aliança Nacional Libertadora'. Recife: Edições Bagaço, 1996, pp. 92-128). A informação pode ser confirmada nas memórias de Luiz Carlos Prestes ('Prestes: lutas e autocríticas', p. 67) e outros líderes do PCB, como Gregório Bezerra ('Memórias', Vol. I, pp. 233-236), Leôncio Basbaum ('Uma vida em seis tempos', pp. 96-140), Paulo Cavalcanti ('O caso eu conto como o caso foi, Vol. I', pp. 121-130), Apolônio de Carvalho ('Vale a pena sonhar', p. 53), Apparício Torelly ('Entre sem bater', pp. 170 e 211-213) e Ivan Pedro Martins ('A flecha e o alvo', pp. 86-87 e 92-95). Portanto, em 1935 não houve nenhum 'rompimento' entre Vargas e os comunistas, como os autores afirmam, dando a entender que existia uma aliança com o PCB. Tal aliança não existiu! Em toda a História do Brasil, houve apenas um momento em que o PCB apoiou Vargas, não porque tivesse afinidades ideológicas com ele, mas por razões meramente táticas: o período 1943-1945, quando o Brasil se engajou na 2ª Guerra Mundial ao lado dos EUA e da URSS. Durante essa fase, por ordem de Moscou, os comunistas brasileiros promoveram intensa propaganda pró-EUA, sob cobertura de uma entidade recreativa denominada 'Sociedade de Amigos da América', conforme consta nas memórias de vários militantes do PCB, como João Falcão ('O Partido Comunista que eu conheci', pp. 214-218) e Moisés Vinhas ('O Partidão: a luta por um partido de massas', pp. 73-76). A respeito desse breve namoro de conveniência, Gregório Bezerra relata que 'estávamos contentes por Vargas ter rompido com as potências do Eixo, cedido bases militares aos EUA, assinado a Carta do Atlântico e declarado guerra ao fascismo alemão' ('Memórias', Vol. I, p. 306). Obviamente, os idealizadores do documentário não explicarão este contexto nem entrarão em tais detalhes, porque isso quebraria a narrativa que busca equiparar comunistas e getulistas, retratando-os como parceiros na luta contra o liberalismo anglo-americano, supostamente o mocinho da História. Aliás, este é o subtexto que permeia todo o enredo costurado pelo vídeo".

Expondo a ignorância crassa do Sr. Rodrigo Constantino, o Prof. Eduardo Cruz observa que:


"Rodrigo Constantino, com sua habitual ignorância, acrescenta aos 42:05 que Olga Benario era 'ligada à KGB'. Na verdade, ela pertencia ao GRU, serviço secreto das Forças Armadas da União Soviética. O GRU é bem menos conhecido do que a KGB. Olga foi recrutada para os seus quadros em 1932, conforme comprovam os relatórios arquivados no Departamento de Quadros do Comintern (Fonte: WAACK, William. 'Camaradas'. São Paulo: Companhia das Letras, 1993, pp. 94-95)."

A respeito do golpe que instituiu a ditadura em 1937, o Prof. Eduardo Cruz destaca outra falácia do documentário, que, por descuido ou má-fé, repete a lenda esquerdista segundo a qual Getúlio usou o Plano Cohen como pretexto para implantar o Estado Novo:

"Aos 42:45, o narrador alude ao Plano Cohen: 'As eleições [de 1938] se aproximavam e Vargas poderia perder a Presidência pela via democrática. Foi nesse momento que Getúlio se aproveitou de um falso plano que representaria uma nova revolução comunista para justificar a necessidade de dar um golpe de Estado' ------- Esta fábula já ganhou ares de fato, graças à persistência com que é repetida por ideólogos interessados em retratar a esquerda como eterna vítima de armações reacionárias. Ironicamente, alguns liberais lhe dão crédito, pondo de lado sua alergia ao socialismo, tamanha a sua obsessão de atacar o nacionalismo – talvez julguem o primeiro um mal menor frente ao segundo. É possível que tenham engolido essa lorota por descuido, como muitos incautos  que passam ao largo das fontes primárias. Quem se der ao trabalho de ler o discurso proferido por Vargas em 10 de novembro de 1937 descobrirá que em NENHUM momento ele citou o Plano Cohen para justificar a implantação do novo regime. A fúria do Presidente recaía sobre dois governos estaduais, ambos acusados de tramar uma insurreição armada contra o Governo Federal, situação que no limite poderia desembocar em guerra de secessão, nas palavras de Getúlio: 'Os preparativos eleitorais foram substituídos, em alguns Estados, pelos preparativos militares, agravando os prejuízos que já vinha sofrendo a Nação, em conseqüência da incerteza e instabilidade criadas pela agitação facciosa. O caudilhismo regional, dissimulado sob aparências de organização partidária, armava-se para impor à Nação as suas decisões, constituindo-se, assim, em ameaça ostensiva à unidade nacional' (Fonte: VARGAS, Getúlio Dornelles. 'A nova política do Brasil – Vol. V'. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1938, p. 25). O Presidente referia-se a São Paulo e ao Rio Grande do Sul, cujos governos vinham adquirindo vultosos arsenais no Exterior sob pretexto de equipar suas PMs, comprando inclusive baterias antiaéreas, armamento incompatível com qualquer missão policial. Os fatos foram registrados pelo Marechal Eurico Gaspar Dutra, na época Ministro da Guerra, que ao escrever suas memórias teve o cuidado de documentá-las com cópias de relatórios, ofícios e alertas produzidos pelo Exército entre 05/10/1936 e 30/05/1937 ('O dever da verdade', pp. 158-163, 194-197 e 247-256). Chamo atenção para as datas, todas bem anteriores ao aparecimento do Plano Cohen. Isso significa que a decisão de implantar o Estado Novo não foi influenciada pela percepção de ameaça comunista? Foi, mas esta percepção não foi gerada pelo referido plano. Ela decorreu de um episódio anterior, conhecido como 'Macedada', quando o Ministro da Justiça, José Carlos de Macedo Soares, concedeu habeas-corpus a 300 suspeitos implicados na Intentona Comunista, em 8 de junho de 1937. A decisão enfureceu os comandantes militares, que dirigiram uma advertência a Macedo Soares, conforme atesta ofício datado de 26 de junho de 1937, reproduzido nas memórias de Dutra ('O dever da verdade', pp. 245-246). Beneficiados por aquela soltura coletiva, centenas de comunistas voltaram a promover agitação nas ruas, inclusive atentados com vítimas fatais. E aqui vamos ao documento decisivo: a ata da reunião realizada pelo Alto Comando do Exército em 27 de setembro de 1937, quando tomou-se a decisão de implantar o Estado Novo. Quem examiná-la descobrirá que o Plano Cohen (uma pista falsa) foi mencionado pelos militares uma única vez, em meio a várias pistas verdadeiras, entre elas as evidências da atividade subversiva que se avolumava nas ruas e na Câmara dos Deputados, graças à liberalidade do Ministro da Justiça ('O dever da verdade', pp. 232-238). Até hoje, no intuito de limpar sua barra, a esquerda se agarra ao Plano Cohen para forjar uma narrativa que oculta sua parcela de responsabilidade pelas turbulências que convulsionaram o Brasil entre maio e outubro de 1937".

O referido professor ainda revela a incapacidade analítica de Luiz Philippe de Orléans e Bragança:

"Surpreende-me o que foi dito aos 59:52 pelo Príncipe Luiz Philippe de Orléans e Bragança: 'Ao final da guerra, o Brasil estava arruinado financeiramente, com uma dívida externa imensa' -------- Esta afirmação não é apenas incorreta. É fraudulenta. Foi durante a 2ª Guerra Mundial que o Brasil renegociou e reduziu sua dívida externa pela metade, nos termos do Plano Souza Costa, aprovado pelo Decreto-Lei nº 6.019 de 23 de novembro de 1943. Isso tudo graças à firmeza do governo, que soube aproveitar a conjuntura favorável para redefinir os termos do nosso relacionamento financeiro com os EUA e a Inglaterra (Fonte: COSTA, Artur de Souza. 'Dívida externa do Brasil'. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1943, pp. 7-20)."


Eduardo Cruz ainda aponta outros equívocos gravíssimos para um documentário que se pretende histórico:

"Aos 41:45, o narrador afirma que 'apesar do apoio dos tenentistas, os ideais comunistas não haviam sido bem recebidos pela grande maioria das Forças Armadas' ------- O movimento tenentista estava agrupado no Clube 3 de Outubro, que jamais apoiou o PCB, formalmente ou informalmente. Seu programa foi aprovado na I Convenção Nacional do Clube, realizada de 5 a 9 de julho de 1932. Era um típico programa nacionalista-autoritário, do qual tenho cópia nos meus arquivos. Basicamente, antecipava tudo que seria feito durante o Estado Novo: nacionalização no petróleo, dos minérios e setores de base, assimilação dos imigrantes, centralização do poder político, implantação da siderurgia, etc. Prestes estava afastado do movimento tenentista desde 1928. Ingressou no PCB em 1934, época em que o Clube 3 de Outubro já havia inclusive se dissolvido. Quase todos os seus quadros foram aliciados por Vargas e pela Ação Integralista. Pouquíssimos se bandearam para a ANL (Fonte: WIRTH, John. 'Os tenentes na Revolução de 30'. In: FIGUEIREDO, Eurico de Lima (Org.). 'Os militares e a Revolução de 30'. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p. 41)...Aos 55:25, Flávio Morgenstern afirma que Vargas 'queria entrar na 2ª Guerra Mundial apoiando o Eixo' ------ Isso também é mentira. Vargas nunca cogitou engajar o Brasil no conflito ao lado da Alemanha. Quem se der ao trabalho de ler os relatórios produzidos pelo Estado-Maior do Exército em 1939-1945 descobrirá que o governo discutia apenas duas alternativas: manter o País neutro ou lutar ao lado dos Aliados, conforme recomendasse o interesse nacional. O que houve, sim, foram negociações muito difíceis e desagradáveis com os americanos, a cujas exigências descabidas era preciso resistir (Fonte: ESTEVES, Diniz. 'Documentos históricos do Estado-Maior do Exército'. Brasília: EME, 1996, pp. 226-285). O segundo volume dos diários de Getúlio confirma que ele temia a vitória da Alemanha tanto quanto repelia pressões dos EUA (Fonte: VARGAS, Getúlio Dornelles. 'Diário - Vol. II'. São Paulo: Siciliano, 1995, pp. 313 e 396)" ...Aos 01:03:00, o narrador afirma que Carlos Lacerda deixou a militância comunista aos 25 anos, ou seja, em 1939, 'quando entrou em conflito com o líder do Partido, Luiz Carlos Prestes' ----- De onde os editores tiraram isso? Prestes só foi nomeado Secretário-Geral do PCB em 1943, por determinação de Moscou. Em 1939 o líder do PCB ainda era Antônio Maciel Bonfim, vulgo 'Miranda', a quem Prestes estava subordinado. Além disso, o rompimento de Lacerda com o Partido não decorreu de nenhum atrito com Prestes, mas de um artigo que ele publicou na revista Observador Econômico e Financeiro ...Ainda aos 01:04:30, o narrador afirma que 'Getúlio, em troca do seu apoio à candidatura de Dutra, não teve seus direitos cassados, não sofreu qualquer processo judicial' ----------- Esta afirmação é rigorosamente FALSA. Quem impediu represálias contra Vargas foi o General Pedro Aurélio de Góes Monteiro, então Ministro da Guerra. Logo após a queda do Estado Novo, alguns inimigos do Presidente deposto propuseram que seus direitos políticos fossem cassados por 10 anos. O General não permitiu, até porque isso abriria um precedente para a punição de outros expoentes da ditadura, inclusive ele próprio. O episódio está registrado nas memórias de Góes Monteiro ('O general Góes depõe', pp. 462-463). Eurico Dutra, por sua vez, lançou sua candidatura à Presidência da República em 27 de março de 1945. Vargas foi deposto em 29 de outubro e só manifestou seu apoio à candidatura do Marechal em 27 de novembro, por insistência de João Neves da Fontoura e José de Segadas Vianna, conforme relatado pelo General Osvaldo Cordeiro de Farias em depoimento autobiográfico ('Meio século de combate', pp. 400-402). Por conseguinte, é falacioso afirmar que a impunidade de Vargas foi garantida em troca do seu apoio à candidatura de Dutra. Tal negociata nunca ocorreu!"


Em face de todos os esclarecimentos prestados pelo Prof. Eduardo, fica evidenciado a chanchada que o Brasil Paralelo representa. A idéia de manchar a imagem de Vargas atende a vários fins, entre eles retratar a odiada figura de Lula como fruto do Varguismo, o que é falso, dado que o modelo sindical apregoado por Vargas era autoritário e ligado ao Estado, controlado por ele e conduzido com fins a uma colaboração capital-trabalho; já o modelo do sindicalismo lulista é comunista, pois aposta na luta de classes e no confronto do trabalhador com a orientação do Estado "burguês". Entre outros fins, os idealizadores do BP têm o propósito de convencer o público letrado de que seríamos um país melhor se fôssemos mais liberais, o que evidentemente não é verdade: em toda a República Velha, quando fomos liberais em economia e federalistas em política, nosso País era a 24ª economia mundial e, depois de termos passado pelo industrialismo e centralismo da Era Vargas e dos governos militares, galgamos a 8ª posição na economia global. Os números não mentem. Os liberais sim.
Agradecemos ao Professor Eduardo Cruz pelas análises e contribuições!


* Eduardo Cruz é professor de Geopolítica, História das Relações Internacionais e Política Externa Brasileira. Cursou graduação em Relações Internacionais e mestrado em História na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. As opiniões transcritas refletem a posição do autor, não das instituições às quais ele está ou esteve vinculado.




segunda-feira, 2 de abril de 2018

Por que Jesus ressuscitou na primavera?


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Isaías profetizou que Cristo ao ser sepultado “descansaria na paz” ( Is 57, 2) pois, por sua morte, ele restabeleceu a paz entre o céu e a terra. Ora esta era a paz que existia no Jardim do Éden. 

Não é, portanto, sem razão que Jesus foi sepultado num jardim e nele ressuscitou. Não é sem razão, também, que Cristo morreu e reviveu no começo da primavera no hemisfério norte. No livro de Cantares se fala de um horto fechado, uma fonte selada. Lembremos que os judeus mandaram fechar o jardim pois temiam que os apóstolos roubassem seu corpo para dizer que ele havia ressuscitado. Tal fonte selada e tal jardim fechado é o Salvador: pois sua alma só tendia a Deus, como a amada tende apenas a seu amado. Cantares em 2,14 afirma que a 'amada' é chamada a se levantar do 'buraco da pedra' que designa a câmara que ficava diante da porta do sepulcro do Cristo.

Nosso Senhor ressurgiu não no verão ou outro tempo mas na primavera pois neste tempo fica o primeiro mês dos hebreus onde acontece a festa da páscoa. Isto se reveste dum sentido místico pois foi neste tempo que se deu a origem do mundo pois disse o Senhor que “produza a terra a erva verde e que dêem sementes segundo sua espécie e semelhança.” O lugar da sepultura era um horto e a Vida – ele mesmo com seu corpo sepultado - lá foi plantada pois Jesus disse: Eu sou a Vida. Foi plantada na terra para limpar a maldição que Adão trouxe à mesma com seu pecado. Por conta dela a terra produziu abrolhos e espinhos, mas é da terra, como se profetizou, que germinará a fidelidade ( Salmo 84, 12). Em Cantares se diz que a amada recolheu mirra, aromas e aloés (Cantares 4, 14). Nos evangelhos vemos as mulheres e Nicodemos levando misturas de mirra e aloé ao sepulcro de Cristo ( Jo 19, 39), frutos da primavera, do renascimento. O aloé é uma planta que frutifica em terra árida como Cristo que frutificou a Graça na terra dos judeus que não o receberam, tinham a alma árida. O aloé é cicatrizante assim como Cristo que veio cicatrizar a ferida dos pecados.

Deste modo, Nosso Senhor ressurge na primavera pois esta foi a primeira estação da história, dado que foi nela que Deus começou a criação da terra. A primavera é a ressurreição da natureza depois da morte trazida pelo inverno onde as árvores já não dão flores nem frutos, onde os animais hibernam. Jesus é a ressurreição da humanidade da morte espiritual pois já não dava frutos de justiça para Deus. Em Cristo o mundo ressurge – é uma nova criação que começa, uma nova humanidade. Cristo é o novo Adão. Como novo Adão ele recomeça nossa história desde um jardim pois ele é a Árvore da Vida. Notemos que ele aparece na forma de um jardineiro antes de se revelar a Madalena, no horto da ressurreição. Como Deus cultivou um Jardim para por o primeiro homem, Jesus cultiva um novo jardim para o novo homem renascido pela fé: ele é o jardineiro do Pai.  Sua cruz é o madeiro donde vem a Vida Nova, é a planta donde virão os frutos que curam as nações. 

É como se a Semana Santa resumisse, em poucos dias, o ciclo completo da natureza e da vida, mas também o da história da salvação, unindo, num só quadro, a religião cósmica e natural, onde se pode adorar a Deus a partir da beleza da criação, com a religião revelada, onde vemos Deus se apresentar por meio de fatos redentores: a chegada triunfal do Cristo em Jerusalém entre uma multidão que agita palmas (os ramos, uma semana antes da Páscoa) já anunciam o fim da era invernal; em seguida a morte de Cristo, que  representa a morte do antigo mundo, depois a ressurreição de Cristo, que é a criação de um novo mundo, de uma nova era, de um novo homem, que significa a volta da esperança, um novo fluxo da vida, a vitória sobre a morte. Assim como tudo começa num jardim tudo se torna pleno e acabado nele. Do jardim do túmulo sai a Vida Vitoriosa. Voltando ao jardim do qual Adão foi expulso, pela fé na ressurreição, teremos acesso ao fruto da Árvore da Vida pelo qual ganharemos a Vida Eterna.