sexta-feira, 11 de julho de 2014

Resposta a Olavo de Carvalho sobre a relação fé e razão

Enrolavo de Carvalho.





















O Sr. Olavo de Carvalho respondeu o artigo que publicamos ontem referente a sua visão sobre a relação fé  e razão ,aqui:

https://www.facebook.com/olavo.decarvalho/posts/10152518463017192

Olavo de Carvalho

O boboca da "Catolicidade" diz que você tem de acreditar na doutrina da Igreja por si mesma, independentemente de qualquer tentativa interior de apreender os fatos a que ela se refere. Bonito, né? Só há um problema: ACREDITAR na doutrina CONSISTE em admitir que o conteúdo dela são fatos e não meras afirmações. Por exemplo, "Ressuscitou no terceiro dia." Aconteceu ou não aconteceu? Ressuscitou ou não ressuscitou? Se acredito, é porque acho que aconteceu, que é um fato. Como dizia o Apóstolo: "Se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa fé." Tentar acreditar no Credo fazendo abstração dos fatos a que se refere é como aquela história do Quico: 
-- Mãe, posso entrar na piscina?
-- Pode, filhinho, só não vá se molhar.
Só no Brasil um BURRO incapaz de perceber uma coisa tão óbvia pode posar de "defensor da fé" e acusar de heresia quem não seja tão lesado mentalmente quanto ele. O ridículo dessa gente não tem fim. Cada dia capricham mais.

Nossa resposta é a seguinte:

1- Olavo nada respondeu acerca da sua alegação - errônea - sobre a distinção entre filosofia e teologia. Ele alega que a diferença entre as mesmas é a que existe entre fatos e teorias. No entanto filosofia e teologia são ciências: a diferença entre as duas nada tem a ver com a que existe entre fatos e teorias( Não é preciso ser muito inteligente para entender. Só o Olavo não entende.).

2- Olavo diz que nós afirmamos que "você tem de acreditar na doutrina da Igreja por si mesma, independentemente de qualquer tentativa interior de apreender os fatos a que ela se refere". Começamos destrinchando o termo "apreensão". Apreensão é o ato pelo qual a mente intelige uma natureza ou essência. Quando falamos "homem", "animal", por exemplo, estamos inteligindo a essência dos objetos referidos. Embora o conhecimento intelectual dependa do sensível, ele o transcende. O intelecto vê a natureza das coisas mais profundamente que os sentidos. Para que a essência se torne inteligível é preciso desindividualizá-la das condições materiais.  Quanto as realidades naturais, somos capazes de as inteligir pois nossa mente está apta a isso. Mas, quanto as realidades sobrenaturais, não: se nossa mente não for iluminada do alto, por uma graça divina, não poderemos apreender nada a respeito do sentido dos fatos referentes às ações pelas quais Deus se revelou. Fatos por fatos, Lázaro resuscitou também, mas, tal fato, não tem o mesmo significado que a ressurreição de Jesus. Antes de Jesus profetas realizaram milagres, mas, os milagres de Cristo, tem outro significado pois revelam a sua divindade. Os acontecimentos só encontram seu sentido à luz da revelação feita por Deus. Muitos viram Jesus realizar milagres, mas só Pedro, movido por divina revelação, foi capaz de dizer: tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo. E a ele Jesus disse: não foi nem a carne nem o sangue que te revelaram mas o Pai. Dizer que o conteúdo da fé são fatos é um erro, uma heresia: o conteúdo da fé é antes o sentido dos fatos,na sua essência inteligível. O esforço interior de apreender estes fatos não pode produzir nada em si mesmo, a não ser que seja movido antes e depois pela graça: sem uma moção divina que ilumine o intelecto nada feito, por uma simples razão: o conteúdo da fé transcende nosso intelecto. A forma das coisas naturais não: para conhecê-las basta nosso esforço intelectual. Para saber da coisas do alto não basta a luz da nossa razão. 

3- Olavo se aproxima- se é que não recai diretamente - no naturalismo. Ele tende a pensar que a fé precisa ser destrinchada, em seus conteúdos, pela esforço da consciência. O Concílio Vaticano I diz que: " Se alguém disser que o homem não pode ser por Deus elevado a conhecimento e perfeição, que supere as forças da natureza, mas por si mesmo pode e deve, com incessante progresso, chegar finalmente a possuir toda a verdade e todo o bem, seja anátema (De Revel Cân. 3)".

4-Olavo se aproxima daquilo que a Pascendi fala sobre o modernista filósofo: "na doutrina dos modernistas, chegamos a um dos pontos mais importantes, que é a origem e mesmo a natureza do dogma. A origem do dogma põem-na eles, pois, naquelas primitivas fórmulas simples que, debaixo de certo aspecto, devem considerar-se como essenciais à fé, pois que a revelação, para ser verdadeiramente tal, requer uma clara aparição de Deus na consciência. O mesmo dogma porém, ao que parece, é propriamente constituído pelas fórmulas secundárias. Mas, para bem se  conhecer a natureza do dogma, é preciso primeiro indagar que relações há entre as fórmulas religiosas e o sentimento religioso.Não haverá dificuldade em o compreender para quem já tiver como certo que estas fórmulas não têm outro fim, senão o de facilitarem ao crente um modo de dar razão da própria fé. De sorte que essas fórmulas são como que umas intermediárias entre o crente e a sua fé; com relação à fé, são expressões inadequadas do seu objeto e pelos modernistas se denominam símbolos; com relação ao crente, reduzem-se a meros instrumentos.Não é portanto de nenhum modo lícito afirmar que elas exprimem uma verdade absoluta; portanto, como símbolos, são meras imagens de verdade." Olavo continua alegando que dogmas são produzidos a posteriori, pela reflexão eclesial; seu pensamento cotinua ligado ao modernismo já denunciado, anos atrás, pelo apologista Orlando Fedeli, já falecido e de feliz memória pelos serviços prestados a fé. 

5- Por fim partilho aqui as pertinentes observações feitas pelo amigo Carlos Lombizani, sobre o assunto:"Não se deve confundir a verdade com o seu registro em palavras. Este é apenas verdade potencial, que só se atualiza no ato concreto da sua apreensão por uma consciência individual." São Pio X fala claramente na Pascendi que os dogmas não são mera representação da verdade, mas que contêm absolutamente a verdade. As palavras dependem da apreensão duma consciência individual para "se atualizarem"?A Lamentabili Sane Exitu condena a seguinte afirmação: "Os dogmas que a Igreja apresenta como revelados não são verdades caídas do Céu; são uma certa interpretação de fatos religiosos que a inteligência humana logrou alcançar à custa de laboriosos esforços.".Ora, se a doutrina se refere a fatos, não está então sujeita a interpretação? É isso o que o Olavo está dizendo: a doutrina não é a verdade, ela é um registro em palavras de fatos. Fatos são meros acontecimentos do passado. A verdade é a conformidade com a realidade. Se a doutrina é verdade caída do céu, então ela não descreve fatos. A ressurreição é um fato, claro, mas e o dever de amar a Deus? Como é que se diz que algo é um "fato" e não mera "afirmação"? Um fato é apenas um acontecimento. Uma afirmação é uma proposição, isto é, algo que se propõe (como verdadeiro), então é mais geral que um fato."

6- Reproduzo também a importante análise feita por Alberto Leopoldo Batista Neto:
"Se a fé católica dependesse de alguma "apreensão individual de fatos" - como diz Olavo de Carvalho -, ela teria que esperar até que o próprio conceito de "fato" se tornasse disponível, ao menos para a consideração filosófica - o que só ocorre na modernidade.Até mesmo a ideia de "conhecimento", tradicionalmente, não coincide com a de um simples reconhecimento de alguma coisa que "lá está". Conhecer envolve a apreensão de um conceito que só pode ser "extraído" da realidade porque esta possui, por si, uma estrutura inteligível (uma vez que é fruto de uma inteligência ordenadora). "O que aconteceu" é algo que só tem sentido numa ordem de significado, que só pode ser descortinada pela reflexão - no caso em pauta, teológica.Uma velhinha analfabeta dificilmente terá uma "apreensão individual" de "fatos" como os ensinamentos concernentes às processões e missões trinitárias - mas estes, nem por isso, são menos parte da doutrina católica, a que ela adere por aceitação da autoridade da Igreja. As pessoas que não conseguem "contemplar" em suas "consciências individuais" os conteúdos do credo niceno-constantinopolitano não são menos católicas quando o recitam na missa dominical e mantêm suas vidas de devoção e obediência.Essa reconstrução fenomenológica da fé cristã é bastante característica de certas teologias modernistas do século XX. Estas podem se tornar complexas, sofisticadas, e mesmo convincentes para uns ou outros - o que não as torna ortodoxas.O pior é que O. de C. faz pouco de quem ele julga incapaz de compreender suas teses, mas uma multidão de pessoas, sem o mínimo preparo para saber do que ele está falando, dá o seu entusiástico assentimento a qualquer coisa que o homem diga. Um lembrete aqui é válido: a "consciência individual" de Olavo de Carvalho não é a de vocês."

Diante do exposto, fica claro que Olavo sabe pouco do que fala. Não sabe sequer usar o termo apreensão com rigor( Em termos aristotélicos-tomistas é impossível apreender fatos mas tão só essências, fatos são particulares, essências são gerais: Aristóteles já disse, faz dois mil, anos que nosso intelecto só apreende o geral. Apesar de Olavo ter escrito uma obra sobre o mesmo, não aprendeu isso?).

E esse é o maior filósofo vivo na atualidade?

Quanto as heresias afirmadas pelo mesmo já sabemos qual a desculpa que virá: o mesmo já afirmou que, no decurso das investigações, um filósofo pode cometer heresias. Os discípulos confrontados com elas dirão que se trata de um exercício dialético légítimo do supremo mestre e que, diante delas, não há nada a opor, tampouco que duvidar da sua fé católica. 

Quanto a isso cabe a quem realmente ama a doutrina da Igreja cerrar fileiras 
contra aquele que, se apresentando como mestre, ensina embustes e põe em risco a verdadeira fé.  

3 comentários:

  1. Você acaba de cometer um grande erro, amigo.

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  2. "Antes de tudo, lembremos que as verdades da fé não são objeto de especulações filosóficas. Não se prova a Virgindade Perpétua de Maria por meio de lucubrações fulgurantes oriundas da mais fina lógica, mas se crê nisto (que para a razão é intrinsecamente inescrutável) por fé! Não se prova por equação matemática que Cristo é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, mas se crê nisto graças à virtude teologal da fé, essa força espiritual vinda do alto. Falemos de maneira sumária e desagradável para a maioria dos católicos liberais: a consciência não pode dizer “sim” a algo que está para além dos conteúdos inteligíveis a que ela mesma pode chegar. Por isso, quando se afirma que Deus infunde a fé na consciência à revelia desta se está dizendo algo muito, muito simples: que, pela graça, a consciência passou a aceitar um conjunto de conteúdos inteligíveis aos quais sequer poderia ter acesso como conclusão de especulações racionais. A consciência é, pois, iluminada pela fé. Por isso diz Santo Tomás que uma ignorante velhinha com fé, em certo sentido, sabe mais que Aristóteles..." (Sidney Silveira)
    http://contraimpugnantes.blogspot.com.br/2014/08/fraternidade-assassina-e-catolicismo.html

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