N63:
"A Igreja se mostra incapaz de defender eficazmente a moral evangélica,
porque adere obstinadamente a doutrinas imutáveis que não podem
conciliar-se com o progresso moderno."
Ora dirão : mais aí se falam de doutrinas e da constituição orgânica da Igreja, porém o diálogo é uma pastoral , uma práxis e não uma doutrina.Sim sem dúvida o diálogo ecumênico e interreligioso são práticas, mas que emanam de uma doutrina: a de que a atitude e ensino da Igreja ao longo dos tempos em sua relação com as outras religiões de cunho cristão ou não está superada por uma nova forma de considerar e fazer as coisas que difere da maneira como a Igreja considerou e fez no passado.E que em suma implicam numa nova forma de organizar a Igreja internamente para que atenda a esta ação externa no mundo em relação ao diálogo com os de fora.
Roberto de Mattei prova isto em sua obra sobre o Concílio Vaticano II.Diferentemente dos concílios anteriores, o Concílio Vaticano II
(1962-1965) coloca para os analistas (teólogos, historiadores, etc.) um
problema novo. É que todos os concílios anteriores exerceram, com e sob o
Papa, um Magistério solene, definindo verdades de fé e moral e tomando
medidas de caráter disciplinar, enquanto juízes e legisladores supremos.
O Concílio Vaticano II, contudo, não deliberou nem propôs, de modo
solene e definitivo, nenhuma verdade de fé ou moral.Pretendeu antes dar a verdade revelada nova forma sob o critério pastoral : ou seja dar-lhe uma forma que correspondesse a mentalidade moderna , adequada aos tempos modernos.Nesse sentido buscou modificar a forma pela qual se apresentam as verdades de fé(Nesse sentido é que se explica o abandono do tomismo na teologia e doutrina ).
Há alguns dias entretenho uma polêmica com dois católicos liberais sobre a questão do "Ecumenismo e diálogo interreligioso".Em face a isso muitas coisas precisam ser aclaradas
Não levar a luz da verdade aos que estão nas trevas é um crime
capital."Há quem sustente que" uma coisa são os valores perenes, outra coisa são
as ações humanas no tempo. Uma coisa é falar de princípios, outra coisa é
falar de como lidar com as circunstâncias, dentro de situações
contextualizadas e estabelecidas".
Sim concordo mas a maneira de
considerar a relação dos princípios com as circunstãncias nesse caso é
errada.Pois bem : é um princípio universal a lei "não matarás".No caso da
legitima defesa há uma aplicação dela ao caso concreto pois a primeira
vida que se deve preservar é a própria.Nesse sentido cabe matar para não
morrer.Em suma matar para aplicar a regra "não matarás" é um
excepcionalidade.O mesmo diga-se do diálogo ecumênico ou
interreligioso.A missão da Igreja é transmitir a fé revelada e salvar o
mundo.Nesse sentido e para tanto ela é enviada a pregar e santificar.Não
existe um mandato divino ao diálogo.Ele pode existir como
excepcionalidade desde que se atenda ao objeto da missão da Igreja :
ensinar ,santificar , salvar.E deve ser julgado pelos frutos.Ora o que
se vê em todos esses diálogos é que ficam sempre no plano humano ,
temporal e secular ; sempre se pautam por um enfoque puramente natural :
busca por justiça social , liberdades , igualdades , tolerância ,
respeito a vida em seu aspecto natural , etc.Evidente que o patrimônio
da lei natural e sua defesa fazem parte do papel da Igreja pois a graça
supõe a natureza.Mas sua missão não se esgota aí nem se caracteriza
essencialmente por isso.Os encontros ecumênicos e interreligiosos , dos
ultimos 50 anos se pautam todos ou por essa constelação de valores
comuns , ou por irenismos que se identificam com um cristianismo
"kerigmático" sem dogmas ou doutrinas.O que demonstra que o diálogo de
meio virou um fim em si, o que é absurdo.Um diálogo que servisse de meio
a apresentação da fé e dos dogmas católicos seria ótimo.Uma chamada
geral das religiões para o conhecimento de Cristo seria santo.Mas pelo
contrario não há uma chamada geral a conversão o que fica claro quando
vemos a que se reduziram muitas missões católicas hoje em dia ,
limitadas a obras sociais e que já não tem mais o fervor da pregação dos conteúdos do evangelho.Pretendem evangelizar pela práxis sem falar de
Cristo.Ainda que alguns pudessem dizer que se trata de um boa tática
ela tem que ser julgada a luz dos frutos: e quais são eles ? Não existem
simplesmente.Podem dizer o que for em defesa desses diálogos em
ecumenismos mas de um coisa não podem escapar : da evidência de que não
existem frutos.Os frutos desse método pastoral é o fracasso da religião
católica a níveis jamais vistos.Nem mesmo nos países de maioria católica
a Igreja consegue exercer influencia pública forte a ponte de forjar
leis e instituições.O diálogo não foi capaz de refrear a onda secular
que nos invade e pior até a estimulou ao sujeitar a religião ao processo
dialogal da modernidade - onde vale o consenso ! Não foi capaz de deter
a debandada de fiéis , não foi capaz de deter a crise de fé , não foi
capaz de impedir a escalada islâmica , não foi capaz de deter o
crescimento das seitas , não foi capaz de deter esoterimos e
orientalismos no ocidente ...não há frutos e se formos minimamente
honestos temos que admitir isso, ou então inventemos estatísticas ou façamos algum malabrismo retórico.Diante disso
fica claro que os argumentos dos defensores do diálogo a todo custo são espúrios , farsescos , loucos e
levianos.Tais pessoas insistem em um descaminho , que em termos práticos - é muito comum os defensores dele apelarem ao aspecto prático diversas vezes dizendo que já não vivemos mais na idade media ...ora em termos práticos o
diálogo é um fracasso , é uma grande e total derrota da religião católica a nivel civilizacional.Agora eu me
pergunto se essa derrota prática da Igreja realmente importa aos defenmsores do diálogo.Durante todos esses anos ao me deparar com os fautores do diálogo
foi ficando para mim muito evidente que frequentemente a estes não
importam os fracassos da Igreja em termos de propagação da fé seja em
quantidade e qualidade, mas sim sua sintonia com um credo humanista.Ora
se é assim tais fautores do diálogo , se estes aderem a este credo humanista e creem com
todas as forças que os tempos são outros e que por isso mesmo diante do
fracasso prático da Igreja , se deve seguir nesse rumo de diálogos e
mais diálogos pautados por valores genéricos nascidos em berço
iluminista então quem realmente ama as noções abstratas e atemporais sem a
devida contextualização temporal das mesmas não sou eu.Se os mesmos pretendem avaliar toda a história da Igreja a luz destes valores
genéricos então são eles os amantes das abstrações filosóficas sem
praticismo.Pior para eles que tais abstrações não tenham raiz católica.
Entre as abstrações do dogma e os do iluminismo fico com as primeiras mesmo correndo riscos de não saber aplicar bem as do dogma , mesmo correndo o risco de imprudência.Pois decerto : é bem mais seguro errar na prática tendo os dogmas que tentar ter ações acertadas com base em princípios não dogmáticos.
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